O lado bom é que as mensagens e atitudes solidárias que ele recebe dos democratas superam em muito a atuação dos robôs da bandidagem. A mídia conservadora abriu espaço para Felipe Neto se posicionar contra a ofensiva miliciana. Em várias intervenções, como em debate no Globo News, Neto chamou a atenção para uma ameaça que vai além do caso pessoal: a democracia que está em risco.
Ou ter o Ministério da Justiça montado uma "polícia política" que produz dossiês sobre opositores do governo não é um ataque aos valores democráticos? Ter um Planalto um ativo gabinete do ódio que planta fake news nas redes sociais e orquestra perseguições não é uma estratégia fascista?
Quem descobriu a farsa da "polícia política" do Ministério da Justiça foi o repórter Rubens Valente, do Portal UOL, em furo jornalístico espetacular. O jornalismo investigativo faz falta na chamada grande mídia, especialmente na Globo News. A nova CNN Brasil também é carente nesse item, mas se trata de um canal que demonstra maior alinhamento com o governo. A Globo News privilegia a informação política e econômica nesse trágico momento do país, mas também se limita a praticar um jornalismo declaratório, a cansativa e passiva fórmula de ouvir autoridades sobre as mais graves atitudes dos representantes dos governo nas mais diversas áreas sem contestá-las diretamente ou investigar os fatos em questão e em campo. A crítica quando vem vem fria, através de "análise" monocórdica de comentaristas, aliás, um monte deles. Falta gastar a sola do sapato, falta descer do salto alto, falta vencer a acomodação frente às notas oficiais, às coletivas realizadas em protocolo controlado onde só as autoridades falam. Falta investigar. Só assim nascem matérias relevantes como a do repórter do UOL
Mas o nervo exposto da Globo News e da CNN Brasil que Felipe Neto tocou foi outro. Foi a prática enganosa de ouvir o "outro lado" mesmo quando o "outro lado" é notório produtor de fake news. Essas figuras são convidadas a "debater" nesses canais. Geralmente "debatem" sem contestação. Ou seja, o "debate" serve apenas para validar posições escabrosas. Felipe Neto citou, como exemplo, a frequência com que esses canais recebem o deputado Osmar Terra, notório negacionista da Covid-19. Colocar microfone e câmera à disposição dessa figura só favorece a onda de desinformação que custa vidas no meio dessa tragédia. Há muitos outros exemplos. Até Ricardo Salles quando vai a esses canais passa a imagem de ambientalista, só falta mostrar a carteirinha do Greenpeace. E o Neto ainda ensinou que ao dar espaço aos criadores de fake news e validá-los os meios de comunicação impulsionam os algoritmos que espalham as... fake news.
Curiosamente, talvez por força do hábito, os comentarista da Globo News também não contestaram as afirmações de Felipe Neto.
A direita sempre teve espaço na mídia conservadora. Não se trata de ignorá-la. Lá atrás, na ditadura, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen, Delfim Neto, ACM etc eram tão habituais na TV quanto Chacrinha e Chico Anysio. Depois da redemocratização, Sarney deixou governo mas não saiu da mídia, Moreira Franco idem, o mesmo vale para tantos outros representantes mais recentes da direita. O que a mídia favorece agora são os próceres fascistóides a pretexto de "ouvir o outro lado". Na maioria das vezes, esse "outro lado" é a lama, basta ir às redes sociais dessas figuras. Se é obrigatório dar-lhes palco que pelo menos tenham seus discursos contestados por fatos incontestáveis que os bons repórteres, e não os comentaristas, investigam. Imaginem o Washington Post apurando o caso Watergate só com fontes oficiais, sem o Deep Throat. Pois é. Nixon nem teria cancelado sua assinatura do jornal, nem mudado o endereço de entrega: o CEP da Casa Branca, mais precisamente no Salão Oval. Ou convidem representantes de uma direita menos calhorda. Deve haver por aí. E não vale dizer que são contra "veto". Há muitos nomes identificados com a esquerda que não têm acesso a esses canais.
2 comentários:
Talvez a Covid esteja atrapalhando. Jornais estão muito a reboque do governo. Parabéns ao reporter do UOL.
Esse texto é do repórter Rubens Valente ou é de quem postou e não assinou o mesmo.? O que quero dizer é que esse texto é muito bom e disseca o atual comportamento do jornalismo brasileiro, que se acomodou nas entrevistas pelos telefone e jornalismo mesmo está passando longe ou esqueceram de pratica–lo
Postar um comentário