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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

15 anos depois, O "Aconteceu" continua acontecendo

Livraria da Travessa, Leblon, 2008: lançamento do livro "Aconteceu
na Manchete, as histórias que ninguém contou". 


Na noite de autógrafos: Jussara Razzé, Roberto Muggiati, Carlos Heitor Cony, Angela do Rego
Monteiro, Alice Mariano, J.A.Barros. Sentados: Lincoln Martins, Renato Sérgio,
José Rodolpho Câmara e Daysi Prétola. Fotos:Divulgação


Nunca foi a história oficial da Bloch, mas um documento sobre a vida que pulsava nas redações. Carrega a irreverência e as revelações que não seriam possíveis em uma obra "chapa branca". Lançada em 3 de novembro de 2008, a coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), organizada por José Esmeraldo Gonçalves e J.A.Barros, reúne os relatos de jornalistas que trabalharam na Manchete, Fatos & Fotos, Fatos, Amiga, Desfile, EleEla, Carinho, Mulher de Hoje, Tendência, Sétimo Céu, Geográfica, entre outras publicações e centenas de edições especiais. 

Durante as reuniões de pauta que estruturaram o livro alguns marcos foram indicando um caminho. A coletânea reuniria 16 autores de várias redações, cada um contando sua experiência na editora, em estilo próprio,  autêntico, sem linguagem padronizada ou pasteurizada: Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, José Esmeraldo Gonçalves, José Rodolpho Câmara, J.A. Barros, Daisy Prétola, Lenira Alcure, Angela do Rego Monteiro, Marília Campos, Renato Sérgio, Maria Alice Mariano, Alberto Carvalho, Orlando Abrunhosa, Beatriz Lajta, Jussara Razzé e Lincoln Martins. Com 432 páginas, além de um caderno com fotos marcantes e prefácio de João Máximo, o 'Aconteceu" incluia ainda depoimentos de fotógrafos, funcionários administrativos e personalidades convidadas, entre os quais Oscar Niemeyer, Ivo Pitanguy, Murilo Mello Filhos, Arnaldo Niskier, Zevi Ghivelder, Gervásio Baptista, Nilton Ricardo, Frederico Mendes, Eli Halfoun, Célio Lyra, Flávio Moteira da Costa e Lairton Cabral, A noite de autógrafos realizada na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, não foi apenas um momento literário. Tornou-se de fato um encontro marcado com centenas de colegas que atuaram na Bloch e leitores de várias gerações que cresceram acompanhando as revistas mensais e semanais da editora carioca. 

O livro ainda pode ser adquirido em sebos físicos e virtuais. Para nossa satisfação, encontrou um público especial nas universidades de todo o país como referência para publicações sobre jornalismo, é muito citado em TCCs e reconhecido como uma fonte de informações sobre métodos de trabalho nas redações nas fases anteriores ao impacto da internet e mesmo na transição para a era digital. 

À margem, literalmente, do corpo principal de cada página, o "Aconteceu na Manchete" oferece uma vasta série de pequenas histórias divertidas e bem-humoradas ligadas tanto aos bastidores do jornalismo quanto aos "causos" presentes nas redações. Essa seção chama-se 'Blog da Bloch". E foi o conteúdo desse espaço que inspirou a criação do "Panis Cum Ovum, o blog que virou manchete", que foi ao ar em junho de 2009 e ainda resiste na web. Trata-se da expansão on line e sempre atualizada de uma coletânea impressa lançada há distantes15 anos e que continua acontecendo.               

domingo, 15 de outubro de 2023

João Américo Barros (1931-2023): algumas linhas e imagens para a última página

João Américo Barros.
Paraty, 3 de setembro de 2023.
Foto: Arquivo Pessoal

por José Esmeraldo Gonçalves 

Esta última foto do João Américo Barros nos remete a um instante de profunda paz. Ele esteve em Paraty, no primeiro fim de semana de setembro, com a filha, Lúcia, e o genro Fernando e, de lá, enviou uma mensagem no whatsapp contando suas impressões da cidade. Barros gostava muito de História e a "capital" colonial do Ciclo do Ouro inspirou seu comentário. No domingo, dia 3, qundo voltava de Paraty enviou o que seria a derradeira mensagem. Queria saber do resultado do GP de Monza. A Fórmula 1 era outro dos seus interesses além do Flamengo que, naquele domingo, lhe deu a alegria de derrotar o Botafogo. "Em tempo: ganhamos do Bota", assim ele encerrou o papo virtual. Apenas dois dias depois foi atendido em emergência e, em seguida, levado à UTI com sintomas de uma pneumonia que resultou em infecção generalizada. Não foi embora sem luta. Aos 92 anos, resistiu por mais de um mês. 

O faixa preta Barros foi homenageado pelos colegas do aikido. Maio de 2023.
Foto: Arquivo Pessoal

A segunda foto foi feita em maio desse ano. Registra uma homenagem que a turma de aikido fez ao atleta que era faixa preta desde 2011, quando completou 80 anos. A imagem também é simbólica do seu jeito de ser. Barros não se isolou no outono da vida. Mantinha-se ativo no Facebook, voltou a pintar, era bem informado, conversava sobre política, sempre civilizado e ora com esperança ora com decepção. 

Em um dos seus artigos, ele abordou o ataque
à democracia em 8 de janeiro.

Lamentava não ter tempo para ver o Brasil que sonhamos, socialmente justo e desenvolvido, virar enfim uma realidade. Publicou neste blog reflexões políticas, profissionais e pessoais.

