domingo, 7 de fevereiro de 2021
Temos a TV mais educada do mundo. Veja porque...
sábado, 6 de fevereiro de 2021
Deu jacaré
A deputada Alexandria Ocasio-Cortez, do Partido Democrata norte-americano, ao sair da vacinação fez piada com o presidente que em si é uma trágica gozação brasileira. Cortez mostrou a deformação que o imunizante pode causar segundo o candidato a ditador de comédia que dirige o Brasil.
"Imagine", um hino pela paz, foi lançada há 50 anos. Deu tudo errado. O sonho de Lennon não se realizou.
por Ed Sá
O livro de poemas Grapefruit, de Yoko Ono, inspirou John Lennon a compor Imagine, lançada em 1971. Provavelmente Imagine nasceu na cama do Hotel Hilton , de Amsterdam, em1969, onde o casal passou uma semana em ato político no leito conjugal em defesa da paz universal. Foi o célebre bed in. Lennon imaginou um mundo sem fatores de conflitos como nacionalidades, convenções morais e religiosas. Lennon foi assassinado por causa de versos como os de Imagine. O assassino, Mark Chapman, era um "cristão renascido", cujo ódio tinha origem nas opiniões do ex-beatle sobre deus e religiões.
Lennon sonhou que um dia os bens materiais não fossem um objetivo da vida, como um "santo graal" da acumulação. Se Mark Chapman tivesse errado o tiro, ele teria hoje 80 anos. Veria que meio século foi pouco para uma mudança das mentalidades. Imagine é anticapitalista. Lennon constataria que o capitalismo se revigorou e se tornou ainda mais brutal ao parir o neoliberalismo mais concentrador de renda e gerador de pobreza extrema. "Você pode dizer que eu sou um sonhador. Mas eu não sou o único. Espero que um dia você junte-se a nós. E o mundo será como um só" continua sendo uma bela carta de intenções...
OUÇA A CANÇÃO AQUI
Imagine
Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace
You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A Brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world
You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one
Um Hamleto sem vacilo • Por Roberto Muggiati
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| Hamleto Stamato |
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021
007 contra a Democracia
por O.V.Pochê
Ernesto Araújo está na revista bolsonarista ironicamente chamada de A Verdade. A publicação é ligada ao site Jornal da Cidade on line, condenado por publicação de notícias falsas. Na capa, o discípulo de Olavo de Carvalho, o guru aparece como um 007 a serviço da ultradireita e pronto para combater o globalismo, segundo ele uma ideologia anticristã.
Virou a piada da web. E, segundo o UOL, também virou chacota nas internas dos diplomatas do Itamaraty.
A ideia pode reder. A Verdade pode ter dado início a uma série de capas. Talvez inspiradas nos vilões dos quadrinhos e do cinema.
Atenção fotógrafo das capas da revista A Verdade. O general Heleno pode ser o Duende Verde na próxima edição; Pazuello fica bem de Dr. Octopus; Ricardo Salles posa de Demolidor; Bolsonaro é o Loki ou o Rei do Crime; Bia Kicis vai bem bem de Maria Tifoide.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
Comissária de companhia aérea censura decote de modelo. Caso levanta discussão sobre código "talibã" de vestimenta em voos
| Comissária não gostou do decote e da barriga de fora da modelo Isabelle Eleonore, disse que ela não podia viajar de "biquíni" e mandou que se cobrisse. |
| A modelo denunciou o caso nas redes sociais. |
por Jean-Paul Lagarride
A tripulação de um avião de passageiros tem prerrogativas legais para tomar providências sempre que considerar que um usuário poderá colocar em risco a segurança do voo. O comandante detém a palavra final nessas avaliações. Desde que esses poderes foram ampliados a partir do ataque de terroristas islâmicos às Torres Gêmeas, alguns incidentes têm ocorrido, geralmente por excesso de zelo ou preconceito.
Ultimamente, alguns tripulantes, por questões de moralismo e talvez até de fundamentalismo religioso, passaram a se preocupar com as roupas das mulheres que sobem a bordo. Jovens de shorts, saias curtas ou decotes têm sido obrigadas a trocar de roupa e cobrir-se ou não embarcam. Já aconteceu nos Estados Unidos e, dessa vez, o código de vestimenta foi imposto na Austrália. A modelo Isabelle Eleanore contou estava usando um top curtinho com alças e decote quando a comissária da Jetstar, em voo de Gold Coast para Melbourne, no domingo passado, avisou que ela não poderia viajar usando um "biquíni". Não adiantou argumentar que a peça era um top. A tripulante trouxe-lhe um colete e mandou que o vestisse.
