![]() |
Reprodução Twitter |
Jornalismo, mídia social, TV, atualidades, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVII. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
A Folha de São Paulo, inclusive colunistas, está gastando o dicionário para não usar o verbete terrorismo quando se refere aos atos terroristas cometidos por bolsonaristas organizados. "Selvageria", "baderna", "vandalismo", "desordem", "golpismo", "violência", "algazarra" , "crime", "extremismo"...
Como o ato terrorista permanecerá no noticiário por mais algum tempo, é possível que os folhistas ainda usem vocábulos como "descontrole", "euforia", "zorra", "turbulência", "quebra-tudo", "histeria", "exaltação", "sinistro", "cataclisma"...
![]() |
Ocorre que nas invasões das sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário que destruíram, os terroristas atacaram com especial furor as obras de arte.
Bolsonaro e sua curriola passaram anos propagando o ódio à Cultura. Os adeptos do ex-presidente demonstraram na prática e na invasão de ontem ao Palácio do Planalto essa enorme raiva.
Veja um levantamento preliminar divulgado hoje por Rogério Coelho, diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais. No caso, são os danos parciais registrados apenas do Palácio do Planalto.
No andar térreo:
Obra "Bandeira do Brasil", de Jorge Eduardo, de 1995 — a pintura, que reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao palácio e serviu de cenário para pronunciamentos dos presidentes da República, foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o andar, após vândalos abrirem os hidrantes ali instalados.
Galeria dos ex-presidentes — totalmente destruída, com todas as fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e quebradas.
No 2º andar:
O corredor que dá acesso às salas dos ministérios que funcionam no Planalto foi brutalmente vandalizado. Há muitos quadros rasurados ou quebrados, especialmente fotografias. O estado de diversas obras não pôde ainda ser avaliado, pois é necessário aguardar a perícia e a limpeza dos espaços para só daí ter acesso às obras.
No 3º andar:
Obra "As mulatas", de Di Cavalcanti — a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos, de diferentes tamanhos. A obra é uma das mais importantes da produção de Di Cavalcanti. Seu valor está estimado em R$ 8 milhões, mas peças desta magnitude costumam alcançar valores até 5 vezes maior em leilões.
Obra "O Flautista", de Bruno Giorgi — a escultura em bronze foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão. Está avaliada em R$ 250 mil.
Escultura de parede em madeira de Frans Krajcberg — quebrada em diversos pontos. A obra se utiliza de galhos de madeira, que foram quebrados e jogados longe. A peça está estimada em R$ 300 mil.
Mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck — exposta no salão, a mesa foi usada como barricada pelos terroristas. Avaliação do estado geral ainda será feita.
Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues — o móvel abriga as informações do presidente em exercício. Teve o vidro quebrado.
Relógio de Balthazar Martinot — o relógio de pêndulo do Século XVII foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta peça é considerado fora de padrão.
O diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, diz que será possível realizar a recuperação da maioria das obras vandalizadas, mas estima como “muito difícil” a restauração do Relógio de Balthazar Martinot.
"O valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa. O conjunto do acervo é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK. É este o seu valor histórico", comenta Carvalho. "Do ponto de vista artístico, o Planalto certamente reúne um dos mais importantes acervos do país, especialmente do Modernismo Brasileiro."
As informações são do site da Presidência da República.
"Tenho acompanhado a história da política brasileira desde a queda do dr. Getúlio Vargas em 1945. Acompanhei a eleição do general Dutra e, muito mais, a volta do dr. Getúlio Vargas ao cenário político, sua eleição para presidente do país e a sua morte em 1954. Acompanhei a eleição de JK. que prometía fazer o Brasil crescer em cinco anos o equivalente a 50 anos. Trabalhou muito construindo Brasília, acabando com as linhas férreas em todo o país para favorecer as montadores de carros e de caminhões, assim como acabou com o serviço de cabotagem, os famosos Itas. E veio o tumultuado governo de Janio Quadros, que findou com a sua renúncia, depois de decreto para proibir rinhas de galo, concursos de misses etc. Acompanhei a tumultuada posse de João Goulart - Jango - como presidente assim como com a sua queda, entrando em seu lugar aditadura milirar de 1964. Assisti a volta da democracia, com a eleição de Tancredo Neves - embora pelo colégio eleitoral da ditadura - e a posse de José Sarney como presidente deste Brasil em razão da morte do titular. Assisti a posse de Fernando Color e o seu impeachment e a posse do melhor presidente que o Brasil já teve: Itamar Franco. Vi Fernando Henrique ser eleito e reeleito. Vi Luiz Ignácio Lula da Silva ser eleito e reeleito e, em seguida, a primeira mulher a ser eleita Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e logo após sofrer o impeachment que a afastou do poder, com o vice-presidente Michel Temer asumindo o poder. E vieram as novas eleições e, como surgido do nada, como um fantasma do passado, um ex-capitão do Exército é eleito, chamado Jair Messias Bolsonaro. E, com ele, seus filhos zelosos pelo poder a ele dado pelo voto do povo. E veio ésse novo presidente e veio a pandemia, um vírus maldito que ceifou mlhares de vítimas em todo o mundo. Quando a covid chegou ao Brasil, "o bicho pegou", na minha opinião. Em vez de dar todo o apoio ao povo brasileiro no combate a esse letal virus, Bolsonaro deixou o o povo sozinho, sem remédios, sem hospitais suficientes. Quando chegaram as vacinas para derrotar e proteger o povo contra o vírus, ele custou a se render à ciencia e aceitar a eficácia dso immunizante como salvado da humanidade. E vieram as novas eleições e o povo elege o novo presidente: Luis Ignácio Lula da Silva. Incondormado por não ter sido reeleito, Bolsonaro foge do Brasil e se refugia nos Estados Unidos.
