Mostrando postagens com marcador Jango. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jango. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Mídia: reflexões sobre uma foto

  

Em 1963, Jango, em viagem presidencial ao Chile
e ainda em Santiago, recebe a edição da Manchete com parte da cobertura da visita.
Foto de Nicolau Drei  

por José Esmeraldo Gonçalves 

Há alguns dias, Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, escreveu aqui sobre a tradicional agilidade da revista ao reabrir edições para acrescentar acontecimentos importantes, de última hora. As coleções mostram outro exemplo desse compromisso extremo com a notícia. Em 1963, Jango visitou o Chile. Foi uma das inúmeras viagens do então presidente em seu curto mandato. Foi a países da Europa, aos Estados Unidos, onde foi recebido por John Kennedy e desfilou em carro aberto na Quinta Avenida e, ainda como vice-presidente, foi à China, então país fechado e muito raramente visitado por nações ocidentais ou da América do Sul, como nós do Sul Global, como se corrige agora. 

Já engajado na campanha golpista que resultou na ditadura a partir de 1964, O Globo mantinha fogo cerrado contra Jango. Manchete cobria bem as viagens do presidente brasileiro, com farta ilustraçãpo, embora a revista também abrigasse conspiradores na sua diretoria, como foi revelado em 1981 no livro "1964, a conquisa do Estado", de René Dreyfuss, com nomes e funções dos envolvidos no organograma da preparação do ataque fatal à democracia. 

Na foto, Jango, ainda em Santiago, entrega um exemplar da Manchete ao presidente Jorge Alessandri, que ficou surpreso ao receber impressa em prazo recorde a cobertura de parte da visita presidencial. "No es posible, no es posible", disse o anfitrião, enquanto Jango brincava: "Eles querem concorrer com a televisão"

Em uma das páginas da edição aparece a primeira-dama  Maria Teresa Goulart, que também era frequentemente atacada pelo Globo. Alessandri, aliás, disputaria nova eleição em 1970, quando perderia para Salvador Allende que, há 50 anos, foi assassinado por militares chilenos comandados por Pinochet e com apoio da ditadura brasileira e dos Estados Unidos. 

O encontro do sorridente Jango com o chileno aconteceu há 60 anos. Manchete não mais existe, mas há coincidências históricas aí. O Grupo Globo em todas as suas plataformas está agora em forte e previsível campanha contra Lula. Editorialistas, comentaristas, colunistas parecem seguir ordens da cúpula e ampliam um jogral deturpado de "interpretações" sobre cada passo do governo. Tal qual os idos de 1963. Maria Teresa era alvo, assim como Janja é vítima, hoje. O que ela fala, veste, o que compra, tudo é ironizado pelo Globo. 

O mais espantoso: o jornalão dos Marinho publicou recentemente um editorial pedindo "paz". Paz para os golpistas, bem-entendido. O Globo diz que o país tem que se reconciliar com a turba que depredou o Congresso, o STF e o Planalto. O elemento terrorista que tentou explodir uma bomba em um caminhão de combustível perto do aerooprto? Relevemos, sugere o editoriatista. O grupo que tentou e felizmente não consegui lançar um ônibus em cima de carros que conduziam pessoas que voltavam do trabalho? Esquece. Foi o calor do momento. Não sabemos  ou sabemos das intenções do Globo. De golpe o jornal sabe tudo. A julgar pelo que escreve e fala, o Grupo não pretende se conciliar ou pelo menos ser jornalisticamente honesto com um governo que apenas uma semana depois de tomar posse foi vítima de uma tentativa de golpe. Vê-se em alguns bolsões que a tentativa foi apenas pausada. O Globo, assim como Estadão, Folha, Farialimer, neopentecostalismo, cacs, viúvas da Lava Jato, narcogarimpo, o agro pop e Roberto Jefferson etc procuram um candidato do "centro" para 2026. Ainda não encontraram e essa pretensão tem uma condicionante histórica: se não tem tu vai tu mesmo. "Tu mesmo" sendo o replay de 2018 com um "Paulo Guedes" garantidor, como os colunistas do Globo afirmaram na época, que vai preservar os privilégios econômicos seja quem for o tal meliante escolhido para representar o "centro" Quer apostar?            

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Fotomemória da redação - O hobby de Jango era a fotografia. Um dia ele interrompeu uma entrevista à Manchete para mostrar o equipamento que adquirira no exterior.

 

Jango e Jáder Neves, em 1962, na fazenda do ex-presidente em São Borja (RS).
Foto de Maria Tereza Goulart.


por José Esmeraldo Gonçalves 

A alegação dos militares para derrubar João Goulart foi a de que ele era um comunista desalmado que comeria criancinhas no almoço e no jantar. 