Eleanore denunciou o caso e o constrangimento nas redes sociais. O jornal The Sun publicou sua história. A companhia aérea pediu desculpas. Alegou que a comissária errou e que as normas da Jetstar vetam só roupas que exibam imagens que possam ser consideradas ofensivas.
No Instagram, ela comentou: "Aposto que seu eu tivesse seios menores ela não teria dito nada".
BBC Brasil: dossiê contra políticas do governo brasileiro chega à Casa Branca. Democracia, coronavírus, emprego, direitos indígenas, desmatamento e violência policial estão entre os temas abordados
A BBC Brasil obteve acesso aos documentos assinados por mais de 100 pesquisadores e já de posse do núcleo do governo Joe Biden, que ainda não definiu suas políticas para a América do Sul. A matéria é do repórter Ricardo Senna, correspondente do site em Londres e certamente será um bom tema para análises de dezenas de comentaristas nos canais de TV, logo mais.
São mais de 31 páginas incisivas. "O governo Biden-Harris não deve de forma nenhuma buscar um acordo de livre-comércio com o Brasil", frisa o dossiê, organizado em 10 grandes eixos: democracia e estado democrático de direito; direitos indígenas, mudanças climáticas e desmatamento; economia política; base de Alcântara e apoio militar dos EUA; direitos humanos; violência policial; saúde pública; coronavírus; liberdade religiosa e trabalho", recomenda o documento.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO SITE BBC BRASIL AQUI
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021
Cadê a garota da capa que estava aqui ? Sumiu...
| Algumas capas de revistas estrangeiras em 2021. |
| No Brasil, algumas revistas sobreviventes. |
Ontem foi Yèyésday! • Por Roberto Muggiati
James Joyce – quem diria ? – é filho de Iemanjá. Celebrado anualmente pelo Bloomsday em 16 de junho (dia em que transcorre a ação do seu romance Ulisses), o escritor irlandês nasceu em 2 de fevereiro, dia da Rainha do Mar, que tem seu nome derivado de Yèyé, “mãe dos filhos peixes” em iorubá. Quem fez espertamente a associação, no jornal O Globo, foi Dirce Waltrick do Amarante. Autora de Para ler ‘Finnegans Wake de James Joyce’, ela vai adiante: “Ao dar protagonismo a Anna Livia Plurabelle no romance Finnegans Wake (1939), acabou homenageando também a divindade.” Na mitologia irlandesa, o nome Anna estaria relacionado ao da deusa Danu, da terra e da água, rios, mares. Livia é a latinização do rio Liffey, que corta a cidade de Dublin. Iemanjá se revela plural (Plurabelle) com natureza sempre cambiante.
E Dirce arremata: “A Danu de Joyce, assim como Iemanjá, acolhe todos os filhos ‘nacionais e estrangeiros’ (...) o escritor sublinha que todos são bem-vindos em Finnegans Wake e esse acolhimento se estende às diferentes línguas vivas e mortas que convivem no livro.” Saravá, irmão Joyce!
A PALAVRA DA HORA H
S p u t n i k
A vacina Sputnik V, desenvolvida pelo instituto russo de pesquisa Gamaleya para a Covid-19, teve eficácia de 91,6% contra a doença, segundo resultados preliminares publicados em 2 de fevereiro na revista científica "The Lancet", uma das mais respeitadas do mundo. A eficácia contra casos moderados e graves da doença foi de 100%.
A notícia trouxe de volta o nome do primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik 1, lançado em 1957 pela União Soviética. O programa Sputnik, em russo Спутник, Satélite ou Companheiro Viajante, produziu a primeira série de satélites artificiais concebida para estudar as capacidades de lançamento de cargas úteis para o espaço e os efeitos da ausência de peso e da radiação sobre os organismos vivos. Serviu também para estudar as propriedades da superfície terrestre com vista à preparação do primeiro voo espacial tripulado.
