quinta-feira, 23 de abril de 2020

Fotojornalismo: o trabalho que não pode ser remoto...

Repórteres fotográficos estão na linha de frente da cobertura da pandemia de COVID-19 na América Latina

Velório improvisado na mala do carro em São Paulo. Foto: Yan Boechat (link abaixo)

por Julio Lubianco - do Blog Jornalismo nas Américas 

A pandemia do  Covid-19 mudou a rotina de jornalistas no mundo inteiro. A regra é trabalhar de casa e na América Latina muitas redações se adaptaram à situação. Isso vale para repórteres, editores e designers.

No entanto, um grupo de profissionais de imprensa não têm esta possibilidade: fotojornalistas precisam estar nas ruas para retratar a crise de perto. No caso deles, a rotina foi alterada, com medidas de segurança e proteção comparáveis às necessárias na cobertura de conflitos armados.

É o caso do brasileiro Yan Boechat, que tem ampla experiência na cobertura de conflitos armados pelo mundo, em lugares como Afeganistão, Líbano e Iraque. Atualmente, está engajado na cobertura da pandemia nas ruas de São Paulo, a maior cidade da América Latina, e tem encontrado semelhanças com as guerras que cobriu:

“Estamos num processo inicial de algo que talvez se pareça com situação de conflito, com muitas vítimas e a incapacidade dos serviços de saúde de tratar todo mundo. Há um paralelo também com a incerteza sobre como a situação vai se desenrolar, sem saber o que vai acontecer. Eu fico angustiado de não saber se estou indo para o lugar certo, de não estar cobrindo a coisa certa”, disse Boechat ao Centro Knight.

Como freelancer, publicou reportagens sobre a pandemia de coronavírus na Folha de S. Paulo e no Yahoo Notícias. Na falta de repórteres de texto que o acompanhem, ele mesmo apura e escreve as reportagens, já que passou boa parte da carreira como repórter e editor de texto antes de incorporar a fotografia no rol seu rol de atividades.

“A cobertura tem sido muito remota. Não tem muita gente fazendo matéria. Tem gente, mas é pouco. Encontrei fotógrafo de um grande jornal numa favela. Ele relatou que estava ali sozinho porque nenhum repórter quis ir pra rua. É óbvio que tem risco envolvido e cada um sabe do risco a que quer se expor. Uma crise como essa, que é uma crise humana, o foco principal das histórias é gente morrendo, perdendo a vida. Fazer a cobertura remotamente a torna fria, distante. É um momento de o repórter estar na rua, mas entendo quem não quer correr esse risco, é uma decisão particular”, disse Boechat.

Para minimizar o risco de contágio, tem se equipado com máscaras e luvas, além de desinfetar todo o equipamento fotográfico que carrega diariamente. Em busca de histórias, o jornalista tem feito plantões nos cemitérios e grandes hospitais da cidade, além de visitar áreas periféricas e pobres da cidade. E foi graças ao trabalho na rua que pôde antecipar o que os números confirmaram mais tarde: o aumento do número de mortes e o desafio de enterrar vítimas do coronavírus.

“Fui no cemitério, dei plantão em porta de cemitério, para ver se estava aparecendo vítima da Covid-19. Encontrei bastante vítimas quando os números ainda não mostravam isso. (...) A questão das despedidas solitárias, a incerteza de como a se morte se deu, é um assunto que veio à tona. É uma parte muito doída deste processo. Não pode ver o corpo, não poder olhar nem dar o último adeus”.

Risco adicional para freelancer sem contrato fixo

Para o salvadorenho Juan Carlos, uma das maiores preocupações na cobertura da pandemia é o risco de se contaminar e precisar interromper o trabalho. Como freelancer para publicações estrangeiras, ele é responsável por garantir a própria segurança, seu seguro de saúde e do seu equipamento.

"Sair para cobrir essa pandemia é como cobrir uma frente de batalha. Quando você está em uma zona de conflito ou zona de risco de pandemia, precisa fazer um plano de preparação, pensar nas situações que pode encontrar e como sair delas. O mesmo aqui. Você precisa ter sua atenção em 1000%, como em uma zona de conflito. (...) Nós, como freelancers, não temos seguro de saúde. Você se fornece tudo. Ninguém responderá por você", disse ao Centro Knight Juan Carlos, que, entre outros conflitos, cobriu a Batalha de Mossul, no Iraque.

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