quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Mídia: o papel do digital

por José Esmeraldo Gonçalves

A queda vertiginosa dos meios impressos no Brasil é um fenômeno a ser estudado mais profundamente. Claro que os novos modelos digitais de mass media explicam muito sobre a mudança radical do mercado em todo o mundo nas duas últimas décadas. Mas, no nosso caso não parece fazer sentido a velocidade da queda. Péssima distribuição de renda, baixa escolaridade, pouco hábito de leitura e concorrência da internet são apontados como fatores relevantes no diagnóstico da crise. 

Em países da União Europeia os números da tiragem física de revistas e jornais decaíram em ritmo bem mais lento. Nas grandes cidades da UE as bancas de jornais ainda são estantes jornalísticas em número menor mas ainda expressivo. 

Nas capitais brasileiras, o cenário, no caso dos jornaleiros, é de devastação. A maioria das bancas permanece como pontos comerciais onde jornais e revistas são agora acessórios entre variadas mercadorias. 

Não é possível fixar a data do fim dos impressos. Há 15 anos, vários especialistas decretaram esse the end absoluto em até os cinco anos seguintes. A previsão falhou, mas vai se realizar em um futuro qualquer. Essa tendência é infelizmente muito clara.

A Folha divulgou hoje um quadro atualizado da circulação digital e impressa dos três principais jornais brasileiros. 


Aponta uma boa performance digital para o cenário brasileiro. No quadro da Folha, os números da circulação impressa chamam a atenção. A ocupação do espaço digital é um trabalho em progresso. 

O veículo que melhor fez a transição de modelo foi o New York Times, o principal jornal em língua inglesa do mundo. Em 2020 alcançou 6,5 milhões de assinantes, um número que inclui 5,7 milhões de assinaturas digitais. O impresso soma 1 milhão e 200 exemplares nessa conta. O NYT pretende chegar a 10 milhões de assinaturas no total até 2025, mas não espera manter um quinto disso em tiragem física. a escalada não é fácil: só no ano passado a receita da versão digital do NY Times superou pela primeira vez o faturamento da edição impressa, cuja assinatura é mais cara e mais cara também é a tabela de anúncios. As versões digitais dos grande veículos sofre com os preços da publicidade na internet, vandalizados pela concorrência das redes sociais.

O desempenho digital dos três grandes jornais brasileiros é boa notícia tratando-se do complicado cenário brasileiro. Uma presença mais forte da mídia profissional na internet é bem-vinda. E incluo aí a mídia profissional independente que, apesar das dificuldades, mantém veículos de indiscutíveis qualidade e credibilidade. O que é importante, por dois principais motivos: levar a verdade e os fatos ao terreno pantanoso da web e mostrar o contraditório às mentiras das trevas bolsonaristas espalhadas por milícias, fanáticos e robôs financiados.

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