Sobrou pros beats • Um mês antes, foi lançado o romance-manifesto da geração beat, On the Road, de Jack Kerouac. Imediatamente os beats passaram a ser chamados de beatniks, numa implicação de que eram todos comunistas. Na verdade, o Sputnik não teve nada a ver com isso: nik é um sufixo do iídiche que significa “inho”, e servia para apequenar os beats – os judeus de Nova York odiavam os beats, embora um judeu, Allen Ginsberg, integrasse a Santíssima Trindade Beat, com William Burroughs e Kerouac.
Proustiana • Dois dias depois do lançamento do Sputnik eu fiz vinte anos. Contraparafraseando Paul Nizan, “eu não deixaria ninguém dizer que [não] é a idade mais bela da vida.” Era jornalista, funcionário público, estudava engenharia, saxofone, japonês, completara a Cultura Inglesa (com diploma de Cambridge) e a Aliança Francesa (com uma futura bolsa em Paris) e vivia intensamente a noite curitibana, turbinada pelo dinheiro das exportações de café do Paraná. Meu gosto da época não era uma madeleine embebida em chá de tília, mas uma dose de Cuba-libre no La Vie En Rose, aconchegante boate da Alameda Cabral, ao som do fabuloso grupo do gaúcho Breno Sauer. Tocava acordeão, piano e vibrafone, gravou uma meia-dúzia de LPs no eixo Rio-São Paulo, depois foi fazer a América e ficou por lá até morrer em 2017 aos 77 anos em Chicago. O Cuba-libre, aquela mistura de rum e Coca-cola num copo alto com gelo e uma rodela de limão fazia sucesso na época. Vinha com um pratinho de amendoim torrado salgado e custava dezoito cruzeiros, o equivalente a um dólar na época.
Enquanto o Sputnik orbitava eu viajava no som sofisticado de Breno Sauer, ouçam sua versão de A Felicidade - Roberto Muggiati
https://www.youtube.com/watch?v=Qtoq0iqXNcs
O que a "selfie" do Globo tem a ver com o Sargento Pimenta
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| A "filarmônica" jornalística do Globo e... |
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| ... a banda do Sargento Pimenta |
por O.V. Pochê
No futuro, essa primeira página do Globo vai virar cult.
A "selfie" jornalística foi o acontecimento mais importante daquele dia, segundo o critério do editor.
Não reúne corações solitários, mas em plena pandemia faz ilustre aglomeração de colunistas. Nunca um jornal teve tantos, daí a importância da "selfie'.
Óbvio que uma simples edição do jornal em papel não é capaz de acomodar a todos. Não haveria o distanciamento necessário. Fiquem tranquilos, eles não precisarão pegar senha para ocupar espaço, farão um revezamento, segundo a matéria de apresentação. Como se fossem diaristas? É para não implicar em relação trabalhista, segundo uma das reformas defendidas pelo Globo? Não se sabe o motivo, se editorial ou funcional. O Globo demitiu muitos e experientes repórteres nos últimos anos. Eram os profissionais que corriam atrás da notícia. Aparentemente, a notícia agora são os colunistas. Virá em revezamento e em cascatas. Mas o Globo é um jornal tradicional. Deve saber o que está fazendo. Apenas destacou em página nobre os profissionais que admira. Muito justo.
Quando produziram a capa do LP do Sargento Pimenta, os Beatles fizeram algo parecido. Juntaram seus ídolos. A ideia foi do Paul McCartney, que pediu aos parceiros que escrevessem em um papel os nomes das personalidades que admiravam. Não sei se o Globo fez o mesmo. De qualquer forma, deu nessas duas imagens célebres.
A capa dos Beatles tem pelo menos um ponto em comum com a do Globo. Entre artistas, compositores e até boxeador, os Fabfour mostrava figuras que viviam de escrever. Estão lá, por exemplo, Edgar Allen Poe, Aldous Huxley, Dylan Thomas, William Burroughs, Karl Marx, H.G. Wells, Oscar Wilde... Vários desses colaboraram com jornais. Wilde escrevia para uma revista. Burroughs foi jornalista. H.G.Wells começou a carreira como jornalista.
A foto do Sargento Pimente gerou, ao longo do tempo, lendas, teorias da conspiração, fantasias e fake news.
Só o tempo dirá o que a inusitada primeira página do Globo vai deixar para a história.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2021
A FRASE DO ANO 2020
“Não consigo respirar!” (#ICantBreath!)
