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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Memórias da redação: como o Caso Carlinhos foi parar na Manchete

 


Carlinhos fake ataca na Rua do Russell. Reprodução do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou". Clique para ampliar.

por Flávio Sépia
O sequestro do menino Carlinhos em 1973, 50 anos, permaneceu na mídia durante anos, talvez décadas. É até hoje um mistério, assim como o sumiço da ossada de Dana de Teffé, que muito impressionava Carlos Heitor Cony. O recorte acima é dos anos 1990 e mostra que a revista Manchete caiu em um golpe de baixa periculosidade, digamos. Leia acima. Enquanto o falso Carlinhos alimentou as páginas da revista, Manchetes até faturou algum em vendas. Tornou-se proscrito quando foi desmascarado e tomou rumo desconhecido. O Carlinhos "fake" deve ter entrado para a política. Tudo a ver com a esperteza dele.

sábado, 6 de junho de 2015

Memórias da redação: o dia em que a Manchete hospedou no hotel Novo Mundo o mistério que virou farsa...

(do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou") 
O Caso Carlinhos - o desaparecimento, no Rio, de um menino em um famoso sequestro jamais esclarecido pela polícia -, mobilizou jornais e revistas nos anos 1970. E virou um mistério o destino do tal menino, acrescido do fato de que a polícia, ainda anos depois, levantava a hipótese de que ele estivesse vivo, já adulto. Volta e meia aparecia na mídia alguém que dizia ser o Carlinhos. Geralmente, logo se comprovava a farsa e o "novo Carlinhos" voltava ao anonimato.
Só que, certa vez, apareceu na Manchete um sujeito que afirmava ser o próprio.
A mídia levantava a possibilidade de Carlinhos estar vivo,
como apostava a chamada de capa na edição da Manchete
A idade e o tipo físico batiam. E até a mãe do Carlinhos parecia acreditar que pudesse ser seu filho.
O quase aval da mãe levou a revista a investir um pouco mais no assunto. A Bloch hospedou o suposto "Carlinhos" no hotel Novo Mundo para garantir a exclusividade da história.
Durante uma semana, até que ficasse provado que o cara era mais um engano, o "Carlinhos" da vez circulou pelos corredores da Manchete, andou paquerando umas moças, comeu bem, bebeu melhor ainda, foi recebido na sala do Adolpho e, não demorou muito, já estava íntimo e até dando uns palpites nas revistas.
Desmascarado pouco depois, foi proibido de entrar no prédio. "Esse 'Carlinhos' não entra mais aqui, foi a ordem que a recepção recebeu.
Depois do vexame, talvez até o próprio e autêntico Carlinhos, se um dia aparecesse por lá, seria defenestrado.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Pegadinhas jornalísticas. Alguém lembra dessa? O dia em que Silvio Santos disse que tinha seis anos de vida. E o caso Somália?


por JJcomunic
Essa é antológica. Silvio Santos esteve de novo no foco do noticiário sobre a recente crise de suas empresas impulsionada pelas denúncias de fraude no Banco Panamericano. Dessa vez, o caso era sério. Mas há cerca de oito anos, o homem do Baú provocou um alvoroço na mídia ao declarar em entrevista gravada pela Contigo, em Miami, que tinha apenas seis anos de vida e que já havia vendido o SBT para Boni e a Televisa. A reportagem era irônica e a revista - contam os editores na época - resolveu publicá-la já que tudo estava registrado em fita. Em certo momento, Silvio chegou a interromper a entrevista alegando que precisava sair correndo para fazer uma transfusão. A matéria, classificada de "jornalismo ficcional", virou um "case" e foi amplamente discutida por jornalistas e profissionais de comunicação. Aquela não foi a primeira vez em que ele usou a mídia para provocações bem-humoradas. Em 1971, Silvio deixou-se fotografar pela revista Melodia - para ajudar um amigo editor, segundo foi comentado na época - sem a famosa peruca e sem o implante que seria feito anos depois. Dizem que a edição vendeu o triplo com o "furo". Essa semana, os jornais publicaram reportagens sobre o "sequestro relâmpago" de Somália, do Botafogo. O jogador teria sido rendido por bandidos e obrigado a retirar dinheiro em caixas eletrônicos, além de perder relógio e dinheiro. Somália justificou assim sua ausência nos treinos e até deu queixa à polícia. Tudo certo? Não. Errado. A polícia viu contradições na história e resolveu apurar melhor. Surgiu até uma fita que mostra o jogador no elevador do seu prédio no momento exato do alegado sequestro. A investigação prossegue e Somália pode responder por falsa comunicação de crime. Mas enquanto a versão do jogador prevaleceu, os jornais repercutiram a história, falaram do trauma que esses casos deixam, ouviram psicólogos, publicaram frases de amigos apoiando o jogador "nesse momento difícil". O alvo da "pegadinha" do Somália teria sido o Botafogo mas a mídia acabou involuntariamente atingida. O livro "Aconteceu na Manchete" - as histórias que ninguém contou" (Desiderata) revela que aquela revista também foi vítima de uma "pegadinha" jornalística. Nos anos 70, o chamado Caso Carlinhos (o sequestro de um menino) mobilizou o país e a imprensa. O caso está até hoje sem solução (Carlinhos jamais apareceu) mas permaneceu na mídia duarante anos. Volta e meia a imprensa localizava um "Carlinhos", que, dias depois, era desmascarado. Já no fim dos anos 80 surgiu na Manchete um desses supostos Carlinhos, já com vinte e poucos anos. A revista hospedou o rapaz no hotel Novo Mundo enquanto registrava e apurava sua história. Durante algumas semanas, até que a farsa fosse caracterizada, o suposto Carlinhos levou boa vida e mordomia farta. São curiosos exemplos do "jornalismo ficcional", uma categoria que o Prêmio Esso não contempla. Pelo menos, até agora.