quarta-feira, 1 de abril de 2020

Forum da EleEla: como as páginas mais quentes do jornalismo erótico brasileiro se transformaram em fenômeno editorial

por Ed Sá 

Lojas de gibis, o Mercado Livre e os melhores e resistentes sebos da praça ainda vendem antigas edições da EleEla.

Devem ser alvo de colecionadores. Mas a cereja do bolo dessa memória erótica é o famoso Fórum, que fazia parte da revista.

No início era uma simples seção de cartas quentíssimas e mais estimulantes do que catuaba, o "viagra" da época.

Nos anos 1970, a revista da Bloch era parceira editorial da Penthouse americana, que inspirou a página onde leitores narravam suas experiências sexuais.

Os relatos fizeram tanto sucesso na EleEla que os editores resolveram dar mais páginas ao material. Havia mais espaço do que a correspondência via correio conseguia preencher. A solução foi contar com a imaginação dos redatores.

Dizem que um deles, em especial, se destacava. Era o Antonio Roberto, o popular Machadinho, criador de experiências sexo-ficcionais alucinantes.

A alma do Fórum era o saudoso Léo Borges Ramos. Ele levava tão a sério a "editoria de sexo" que, em nome da interação entre os leitores a EleEla e como parte das fantasias e alegorias eróticas que a seção estimulava, pediu certa vez aos leitores e leitoras que adicionassem pentelhos selecionados aos envelopes das cartas. Acredite, muitos atenderam ao apelo. Léo morreu jovem, nunca se soube se os pentelhos  serviriam a algum projeto editorial ou a pesquisas do DNA dos malabaristas sexuais do Forum. Antes que alguém ache isso absurdo, saiba que Van Gogh e Modigliani e Gustavo Courbet tinham predileção por retratar pentelhos. Courbet, aliás, inspirou uma exposição do artista plástico Peter de Cupere que, em 2014, exibiu obras que pintou usando um pincel feito apenas de pentelhos. Segundo ele, seus quadros pediam a "essência da vagina".

As cartas que mais repercutiam era aquelas onde rapazes comuns, que na vida real tinham que se esforçar para descolar a namorada possível, ganhavam a rara chance de comer mulheres maravilhosas. A galera delirava, talvez por se identificar com os heróis anônimos do Forum e esperançosa de viajar na ilusão de que um dia toparia com uma gata daquelas.

Era o bombeiro que ia consertar uma pia e era assediado pela dona de casa gostosa; o aluno do antigo ginasial que flagrava a professora nua no vestiário e era convocado para um dever de casa inesquecível; o contínuo que fazia hora extra no escritório e ganhava um tremendo habeas corpus da advogada carente; o motorista particular que era convidado a trocar o óleo da patroa; e até o faxineiro do pensionato de solteiras que literalmente passava o rodo no dormitório.

Pelo menos um editor da ElaEla observou que as páginas do Forum demoravam mais na paginação. Simples: era lidas antes de medidas. Muito justo.

Na Penthouse, o Forum também começou como seção e virou revista autônoma. O mesmo aconteceu com o seu filhote da EleEla, que evoluiu para um encarte e, depois, para edições inteiras e especiais.

Aquelas revistas batiam recordes de circulação, vendiam páginas de anúncio classificados e certamente rederam um bom dinheiro à Bloch, além, claro, de ajudar a garantir alguns empregos.

Nos anos 1980, já com o videocassete popularizado no Brasil, o Forum ganhou novo formato e deu nome a uma coleção de vídeos de sexo. Dessa vez, os filminhos, que eram vendidos em bancas, reforçaram em muito o caixa da editora.

Mas ninguém ficou mais feliz, além dos leitores, do que os jornaleiros. Pela primeira vez, as bancas receberam um produto que abriu um novo filão para as capatazias.

Vendia aos milhares. Até então, o jornaleiro da esquina conhecia nesse ramo do explícito, apenas os "catecismos" de Carlos Zéfiro e as revistinha suecas, ambos produtos vendidos "secretamente". Ser convidado para entrar na era do cassete, sem trocadilho, ajudou muitas bancas a levar o leite das crianças para casa.

Tudo isso graças a uma seção de cartas.

Cartas, aliás, viraram anacronismo e se transformaram em whatsapp, o erotismo agora está ao alcance do streaming, mas o Forum da EleEla permanece como o fenômeno editorial que, queiram ou não, escreveu uma página no mercado editorial brasileiro.

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