Por uma coincidência notável, os sintomas da doença que já matou 2.235.401 pessoas até as 21 horas de Brasília do dia 1º de fevereiro de 2021 – a Síndrome respiratória aguda grave (SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome)– coincidem com as últimas palavras de um negro morto estrangulado pela pressão do joelho de um policial em Minneapolis, nos Estados Unidos, “I can’t breath!” (“Não consigo respirar!”).
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| Reproduções Twitter |
A frase de George Floyd tornou-se o hashtag da nova escalada dos protestos antirracistas e é altamente simbólica do estado de espírito de uma importante minoria ainda fortemente discriminada e oprimida pela cor de sua pele.
Na verdade, a frase (“Não consigo respirar!”) havia sido dita onze vezes em 2014 pelo negro Eric Garner, antes de morrer estrangulado por um policial de Nova York. E foi repetida na véspera do Dia da Consciência Negra por João Alberto Freitas, asfixiado por seguranças de um supermercado Carrefour em Porto Alegre. Em consonância com o racismo estrutural assassino, milhões vêm se debatendo nos últimos meses em hospitais pelo mundo afora gritando “Não consigo respirar” em suas múltiplas línguas. Roberto Muggiati
O ano em que um povo foi marcado... Isso lembra alguma coisa?
| 1932: sob controle de Hitler, o Reichstag elege a mesa diretora. |
por José Esmeraldo Gonçalves
1932 foi o ano em que o povo alemão foi marcado. Naquelas eleições, os nazistas emplacaram 230 representantes e passaram a controlar o Reichstag.
Um ano depois, um incêndio destruiu o prédio. Os nazis criaram a "narrativa", como se diz na palavra desgastada hoje, segundo a qual o ato representava o início de uma "revolução comunista". Foi a senha para o passo seguinte. Hitler se aliou ao "centrão", personificado pelo partido conservador DNVP, e obteve a maioria parlamentar. Com isso, o presidente Hindenburg foi pressionado a nomear o líder nazista como chanceler, em 30 de janeiro de 1933. Nessa condição, ele articulou um ato institucional que transferia para o executivo poderes legislativos.
Em poucos meses, a oposição estava extinta no país. Hitler tornou-se führer. O "mito, mito, mito" para seus seguidores. E aí começou efetivamente o regime nazista com as reformas prioritárias, que os jornais aliados defendiam como a nova ordem tributária, administrativa, jurídica, política, orçamentária e, claro, as pautas ideológicas e de costumes efetivamente implantadas. E a Alemanha, já então acima de tudo, esmagou a liberdade.
Aqui acaba sua viagem no tempo.
Volte para 2021 e ouça Zé Ramalho
Vocês que fazem parte dessa massa/ Que passa nos projetos do futuro/ É duro tanto ter que caminhar/ E dar muito mais do que receber...
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
Jornalismo: como as pessoas entendiam as notícias sem que um comentarista explicasse o que estavam vendo?
O repórter vai sobreviver?
A pergunta é valida. Milhares de jornalistas foram demitidos nos últimos anos. E na maioria dos dispensados estavam profissionais da base do jornalismo: a reportagem.
Crise econômica, novos modelos de negócio, reestruturação, o impacto das mídias digitais, extinção de versões impressas foram alguns dos motivos apontados pelas empresas. Nesse quadro, investir em colunistas e comentaristas tornou-se uma prioridade visível. Claro que informação e análise devem andar juntas, mas interpretar mais as circunstâncias de um fato conhecido do que apurar os próprios fatos parece desequilibrar um conceito consagrado do bom jornalismo. É comum âncoras e comentaristas levaram horas conversando sobre uma notícia. É inusitado que, nessas conversas, o apresentador ou apresentadora invariavelmente encaixe uma pergunta ao comentarista: "Fulano, o que vai acontecer agora"? E o fulano incorpora o vidente e ousa detalhar o que vai rolar, as reações de um e outro etc.