Bem no começo dos anos 1980, o então chefe de Arte da Fatos & Fotos, Ezio Speranza, deixou a Bloch. Barros, que entrou na editora como diagramador da revista Tendência e, em seguida, tornou-se diretor de Arte da Manchete Esportiva, foi indicado para o posto. Era o nome certo. Carregava no currículo nada menos do que O Cruzeiro, a mais importante revista ilustrada do Brasil até meados do anos 1960. Após uma temporada na FF, até 1986, ele foi transferido para a principal publicação da Bloch, a Manchete. Brincávamos que se tornara tríplice coroado como chefe de Arte por ter passado pelo O Cruzeiro, Fatos&Fotos e, finalmente, Manchete, as três revistas mais conhecidas no segmento ilustrado de atualidades e variedades. Trabalhei com o Barros por mais de 15 anos. Certamente enfrentamos bons e maus momentos naquelas revistas semanais intensas e desafiadoras. Este blog, para o qual ele criou o logotipo costuma recontar memórias das redações. Vou citar dois momentos que, tenho certeza, foram marcantes nas nossas trajetórias profissionais. Um de frustração e outro de realização. Em 1984, a Fatos & Fotos agonizava em praça pública travada por pouco investimento e baixa circulação em uma época em que a Bloch priorizava a decolagem da Rede Manchete. Carlos Heitor Cony, o diretor, Barros, o diretor de Arte e eu, editor-executivo, não aguentávamos mais carregar aquele fardo. Conversávamos os três sobre o que poderíamos propor à direção da empresa. 

João Américo Barros, José Esmeraldo e Carlos Heitor Cony.
Foto: Jussara Razzé
 

Cony pensou no assunto e, um dia, nos convidou para uma reunião fora da sede da Bloch. A ditadura também agonizava naquele época, talvez até mais do que a FF, embora ainda exibisse força.  Os milicos conseguiram barrar as Diretas-Já e manobravam para eleger Paulo Maluf no famigerado Colégio Eleitoral quando o nome de Tancredo Neves se impôs como uma alternativa. Cony havia sido convidado por Tancredo para dar  consultoria sobre a campanha. Foi várias vezes a Belo Horizonte. A ideia era - apesar de se tratar de uma eleição fechada em um Colégio eleitoral espúrio, criado pela ditadura, tentar falar com a população, procurar captar parte da força que o país demonstrara na épica jornada das Diretas-Já. 

Barros no Hotel Novo Mundo em 2005: almoço comemorativo
dos 20 anos do lançamento da revista Fatos: o melhor fracasso das nossas vidas.
Foto: Jussara Razzé  

E foi essa possibilidade de mudança no Brasil que Cony usou como argumento para levar a Adolpho Bloch a sugestão de fechar a Fatos & Fotos e lançar a Fatos, uma revista semanal de informação, análise, cultura, economia, política, reportagens investigativas e um time de colunistas, redatores e repórteres de referência. Em uma segunda reunião, fizemos um projeto detalhado para a Fatos. Barros criou o visual da nova revista. Foi feito um número zero, que Adolpho aprovou apesar da resistência de outros diretores. A primeira edição foi lançada em março de 1985. O que não sabíamos era que aquela resistência logo se transformaria em forte campanha interna liderada por pelo menos um jornalista que havia sido informante da ditadura e que mobilizou outros editores da Bloch em uma espécie de brigada contra a Fatos. Após um ano e quatro meses, a "jihad" formada pelo dedo-duro se transformou em sanção financeira. A empresa passou a atrasar sistematicamente o pagamento dos colaboradores, a maioria freelance. As reclamações da equipe, justas e insuportáveis, levaram Cony a virar literalmente a última página da Fatos, um projeto pelo qual lutamos até onde foi possível. Mais uma vez tivemos uma conversa a três e concluímos que não havia mais condição de tentar por em pé uma revista proscrita na própria editora. E, assim, as luzes da redação foram apagadas e eu e o Barros fomos incorporados à Manchete. Cony manobrou junto à direção da Bloch e parte da equipe foi acomodada em outras publicações da casa. 

Ficou o gosto amargo das noites insones de fechamento, do esforço perdido. A realização só viria cerca de 20 anos depois. A Bloch não existia mais em 2005 quando um grupo remanescente da antiga equipe da Fatos organizou um almoço no Hotel Novo Mundo para marcar os 20 anos do lançamento daquela revista, se viva ainda fosse. Foi durante esse encontro que nasceu a ideia de uma coletânea com as memórias dos bastidores das redações da Bloch. Depois de três anos de trabalho, com base em um projeto gráfico idealizado por J.A.Barros, foi lançado o livro "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata). Cony chamou a coletânea de "nossa pequena vingança" - e escreveu isso na página de rosto de um exemplar que autografou para mim. A história da Fatos e da "jihad" contra a revista estava lá, exposta e revelada. Naquele dia 3 de novembro de 2008, há 15 anos, com a Livraria da Travessa, no Leblon, lotada de amigos, a frustração foi curada. 

No capítulo que escreveu para a coletânea - "Quarenta e seis anos paginando os fatos e as fotos" - Barros contou sua longa e brilhante trajetória no jornalismo. Em meio às recordações, ele comentou o processo de informatização da Bloch Editores na segunda metade dos anos 1980. Designer formado no lápis, Barros assimilou com rapidez e naturalidade as novas tecnologias. Os analistas de computação mais jovens costumavam duvidar da capacidade das gerações mais rodadas dominarem hard e software. Ele desmoralizou o preconceito. Em poucas semanas tornou-se amigo de infância do Macintosh. Esse era o Barros. Vá bem, irmão.                                          

terça-feira, 26 de abril de 2022

70 anos - Em um dia como hoje, em 26 de abril de 1952, a revista Manchete chegava às bancas pela primeira vez.

