terça-feira, 27 de março de 2018

Charlie Chan e Antônio Rudge nas Olimpíadas de Berlim 1936 • Por Roberto Muggiati

Estádio Olímpico de Berlim, 1936. Reprodução Fotograma You Tube/FreeBank

Hitler na tribuna do estádio. Reprodução fotograma You Tube/DP

O antigo Estádio Olímpico foi reformado para a Copa de 2006. Recebeu moderna cobertura que respeitou
as linhas formais e neoclássicas da arquitetura alemã da era nazista. Foto FIFA

por Roberto Muggiati 

Este estádio de Berlim do Brasil x Alemanha pré-Copa de 2018 tem uma impressionante carga de História. Foi construído para ser o palco principal das Olimpíadas de Berlim em 1936, na arquitetura monumentalista do nazismo, e para testemunhar – com direito à cinematografia espetacular de Leni Riefenstahl – a superioridade da raça ariana, tese obsessiva de Adolf Hitler.

Jesse Owens. Reprodução

O problema foi que Hitler se esqueceu de combinar o esquema com um humilde afrodescendente norte-americano, Jesse Owens, um corredor notável que abocanhou todas as medalhas e humilhou o Führer, presente às competições na tribuna de honra. (Um filme de 2016, Race/Raça, contou bem esta história.)

Nos meus insones anos 1970, um canal de TV (não lembro qual) passava filmes de Charlie Chan na madrugada. Eu não perdia um. Da série, um dos mais sensacionais é Charlie Chan nas Olimpíadas (1937), que mostra o detetive (Warner Oland) e filhos aprontando uma tremenda confusão em plenos jogos de 1936.


A fita incorpora cenas documentais das próprias Olimpíadas, injetando mais adrenalina do que de costume nestas filmagens costumeiramente de estúdio. Outra curiosidade: Chan atravessa o Atlântico a bordo do zepelim Hindenburg, aquele que explodiria espetacularmente em maio de 1937 ao tentar pousar em New Jersey.

O fotógrafo Antonio Rudge, ao lado da repórter Suzana Tebet, na redação da Manchete

Um evento e tanto, as Olimpíadas de Berlim de 1936. Adolf Hitler, Leni Riefenstahl, Jesse Owens, Charlie Chan – estavam todos lá. Mas – e pasmem diante desta revelação – Manchete, antes mesmo de existir, também estava lá na figura de Antônio Rudge.

Nosso grande fotógrafo, que adorava jogar conversa fora na redação, me contou certa vez que, naquela época, estudava medicina na Alemanha e compareceu aos jogos em Berlim. Você não podia assinar embaixo de tudo o que o Rudge dizia, mas nesse mundo maluco tudo é possível. Filho de uma abastada família paulistana, é possível que tenha sido mandado para estudar na Europa. Um belo dia, gastou todo o dinheiro que tinha comprando o melhor equipamento fotográfico da época. Adorava a profissão, era um fotógrafo muito dedicado e tinha um olho especial. Grande Rudge, gostaria muito de ter estado com você nas Olimpíadas de Berlim de 1936. O problema é que só fui nascer no ano seguinte, em outubro de 1937.



PARA VER O FILME "CHARLIE CHAN NOS JOGOS OLÍMPICOS". 
VERSÃO COM LEGENDAS. 
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