terça-feira, 12 de janeiro de 2021

O pão nosso de cada dia • Por Roberto Muggiati

 

Foto Adobe Stock

Foi na última viagem do fim do meu primeiro casamento. Depois daquele porre que é a visita guiada a Versalhes fomos a um café enquanto o ônibus de Paris não chegava. A lembrança é clara. Ouvi, de um grupo de paulistas, a voz esganiçada de uma jovem: “Mas eles não servem cacetinho aqui!?” Me deu vontade de dizer: “Cacetinho é o cacete! Aqui eles não servem pães, só brioches...” Refreei o impulso, a cultura da mocinha não devia chegar à frase famosa atribuída a Maria Antonieta.

Entre as muitas coisas que tenho colecionado nestes tempos erráticos da pandemia está a quantidade de nomes usados para designar o pão nosso de todo dia: pão francês, careca, cavaca, baguete, bisnaga, broa. A baguete chamada de brigite entrou para o repertório depois da visita famosa da Bardot a Búzios no verão de 1964. Pão australiano, suíço, italiano, ciabatta, focaccia. Pão ázimo. Pão de queijo, pão de mel, de alho, de cebola, com gergelim, provolone, parmesão. Pão alemão: Pumpernickel, Kümmelbrot, aquele pão de cominho. Pão árabe, pão sírio. Pão de hambúrguer, pão de cachorro quente. Todas as formas de pão de forma com seus múltiplos sabores, grãos e fibras. Conhecem a sacadura? Imaginei que o nome fosse homenagem a Sacadura Cabral, o aviador que fez em 1922 com Gago Coutinho a primeira travessia do Atlântico Sul. Até hoje não tive confirmada essa teoria.

Quando ainda trabalhava na Manchete, descobri um pãozinho maravilhoso numa padaria da Rua Tonelero, vizinha ao prédio Albervânia, onde Carlos Lacerda sofreu o famoso atentado de 1954. Como tinha dificuldade em fixar o nome do pão, eu o associei ao do mandachuva do garimpo de Serra Pelada, o Major Curió. Era um minipão francês crocante, com uns cinco centímetros de comprimento e eu costumava compra-lo por peso.

Querendo reeditar a experiência gustativa de contornos proustianos, busquei a tal da padaria na internet. Apareceu logo uma Panificação e Confeitaria Curió, à Rua Tonelero, 202lj, telefone 2547.6266. Só que a Vivo informa:  “Esse telefone não existe”. E, navegando na Tonelero pelo Google Maps, não encontrei nenhuma padaria, o 204 é o número da portaria de um edifício novo sem lojas no térreo. Por enquanto, a vida fica me devendo o gostinho do curió. Mas a pesquisa sobre nomes de pães continua e toda colaboração dos leitores do nosso Panis (!) será bem-vinda. 

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