 

A Manchete deixou de circular em agosto de 2000. Oito anos depois, um pequeno grupo de ex-funcionários da editora lançou o livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou (Desiderata). São relatos autênticos onde cada um, no seu próprio estilo, conta sua vivência nas revistas da Bloch Editores. Não são histórias oficiais. É a visão livre de colegas de vários setores. O livro também aborda o capitulo histórico de lancamento da revista em 1952, as dificuldades iniciais, a evolução jornalistica, a admirável qualidade gráfica. Manchete cresceu com o Brasil que se industrializava, falou com a classe média que crescia e consumia no ambiente de uma democracia que chegou a vencer graves crises desde 1954 mas sucumbiu em um golpe militar, o de 1964, que amordaçou o pais durante 21 anos. Como a maior parte dos principais veiculos jornalísticos, Manchete apoiou o golpe. O Aconteceu na Manchete não esconde esse perfil desfavorável, nem esse, nem outros, nem deixa de reconhecer a importância da empresa que se tornou uma das maiores editoras de revistas do país e se impôs pela qualidade dos seus conteúdos jornalísticos e gráficos. A coletânea é um mapa do caminho para desvendar os bastidores do complexo de prédios da Rua do Russell, no Rio de Janeiro. 

Este modesto blog nasceu um 2009 com o propósito de ser uma extensão do livro na internet. Tem procurado cumprir essa missão de preservar memórias jornalísticas. Uma grande perda para a história da Manchete foi, como se sabe, o sumiço do arquivo fotográfico, leiloado e arrematado por um advogado. Não se sabe o que foi feito do acervo, um dos maiores  da imprensa brasileira. Se foi picotado e vendido a quilo, por exemplo, se está largado em um galpão qualquer ou se, diria um otimista, está escondido mas preservado e um dia ressurgirá das cinzas. De qualquer forma, a notícia ruim felizmente foi amenizada pela Biblioteca Nacional ao digitalizar para o setor de períodicos da instituição a coleção da Manchete. Evitou-se a perda totalE o livro Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou está esgotado, mas é possível encontrá-lo em sebos digitais e também tornou-se uma fonte de consulta para universidades, pesquisadores e novas gerações curiosas sobre o jornalismo pré-internet.  

segunda-feira, 21 de março de 2022

Fotomemória da redação: cena do exótico Hotel Novo Mundo

 

A foto acima, que foi enviada ao blog por J.A.Barros, ex-diretor de Arte da revista Manchete. Registra um grupo de jornalistas que trabalharam na Bloch após um almoço no Hotel Novo Mundo durante a divulgação do livro "Aconteceu na Manchete, as história que ninguém contou". A imagem é, provavelmente, de 2008. A Manchete já não existia, faliu em 2000. O Novo Mundo resistiu por mais alguns anos. Hoje é um residencial. No térreo ainda funciona um bar, que era um concorrido point etílico das redações das revistas das Bloch. Atualmente abriga-se no térreo do antigo hotel o Bar do Zeca Pagodinho. Na foto: Beatriz Lajta, Alberto Carvalho, Carlos Heitor Cony, Daysi Prétola, Roberto Muggiati, Maria Alice Mariano, J.A.Barros, Lenira Alcure, Jussara Razzé e José Esmeraldo. O Novo Mundo era histórico e com histórias. Dignas de um filme. Afinal, o cinema gosta de tramas em hoteis. Quem não viu "O Grande Hotel Budapeste", "Grande Hotel", "Encontros e Desencontros", "O Exótico Hotel Marigold" e - que não se ouse duvidar das lendas no Novo Mundo - até mesmo um Hotel Overlock de  "O Iluminado".

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Angela do Rego Monteiro: uma perda, uma lembrança

Angela do Rego Monteiro
Foto Jornal da PUC
A jornalista e professora Angela do Rego Monteiro tem sua trajetória ligada a uma era profícua do jornalismo brasileiro. Foi do JB nos anos 1960, e do Globo, onde participou da equipe que criou o Ela, do qual foi editora. Em 1977, Angela foi surpreendida com um convite para se transferir para a Bloch Editores. Na coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), ela reproduziu um diálogo que teve com Roberto Barreira, o diretor do grupo de revistas femininas da Rua do Russell. 

- Você gostariha de trabalhar com cor? 

- Claro, seria um desafio. Algo absolutamente novo.  

"Esse é, resumido em duas linhas, o diálogo que me levou para a Bloch. Eu estava na plateia dos desfiles do Grupo Moda Rio, no Copacabana Palace, no inverno de 1977, quando Roberto Barreira, o todo-poderoso diretor do grupo de revistas femininas da Bloch Editores, fez o convite. Para mim, que trabalhava no Globo - onde me iniciei como repórter e aquela altura era editora do Globo Feminino, uma página diária, e do suplemento Ela - a proposta era tentadora. A Bloch, com suas revistas, era um sonho para quem atuava no mundo do jornalismo de moda. E era uma aspiração colorida para uma jornalista que até então se prendera ao preto e branco dos jornais. Lá fui eu. Despedi-me dos meus amigos da Rua Irineu Marinho (para onde voltaria ainda por duas vezes e onde me aposentaria em junho de 2002) e levei todo o meu entusiasmo para a Rua do Russell. 

Depois de descrever o primeiro contato com Roberto Barreira, Angela relatou no seu capítulo, além da experiência pessoal, todo o modus operandi que fazia da Desfile um das principais revistas femininas do Brasil e a renovação da cobertura de moda. E foi precisamente a capacidade de entender os rumos da comunicação em todas as suas vertentes que ela abraçou, depois, a carreira acadêmica e compartilhou experiências e talento como  professora da PUC do Rio de Janeiro.

Angela do Rego Monteiro faleceu ontem, no Rio, aos 78 anos. 

sexta-feira, 5 de março de 2021

Fotomemória da redação: a casa dos tempos ditosos

 

1967: Edifício Manchete quase pronto 


por José Esmeraldo Gonçalves (*)

Em 1967, a Manchete vivia a expectativa de mudar de casa. Preparava-se para deixar a Rua Frei Caneca e instalar-se em um moderno prédio assinado por Oscar Niemeyer e projetado para abrigar redações, fotocomposição, estúdio fotográfico, restaurantes, transporte, posto médico, setores administrativos e de publicidade. Justino cita acima o aspecto cultural da nova sede da Bloch Editores: o teatro, galeria de arte e um museu do carnaval. Este último não saiu do papel. 

A década de 1960 impulsionou o sucesso da Manchete. Foi quando a revista superou definitivamente a rival O Cruzeiro e se consolidou como a semanal de maior circulação do pais. O avanço da industrialização do Brasil se refletia nas páginas da Manchete em impressionante volume de anúncios.  Automóveis, eletrodomésticos, companhias aéreas, instituições financeiras, produtos alimentícios, refrigerantes etc pontuavam dezenas de páginas. Uma explosão de consumo, especialmente da classe média ascendente, beneficiava as revistas da Bloch, bem impressas e com as cores vivas que a TV e os jornais ainda não mostravam,. 

Os anos 1970 se anunciavam  promissores. E, de fato, foram, do ponto de vista econômico. Mas as consequências para a Manchete como veículo jornalístico já não se realizaram tão ditosas. O "Brasil Grande", da ditadura tornou-se um grande anunciante da revista, especialmente um indutor de muitas matérias pagas sobre as obras dos generais. A grande mídia em geral apoiou a ditadura, mas na revista ilustrada a alinhamento ganhava cores e páginas duplas vistosas. 

O dinheiro entrava, a credibilidade saía. 

O jornalismo ainda conseguia respirar. Como se pode ver na coleção da Manchete digitalizada pela Biblioteca Nacional, houve episódios de censura em Manchete e Fatos & Fotos, por várias vezes repreendidas pelo Ministério da Justiça com editores "convidados" a comparecer à Polícia Federal e com a EleEla sob raivosa censura prévia. Coberturas de acontecimentos como a Frente Ampla que desafiava o regime militar, as várias reportagens exclusivas que mostravam a vida dos exilados na Europa, matérias sobre o Esquadrão da Morte e a epidemia de meningite que os generais tentaram esconder eram exemplos de pautas que incomodavam a linha dura. Armando Falcão era um dos esbulhos grosseiros e arrogantes que telefonavam diretamente para Adolpho Bloch e reclamavam de certas matérias em termos nada educados.   

Os espaços cedidos à ditadura, contudo, marcaram fortemente a revista e comprometeram sua imagem, apesar de faturamento e circulação passarem quase incólumes por essa difícil fase. 

A nódoa do adesismo só começaria a se atenuar a partir de 1978, com as pautas da Anistia, o destaque dado à volta dos exilados e, em seguida, aos primeiros governadores de oposição eleitos, como Brizola, que fez histórica visita à Bloch e recebeu aplausos dos funcionários ao entrar no restaurante lotado. A  campanha das Diretas também recebeu ampla cobertura, assim como Tancredo Neves em oposição a Paulo Maluf, candidato da linha dura no então colégio eleitoral da ditadura. 

Manchete bateu recordes de tiragem com a visita do Papa, a inauguração do Sambódromo turbinou as vendas das edições de carnaval. Produtos da Rede Manchete, como as novelas Marquesa de Santos, Dona Beija e Pantanal motivavam capas e levantavam as vendas das revistas. O horizonte não parecia fechado naquele momento.

Aquele edifício que Justino Martins saudou foi ampliado em mais dois que formaram o grande conjunto da Rua do Russell  a virar referência carioca. Mas o que parecia anunciar nova era virtuosa se transformou em crise ao fim dos anos 1980, instalando-se a bomba-relógio financeira que levaria à falência da editora em agosto de 2000.

O prédio que uma vez anunciou bons tempos foi leiloado e atualmente abriga empresas diversas. Das redações que lá funcionaram, restam apenas breves lembranças despertadas nos mais antigos que passam por ali a caminho do centro do Rio. 



(*) José Esmeraldo Gonçalves é um dos autores da coletânea Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou, lançada em 2008 pela editora Desiderata, que revela muito do que eram o trabalho e a vida que corriam nos bastidores dos prédios da Rua do Russell. 
O livro, que não é a história oficial, muito ao contrário, ainda pode ser encontrado em canais de venda como Amazon, Americanas, Saraiva, Estante Virtual, Mercado Livre e sebos digitais. 

sábado, 3 de novembro de 2018

Há 10 anos era lançado o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou". Veja aqui os bastidores do projeto, o que era expectativa e o que virou realidade

O projeto original e o livro editado. 

