quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Fotomemória Carioca: essa imagem de 1972 diz muito sobre os políticos brasileiros. Entenda.



Foto Correio da Manhã/Arquivo Nacional

por Flávio Sépia

Só a burrice, a ação dos lobbies e a corrupção explicam. Ou os três fatores juntos. Até os anos 1960, as capitais brasileiras dispunham de extensas linhas de bonde. Verdade que o povo reclamava, e com razão. As companhias, embora privadas, não mais investiam no sistema. Todas eram ligadas a empresas estrangeiras, como a Light. O fim das concessões se aproximava, e parecia não haver interesse em renová-las. No Rio, o corte de energia que se repetia várias vezes ao dia paralisava o tráfego de bondes. O Brasil precisava de grandes investimentos em hidrelétricas, de retorno financeiro demorado, e o capital privado preferia não encarar esse risco. O sucateamento estava à vista. A superlotação era abusiva. 

Em 1963, o governador Carlos Lacerda decretou com uma canetada a extinção dos bondes cariocas e as picaretas em todos os sentidos foram às ruas dar início ao quebra-quebra. Outras capitais fizeram o mesmo. Praticamente de um de um dia para o outro, as empresas de ônibus triplicaram de tamanho, passaram a faturar altos lucros e, com o tempo, ganharam enorme poder político projetado nas décadas seguintes. As mais ambiciosas enchiam os bolsos de autoridades da popular propina, como até hoje investigações esporádicas revelam. Não por acaso, os donos dos cartéis de ônibus tornaram-se milionários. Não ocorreu ao poder público nem aos gestores de então decisão mais racional, como oferecer os bondes em concessão ou mesmo criar empresas públicas - a CTC assumiu o sistema apenas para coordenar a destruição - para administrá-los e modernizá-los. Foi o que fizeram, por exemplo, muitas capitais da Europa, onde até hoje são mantidos sistemas de bondes integrados aos metrôs. 

A CTC implantou ônibus elétricos no Rio, várias capitais fizeram o mesmo, bilhões foram gastos para instalação de cabos e aquisição de veículos. Muitos intermediários (o termo "operadores" não era usado ainda para tais casos) novamente saíram de bolsos cheios. Mas os trólebus não duraram muito. Acusados de atrapalhar o tráfego, foram desativados. A mesma acusação antes invocada para destruir as linhas do antigo bonde, 

Com a invasão dos automóveis, o sistema sobre trilhos provocava engarrafamentos insuportáveis para a nova classe média motorizada. Em vez de cuidar do transporte público, os picaretas nacionais privilegiaram o privado. Pois a foto acima, quase dez anos depois da arrancada dos trilhos, mostra um trecho da Avenida Rio Branco coalhada de ônibus. A fim dos bondes não resolveu, ajudou a agravar os congestionamentos. Observe os fusquinhas da classe média ascendente engolidos pelos 'busões'.

Em 2016, os bondes voltaram ao Centro do Rio. Agora com o nome de VLT. Circulam em 28km de trilhos. 

O sistema dos antigos bondes, quando foram extintos, contava com mais de 400km de trilhos.

Um comentário:

J.A.Barros disse...

Muitos países do velho e novo mundo mantem até hoje, no seu transporte de massa, o bonde. Todos políticos comentem erros e um desse políticos, então como governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, numa canetada acabou com o bonde e no acabar com o bonde acabou como o maior transporte de massa que uma cidade pode ter. Veio o Troley–bus, uma mistura de bonde com ônibus. Enormes, pesadões não deram certo. Vieram então os ônibus, que como uma praga de gafanhotos invadiram a cidade criando os maiores engarrafamentos de trânsito, muita vezes parando a cidade. Os ônibus , muito fechados, com janelas de abertura de 50%, não ventila o necessário para manter os seus passageiros respirando normalmente. Com 50% de ventilação, os passageiros, espremidos dentro do veículo, sufocam e sofrem como se estivessem dentro de uma sauna. Hoje no Rio, criaram o veículo moderno do bonde, mas que só atende ao centro da cidade do Rio. Quer dizer: é mesma coisa do que nada. Enquanto havia o velho bonde, o carioca pegava um deles na Para 15 e ia até o último posto de Copacabana ou então, na mesma Praça 15 pegava o bonde e viajava até Usinas no alto da Tijuca.