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sábado, 1 de agosto de 2020

As folhas mortas da edição da Manchete que não aconteceu: 20 anos, hoje

Os prints da edição da Manchete que jamais foi impressa. 

Matéria de Rubens Barrichello. 

Uma das reportagens da edição.
É quase ilegível, mas o print é datado. 1° de agosto de 2000. 20 anos hoje. 

por José Esmeraldo Gonçalves

Em 2007, Carlos Heitor Cony recordou na Folha de São Paulo o último dia da Manchete. "Na minha sala, antiga sala de JK e do dr. Albert Sabin, que a ocuparam durante anos, havia seguranças, o oficial de justiça me esperando. Um lampião mal dava para iluminar o hall de entrada, impossível retirar minhas coisas pessoais".

Naquele 1° de agosto de 2000, a Manchete vivia a sua versão jornalística da Operação Dínamo, o nome que Churchill deu à caótica retirada de Dunquerque.

Crônica do Cony na Manchete que não aconteceu...

Com os elevadores desligados, o oficial de justiça se dispôs a iluminar o caminho do Cony nas  escadas até o térreo. Duvido que, naquele momento, o amigo lembrasse da crônica que entregara à redação no dia anterior. Cony publicou dezenas de livros e milhares de crônicas que viram a luz das livrarias e das bancas de jornais e revistas, mas aquela última, escrita para a Manchete, na penumbra do fim, estava destinada a ficar sem destino.

J.A. Barros, o diretor de Arte que paginou aquela edição, a chamou, em post recente neste blog, de "Manchete fantasma". As páginas foram montadas e finalizadas, mas jamais impressas. Barros já especulou que a Manchete que não existiu repousa em paz no HD de um computador qualquer lacrado naquele dia e leiloado depois como um item do que se tornaria a sucata lacrada pela justiça.

Perdeu-se por aí.

Pois aquela edição, a que não existiu, se recusou a morrer: deixou os prints que aqui, 20 anos depois, são exumados.

Por algum motivo, Cony, que normalmente fazia na revista crônica dos fatos, entregou à redação, na véspera da falência, um conto sobre um sujeito que ouvia As Time Goes By em uma noite de solidão.

"No matter what the future brings/As time goes by", diz um dos versos da canção de Herman Hupfeld.

Na língua de Camões, ou de Jesus, o "ex-míster" do Flamengo, "não importa o que o futuro traga com o passar do tempo".