terça-feira, 28 de abril de 2020

Influencers à beira de um ataque de nervos

por Flávio Sépia 

A publicidade nos meios de comunicação tradicionais era vista pelos leitores, ouvintes e telespectadores como algo dissociado da opinião, dos fatos e das matérias em geral veiculadas. Se Nelson Rodrigues escrevia, por exemplo, que "nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais", o mundo não vinha abaixo, nem anunciantes cancelavam suas inserções no Globo, Última Hora, Manchete EsportivaFatos & Fotos, onde ele foi colunista durante anos.

Atraídas por páginas com milhões de seguidores, as verbas  publicitárias migraram para as redes sociais. Em blogs, twitter, instagram, you tube e facebook tudo é festa para os influencers até que um vacilo qualquer pode fazer a casa cair.

Demonstrações de racismo, de intolerância, de ostentação, de desprezo pelos pobres, de preconceito, de falta de noção, de ausência de civilidade ou pura ignorância por parte dos chamados influencers pode acabar em cancelamentos e em debandada de patrocinadores.

Há poucos dias, a blogueira Gabriela Pugliesi, que já contraiu coronavírus, decidiu ignorar o isolamento social e promoveu uma festinha de arromba. Ela postou fotos da badalação e os seguidores detonaram a irresponsabilidade. Em poucas horas, Pugliesi perdeu quase 200 mil seguidores. Não deve ter se preocupado muito. Só caiu na real quando marcas parceiras das suas páginas tiraram os times de campo.
A razão é que ao anunciar em redes sociais pessoais, as marcas avalizam, de certa forma e do ponto de vista dos seguidores, o pacote completo. Não há mais o distanciamento que ocorria entre as mensagem publicitárias e o conteúdo jornalistico ou opinativo em jornais, revistas, rádio e TV. A audiência não confundia um e outros. Nas redes sociais, a relação é mais intima e pessoal. Falar que "ama o sapato" da marca tal ou "adora o biquíni" da grife soa igual a "vender" expressões racistas ou de preconceito. Tudo é influência. Tanto o elogio e a recomendação quanto a intolerância ou o comportamento antissocial do (a) blogueiro (a) respingam diretamente na marca que apoia o sujeito (a).
Daí que, depois de tanto levar bordoada na internet, algumas marcas passaram a incluir nos contratos com os (as) influenciadores (as) uma cláusula que lhes dá o direito de cair fora, sem pagar multa, se o distinto dono das páginas fizer alguma merda que contamine o prestígio do anunciante.
Gabriela Pugliesi, só para citar o caso mais recente entre tantos, recebeu uma dura lição: cerca de dez anunciantes deram bye bye às suas páginas em respeito à forte reação dos internautas registrada em milhares de comentários que viralizaram na web.

Tem influenciador que vai acabar fazendo propaganda de fralda descartável tanto é o medo que sentem ao postar textos, fotos e vídeos. A vida não está fácil pra ninguém.

3 comentários:

Marcela disse...

A maioria desses influenciadores, pelo que vejo, é fútil e sem educação.

J.A.Barros disse...

Como tudo, pelo menos na sociedade brasileira, de repente uma palavra ou uma profissão vira moda ou modismo. Muitas palavras que surgiram como modismo, desapareceram e outras novas surgiram como a palavra "live", que hoje é repetida em textos de colunistas e também em matérias jornalísticas. Mas, outra novidade vem surgindo. A confissão de algumas celebridades, não tão célebres, que vem a público contar que, na sua infância, foi molestado ou por amigo ou por parente. Oh!, se surpreendem amigos e pretensos fans: Fulano foi molestado quando criança. Que pena e ele é um bom artista. Mas, como que por competição do fato, mulheres aparecem confessando, que quando crianças foram violentadas por
parentes ou amigos, como a ordem das molestassões não alteram o resultado do ato, ficam na expectativa do sucesso que essa confissão as levarão para o alto da fama. Vamos aguardar curiosos pelo que repercutirá.

J.A.Barros disse...

Afinal, o que quer dizer "influencers"? Seria aquele que influência, pelo seu comportamento, o comportamento de outros na sociedade ? Parece que o brasileiro adora cultuar nomes estrangeiros. Assim aconteceu com os "promoters", que surgiram para identificar aqueles que promoviam celebridades na Mídia ou em outros eventos sociais. Mas, parece que esses "promoters"saíram de moda e agora temos os "influencers", na vida social do dia a dia. Uma outra profissão que surgiu com o aparecimento dos computadores foi o do " Analista ". Nos dias de hoje ao indagarmos a alguém sobre o que ele trabalha, orgulhoso e presunçoso vai responder que é "analista de computador". Até hoje , ainda não sei o que faz o Analista de computador "