por Flávio Sépia
O site Poynter, especializado em jornalismo, publica um texto prévio sobre um seminário que vai promover em que escritores e roteiristas darão dicas de como contar histórias. Alguns trechos:
* Filmes seguram o expectador através de cenas fortes, personagens convincentes e detalhes reveladores. Histórias escritas devem fazer a mesma coisa.
* Textos devem ter ritmo e passos: prenúncio, descrição de cenas-chave, informação. Um história se constrói com várias mini-histórias encadeadas.
* O tema central da sua história deve ser reforçado pela repetição. Isso não é o mesmo que redundância. Ecoar a essência da história é um dispositivo estrutural que pode mantê-la coerente e coesa.
* Reserve algo especial para o meio do texto. Um detalhe revelador, uma citação memorável, uma piada. Funciona como uma recompensa para o leitor que chegou até ali e um incentivo para que ele prossiga lendo sua história.
* Lembre-se: a última impressão é a que fica. Se você colocar nos três primeiros parágrafos tudo o que for interessante na sua história, o que vai sobrar para o leitor na reta final? Frustração?
* Se a história que você vai contar é produto de uma entrevista, considere que perguntar é tão importante quanto calar. Quando você suprime o desejo de interromper o entrevistado pode se surpreender com relatos, detalhes e nuances melhores do que uma pergunta qualquer, em momento inadequado, poderia provocar. Perguntas com longos enunciados, por exemplo, podem levar o entrevistado a se "adaptar" à sua indagação. Ele pode acabar dando a resposta que você esboçou e não vai passar suas próprias e autênticas impressões.
Agora, pense em quantas vezes, no rádio e na TV, especialmente, você se depara com:
* Entrevistador que fala mais do que o entrevistado.
* Entrevistador que interrompe o entrevistado para dizer que concorda com ele e, não satisfeito, passa a detalhar sua própria opinião.
* Entrevistador que tem sua listinha de perguntas prontas e parece não prestar atenção nas respostas do entrevistado. Ele pode até falar assim como quem não quer nada que acabou de matar o Papa que o entrevistador pergunta, em seguida, o que está achando do governo Dilma.
* Entrevistadora que gosta de parecer íntima do entrevistado com perguntas do tipo: "Nós nos encontramos outro dia na casa do fulano em um jantar que aliás estava ótimo e vc falou sobre o seu novo filme, já está pronto? etc etc".
* Entrevistadora que interrompe a resposta do entrevistado ao perceber que ele insiste em dar uma opinião contrária à "política da casa". Isso geralmente acontece quando a produção "se engana" e inadvertidamente convida um debatedor independente.
* Entrevistadora que odeia a entrevistada - isso aconteceu não faz muito tempo com uma colunista e uma antagonista política - e não disfarça. Faz caras feias (saiu até em foto), olha do lado, mastiga um chiclete invisível com um certo ar de desprezo e tenta mostrar para o seu público animosidade e agressividade, como se essas fossem condições para o bom jornalismo.
* Entrevistador autoritário com os "adversários da casa" e puxa-saco militante com os que frequentam a "varanda gourmet" do patrão.
* Entrevistadora que exibe um repertório de "caras de bocas". "Modo espanto", mesmo quando o entrevistado revela alguma banalidade; "modo ternura", quando ele diz alguma coisa "fofa"; "modo inteligente", quando ele cita Jung; "modo indignada", quando ele defende o impeachment; "modo triunfante", quando ele diz que o dólar vai disparar, a inflação idem e o Brasil vai despencar na nota de investimento da agência de risco; e "modo você-é-ótimo", quando o entrevistado comete alguma tirada supostamente bem-humorada.
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