3/11/2008: a Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, lotada de amigos. 

Jussara Razzé, Roberto Muggiati, Carlos Heitor Cony, José Esmeraldo, Angela do Rego Monteiro, Maria Alice Mariano e
J.A.Barros, Sentados: Lincoln Martins, Renato Sérgio, José Rodolpho Câmara e Daisy Prétola. Parte dos autores na noite de autógrafos e...
... dias depois, em frente ao  antigo prédio da Manchete, no Russell. Nesta foto, aparecem também Alberto Carvalho, Lenira Alcure e Bia Cony, 

por José Esmeraldo Gonçalves

Um dia como hoje, há 10 anos.

Em 3 de novembro de 2008, com a Livraria da Travessa, no Leblon, lotada de amigos, lançamos o livro "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata). Uma coletânea despretensiosa que cumpriu seu objetivo: registrar a vida, e as vidas, nas redações da extinta Bloch, do ponto de vista de um grupo de jornalistas que lá trabalhou. O livro editado pela Desiderata, um selo da Ediouro, obedeceu quase integralmente ao nosso projeto original.

Em relação ao conteúdo, foi respeitada a informalidade dos textos e o estilo próprio de cada um dos autores. Apostamos - e tínhamos razão - que as narrativas ganhariam muito em autenticidade se respeitado o jeito de contar dos autores que viveram suas histórias no prédio da Rua do Russell.

No livro original, exploramos algumas páginas duplas coloridas, uma referência gráfica às revistas que o livro espelhava.
Em razão do alto custo não foi possível mantê-las

As histórias paralelas nas margens ganhariam....  

... mais graça e destaque em cores, mas aumentariam... 

os gastos com produção gráfica e impressão.

Em todo caso, foi mantida a forma. E o recurso de "dois livros em um" funcionou. O Blog da Bloch tinha um estilo
mais direto e leve, uma espécie de rede social impressa.

Já o design original criado pelo diretor de Arte J.A. Barros, profissional que atuou em várias revistas da Bloch, foi adaptado em função dos custos.

Este post é ilustrado com a versão que idealizamos - vista em uma "boneca" impressa que entregamos à editora - e o livro tal como foi para as livrarias.

O livro projetado, do qual guardo uma valiosa e única cópia, tinha 504 páginas, o que foi publicado pela Desiderata, 432. O "nosso" era todo em 4 cores; o editado ficou em preto e branco, com apenas um caderno de fotos coloridas.  No mais, foi bom o diálogo com a equipe da Desiderata, mantivemos as histórias paralelas à margem das páginas, que chamamos de Blog da Bloch, uma espécie de embrião deste Panis Cum Ovum que foi ao ar alguns meses depois do lançamento do livro, em junho de 2009. Já tínhamos, naquela época, a intenção de manter uma versão digital e dinâmica a partir da concepção do livro. E o blog aí resiste, é um banco de opiniões, fatos e memórias, hoje com quase 15 mil posts que, juntos, compõem o capítulo digital e dinâmico do "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", aquele que um dia tomou forma impressa no já distante ano de 2008.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Fotomemória: no dia de hoje, há nove anos...

Os autores na Travessa, do Leblon: Jussara, Muggiati, Cony, Esmeraldo, Angela, Maria Alice e Barros. Sentados: Lincoln, Renato Sérgio, José Rodolpho e Daisy Prétola. 

O grupo revê o hall do antigo prédio da Manchete, então fechado após a falência. Foto. J.Egberto


Alberto, Lenira, Jussara, Bia, Daisy, Alice, Cony, Muggiati, Esmeraldo, José Rodolpho e, à frente, Barros. Foto: J.Egberto

No dia 3 de novembro de 2008, um grupo de ex-funcionários da Bloch lançou a coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), ao qual este blog dá uma sequência virtual.

O livro ainda pode ser encontrado em sites e sebos virtuais na Internet.

As fotos abaixo, recuperadas do baú do Panis, relembram os co-autores e uma visita que a turma fez no dia seguinte ao prédio da Manchete, então fechado, oito anos após a falência da empresa. A curiosidade se justificava.

A maioria voltava pela primeira vez ao local onde viveu parte da vida profissional.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Há oito anos, um livro pôs um ovo...

Panis Cum Ovum, o Blog que Virou Manchete, estreou há oito anos, não por acaso poucos meses depois do lançamento do livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou

A ideia era dar um suporte digital ao livro e tornar permanente o propósito que motivou aquela coletânea: reunir aqui uma memória jornalística, desde os bastidores de reportagens históricas ou rotineiras aos causos das redações, de reproduções de fotos marcantes à trajetória das diversas revistas editadas pela extinta Bloch.

Sem maiores pretensões, o blog incorporou uma dinâmica atual com foco especial no jornalismo, especialmente o dos meios de comunicação das redes sociais, aqueles inovadores, independentes e diversificados.

Da revista Manchete, que inspira o título da página, foi reciclada a essência do jornalismo ilustrado e de variedades, algumas seções e um certo espírito - saudável, aliás - de quem não se leva muito a sério. Carlos Heitor Cony, que lançou a EleEla e a Desfile e dirigiu Fatos & Fotos e edições especiais da Manchete, se inspirou no poeta latino Virgílio e criou um lema para Adolpho Bloch, Dementia Omnia Vincit, algo como "a loucura vence todas as coisas", em versão livre. O que explica tudo, inclusive a ascensão, apogeu e queda do seu império. Em tempo de "jornalismo de guerra", vale lembrar que a Manchete, como alguns outros importantes veículos da época, tinha suas claras preferências políticas e empresariais, de direita e com variações cromáticas antes, durante e depois da ditadura, mas não eram inquisitoriais, Torquemada não era colunista, e nem tinham a pretensão de apresentar cada edição que chegava às bancas como um "auto de fé", nem de ditar à sociedade odiosas bulas da moral, "bons costumes" e da exaltação do rentismo a todo custo.