E aí acontece o que jamais pensei que poderia acontecer: uma minoría de manifestantes golpistas se revolta contra os poderes constituídos e, em ações típicas de terrotistas, invadem, como vndalos bárbaros, depredam e arrazam os prédios que são símbolos e casa dos Três Poderes Constitucionais.
Ao que parece, sou, na verdade, uma testemunha histórica do processo político deste Brasil.
Acredito que, após a arruaça promovida por uma minoría terrorista e insana, esse processo passara por grandes mudanças em defesa da democracia, com a imposição de procedimentos políticos, jurídicos e de segurança que, naturalmente, afetarão a sociedade brasileira. Para o bem."
![]() |
Em Brasilia, com o acampamento desfeito, cerca de 40 ônibus conduzem terroristas à sede da PF |
Para muitos deputados e senadores, empresários, jornalistas alistados no jornalismo de guerra e ódio, pastores-políticos, militares de pijama e da ativa, economistas, financiadores do terror, prefeitos e governadores hoje é o dia de pedir perdão e admitir que subiram na barca fascista e deram uma força a cada marretada dos terroristas, ontem. Se restou dignidade, peçam desculpas. Enquanto os terroristas quebravam tudo, agrediam jornalistas, roubavam, celulares e objetos do Congresso, STF e Palácio do Planalto, vocês deviam estar em casa digerindo o rega-bofe do domingo, mas são tão culpados quanto quem, para citar um exemplo, arrombou prédios públicos e roubou obras de arte e armas. Suas digitais estão gravadas na orgia terrorista de ontem. Perderam, manés.
![]() |
No Senado Federal: esse é símbolo do terror bolsonarista |
![]() |
As prisões após destruição |
![]() |
Terroristas roubaram celulares de jornalistas e objetos dos palácios invadidos, inclusive armas e munições. |
![]() |
Terroristas bolsonaristas descem a rampa rumo a delegacia. Fotos reproduzidas do Twitter. |
O colunista do Globo Ascânio Seleme surpreendeu os leitores, hoje, ao anunciar que o jornal publicava sua última coluna. Ele não deu detalhes ou justificativas, apenas se despediu de uma longa trajetória no jornal dos Marinho. O Globo também não publicou qualquer explicação ou se despediu do colunistas. E Ascânio Seleme, para lembrar, foi diretor de redacão do jornal.
Pode ser coincidência, podem haver motivos até pessoais, mas, aparentemente, o "jornalismo de guerra" acionado contra Dilma Rousseff no golpe de 2016 está voltando ao Globo, assim como à Folha e ao Estadão. Claro que os três jornalões faziam restrições ao governo anterior em várias áreas, menos a economia na qual estavam fechados com Paulo Guedes. Na sua coluna, Ascânio não deu foro privilegiado ao Guedes e o criticou muitas vezes. E é a economia que faz o Globo apontar para a oposição ao novo governo. Acredita-se que Ascânio não se enquadrava nesse novo figurino "centrão". Não por acaso os comentaristas do Globo já estão pautados para discutir a sucessão. Por mais absurdo que pareça, eles falam toda hora nas eleições de 2026 como se fossem amanhã. Estão com Tebet na ponta da língua. Na reserva, Alckmin e Tarcísio.
A propósito, o Globo tem na página 3 em certos dias da semana os seus, pelo menos dois, articulistas de "trincheira" para a radicalização jornalistica que vem aí. Exalam, embora disfarcem, certos princípios bolsonaristas, denotam preconceitos, um indisfarçado ódio às minorias, ironizam conquistas relacionadas à diversidade. Um deles é praticamente um "carlucho" com veniz, um Braga Neto de sapatênis.
Não duvidem desse conhecido cartel de mídia: ele irá, se considerar necessário, para um acampamento virtual na frente de quartéis. Os três jornalões citados já fizeram isso muitas vezes ao longo da história desse Brasil que eles mantêm preso ao atraso econômico, social e à eterna injustiça.
![]() |
Proteção para o ataque. Reprodução |
Primeiro, o que a estética denuncia claramente: as aglomerações exibem, em maioria, um DNA neopentecostal. Os apelos emocionais, a histeria, os gritos, o choro, o descontrole, o desespero, o medo do cataclisma "comunista", o diabo no controle. Isso vem da pregação política dos pastores bolsonaristas. Nasce nas milhares de igrejas espalhadas pelo país.
Antes que alguém diga que isso é preconceito ou intolerância, religião que faz política e faz campanha eleitoral para eleger bancadas, prefeitos, deputados etc, atua como partido. Prega ideologia e não a bíblia. Nesse sentido, a violência que resulta desse coquetel místico, é política e partidária.