As limitações impostas pela pandemia ao longo de 2020 afetaram a mobilidade dos repórteres para apuração efetiva e, com isso, estes perderam ainda mais espaço para os colunistas e comentaristas. Aparentemente, isso afetou principalmente os veículos tradicionais. Alguns dos principais furos de reportagem no período, as indispensáveis exclusivas, vieram do The Intercept, Metrópoles, Antagonista, El Pais Brasil, BBC Brasil, entre outros, que continuaram com a reportagem de campo no radar. Vale dizer que a revista Época teve uma boa fase de exclusivas, mas mudanças na redação parecem ter domesticado a revista. A Veja, que foi tão combativa no período anterior ao golpe, hoje parece ligada a respiradores. A Istoé opera muito na "cozinha", a técnica de juntar fatos conhecidos e construir uma abordagem retrofitada. Já veículos como Globo News e CNN, por exemplo, preferem manter uma multidão de comentaristas dissecando - às vezes repetidamente - assuntos correntes e geralmente não exclusivos. Talvez por isso, no Grupo Globo, um programa como o Fantástico, que não mantêm analistas da notícia, é um que ainda não perdeu o foco nas exclusivas. E o homem mais procurado de 2020, o Queiroz das "rachadinhas", teve seu esconderijo exposto por uma "antibolsonarista', precisamente a filha do Olavo de Carvalho, o guru do anormal que nos governa. A mídia em geral o procurava, mas limitava-se a perguntar a advogados onde o procurado se homiziava, se iria se apresentar. Claro que nunca teve resposta.
No último domingo, a principal matéria do jornal O Globo, com título na área nobre da primeira página, foi o reforço da equipe de colunistas. Um fotomontagem mostra os 36 escribas fixos, sem contar os convidados eventuais. Do grupo, apenas uns três ou quatro garimpam efetivamente valiosas informações exclusivas.
Nada contra, mas repórteres de fazem falta.
A pandemia também levou a excessos o chamado "jornalismo declaratório", que é a produção de matérias com base apenas nas declarações de fontes oficiais, assessorias ou, no máximo, de fontes laterais com interesses quase semelhantes. Qual a utilidade de ouvir, por exemplo, o Mourão? Ele fala o óbvio. A mídia desloca repórteres quase todo dia para "repercutir" uma fala qualquer do Bolsonaro e o Mourão cumpre sua função subserviente de "passar pano" na verborragia do chefe.
Não é só a população que aguarda ansiosamente a vacinação, o público também espera que a mídia se imunize contra o excesso de "explicadores" e não desista dos repórteres.
Fica a pergunta: como as pessoas entendiam as notícias antes da existência do batalhão de analistas que nos explicam o que estamos vendo?
A origem exata do SARS-CoV-2? A OMS tenta responder à pergunta de 100 milhões de infectados
Com o planeta sequestrado por um vírus que já infectou mais de 100 milhões de pessoas e fez mais de 2 milhões de vítimas fatais, a OMS inicia a investigação sobre a origem da Covid-19. Cientistas da OMS visitaram ontem o mercado de Wuhan, o primeiro foco identificado, que teria sido o epicentro da pandemia. Mas dúvidas persistem. O processo de mutação leva um tempo até que um vírus se torne explosivamente contagiosos. Um artigo do jornal chinês Global Times diz que em dezembro de 2019, quando surgiram os primeiros casos da doença, o SARS-CoV-2 já era capaz de se transmitir em progressão acelerada. Ao mesmo tempo, também não ainda dados que indiquem outra outra origem do vírus. Cabe à equipe da OMS - cujo roteiro de visitas a cidades, hospitais e outras instalações chinesas, não foi divulgado - desvendar o mistério.
domingo, 31 de janeiro de 2021
A PALAVRA DA HORA H
S e x t o u!
* O neoverbo “sextar”, que exalta a chegada da sexta-feira, além do seu hedonismo barato já nasceu obsoleto, como ficaram as expressões “cair a ficha” e “queimar o filme”. Surgiu num momento em que as relações temporais e espaciais de trabalho já estavam totalmente subvertidas, tendência reforçada pela pandemia. Fazia sentido celebrar a chegada da sexta feira quando ela era o último dia útil da semana de trabalho de 40 horas e quando a maioria das pessoas se concentrava nos opressivos escritórios de grandes firmas e o conceito de “home office” ainda era uma perspectiva quase utópica.
Hoje, com a informalidade crescente da economia, o sujeito trabalha no dia que quer, à hora que quer, de preferência em casa. Um filme americano de 1978 definiu admiravelmente a questão, tirando seu título do grito de guerra dos empregados às sextas-feiras: T.G.I.F.! – Thank God It’s Friday/Graças a Deus é Sexta-feira.
