Em outubro de 1960, Zuenir Ventura e eu
chegamos a Paris para estudar um ano letivo no Centre de Formation des
Journalistes, como bolsistas do governo francês. A nossa foi a segunda edição
da bolsa, no primeiro ano foram escolhidos o Luiz Edgar de Andrade e um
paulista que na verdade queria era estudar teatro em Paris. Edgar – assim o
chamávamos – conseguiu um feito raro: a renovação da bolsa. Zuenir e eu bem que
tentamos, sem êxito. Luiz Edgar continuou em Paris, como correspondente do Jornal do Brasil, o que fazia com
extrema competência. Morávamos os três no mesmo andar da Maison du Brésil, na
Cité Universitaire.
Invariavelmente, quando passávamos pela porta do Luiz Edgar,
ouvíamos o matraquear da sua máquina de escrever portátil. Quando havia
silêncio, ele estava na rua a serviço ou folheando jornais e revistas
brasileiros no escritório da Panair, regido pela angelical Mademoiselle Liliane
Dubois. Zuenir era correspondente da Tribuna
da Imprensa, jornal onde trabalhava quando ganhou a bolsa. Eu, que
trabalhava na Gazeta do Povo de
Curitiba, rompi os vínculos com o jornal e com a cidade: depois de dois anos de
Paris e seis meses à toa em Curitiba, voltei à Europa para três anos no Serviço
Brasileiro da BBC, e daí para quase o resto da vida na Manchete, não fosse a autofalência de agosto de 2000.
As setas apontam para Roberto Muggiati, Brigitte Bardot e Françoise Arnoul. Reprodução Arquivo Pessoal. Clique nas imagens para ampliar |
Luiz Edgar, que não temia competição, municiava a mim e ao Zuenir com pautas quase todo santo dia. Foi graças a uma dica do Edgar que compareci – mais como voyeur e tiete – à missa de corpo presente de Vera Amado Clouzot, valendo-me do evento funéreo para respirar o mesmo metro cúbico de ar das minhas musas Brigitte Bardot e Françoise Arnoul. (Já contei essa história no PANIS, se quiserem, confiram https://paniscumovum.blogspot.com/2019/01/a-dupla-de-ouro-de-vertigo-e-as.html.)
Ao Luiz Edgar foi injustamente atribuída
uma das mais célebres fake news dos
anos 60 (na época não tinham esse nome e esta não passou de uma tremenda
“barriga”: a frase que o general-Presidente De Gaulle teria pronunciado durante
a Guerra da Lagosta, entre Brasil e França: “Le Brésil n’est pas un pays sérieux...” Edgar sequer chegou a
publicar a frase no JB, dita, em bom
português, pelo então embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza,
que depois assumiria sua autoria.
Em sua rica e variada carreira, ele
andou também pela Bloch, na revista e na TV. Que o Edgar, um dos maiores
repórteres brasileiros de todos os tempos, descanse em paz. Guardarei para sempre
nossas belas lembranças de Paris que, na época, era realmente uma festa...
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