Não é novidade ter uma religião por trás de uma tentativa de golpe de Estado. Em 1964, quando eram os católicos a turba que ia para as ruas, também houve ações golpistas ligadas à "fé" a serviço de interesses, financiadas por bancos, empresários e grandes fazendeiros etc. A mídia, na época, também engajada na conspiração antidemocrática, deu ampla cobertura às marchas com deus que pediam intervenção militar. Deu no que deu: torturas, perseguições, assassinatos e sequestros por parte dos militares que as marchas e a imprensa levaram ao poder sem leis. As senhoras que desfilaram brandindo imagens católicas pedindo ditadura morreram com crimes nas consciemências.
A imagem de um bolsonarista de joelhos, descontrolado, doidão como muitos neopentecostais de acampamentos, lembra as sessões de expulsão do demônio em que ovelhas se submetem a sessões para defenestrar o demônio do corpo.
Nas ruas, nos bloqueios e manifestações, os bolsonaristas não são nada cristãos: agridem pessoas, botam bombas em caminhão-tanque, atacam violentamente repórteres e cinegrafistas. Mesmo assim, fazem intervalos ao longo dos dias para orar a Jesus e para desfrutar da comida que apoiadores milionários, dos quais são terceirizados, lhes enviam.
Reconsiderando em respeito aos religioso autênticos e não exibicionistas: o que menos tem.bessas aglomerações bolsonaristas é o espírito e a solidariedade do Jesus que eles diz seguir. Para usar a linguagem deles, estão precisando de um"livramento".
Depoimento a Reynivaldo Brito e Tarlis Batista
Fotos Manchete (*)
Não nasceu para negócios, mas para o amor e para a vida. No dia 19 de outubro de 1913, na Rua Lopes Quintas, 114, Gávea, o nascimento de Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes trouxe alegria e preocupação. O pai tinha algum dinheiro, fizera maus negócios na ocasião, com o nascimento do garoto teve de emigrar, procurar vida mais barata. A família deixou a aristocracia da Gávea e foi para o Cocotá, na Ilha do Governador, então muito bucólica, sem ponte e sem praias poluídas.
Ali, o menino Vinícius tomou contato com a natureza, à vida desinibida e livre dos pescadores e dos pobres. Nunca perderia esse chão de infância.
Mas havia que estudar e na ilha não havia bons colégios. Vinícius é matriculado no Santo Inácio, onde reinicia, gradualmente, seu retorno à Zona Sul, mais precisamente, à Gávea, onde, aos 66 anos, morreria.
No colégio dos jesuítas, a fase espiritualista, católica, conservadora, as influências de pias leituras e, mais tarde ainda, na Faculdade de Direito, a influência de Santiago Dantas e Octavio de Faria. Vinícius não chegou nunca a ser um reacionário, mas andou perto.
Como acontecia naquele tempo, falsificava-se facilmente a idade para um menino precoce poder cursar a faculdade. Com 16 anos, já acadêmico de Direito, faz a primeira letra, Loura ou Morena, música de Haroldo Tapajós, gravada em disco Colúmbia pelos Irmãos Tapajós: Paulo e Haroldo, Ano do evento: 1932. Repetiu a dose com os mesmos parceiros, fazendo foxtrotes que tiveram algum sucesso. Mas não dava para ganhar a vida. Com 19 anos, já formado, sonda o mercado de trabalho e verifica que não dá para advogado. Preferia ficar lendo, num bar, tomando um chopinho, e, sobretudo, vendo passar na calçada às moças cheias de graça.
Anos mais tarde, eternizaria esse hábito e essas moças na figura da Garota de Ipanema. Sempre influenciado pelo catolicismo, ele publica seu primeiro poema na revista A Ordem, fundada por Jackson de Figueiredo. A Transfiguração da Montanha foi levada por Octavio de Faria a Alceu Amoroso Lima, que dirigia a revista. Todos pareceram gostar inclusive o próprio Vinícius, que no ano seguinte estréia em livro: Caminho Para a Distância. Seu amigo Octavio de Faria dedica-lhe um ensaio em que estuda a ainda escassa obra de Vinícius ao lado de outro estreante, Augusto Frederico Schmidt. Relembrando essa fase, Vinícius não teve piedade de si mesmo: “Minha poesia inicial tinha de ser esotérica e metafísica. Era muito artificial. Felizmente, minhas curtições de menino criaram em mim um nódulo natural de resistência contra os erros da minha formação, que me permitiram, quando mais adulto, optar por uma simplificação de meu instrumento de trabalho, no sentido de comunicar-me mais e melhor”.
O segundo livro se enquadra dentro desse período sombrio e tem um título óbvio: Forma e Exegese (1935). Apesar de tudo, é um poeta desempregado, até que consegue o seu primeiro emprego sério: o de censor de filmes, de 1936 a 1938, ocupação pouco brilhante e democrática da qual logo procurou se livrar. Arranjou uma bolsa-de-estudo. Aos 24 anos, o primeiro casamento, por procuração. A noiva, Tati, morava em Londres. Foi o início da outra e da mais comprida obra do poeta: o amor.
O casamento durou bastante, foi o mais longo. Vindo do exterior, o casal foi morar no Leblon, numa casinha da Rua General São Martin. Ali se reunia uma turma de amigos, mas a boca-livre era moderada pois o dono da casa continuava sem emprego. Aí apareceu a opção do Itamarati. Naquele tempo não existia o severo vestibular do Instituto Rio Branco. Mesmo assim, havia um concurso e Vinícius passou uns tempos estudando seriamente, só conseguiu passar na segunda tentativa. Deve a sua carreira diplomática à influência de sua mulher Tati e de seus amigos diplomatas Jaime Azevedo Rodrigues e Lauro Escorel. Em 1943 recebe o primeiro posto no exterior: Los Angeles. Serviria na carreira diplomática durante 25 anos, mas nunca levou a sério a função.
Mas importante do que tudo foi à viagem que fez pelo interior do Brasil em companhia do polonês Waldo Frank. A intimidade com o Brasil de verdade provocou a virada total em sua vida: na poesia, na ideologia, na maneira de viver e, até, no modo de amar. Libertou-se gradativamente das amarras e entrou de cabeça na vida. Para Viver.
Daí em diante, a vida de Vinícius se confunde com a do tempo em que viveu, nos setores da música popular, do espetáculo, da badalação e até mesmo da política.
Duas importantes vertentes se formam na obra viniciana, dividida esquematicamente em dois segmentos básicos: a poesia em termos eruditos ou em letras de canções populares; e o roteiro infinito de suas andanças amorosas, sintetizadas em nove casamentos e diluídos em diversos casos, sobretudo, na imagem do grande amante que, de uma forma ou outra, influencia homens e mulheres de duas gerações.
Como poeta, ele conseguiu ser maravilhosamente fiel às mulheres com as quais se casou e amou enquanto o amor foi amor
A série de casamentos iniciada com Tati prolongou-se, em 1952, com Regina. Seguiram-se: Lila Bôscoli, Lúcia Proença, Nelita Abreu Rocha, Cristina Gurjão, a baiana Gesse, a argentina Martinha e Gilda, a última. Mais do que um rosário de nomes, foi uma vivência de amor que ele esboçara, pela primeira vez em letra de forma, numa edição de MANCHETE, em 1955, na seção intitulada A poesia é Necessária. Ilustrado por Carlos Thiré, aparecia Receita de Mulher, com a indicação: “Poema inédito, enviado de Paris especialmente para esta página.” O poema tornou-se famoso, principalmente pelo seu citado começo: “As muitas feias que me perdoem/ mas beleza é fundamental.”
A ruptura de Vinícius com o mundo acertado e frio é total. Pouco a pouco, ele abandona uma série de convenções, a gravata, o paletó os cabelos corretamente cortados, engorda e emagrece conforme a vida vai levando, curte corajosamente suas fossas, atola-se no amor (“O que mais gosto é do agarramento”), participa de movimento bossa-nova, onde logo conquista o lugar que ninguém lhe tira: o de melhor letrista. Ao mesmo tempo que muda de mulher, muda de parceiros e ele próprio admite que há alguma analogia na parceria de uma vida e na parceria de uma canção: o mesmo ciúme, o mesmo gostar muito e, finalmente, a exaustão, o não ter mais nada a dizer.
Antônio Carlos Jobim, Carlos Lira, Baden Powell, Toquinho – ele influencia diretamente todos demais letristas e se torna o Poetinha das rodas boêmias, o adulto maldito da sociedade bem-comportada.
Em 1968, já famoso internacionalmente através de seu filme Orfeu do Carnaval e de algumas letras que percorriam o mundo, Vinícius é aposentado a força de suas funções de diplomata – que, aliás, ele próprio era o primeiro a desprezar. Dá expediente, então de boêmio, em regime full time. Deixa o Rio por uns tempos, considerando a cidade em que nascera muito cruel e agressiva. Vive uns tempos na Bahia, jura que nunca mais sairá de lá, “a Bahia está mais perto da verdade”, mas o sonho dura o que duraram suas paixões e ele volta ao mundo e ao Rio. Só conseguiu ser fiel ao grande amor, que para ele não estava numa mulher ou numa situação, mas num clima interior.
“Vinícius havia chegado a Paris, em 1956” – conta Cristina Gurjão – “e o Ronaldo Bôscoli me apresenta a ele. Na época Vinícius estava casado com Lila Bôscoli. Eu tinha 16 anos e fiquei deslumbrada com a possibilidade de frequentar a casa dele. Acabei me tornando amiga do casal. Mas nada havia entre nós. Depois ele se separou de Lila e se casou com Lucinha Proença. Eu só me casei com ele em 1968. Foi um casamento que durou quase três anos e nesse período tivemos uma filha, Maria, hoje com 10 anos. Vinícius foi um dos seres humanos mais perfeitos que conheci. Foi, inclusive, um bom pai. Todas as vezes que vinha ao Rio encontrava tempo de se dedicar a Maria. A influência dele está se refletindo agora em nossa filha, cujo temperamento é bastante parecido com o de Vinícius”.
