
Ontem, comentei o lançamento do livro Fala, crioulo, de Haroldo Costa, com depoimentos de negros e da sua luta para afirmação acima e além dos preconceitos. Ao longo da história, essa luta se faz passo a passo. Por coincidência, a matéria de capa da Revista O Globo (na reprodução)registra, hoje, um desses avanços. Há dois ou três anos, os principais jornais do país publicaram editoriais irados (é só conferir as coleções) sobre a democratização de acesso ao Instituto Rio Branco. Criticavam fortemente as mudanças, demonstravam preferir o Itamaraty como eterno reduto de ricos e bem nascidos, da elite e até de dinastias de diplomatas mais deslumbrados com os salões das "metrópoles" do que com as posições brasileiras. O Itamaraty era uma espécie de Ilha de Caras. Muito punho de renda, muita subserviência e pouca afirmação do país lá fora. Com o acesso mais democrático, a diplomacia ganha novo perfil e competência: há engenheiros, administradores, bacharéis em direito e relações internacionais, advogados, professores. São pequenas e fundamentais mudanças que renovam a esperança. Setenta por cento dos candidatos são homens, trinta por cento mulheres. E a Revista do Globo destaca a posse de Amintas Silva, nascido em um bairro de classe média baixa de Salvador. Um negro. Fala alto, crioulo.