por Eli Halfoun
Há anos entrevistei um
juiz do Tribunal de Justiça Desportiva e ele disse que “jogador de futebol é o
único profissional que recebe salário para perder”. Tinha argumentos e os explicava
com simplicidade: “o jogador ganha um salário mensal e o recebe mesmo que seu
time perca. Quando ganha é beneficiado com o "bicho", ou seja, um dinheiro extra
para fazer o que seu contrato prevê: jogar sempre para vencer”. Parece que o
“bicho” está sendo implantado na polícia. Primeiro foi o Rio que instituiu
bônus para os policiais que fizerem melhor a função para a qual são pagos: dar
segurança à população, o que inclui prender bandidos Agora é São Paulo que
também promete incentivo financeiro aos policiais que mais tirarem bandidos das ruas o
que, ao que se saiba é para isso que recebem salário. Não parece que essa seja
a solução para nos livrar da violência. Pelo contrário: esse tipo de incentivo pode
criar outros problemas com, por exemplo, policiais querendo
mostrar serviço mesmo que para isso coloquem inocentes atrás das grades.
Qualquer profissional é pago para cumprir sua missão com competência e não
precisa de incentivo financeiro para isso. Se a moda pega profissionais de
todas as áreas também reivindicarão incentivos para fazer o que é obrigação:
trabalhar direito, honestamente e com competência. Bons profissionais não precisam
de extras. Só precisam de boas condições para trabalhar. Isso a polícia não tem
e não dá. (Eli
Halfoun)
Um comentário:
Mas isso não é nenhum precedente. Há tempos que as Estatais – e depois vieram os departamentos públicos – instituiram o adicional de presença no trabalho. Quer dizer: o funcionário tem um salário para ir trabalhar todos os dias úteis mas as Estatais criaram então o adicional de presença no trabalho. A Petrobras até há pouco tempo tinha adicional de risco de vida e de insalubridade para todos os seus funcionários. Essas soluções de premiar financeiramente o policial que mais tirar bandidos das ruas não me surpreende. Estão aí os "garçons e mordomos do Senado a humilhar e desprezar os trabalhadores brasileiros que se arrebentam de trabalho para sobreviver com um salário mínimo que é o mínimo do mínimo.
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