domingo, 21 de abril de 2019

Mídia: o jornalismo e o "jornalismo"...



Comparar as duas primeiras páginas de dois dos principais jornais brasileiros, hoje, diz muito sobre o jornalismo ou a falta dele.

A Folha foi atrás da notícia. O Globo optou por produzir sua própria "notícia", na forma da pesquisa que encomendou a uma instituição comprometida com a reforma da Previdência, bem de acordo com o figurino que o jornal veste.

Embora defenda a reforma, a Folha de São Paulo cumpre seu papel e denuncia a decisão nada democrática do governo federal de esconder dados e pareceres que  embasam o controvertido projeto.

É revelação grave. Impedir que a sociedade conheça esses levantamentos é um estelionato moral e ético. O governo mostra que teme a transparência.

Já O Globo não nega que está engajado em intensa campanha pela aprovação da reforma da Previdência. E não se deve negar coerência ao jornal carioca. Ao longo do tempo, O Globo combateu ferozmente a instituição do salário mínimo, a aprovação do 13° salário, a CLT, de um modo geral, qualquer iniciativa de reforma agrária, o programa educacional Cieps, a Lei de Cotas, o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida etc.

A primeira página de hoje é um espelho dessa ojeriza editorial a programas de cunho social. O jornal usa pesquisa feita a seu pedido pela Confederação Nacional do Comércio, entidade patronal que faz parte do lobby empresarial também engajado pela aprovação do projeto. O conjunto da página - título+texto+foto - induz os leitores a colocarem os aposentados como os vilões do problema. A foto em destaque na primeira página mostra um alegre grupo de supostos inativos em doce lazer. Nenhum deles é identificado, nem mesmo se são aposentados básicos do INSS, a razão da reforma. Nas páginas internas, a reportagem aborda aposentados civis de baixa renda em pequenas cidades. O jornal critica as aposentadorias precoces, mas curiosamente entrevista cidadãos e cidadãs de 67 anos, de 74 e até de 83 anos. Não localizou nenhum "marajá" de 50 anos que viva dos benefícios privados do INSS "raiz" até porque não existem.

Provavelmente O Globo e a pesquisa encomendada não se interessaram ou esqueceram de localizar e entrevistar na pequenas cidades do interior aposentados de farda, juízes, desembargadores, altos funcionários, deputados e senadores ou outros inativos de alta renda. Talvez estes estivessem passando a Semana Santa em Miami. Assim como a conta dos segurados do INSS, o custo desses inativos vai para o caixa do mesmo tesouro público. Com uma diferença: custam muito mais do que Dona Claudete, "Seu" João Francisco e Dona Alaíde, os velhinhos da matéria apontados como a causa do apocalipse das contas públicas e que não fazem parte do alegre grupo da caminhada flagrado na primeira página.   

3 comentários:

Altino disse...

A crise da previdência é fake news, é mentira. Se cobradas as dívidas enormes de empresas privadas, se reajustados os baixos alugueis de milhares de imóveis do inss e se, por que não?, feita a reforma das aposentadorias milionárias dos poderes legislativos e judiciário essa crise não existe. A criminosa reforma proposta por Bolsonaro vai sacrificar idosos, pobres, e, somada ao também criminosa reforma trabalhista de Temer, os jovens trabalhadores.

Helder disse...

Ou o Brasil faz a reforma ou afunda. Bolsonaro tem a coragem de botar o país no lugar.

Prof. Honor disse...

Grandes jornais são defensores e beneficiários dos governos de mercado. Pouco interessa os interesses da população. Tudo pelo regime fiscal nada pelo social