Além de distribuir amor, Vinícius distribuiu talento e alegria com seus numerosos parceiros e amigos da música, do teatro e da vida
“Meu primeiro encontro com Vinícius – diz a baiana Gesse – foi durante a filmagem de Sol Sobre a Lama, dirigido por Alex Vianny e cuja trilha sonora era de Pixinguinha e dele. Foi um simples conhecimento, não um contato estreito. Em 1969, quando Vinícius colocou as mãos sobre o cinema da calçada da fama, em Ipanema, segui com Maria Bethânia e alguns outros amigos baianos para uma boate. Vinícius foi conversando com todos, de repente estávamos ele e eu sozinhos, fomos para uma boate onde Luizinho Eça tocava ao piano. Vinícius começou a cantar canções para mim. E assim tudo começou. No dia seguinte voltei para a Bahia e pouco tempo depois recebi um telegrama pedindo que eu viesse ao Rio. Arrumei as malas e vim ao seu encontro, seguindo com ele para o Uruguai. Ele iria realizar uma temporada por lá. E lá nos casamos. Foi, aliás, o nosso primeiro casamento. O segundo aconteceu em 1973, no candomblé. Nos sete anos que durou nossa ligação, ele foi muito feliz. Vinícius me cercava de muitas atenções e carinho. Sei que muitas mulheres povoaram a sua vida durante o nosso casamento. Ele viajava, em temporadas pelo interior, eu telefonava para o quarto dele, uma mulher atendia, dizia que era a camareira, a arrumadeira, mas eu sabia que era outra amada. Não me aborrecia. Afinal, o seu amor era eterno enquanto durava. O nosso, enquanto durou, foi eterno. Recebia flores de todos os cantos do mundo, fui carregada no colo e tive todas as minhas vontades realizadas pelo homem maravilhoso que um dia me amou”.
Vinícius não fazia por menos. A um repórter confessou um dia: “O que eu gostaria mesmo é de reunir a mulherada toda, desde Tati, todas as minhas namoradas, mulheres, casos, flertes, encher a casa com elas, fazer aquele porão de Fellini em Oito e Meio, a promiscuidade total, o amor total”.
Para um homem assim, para um poeta simples e consumado, a vida não podia estar dissociada de sua obra. Mais do que escrever poesia, ele vivia a própria poesia em sua vida, em sua paixão e em sua glória.
(*) Infelizmente, a edição não deu crédito para os fotógrafos.
por Flávio Sépia
A mídia neoliberal dominante vende a alma para resistir ao novo estilo de comunicação que a internet impõe. Para isso, não hesita em nivelar por baixo. A cobertura política atual estimula a fofoca.
Se não há um conflito para esquentar a pauta, que se invista na divergência latente.
Um exemplo: comentaristas agora mais valorizados do que repórteres discutem como se fosse amanhã a corrida presidencial de 2026 e já destacam o que chamam de "briga pelo poder" que, segundo eles, envolve Simone Tebet, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Tarcísio Freitas.
Ao ouví-los a impressão que fica é que no próximo sinal de trânsito o brasileiro que acabou de eleger um novo presidente vai encontrar cabos eleitorais com bandeiras e "santinhos" dos "candidatos". Mas não, na fila do pão não tem ninguém falando nas eleições de 2026.
Para os comentaristas o que vale é plantar conflitos para descolar cliques. Claro que, como é frequente, quando os próprios governantes e suas decisões geram conflitos, ótimo, os comentaristas não precisam dar asas à imaginação.
O governo Lula já deve ter recebido mais críticas do que Bolsonaro em quatro anos. Explico: a mídia neoliberal jamais criticou a política econômica de Bolsonaro e Paulo Guedes. No máximo discutia os costumes, a aversão à cultura, o racismo disseminado entre os apoiadores do governo passado e funcionários da administração, os ataques ao meio ambiente, o desprezo ao estado laico e intolerância etc. A economia era praticamente intocável.
Sabe-se agora que Bolsonaro e Paulo Guedes deixaram um rombo colossal nas contas públicas.
A mídia neoliberal não questionou isso, o mercado não ficou nervoso.
Ao contrário. Jornalistas da mídia tradicinal, de braços dados com Faria Lima só faltaram festejar o "Brasil voando" tão repetido pelo Paulo Guedes. Uma comentarista observou que "o bom momento' da economia poderia beneficiar Bolsonaro, sem apontar que "o bom momento" era a distribuição eleitoreira de dinheiro via auxílios, doações a taxistas, caminhoneiros, emendas de orçamento, renúncia fiscal para baixar preços dos combustíveis etc.
Subitamente, depois que a cadelinha "Resistência" subiu a rampa do Planalto, os mesmos comentaristas foram acometidos de um forte espírito crítico encomendado pelo baronato da midia.
Relacionando o Fiscalismo à Inflação (*)
Quando a inflação sobe é preciso aumentar a taxa de juros, certo? Os livros de economia dizem isso, os fiscalistas insistem nisso, a mídia não cansa de escrever isso. Logo, só pode estar certo, não? Não.
