domingo, 13 de dezembro de 2020

Em tempos de Bolsonaro, o jornalismo investigativo, quem diria, sumiu ou quando aparece fica constrangido

 


E a Época? O repórter Guilherme Amado foi o autor do furo jornalístico da semana; a matéria sobre os relatórios da ABIN para jogar no forno de pizza  a roubalheira detectada no caso das "Rachadinhas", o escândalo em banho maria que envolve a facção no poder. 

Foi uma novidade na fase atual da grande mídia. As revistas de informação, Veja, Istoé, Época, há muito perderam o apetite para matérias de "denúncia".  Seja porque perderam a fonte de abastecimento que brotava na Lava Jato, seja porque participaram ativamente do processo que levou Bolsonaro ao poder e, ainda agora, mantém o pé de apoio no governo através de afinidades profundas com o czar da política econômica, Paulo Guedes. 

Em outros tempos, a matéria de Guilherme Amado seria capa, sem dúvida, ganharia bom espaço no Jornal Nacional, repercussão ampla na Folha, Estadão etc. 

Tente imaginar a ABIN fazendo hora extra para produzir relatórios em defesa de um filho do Lula ou a filha da Dilma. Sacou o barulho de muitos megatons? Já estou até vendo os editoriais praticamente pedindo a intervenção da Quarta Frota americana, a polícia do Atlântico Sul, para "salvar a democracia brasileira". Miguel Reale se descabelava. Janaína Paschoal estaria a ponto de se enrolar na bandeira do Brasil e se imolar em praça pública. Roger correria pelado na Paulista em puro desespero. O MBL em peso ameaçaria se atirar do Edifício Itália. As senhoras de Copacabana e seus maridos de gordas aposentadorias e fraldas idem ocupariam a Av.Atlântica pedindo a ocupação militar de Brasília, de preferência bombardeando o Planalto, o Alvorada e o apê do Lula em São Bernardo. 

Pois é. 

Vivemos novos tempo. A grave denúncia de Guilherme Amado mereceu da Época apenas uma chamadinha de capa.

Quase constrangida.


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