Já no primeiro mês, junho de 2009, o blog precisou atender à curiosidade do leitor sobre o nome Panis Cum Ovum, sugerido por Cony, um dos autores do livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou. O nome de batismo é, em si, fruto de uma das historinhas de bastidores. Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete e da Fatos & Fotos, escreveu o texto explicativo O Poder do Pão Com Ovo, que virou item permanente da página, na barra à direita.

E é por falar em ovo que este post se justifica.

Um leitor sugeriu anexar à página algumas frases antológicas sobre ovos.

Taí, gostamos da ideia, como você pode conferir na barra ao lado.

A propósito, os romanos comiam no jentaculum, a primeira refeição do dia, nada menos do que panis cum ovum. A diferença é que o pão deles era embebido em vinho aquecido ou azeite.

Sabiam das coisas, os "filhos da loba".

sábado, 1 de agosto de 2015

1° de agosto, 15 anos de desgosto e de pequenas vitórias

Por ROBERTO MUGGIATI

No dia 1º de agosto de 2000, com a falência de Bloch Editores, foram sumariamente fechadas as portas do majestoso complexo arquitetônico da Praia do Flamengo que durante três décadas abrigou o império de comunicações da Manchete, que abrangia revistas, serviços gráficos, emissoras de rádio e uma rede nacional de televisão. Numa operação rápida e cirúrgica, oficiais de justiça lacraram as entradas dos três prédios desenhados por Oscar Niemeyer, depois de evacuarem os funcionários que ainda se encontravam no seu local de trabalho. Num procedimento de cruel frieza, os novos desempregados sofreram ainda a humilhação de serem minuciosamente revistados antes de chegarem ao “olho da rua...”
Muita coisa ficou para trás nas redações, além das memórias. Pertences pessoais nas gavetas, agasalhos para proteger do ar refrigerado excessivo (nos bons tempos em que o ar ainda era ligado), livros, cadernos de anotações e agendas, e outros itens que variavam de funcionário a funcionário. Os mais antigos, tinham o privilégio de possuir armários trancados a chave onde guardavam até ternos, camisas sociais e gravatas para ocasiões mais festivas. Nos computadores, ficaram também para sempre pedaços da vida de cada um: e-mails íntimos, textos mais pessoais, até algum romance destinado a publicação que tiraria o seu autor do obscuro papel de escriba utilitário, alçando- à fama e fortuna.
Em depoimento no livro Aconteceu na Manchete (Desiderata, 2008), o coordenador de reportagem José Carlos Jesus lembrou aquela terça-feira sombria:

“Quando o telefone da minha mesa tocou, me veio um estranho pressentimento. Tive a certeza de que aquela ligação estava me trazendo alguma coisa de muito grave. Do outro lado da linha, a voz, um tanto autoritária, logo confirmou. A ordem era que juntássemos todos os nossos pertences e nos retirássemos da sala e deixássemos o prédio o mais rápido possível. Só nos restava obedecer. Foi o que fizemos. A Bloch acabava ali. Para aqueles profissionais, uns, como eu, com trinta anos de trabalho, outros com quarenta, era o ponto final de um longo tempo de dedicação a uma empresa que já fazia parte da nossa vida, do nosso corpo e da nossa alma. Levei algum tempo para administrar o choque. ‘E agora? ’, perguntávamos a nós mesmos, entre lágrimas e perplexidade.”


Na foto, de 2012, Jileno Dias, José Carlos
e Nilton Rechtman na coordenação de uma das assembleias
do auditório do sindicato. Ao longo de 15 anos,
foram dezenas de reuniões que orientaram e reforçaram
as reivindicações dos ex-funcionários da Bloch junto à
Massa Falida da empresa.
O choque levou alguns anos para ser absorvido. E foi o mesmo José Carlos Jesus o primeiro a sair do estado de catatonia e inércia – e a propor ações concretas que garantissem os direitos dos ex-funcionários e os levassem a receber o que lhes era licitamente devido como credores da Massa Falida de Bloch Editores.
Foi uma longa luta, iniciada em 2004, durante a qual José Carlos sacrificou sua vida pessoal em função do trabalho pela causa comum. Designado presidente da Comissão dos Ex-Empregados de Bloch Editores, ele enfrentou as piores vicissitudes, entre elas o afastamento de sua família, que foi para os Estados Unidos em busca de melhores condições de vida. Aos poucos, com sua inteligência e espírito de solidariedade, familiarizou-se com os meandros do labirinto jurídico e, com rara diplomacia, costurou todas as alianças possíveis (entre Justiça, Ministério Público e Massa Falida) que pudessem beneficiar a causa dos ex-funcionários e de suas famílias – uma comunidade de 2.500 pessoas que passou por terríveis momentos de crise que incluíram casos de doença, alcoolismo, morte e até fome e suicídio.
A liderança de José Carlos resultou em vitórias: o recebimento do valor “principal” da dívida, em 2009, três rateios da correção monetária, em 2012, 2013, 2014 e agora um quarto rateio prestes a ser iniciado. Ele pagou um alto preço: as pressões psicológicas que sofreu causaram danos à sua saúde e comprometeram seu coração. Felizmente, uma intervenção cirúrgica de quase oito horas, há poucos meses, o brindou com um coração novo. Vamos à luta, companheiros!

Ontem, no Auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, os ex-funcionários da Bloch se reuniram para mais uma assembleia. Uma década e meia após a falência da Bloch, a mobilização continua.



MEMÓRIAS DE UMA LUTA
por José Carlos Jesus

Nesta sexta-feira, 31, julho de 2015, foi realizada mais uma assembleia dos Ex-Empregados de Bloch Editores no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.
Após passar a limpo todas as etapas dos processos da Massa Falida, uma data foi lembrada e vários ex-empregados chegaram a se emocionar. Este dia 1° de agosto marca os 15 anos da falência da Editora que outrora foi uma das maiores da América Latina, um complexo conhecido como o Império Bloch.
Fundamental foi e continua sendo neste processo, a atuação da Excelentíssima Senhora Doutora Juíza Titular da 5ª Vara Empresarial da Comarca da Capital, Maria da Penha Nobre Mauro, que não poupa esforços para atender as solicitações compatíveis com a lei dos credores trabalhistas da Massa Falida. Ao longo destes 15 anos, muitos obstáculos foram vencidos com o apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, em particular, os ex-presidentes que se sucederam durante esse período e, em especial ao advogado Dr. Walter Monteiro.




A foto acima é de 2012. Registra um encontro cordial entre ex-funcionários da Bloch com a Juíza da 5ª Vara Empresarial, dra. Maria da Penha Nobre Mauro, o representante do Ministério Público, dr. Luiz Roldão de Freitas. Particularmente importante foi a atuação da juíza da 5ª Vara Empresarial, não só agilizando o processo, mas imprimindo a ele uma sensibilidade humanista rara na chamada "máquina da Justiça."  
Entre outros, estiveram presentes Murilo Melo Filho, José Carlos Jesus, José Alan Leo Caruso, Roberto Muggiati,  Jileno Dias, Arminda de Oliveira Faria, Zilda Ferreira, Genilda Tuppini, e o presidente do Sindicato dos Gráficos do Rio de Janeiro, Jurandi Calixto Gomes. Na ocasião, a juíza revelou o segredo do seu sucesso: "Por trás dessa montanha de papeis eu vejo apenas o ser humano. Poderosos ou pobres, cada um deles é uma pessoa, um indivíduo sedento de justiça."
Este foi mais um momento relevante entre tantos em meio à luta que a Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores desenvolve há anos.

sábado, 6 de junho de 2015

Memórias da redação: o dia em que a Manchete hospedou no hotel Novo Mundo o mistério que virou farsa...

(do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou") 
O Caso Carlinhos - o desaparecimento, no Rio, de um menino em um famoso sequestro jamais esclarecido pela polícia -, mobilizou jornais e revistas nos anos 1970. E virou um mistério o destino do tal menino, acrescido do fato de que a polícia, ainda anos depois, levantava a hipótese de que ele estivesse vivo, já adulto. Volta e meia aparecia na mídia alguém que dizia ser o Carlinhos. Geralmente, logo se comprovava a farsa e o "novo Carlinhos" voltava ao anonimato.
Só que, certa vez, apareceu na Manchete um sujeito que afirmava ser o próprio.
A mídia levantava a possibilidade de Carlinhos estar vivo,
como apostava a chamada de capa na edição da Manchete
A idade e o tipo físico batiam. E até a mãe do Carlinhos parecia acreditar que pudesse ser seu filho.
O quase aval da mãe levou a revista a investir um pouco mais no assunto. A Bloch hospedou o suposto "Carlinhos" no hotel Novo Mundo para garantir a exclusividade da história.
Durante uma semana, até que ficasse provado que o cara era mais um engano, o "Carlinhos" da vez circulou pelos corredores da Manchete, andou paquerando umas moças, comeu bem, bebeu melhor ainda, foi recebido na sala do Adolpho e, não demorou muito, já estava íntimo e até dando uns palpites nas revistas.
Desmascarado pouco depois, foi proibido de entrar no prédio. "Esse 'Carlinhos' não entra mais aqui, foi a ordem que a recepção recebeu.
Depois do vexame, talvez até o próprio e autêntico Carlinhos, se um dia aparecesse por lá, seria defenestrado.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Memórias da Redação: "Geladeira geme?"

(do livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou - Desiderata)
Há histórias que só os corredores da Bloch contam.Principalmente, depois das 6 horas da tarde, quando a maioria das Redações encerrava os trabalhos.Uns gatos e gatas pingados permaneciam fechando matérias, revisando páginas, e era na noite onde morava o perigo. Sabe-se que jornalistas, classe explorada como burro de carga, passam mais tempo nas Redações, convivendo com colegas, do que em casa. Esse é um fato. O outro é que ninguém é de ferro. Daí, casos rolavam. Em um desses fins de noite, um faxineiro que limpava o banheiro ouviu um ruído estranho vindo da pequena cozinha com geladeira instalada em cada andar. Primeiro, achou que era uma alma penada; depois, concluiu que o ruído era mais coisa de vivo, de muito vivo. Na dúvida, o homem se mandou para a Redação e, de olho arregalado, soltou uma pergunta que fez parar as máquinas de escrever. "Geladeira geme?" Silêncio geral, que o faxineiro interpretou como um "não" e tratou ele mesmo de responder: "Então tem gente 'fudendo' na cozinha..."