Ou, melhor dizendo, não necessariamente. Inflação em alta não é, de cara, motivo para aumentar os juros de forma rápida e intensa. Para tanto, é preciso ter um diagnóstico. Qual diagnóstico justifica a alta expressiva dos juros?
Quando a inflação tem causas quase unicamente domésticas -- sejam gastos públicos elevados, consumo "excessivo", espirais salário-preços -- é trabalho do Banco Central conter as pressões por meio da elevação dos juros, dados seu mandato e o regime de metas de inflação.
Ainda assim, os juros não são o instrumento perfeito de contenção inflacionária, mas constituem o melhor que temos para enfraquecer os impulsos que levam aos aumentos de preços.
Pensemos agora em outras situações.
Especificamente, imaginemos que as causas da inflação sejam, sobretudo, externas. Por exemplo: a inflação pode ter subido porque a China, com a adoção da COVID zero para combater a pandemia, desarticulou as cadeias de produção globais.
A inflação pode, também, ter subido por causa da alta dos preços do petróleo provenientes da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Se esses forem os fatores predominantes da alta inflacionária brasileira, aumentos de juros para conter a inflação serão menos eficazes.
O que isso significa? Significa que ou o Banco Central terá de elevar os juros para um patamar mais alto para alcançar o mesmo resultado de contenção inflacionária do que se as causas fossem internas. Ou, alternativamente, significa que o Banco Central pode...
...elevar menos os juros e aguardar até que as condições externas causadoras da inflação tenham se estabilizado.
Qual o diagnóstico para as causas da aceleração inflacionária brasileira observada em 2021?
Uns acham que são sobretudo internas, embora seja difícil apontar quais são, exatamente. Afinal, todos sabem que a economia não andou nada bem e que a fome, a pobreza, o desemprego, o subemprego, aumentaram no período.
Como a inflação brasileira subiu junto com a inflação no resto do mundo, parece bem mais certeiro o diagnóstico de que suas causas sejam, sobretudo, externas.
O BC optou por combater a inflação de origem externa elevando rapidamente os juros de 2,75% em março de 2021...
...para os atuais 13,75%. Isso significa que a despesa financeira, isto é, a despesa com o pagamento dos juros da dívida, aumentou em cerca de R$ 740 bilhões ao longo de apenas 15 meses (de março de 2021 até junho de 2022).
Os fiscalistas argumentam que as despesas estão muito elevadas, que não há espaço para financiar programas sociais na magnitude que o governo anunciou. Contudo, a base de sua argumentação é a despesa primária, aquela que exclui os pagamentos de juros da dívida.
Desse modo, ocultam o estrepitoso crescimento da despesa que realmente interessa: a despesa financeira. Por que? Porque quem recebeu os R$ 740 bilhões com a elevação dos juros para combater uma inflação de causas externas foram aqueles que detém títulos públicos.
Quem detém títulos públicos? Ora, não são os mais pobres, as pessoas em situação de fome, os desempregados, as pessoas que vivem nas favelas, enfim, não é a maioria da população brasileira. São os donos de fundos de investimento. São os fiscalistas, ou seus representantes.
Portanto, reparem na oportunidade conferida pela inflação externa aos detentores de títulos: por causa da resposta do BC (essa não é uma crítica ao BC), detentores tiveram ganhos extraordinários, com risco zero, e alta liquidez. Explico.
Risco zero: não há risco de calote da dívida pública, logo os rendimentos recebidos não refletem qualquer problema futuro de capacidade de pagamento do governo.
Alta liquidez: liquidez é dinheiro na mão. Títulos públicos podem ser vendidos nos mercados secundários em troca de moeda. Dinheiro vivo.
Portanto, entre março de 2021 e junho de 2022, receberam os detentores de títulos uma elevadíssima rentabilidade sem qualquer risco e, ainda por cima, com alta liquidez. A tríade rentabilidade alta, risco zero, e liquidez é uma distorção.
Uma distorção que distribui recursos para os que têm mais, não permitindo sobras para quem tem menos. A pobreza aumentou, a fome também. Por que? Porque os recursos públicos são limitados.
Está aí o resumo do conflito distributivo da segunda metade do governo Bolsonaro.
Os alarmes soam porque, francamente, quem quer largar rentabilidade com liquidez e risco zero? Quem quer perder seu quinhão para dar a quem precisa?
Eis a distorção brutal sobre a qual pouquíssimos falam.
(*) Texto reproduzido do Twitter
Tarefa de reconstruir o país enche os brasileiros de entusiasmo.
Em matéria de otimismo, seguem o Reino Unido com 53%, a França com 44% e o Japão com 36%.
Os brasileiros têm motivos para ser otimistas e esperar um novo ano melhor ? Sim. Dezenas, centenas de motivos.
Nenhum de nossos governantes teve em seus ombros carga tão pesada, tão difícil, tão épica. Mas nenhum governante brasileiro teve ativistas tão “entusiasmados”, no sentido etimológico, plenos de deus, dessa força ancestral que nos habita. Estamos plenos de todos os deuses africanos, dos deuses dos povos indígenas, do deus dos cristãos, do deus dos judeus e do deus dos muçulmanos. De todos os deuses do Olimpo. A palavra “entusiasmo” deriva-se do grego “enthousiasmos” que significa “ter um deus interior” ou “estar possuído por Deus”. Estamos possuídos dessa energia interior que nos impulsiona para a frente, nos dá forças para a tarefa hercúlea de reconstrução do país.