No Brasil bozófilo a gíria, corrente na internet, viralizou a partir de uma música chamada Sextou, do grupo Forró da Pegação. Na verdade, sua popularização veio através da versão de Israel Novaes e Wesley Safadão. Eis uma visão do paraíso destes nossos “sextantes” de hoje:
“Hoje é sexta-feira, dia de torrar o salário/ Dá bicuda em rapariga e fumar cigarro ao contrário/ Vê se a ruiva é ruiva mesmo, mastigar abelha com mel/ Mandar foto pra ex, pelado com três no motel.
Etimologia • Na maioria das línguas latinas, sexta-feira é o Dia de Vênus: vendredi (francês), venerdi (italiano), viernes (espanhol);em inglês e alemão é respectivamente Friday e Freitag, dia livre. Em português, “a última flor do Lácio”, que nesse caso infelizmente resvalou para uma língua de quitandeiros, ficou sexta-feira... • Roberto Muggiati
PARA OUVIR "SEXTOU":AQUI
quarta-feira, 27 de janeiro de 2021
Monica de Bolle, a analista que deixa "guedistas " de "saia justa", é a nova colunista do El Pais
Pizza de assédio al dente
por O.V. Pochê
Se esse caso de assédio explícito virar pizza, como parece, a Assembleia de São Paulo vai legalizar o ato de encoxar. Ninguém vai estar a salvo nos corredores da Casa. Vão liberar o uísque antes e o salve-se quem puder depois. "Tirar o sofá da sala" vai ser substituído "por tirar as câmeras do recinto". Um perímetro de 200 metros em torno do prédio vai virar área de risco. Meninas, não se aventurem.
Fotomemória da Rua do Russell: o restaurante que fazia revistas
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| O staff posa na cozinha da Bloch: com o chef Severino Dias, no alto, aparecem, entre outros, Zé Maria, Nunes, China, Geraldo e Dona Arminda. Foto: Acervo José Carlos Jesus |
O prédio da Manchete, na Rua do Russell, tinha três restaurantes e uma cozinha industrial. No décimo andar ficava o espaço mais restrito, destinado aos diretores e convidados. No terceiro andar - que também era frequentado pela cúpula da empresa - e no térreo ficavam as praças de alimentação dos funcionários. A comida era de qualidade e, durante anos, 0800. Lá pelo fim dos 70, foi instituído um ticket que era descontados dos salários.
Nos tempos da boca-livre, quando o prédio ainda não abrigava a TV, o restaurante do terceiro andar tornou-se um point da cidade. Não um endereço aberto ao público, mas bastante apreciado por artistas, empresários, publicitários, amigos da casa, visitantes ocasionais. Alguns eram nem um pouco ocasionais. Havia um ator famoso como vilão no cinema que era quase um colega, de tanto descolava o rango da Bloch. Geralmente ia ao Russell a pretexto de falar com o Justino Martins e se deixava ficar, ora consultava o relógio, ora ia à janela apreciar a vista, até que a redação descia para almoçar e ele se incorporava ao grupo. O vilão não escapava da ironia de Oscar Bloch dirigida ao próprio Justino. "Ele agora trabalha aqui?", repetia a pergunta semanalmente, mensalmente, anualmente. O pessoal de teatro e cinema, menos abonado, era, digamos, mais rotineiro. Um humorista que vivera melhores dias e estava em baixa também era um apreciador dos pratos do chef Severino. Na pior, a fome para ele não era piada.
É dessa época a frase "Manchete é um restaurante que faz revistas". Muitas vezes as duas habilidades se realizavam ao mesmo tempo. Da cozinha saiam os sanduíches das madrugadas que serenavam estômagos durante as longas e exaustivas horas de fechamentos de edições especiais ou de revistas atropeladas por fatos relevantes e urgentes. Ou, ainda, no Carnaval, levando uma boia fast food para as redações de Manchete, Fatos & Fotos e Amiga virando noites. No menu, invariavelmente, o tradicional pão francês com ovo que inspirou o nome deste blog segundo a versão latina por Carlos Heitor Cony.
A Manchete também oferecia muitas recepções monumentais. A principal talvez fosse por ocasião da entrega do Prêmio Tendência. A cada ano a revista de economia da editora premiava ministros e empresários. O PIB ia jantar no Russell ao lado de presidentes, tecnocratas em geral, economistas e os donos das maiores agências de publicidade do país. A foto acima, com todo o staff embecado e reunido na cozinha é, provavelmente, dos bastidores de uma dessas ocasiões.











