por O. V. Pochê
A Turquia, onde a história pulsa em cada esquina, era um dos principais destinos turísticos até 2016. Ao reprimir uma tentativa de golpe e promover uma caça à oposição, o governo Recep Erdogan atingiu os valores democráticos e mudou para pior a imagem internacional do país. O fluxo de turistas caiu apesar da desvalorização da moeda local frente ao dólar que tornou mais acessíveis as diárias de hotel.
Na época do apartheid, a África do Sul era evitada por visitantes. São inúmeros casos que mostram a relação entre as atrações que um país oferece e sua imagem internacional. Ao escolher seu roteiro, o turista pesa fatores como violência, pobreza extrema, desigualdade e o clima político do país. Por tudo isso, diz-se que para receber visitantes e lhes proporcionar bons momentos um país precisa primeiro cuidar da sua população, da qualidade de vida, das suas cidades, dos seus parques, praias e reservas.
O governo brasileiro planeja campanhas para atrair visitantes. Pelos primeiros indícios, as iniciativas parecem coisa de amadores. A marca turística já gerou polêmica. O slogan "Brazil: visit and love us" remete, segundo os críticos, ao turismo sexual, uma mancha antiga na imagem do país. Além disso, os marqueteiros do Planalto usaram sem autorização uma tipologia que tem dono e copyright. A vítima da pirataria já reclamou.
A nova ordem brasiliense anuncia agora um "reality show" promocional. Trata-se de um concurso mundial que premiará um estrangeiro com um tour de 30 dias pelo Brasil, com tudo gravado para distribuição internacional. O negócio se chama "Rei do Rolê no Brasil" (na verdade, a gíria carioca original é rolé, rolê é a versão paulistana). O turista, segundo o governo, terá que cumprir uma série de requisitos. Um dos critérios será o número de seguidores nas redes sociais. A Embratur não revela quais serão as demais exigências. Alemães e noruegueses poderão se inscrever? Esquerdista pode vir? Negros? Índios? LGBT? Feios? Gordos? O roteiro incluirá paisagens da Amazônia devastada? Favelas? O turista experimentará uma carona em voo de bombardeio de agrotóxicos. Irá ao SUS? Visitará um universidade sem verbas? Acompanhará um incursão policial em uma comunidade? Verá como funcionam as milícias?
Das duas uma: ou o tour será ao estilo Coréia do Norte, produzido, vigiado e cenografado para evitar mazelas e com o turista em condução coercitiva ou, se honesto, servirá para mostrar a realidade e sugerir ao visitante em potencial que é melhor esperar melhores dias.
Ah, sim, o turista escolhido terá direito a conhecer uma atração turística do momento: Jair Bolsonaro. Mas a Embratur também não informa se esse ápice do tour é o "paredão" do reality show.
3 comentários:
visitar Bolsonaro é o prêmio? que coisa ridícula
O turista vai conhecer as milicias?
O gringo vai conhecer os funcionários fantasmas das rachadinhas de salários?
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