Reconstruir o maior país da América Latina, devolver otimismo a uma população esmagada, faminta, morando nas ruas, se abrigando sob marquises das grandes cidades. Reconstruir o Sistema Único de Saúde, a Educação, a Cultura, o Ministério do Trabalho, a Ciência, a Tecnologia, a Pesquisa. Dar um ministério aos povos originários, reconhecendo-lhes os direitos pisoteados pelas botas dos militares e pelos usurpadores de terras indígenas, pelos assassinos que agiam na impunidade.
O Brasil não tem motivos para ser o povo mais otimista do planeta ? Temos, agora, um maestro cheio de élan para reger a partitura que todos nós escreveremos. Todos nós? Sim, os democratas, os que não renunciaram à luta, à denúncia dos abusos, os que se indignaram com todos os crimes, a começar pelos crimes contra o meio ambiente que hipotecam nosso futuro.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA NA RED AQUI
Capa da Manchete, 1980. Foto de Sérgio de Souza |
por José Esmeraldo Gonçalves
Os arquivos desaparecidos da Manchete guardam milhares de fotos de Pelé. Uma rápida pesquisa mostra que o nome Pelé foi citado na revista mais de 10 mil vezes, sem contar outras publicações da Bloch, como Fatos & Fotos, Amiga, EleEle, Manchete Esportiva.
Manchete acompanhou a carreira e a vida do jogador desde os seus primeiros dias no Santos Futebol Clube, passando pelas quatro Copas do Mundo que ele disputou e a conclusão da trajetória no Cosmos, de Nova York.
![]() |
Reprodução/Manchete Esportiva/1959. |
A capa acima é de 1980. Pelé completava 40 anos e, durante uma reunião de pauta, Célio Lyra, diretor de Serviços Editoriais, sugeriu uma capa com Pelé, recém-divorciado de Rosemeri Cholbi, a Rose, cercado de modelos. O repórter Tarlis Batista, amigo do jogador, fez o contato e a entrevista, a primeira com ele solteiro. Célio reuniu as modelos Xuxa, Luíza Brunet, Adeline e Márcia Brito, vistas aí no sentido horário. Sérgio de Souza fotografou. O resto da história todos sabem, Pelé a contou muitas vezes. Foi durante essa sessão de fotos que ele conheceu Xuxa. Dali nasceu o romance que durou até 1986.
por José Esmeraldo Gonçalves
Uma das características principais dos influenciadores das redes sociais é "personalizar" a informação. Para eles e elas, a regra é clara: o influencer deve ser sempre mais importante do que a notícia.
A mídia tradicional faz todas as tentativas possíveis para enfrentar as redes sociais. Difícil. Falo das redes sociais legítimas e não geradoras de fake news ou incubadoras de robôs. Elas produzem conteúdos o tempo todo e é inevitável que a mídia tradicional se obrigue e repercuti-las em todas as editorias: política, esporte, celebridades, polícia etc. O poder de comunicação dos influencers é geralmente institivo. Linguagem, textos, e contextos são muito particulares. Nem eles sabem porque determinada fórmula deu certo e não é facil recriá-la em "laboratório". A mídia tradicional tenta pegar esse bêerretê.
Há muitos exemplos, fiquemos com os mais recentes: durante a entrega de prêmios de "melhores do ano" o programa do Luciano Huck contratou um humorista influenciador e o colocou na plateia para fazer intervenções irreverentes. Resultado: as polêmicas criadas repercutiram positiva e negativamente mais do que o assunto central do programa. Já o SportTV, na tentativa de "modernizar" a cobertura da Copa, apostou em Jojô Todinho para "debater" a Copa do Catar. Não funcionou nem como humor. Foi constrangedor, na verdade. O desastre só não foi total porque Marcelo Adnet carregou o quadro nas costas. A estratégia não impediu que o grande fenômeno tenha sido a cobertura de futebol canal do Casemiro no You Tube que quebrou recordes de engajamento.
Foi curioso, ontem, comparar estilos da TV na posse do Lula. A Globo News, líder em audiência entre os canais de notícias, manteve seu estilo apesar da grandiosidade do evento. Os comentaristas, em grande número, revezando-se em estúdio na Praça dos Três Poderes, dominaram a cena. Como influencers narram suas experiências, divulgam suas opiniões. O evento, qualquer evento, é o pano de fundo. Menos notícia, muita opinião. Na prática, os âncoras foram mais focalizados do que o presidente que tomava posse, assim como as cerimônias, o cortejo, as multidões etc. A Globo News tem veiculado exaustivas campanhas sobre seus âncoras transformando-os em personagens, vale dizer, seus influencers. O jornalista Octávio Guedes se sai bem no estilo "influencer": sabe usar a ironia e a irreverência ao comentar o fato. Ao jeito dos fenômenos das redes sociais, o canal tenta adicionar humor, informalidade e brincadeiras entre os apresentadores. Apesar do esforço rumo à descontração, adota o ambiente formal e clean do estúdio. Não se misturam.Tanto assim que passaram a levar o estúdio às imediações da notícia, digamos. Aconteceu também na cobertura do governo da transição, onde âncoras preferiram enfrentar mosquitos no gramado do CCBB, sob uma tenda-set.
