Itamar Franco e o presidente Fernando Henrique Cardoso, que o sucedeu favorecido pelo sucesso do Plano Real. Foto PR |
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Logotipo do governo de Itamar Franco, em 1992: Brasil Unido já era um apelo. |
É uma verdade tão óbvia, mas jamais foi proclamada publicamente como o faço aqui e agora: durante dois anos, 1993 e 1994, o Brasil teve seu melhor presidente de todos os tempos, Itamar Augusto Cautiero Franco.
Com a renúncia de Fernando Collor de Mello após o impeachment, Itamar assumiu definitivamente a presidência em 29 de dezembro de 1992.
Político mineiro da boa e velha escola, Itamar armou uma administração sólida e honesta, cercando-se de uma equipe eficiente, principalmente na área econômica, que acabaria criando e implantado o Plano Real, com a adoção da nova moeda em 1º de julho de 1994. Escolhendo Fernando Henrique Cardoso como Ministro da Fazenda, Itamar premiou o sociólogo que nada entendia de finanças com a eleição à Presidência, passando-lhe a faixa em 1º de janeiro de 1985. Esse período mágico da vida política nacional foi batizado como República do Pão de Queijo. Um detalhe curioso: Itamar Franco foi o único presidente que não nasceu no solo brasileiro, mas num navio de cabotagem na rota Salvador-Rio de Janeiro, um daqueles famosos “itas”, daí o seu nome de batismo.
PS • Nada disso teria acontecido se Márcia Kubitschek tivesse aceitado o convite para ser a candidata a vice de Fernando Collor. Apesar da insistência dele, a filha de JK não topou a parada. O Brasil teve de esperar dezoito anos para ter a sua primeira Presidenta, Dilma Rousseff. R.M.
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A GENITÁLIA POLITIZADA E O HOMEM QUE CARNAVALIZOU A PRESIDÊNCIA
por José Esmeraldo Gonçalves
A mídia não registrou a efeméride. Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, dotado de memória que dispensa o Google, relembrou a data no texto acima que faz justiça a Itamar Franco.
Há exatos 30 anos, o mineiro assumia a Presidência após o desastre administrativo e o escândalo protagonizado por Fernando Collor de Mello.
Pois Itamar foi capaz de mudar a percepção que o brasileiro tinha dos escândalos. A ditadura obrou suas roubalheiras, a democracia reinstalada em 1985, também. Itamar, mineiro honesto, inovou. Seu escândalo foi no melhor estilo da épica Saturnália Romana, uma celebração do prazer. Nada de roubos, a não ser o da intimidade de uma bela modelo.
Em 1994, eu era um dos editores da Manchete, onde a cobertura do carnaval era grande evento jornalístico e de marketing que alavancava a venda da revista. Uma equipe numerosa de fotógrafos e repórteres experientes garantia tradicionalmente, como o fez durante décadas, a qualidade da cobertura dos desfiles das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí. Naquela noite, peguei um colete de acesso e fui para a pista. Adolpho Bloch iria a um dos camarotes do Sambódromo para o qual Itamar Franco e amigos do staff do governo também estavam convidadom. Pauta recomendada e fotógrafos atentos. O nosso problema, de repórteres e fotógrafos, era vigiar o camarote para não deixar de fazer a foto de Adolpho e Itamar, juntos. Tanto um quanto o outro não tinham hora marcada para chegar ao sambódromo. Sabíamos que Itamar estava hospedado no Hotel Glória e, lá, a festa já rolava animada. O primeiro sinal de que Itamar estava na área foi dado mais tarde pela arquibancada em frente, com vista para o interior do camarote em questão e já em ebulição.
Acompanhado de políticos e empresários, Itamar era visto em meio a garçons portando bandejas com garrafas de uísque e pratos de salgadinhos. Logo fotógrafos de vários veículos se aglomeraram diante do camarote.
A modelo Lilian Ramos desfilou na Viradouro em um carro alegórico (alégoricas eram suas curvas) e chamou a atenção das autoridades que, àquela altura, flutuavam duas doses acima do resto da humanidade. Lilian vinha de topless, como Princesa da Pérsia. Seus seios de 96 cm podiam ser vistos até do espaço sideral. Itamar não podia deixar de notar. Presidente não pode se impressionar com nada sem que um puxa saco corra para serví-lo. E foi o que aconteceu. Lília Ramos foi convidada a visitar o camarote. Ela só teve tempo de tirar a fantasia e colocar uma t-shirt larga. Festejada e abraçada, a ela logo foi cedido um lugar ao lado do Itamar. E aí começou o problema. A cearense Lilia Ramos com seus 1.75 cm de altura ficava bem acima da mureta do espaço vip e a pista e o corredor, em plano inferior, permitiam ampla visão do que a camiseta escondia.
Os fotógrafos se entreolharam.
- Ela está de meia-calça?, um deles indagou.
Não. A forte iluminação do sambódromo provava que entre a "genitália desnuda" (esse era o nome que a mídia dava às vaginas que eventualmente eram vistas na Sapucaí) e o planeta não havia qualquer barreira visual.
Uma última observação; aquela visão nem era inédita. Seis anos antes, as revistas Playboy e EleEla já haviam revelado ao Brasil a "genitália desnuda' da bela Lilian Ramos. As críticas exageradas significavam só o patrulhamento hipócrita da moral crristã mesmo.
E foi aquele o único escândalo do governo Itamar.
Bons tempos.