A História mostrou que quem torturou mães na frente de seus pequenos filhos foram os miliares, que assassinaram e perseguiram milhares de brasileiros opositores de uma ditadura que enriqueceu "batalhões' de 'patriotas".

Veja essa foto de publicada na Manchete e feita em São Borja, em 1962, há 60 anos. Naquela época já estava em curso a conspiração contra a frágil democracia brasileira. 

O que o então presidente João Goulart fazia no governo era propor reformas para modernizar o país, torná-lo mais justo e diminuir, ou pelo menos reduzir a níveis civilizados, os muitos privilégios das classes dominantes e ricas à custa dos cofres públicos. 

Esse era o "perigo vermelho" alardeado pelos golpistas. O desfecho, sabemos. Cerca de dois anos depois Jango foi derrubado, partiu para o exílio onde morreu 14 anos depois dessa foto feita pela sua mulher, Maria Tereza Goulart. Naquela reportagem da Manchete, ele dizia que ao sair da presidência "queria ser apenas um homem do campo".

Na mesma ocasião, Maria Teresa fotografou Jango usando a Hasselblad de Jáder Neves.
Foto Jáder Neves - Manchete
Enquanto, "gorilas", empresários,  fazendeiros e banqueiros (na época não havia as expressões "agronegócio" e "mercado") preparavam o golpe e recebiam um orçamento secreto dos Estados Unidos, o "perigoso" Jango estava preocupado em mostrar para Jáder Neves, fotógrafo da Manchete, o equipamento fotográfico que adquirira em uma das suas viagens ao exterior. Na mão direita do presidente, um novíssimo e sofisticado flash eletrônico ainda pouco conhecido no Brasil O primeiro a chegar aqui tinha sido importado pelo fotógrafo de publicidade Chico Albuquerque, em 1958. 

Na ocasião, Jango confessou a Jáder que gostava de fotografar, mas lamentou ter pouco tempo para se dedicar ao seu hobby. Ele mostrou curiosidade pela câmera Hasselblad e pela lente que o fotógrafo usava. Jango tinha a simplicidade dos estancieiros. A varanda onde ele aí aparece sentado no chão, sem qualquer formalidade, foi cenário de várias e marcantes fotos suas nesse estilo autêntico do gaúcho.          

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Jornalismo: o que a memória impressa ensina e as dúvidas sobre o futuro dos acervos digitais....



por José Esmeraldo Gonçalves 

Para quem gosta de ver e até estudar fatos jornalísticos e anúncios de jornais no túnel do tempo há uma página interessante no Facebook e no Wordpress dedicada a tópicos da memória. Recentemente foi publicado o post acima com uma reprodução da Manchete sobre uma curiosidade da agenda do então presidente João Goulart em 1962.

Você pode acessá-la no endereço https://jornaisantigos.wordpress.com/?fbclid=IwAR3tct9ZC65BRfG9nqylQuib2r_hkjaYitdNiVR466Yj8kIsn-9N2vAkl34

Agora vamos ao comentário em "textão". A crise e a mudança de modelo do jornalismo impresso lançam dúvidas sobre a preservação do que é publicado atualmente. Os meios digitais, considerando-se uma consulta a ser feita daqui a 50 anos, por exemplo, garantiriam a permanência de textos e imagens com a mesma segurança proporcionada por antigos jornais e revistas impressos guardados em coleções particulares e bibliotecas públicas?

Vejam o caso da revista Manchete, cuja coleção foi recentemente digitalizada pela Biblioteca Nacional. A iniciativa facilita a consulta por leitores e pesquisadores, mas, no caso, o acervo físico permanece nas estantes da BN.

Daqui a meio século a memória apenas digital do G1, digamos, poderá ser plenamente acessada, a coleção de um veículo de comunicação digital ou de qualquer publicação impressa que migrou para a internet estará disponível? Páginas do Twitter, do Facebook, do Instagram, hoje utilizadas por instituições públicas, presidentes, políticos em geral, escritores, atletas, celebridades, movimentos sociais etc guardarão seus registros?

Há alguns anos, a direção de uma revista paulistana já extinta ordenou a destruição de centenas de CDs que guardavam vários anos de produção fotográfica digital. O motivo? Abrir espaço em um armário. E o banco de dados implantado em seguida só arquivava as fotos publicadas, quando se sabe que as "sobras" também podem conter memória histórica. A famosa foto do Che Guevara, do Alberto Korda, aquela que virou poster e camiseta em todo o mundo, era, por exemplo, "sobra" e só foi publicada pela primeira vez cerca de cinco anos depois de feita.