sábado, 1 de novembro de 2014

Nelson Motta escreve no Globo sobre "Aquela Foto". É a famosa imagem de uma reunião de grandes nomes da MPB, em 1967, no terraço da casa de Vinicius de Moraes. O artigo não diz, mas o autor da foto exclusiva é Paulo Scheunstuhl, que atuou na Manchete

Reproduzido de O Globo

O livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" reproduz e identifica a famosa foto exclusiva de Paulo Scheuenstuhl. Essa é "Aquela Foto" a que se refere o livro "As Sete Vidas de Nelson Motta".

por BQVManchete
O jornalista, escritor e compositor Nelson Motta completa 70 anos. Entre outras comemorações, se encaixa o lançamento de "As Sete Vidas de Nelson Motta". Na última sexta-feira, Nelson reproduziu na sua coluna no Globo um trecho do livro onde fala sobre "Aquela Foto". A foto a que ele se refere é realmente famosa. E exclusiva. Reúne quase todos os nomes da MPB, na época. O jornalista dá a versão correta sobre os bastidores da foto. Esqueceu, ou não sabia, apenas de creditar a imagem ao seu autor. Como ele cita o Jornal do Brasil, o leitor pode ser induzido a achar que a foto era do JB. Não era. O próprio livro, "As Sete Vidas de Nelson Motta". credita a imagem. O autor foi o fotógrafo Paulo Scheuenstuhl, o Paulo Xuxu, que, na época, trabalhava na revista Manchete. O livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) publica uma reprodução da foto, acompanhada da identificação e da seguinte legenda, que explica a razão da reunião de tantos nomes ilustres da música brasileira: Clic de bossa - O fotógrafo Paulo Scheuenstuhl capta no terraço da casa de Vinícius de Moraes, em agosto de 1967, uma reunião dos maiores nomes da MPB. O grupo planeja uma ofensiva musical para resgatar as marchinhas de carnaval. Se o carnaval não se salva, fica a rara foto exclusiva. 
A célebre foto do Paulo Xuxu já foi publicada diversas vezes, sem o crédito. Mas ele está atento e costuma pedir retificação ao veículos. Certa vez, o mesmo Globo publicou que era de autoria de João Araújo, que, aliás, aparece na foto. Acontece que o falecido produtor tanto gostou da imagem que mandou ampliá-la e cobriu uma das paredes da sala de casa com a constelação de cantores e compositores. Paulo pediu e o Globo corrigiu o erro. Em outra ocasião, o Canecão quis usá-la como cenário de uma temporada de Chico Buarque. Paulo Xuxu soube e entrou em contato com a casa de shows. Não se sabe se por falta de crédito ou por falta de grana, quesito no qual o Canecão era notoriamente complicado, o fotógrafo vetou a utilização da foto. O livro "Aconteceu." também relaciona os nomes de quem aparece na foto: Lenita Plocynsynska, Edu Lobo, Tom Jobim, Torquato Neto, Caetano Veloso, Capinam, Paulinho da Viola, Sidney Miller, Zé Keti, Eumir Deodato, Olivia Hime, Helena Gastal, Luís Eça, João Araújo, Dori Caymmi, Chico Buarque, Francis Hime, Nelson Motta. Vinicius de Moraes, Dircinha Batista, Luiz Bonfá, Tuca, Braguinha e Jandira Negrão de Lima. A foto foi publicada, na época, em reportagem da Manchete sobre o assunto. E republicada muitas vezes em matérias sobre a Bossa Nova ou em edições especiais de Manchete 30 Anos, Manchete 40 Anos, Manchete N° 2000 e Manchete 45 anos. 
A capa do livro...

... a contra capa e...

o crédito ao fotógrafo que foi da revista Manchete.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Que em 2014 os fotógrafos consigam proteger seus acervos. Um exemplo? A foto abaixo, de Paulo Scheuenstuhl, que foi da Manchete, é uma das mais pirateadas do Brasil. Na cara-de-pau, é publicada como "Acervo Pessoal"... Essa aí saiu no site da Trip em artigo de Carlos Nader sobre Nelson Motta

(da redação da JJcomunic)
O fotógrafo Paulo Scheuenstuhl, da Manchete, fez a foto exclusiva para a revista em agosto de 1967. Estão aí os maiores nomes da MPB. O motivo da reunião no terraço da casa de Vinicius de Moraes era, segundo o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", combinar uma campanha para resgatar as marchinhas de carnaval. Com o devido crédito, a foto foi reproduzida entre outras imagens históricas no citado livro lançado pela Desiderata, hoje esgotado e disponível apenas em alguns sites na internet.  Publicada pela Trip (clique AQUI) , até com o diagrama da edição original que identificava os artistas, a foto foi creditada com um genérico "Acervo Pessoal". ena. Fica o registro em apoio a um dos grandes fotógrafos brasileiros. E um adendo: os fotógrafos que trabalharam na Manchete ainda lutam para localizar o acervo que pertenceu à Bloch e que foi leiloado pela Massa Falida da empresa. Eles revindicam informações sobre condições de preservação do material e um contato com o arrematante do arquivo de mais de 10 milhões de imagens. Pela lei, o arrematante é detentor dos direitos patrimoniais, enquanto que pertencem aos fotógrafos os direitos autorais. Em nome da preservação de cenas históricas da vida brasileira, seria bom que 2014 possibilitasse um desfecho mais racional para essa polêmica. A memória nacional agradeceria.