terça-feira, 12 de janeiro de 2021

A revolução dos cyber seios (e o que isso tem a ver com a História)


As bem-dotadas estrelas dos videogames

por Clara S. Britto 

Vamos falar sobre seios. Tenho uma amiga com filhos adolescentes que, como muitos, são entusiastas dos videogames de última geração, como Playstation e Xbox. Alguns jogos têm como protagonistas super heróis e super heroínas. Estas, invariavelmente, são mega peitudas. 

Esse tipo de curvas acentuadas parece seduzir a garotada. 

Mas o fenômeno não está apenas na ficção digital. Um fabricante brasileiro de lingerie detectou que a venda de sutiãs tamanho P, que nos anos 1990 representava 20% do total, caiu em 6% e 15%, dependendo da região do país. Alimentação, sedentarismo e aumento da estatura média da população e a procura precoce por próteses estão entre os fatores que fazem os seios pularem dos decotes. 

Aquela jovem dos anos 1960/1970 que estava mais preocupada em conquistar direitos e exibia seios geralmente pequenos já era. Basta ver como as musas da época, Leila Diniz e Helô Pinheiro (a Garota de Ipanema), eram contidas no quesito. Ou as estrelas da Nouvelle Vague. Uma Sophia Loren tinha mais busto do que Anna Karina, Bernadette Lafont e Anne Wiazemsky juntas. 

Voltando ao Brasil. Hoje, um simples caminhada nos calçadões das cidades praianas prova que as novas gerações pouco ou nada deixam a desejar em relação às heroínas dos videogames. Vai longe o tempo em que a vibe dos peitões era tipicamente americana. Seios poderosos, dignos desse adjetivo, só no cinema. Os símbolos eram Jayne Mansfield, Jane Russel, Sophia Loren. Hoje, como um revival estético, suas medidas correspondem às das estrelas dos videogames.

Mas houve outros tempos em que os peitos foram valorizados. Os pintores clássicos, aí por volta de 1400/1500, foram pródigos em retratar belas damas em topless. Rafael teria sido o mais ousado. Tanto que a Igreja Católica atribuiu ao pintor a profusão e a profundidade dos decotes então adotados pela mulherada nos salões da reta final da Idade Média. 

Curiosamente, muito antes de Rafael, a igreja já havia passado a cultuar uma jovem e nobre siciliana de grande beleza e seios turbinados. Agueda, o nome da musa, despertou desejos intensos no cônsul Quinciano, que a pediu em casamento. A moça recusou, era cristã, já estava comprometida com Deus. Enfurecido pela negativa, e com o apoio do imperador Trajano, o cônsul mandou prender a jovem sob a acusação de prática de bruxaria. Ágata teve os seios arrancados. Por um milagre, os seios renasceram dias depois. A Igreja a reconheceu como mártir da virtude e santa. Para muitas crentes, Águeda tornou-se uma espécie de protetora dos seios. É cultuada até hoje, há orações em seu nome. Chegou a ser representada em pinturas com os seios nus, mas essas versões foram condenadas pelo clero e a imagem foi redesenhada. Mesmo assim, é a única santa retratada em muitas pinturas ou imagens com o volume do busto aparente sob as vestes. Há muitos mais mistérios entre a preferência dos games e o martiriológio romano do que pensa a vã filosofia digital.

Nenhum comentário: