Entre os depoimentos reunidos no livro Fala, Crioulo, de Haroldo Costa, (Record), estão as revelações de Vera Lúcia Couto dos Santos. Para os mais novos, um breve perfil. Vera emplogou o Rio, em 1964, quando foi eleita Miss Renascença e, depois, Miss Guanabara. Quer dizer: empolgou a maioria mas irritou a ala racista. Eleita Miss Guanabara no ano do Quarto Centenário da cidade? A primeira negra a conseguir tal título? Era demais, o society entrou em crise. No depoimento a Haroldo Costa, Vera conta que preconceito não era novidade para ela. Ainda aluna da escola Sagrado Coração de Maria, no Méier, ficava sempre isolada no recreio. Era uma das alunas com o uniforme mais bem cuidado e isso a tornava alvo de agressões verbais: "Essa crioula metida a branca compra tudo do bom e do melhor", diziam. Às vésperas de concorrer ao Miss Brasil como representante carioca, recebeu telefonemas anônimos que tentavam convencê-la a desistir "porque um grupo de senhoras da sociedade comprou mesas especialmente para vaiar". Na noite do desfile, quando fez sua primeira passagem na passarela, ouviu uma dessas senhoras gritar: "Sai daí, crioula! Teu lugar é na cozinha! Não se manca não?" Vera foi eleita Miss Brasil 2, perdeu para Miss Paraná. A Fatos e Fotos cobriu o concurso, em julho de 1964, e registrou que Vera Lúcia Couto dos Santos ganhou o segundo lugar, "mas sob polêmica". No livro Fala, Crioulo, Vera diz que considerou aquele segundo lugar uma vitória. E foi, pelas circunstâncias adversas. Na reprodução da F&F, a beleza negra da carioca.
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Um comentário:
O corpo do negro – se prestar atenção e esquecer essa coisa boba de racismo – é uma escultura de Miguel Ângelo transformado em um ser humano. O corpo do negro é perfeito. É todo proporcional. Nada fora do lugar. Em pé, nu, sob a luz dos spots vai entender o seu corpo escultural. As mulheres negras são o sonho do artista plástico. As suaves curvas do seu corpo a firmeza dos seus seios, a elegância da sua postura encantam e seduzem o apaixonado pela arte. Porque o racismo então? Simplesmente por inveja.
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