sábado, 19 de junho de 2010

Há 40 anos, o Tri


por José Esmeraldo Gonçalves
O que estava em jogo naquela superfinal no dia 21 de junho de 1970 era o Tri. Itália, campeã de 1934 e 1938, e Brasil, em 1958 e 1962, entraram em campo no Estádio Asteca, no México, com o peso dessas conquistas nos ombros e os corações nos pés. Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza, Everaldo, Clodoaldo, Gérson, Rivelino, Jairzinho, Tostão, Pelé, de um lado e Albertosi, Burghinich, Cera, Rosatto, Faccheti, Bertini, De Sisti, Mazzola, Domeghini, Bonisegna e Riva, do outro.
Aqui, os "90 milhões em ação" prendiam a respiração.
O primeiro gol saiu aos 17 minutos, Pelé, de cabeça. Mas Bonisegna empatou aos 37. Os italianos ainda esboçaram alguma reação no começo do segundo tempo, antes do bombardeio fatal de Gerson, aos 21, Jairzinho, aos 26 e Carlos Alberto aos 41 minutos.
Revejo esses gols, hoje, em cores, com a sensação de observar obras de arte, peças históricas.
Em 1970, o Brasil assistiu à Copa, ao vivo, pela primeira vez, mas ainda em preto e branco. Embora a Embratel recebesse as imagens em cores, o sistema não estava implantado no país. Para ver todos os tons da Copa, os leitores esgotavam nas bancas as sucessivas edições de Manchete e Fatos & Fotos ou viam nos cinemas, dias depois, as imagens do Canal 100.
Quando o juiz alemão Rudi Glockner apitou o fim do jogo, os italianos foram os primeiros a cumprimentar os tricampeões.
A squadra azurra sabia que, naquele dia, perdera para um time invencível.
O apito de Glockner foi também a senha para milhares de cariocas irem às ruas. Vi o jogo em um apartamento na rua Pinheiro Guimarães, em Botafogo. Acho que ninguém conseguiu ficar em casa. Quando desci, a multidão já ocupava a Real Grandeza, em direção ao Túnel Velho. Uma cena que se repetiu em todos os bairros até o amanhecer.
A ditadura militar encobria o país mas, naquele dia, o sol de Copacabana iluminou uma torcida feliz.
Acho que o Dunga deveria passar esse dvd de 70 no hotel da seleção, na África do Sul.
Que a lenda de ontem inspire o Brasil de hoje a acertar o pé na Jabulani.
(Acima, a capa e a reprodução da foto de Orlando Abrunhosa da Edição Histórica de Manchete: Pelé e companhia festejam o Tri)
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2 comentários:

debarros disse...

Meu caro José Esmeraldo, você se deu conta de quantos craques – genuinos – de bola, jogavam naquele time? Pelé, Tostão. Rivelino, Clodoaldo. Paulo César, Gerson, Carlos Alberto Torres, são os que me vem à memória. E hoje? Quantos craques jogam na Seleção, além de Robinho e Kaká? Não vamos nos espantar com isso porque em toda Copa de 2010, craque mesmo só apareceu o Messi, vindo logo atrás o Robinho e Kaká. É isso aí Esmeraldo. Amém!

Wilson disse...

A seleção de 70 era uma orquestra. Mas os tempos são outros, o futebol mudou. Não se vê mais uma "equipe". Os jogadores são peças individuais que mudam de clube a cada momento. O futebol-coletivod, o soccer, é cada vezs mais raro. Mesmo em Copa do Mundo, quando as seleções reunem os melhores, teoricamente, mas não formam um time. Vão apredendo a jogar juntos ao longo da competição. Aquela seleção de 70 treinou por três meses antes da Copa. Hoje, isso é impossível.