Voltando ao caso da destruição dos Cds. Anos depois, a crise da mesma editora levou a maiores restrições ao arquivamento de fotos sob a alegação de falta de gigabytes. Alguns bancos de dados armazenam mídias em discos magnéticos, mas estes, como os nossos HDs domésticos, os simples pen drives e outros dispositivos flash, podem falhar após uso intenso. Hoje, recorre-se à Nuvem, espaço virtual que não está inteiramente sob controle do usuário e onde dados podem ser roubados sem muita dificuldade.

As fotos de aniversários e viagens que você guarda no celular ou no laptop estão tão seguras como ficavam nos velhos álbuns analógicos? Seus netos vão vê-las?

Quem sabe...

Uma dica: Bill Gates digitalizou sua coleção de fotos, uma das maiores do mundo, mas guarda cromos, negativos e cópias a 65 metros abaixo do solo, em uma antiga mina de ferro, na Pensilvânia.

Que os meios digitais ajudam a divulgar como nunca a memória jornalística, ninguém duvida. Mas em matéria de preservação nem o fundador da Microsoft confia inteiramente na internet.


terça-feira, 16 de maio de 2017

Memórias da redação - Com bandejão gourmet na antiga gráfica, em Parada de Lucas, Fatos & Fotos comemora seu primeiro aniversário


Foi em 1962. Terá sido pelo prestígio das revistas, importantes na época (naquele ano a Fatos & Fotos rodava 200 mil exemplares), pela qualidade da comida servida no restaurante da Bloch, na gráfica de Parada de Lucas, ou pelo prazer do encontro em pleno verão carioca.

Era um janeiro sufocante, apesar dos paletós e gravatas à mesa. O cardápio era feijoada. Dá para imaginar a volta da caravana, a 40 graus, após a incursão ao bairro distante, na fronteira com a cidade de Caxias, sonolenta de carne seca, costela, pé, lombo e orelha da porco. O cerveja só podia ser Antarctica ou Brahma, que eram anunciantes e usavam os serviços de impressão de Lucas.

Lançada em 1961 e apontada como "o maior acontecimento jornalístico" daquele ano, a Fatos & Fotos celebrava seu primeira aniversário. O bandejão gourmet reuniu "tout le Rio".  O ex-presidente Juscelino Kubitscheck, o acadêmico Austregésilo de Athayde, recebidos por Adolpho Bloch e pelo diretor da F&F, Alberto Dines, além de socialites, empresários, publicitários e banqueiros, esta uma categoria historicamente fundamental para a liquidez da Bloch.

Sorridente, o ex-presidente Juscelino Kubitscheck estava animado. Certamente já sonhava com a campanha para a volta ao Planalto. Tinha até slogan: JK-65.

Dois meses depois, a Fatos & Fotos faria sua primeira grande cobertura internacional: a visita de João Goulart à Casa Branca, então sede da corte de John Kennedy, a Camelot reeditada.

Os três personagens não sabiam, mas os seus destinos já estavam sendo escritos, e bem longe dos seus projetos.

Kennedy não veria o fim de 1963, Jango, derrubado, partiria para o exílio em abril de 1964, a reeleição de JK-65 seria atropelada pelo golpe militar e o ex-presidente também se exilaria dois meses depois de a ditadura se instalar em Brasília.

A Fatos & Fotos continuou saindo, semanalmente, até março de 1985. Depois disso, voltou às bancas apenas em edições especiais de Carnaval ou de acontecimentos marcantes.  A Bloch faliu em 2000. O salão visto na reprodução acima foi ocupado por famílias de sem-tetos, até ir a leilão.

O mundo girou e só a Lusitana continuou rodando.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mortes de Jango e JK abrem um importante arquivo em novo livro

por Eli Halfoun
Muitas informações que jornais e revistas deixam de veicular acabam escrevendo em livros a verdadeira história de períodos obscuros do Brasil, transformando-se assim em importantes documentos. É, entre muitos outros, o caso de “Arquivo Aberto” que acaba de ser lançado pelo jornalista José Carlos Bittencourt (durante anos foi um bem informado repórter político de jornais e emissoras de rádio). Bittencourt abre seu “Arquivo” para clarear acontecimentos obscuros de uma época, incluindo as mortes de Jango, JH, Carlos Lacerda e Ulysses Guimarães sobre as quais existem até hoje muitas dúvidas. No capítulo “Diário de um sobrevivente”, Bittencourt conta como escapou de ser assassinado porque sabia demais.