Uma observação: a Globo News tem atualmente pouquíssimos anúncios, mas isso não significa que tenha menos intervalos comerciais. Ao contrário. Você está vendo os comentaristas do canal e o jornal é interrompido para exibir um anúncio institucional com... os comentaristas do canal. Isso em todos os intervalos. Quando não, a Globo Play pelo menos exibe por intermináveis segundos o logo Globo News, sem áudio. O assinante fica com a impressão de que o sinal caiu. Talvez isso aconteça só para quem acessa através do streaming. Vai ver na Globo News via Net sejam veiculados comerciais que não passam via Globo Play. Não sei, é apenas uma hipótese.
A CNN Brasil parece equilibrar melhor a parceria entre âncora e repórter. Está mais ligada nos fatos. É mais dinâmica. Confirmou antes os detalhes da entrega da faixa, assim como mostrou a saída do cortejo antes da concorrente e conseguiu colocar mais cedo duas repórteres, uma delas filmando com celular e outra acompanhada de cinegrafista, no salão que reunia praticamente todo o novo governo, o que resultou em matérias exclusivas. Além disso, a âncora de ontem no horário da posse, Daniela Lima, ex-Folha de São Paulo e TV Cultura, tem alma de repórter, opina, e é uma máquina acelerada de produzir informações, Além de aciona os repórteres com muita frequência.
A Globo, como canal aberto, é um transatlântico bem mais difícil de mudar de rumo. A cobertura foi ancorada pelos experientes William Bonner e Renata Lo Prete. Ambos faziam comentários breves e pontuais em cima do que acontecia. As imagens dominavam a cobertura. Bom ritmo. Para quem quis menor interferência de comentários recorrentes e ligou a TV ou o celular para ver o acontecimento como prioridade e a Globo entregou essa missão.
O melhor é que houve opções. Quem viu, viu, onde quis.
O blog não acompanhou a Jovem Pan ou outros canais bolsonaristas/golpistas.
Na fotografia, o destaque em sites e redes sociais foi a impressionante produção de Ricardo Stuckert, fotógrafo que trabalha com o Lula e agora foi nomeado para Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. Ele aparentemente usava duas câmeras, celular e operava um drone. Claro que contou com o apoio de um assistente, mas estava em todos os lugares colado no Lula. Nesse quesito, só perdeu para Janja.
As ausências políticas na posse do Lula foram irrelevantes, nas bem-vindas. Ao não comparecer, Bolsonaro deu mais brilho à cerimônia. Mourão imitou o sociopata, no que fez muito bem: o cerimonial agradeceu. Os dois ministros do STF nomeados por Bolsonaro declinaram do convite. Melhor assim. O ex-ministro da Marinha não deu as caras e assim contribuiu para dar maior dignididade ao evento. Temer, o notório golpista, não apareceu. Ótimo, atravessou a ponte para o passado.
O que essas pessoas têm em comum?
A democracia lhes causa erisipela cerebral.
![]() |
Fotos de Ricardo Stuckert/PR |
As fotos de Ricardo Stuckert mostram que, enfim, a democracia voltou a subir a rampa. (José Esmeraldo Gonçalves)
![]() |
O gol de Pelé que deu a vitória ao Brasil, por 1x0, contra País de Gales. O jogador beijou a bola no fundo das redes. Foto Jáder Neves-Manchete |
Pelé posou para O Cruzeiro. Reprodução |
O goleiro Gilmar beija a Jules Rimet em frente à sede de O Cruzeiro |
Naquele ano, eu trabalhava no Departamento de Arte, da revista O Cruzeiro. Consagrada a vitória, a seleção chegaria ao aeroporto do Galeão e, em cima de um carro de bombeiros, desfilaría pela cidade até o Palácio do Catete, onde o presidente Juscelino Kubitschek iria homenagear os campeões.
Pois bem, diante desse fato, a direção da revista O Cruzeiro também resolveu celebrar os jogadores no salão de recepção da sua sede projetada por Oscar Niemeyer, na Rua do Livramento, no Centro do Rio de Janeiro. No espaço, com obras em grandes formatos de Portinari, foram montadas mesas de finos salgados, champanhe, caviar, enfim, um bufê servido pela Confeitaria Colombo. Mas o problema era como conseguir sequestrar seleção, desviando o comboio do seu trajeto e conduzindo-o para o prédio da revista. Estava previsto que o cortejo passaria na Av. Rodrigues Alves, nas proximidades da Livramento. Rodolfo Brandt, que fazia parte do grupo de jornalistas da Cruzeiro, era da Policía Especial e pilotava uma motocicleta. Assim que a comitiva saiu do Galeão, Rodolfo se posicionou à frente do carro dos bombeiros e passou a liderar a comitiva. O jornalista-policial entrou na Rodrigues Alves, região onde arqueólogos descobriram o porto onde os escravizados desembarcavam, e atrás dele vieram os bombeiros e os craques em caminhão aberto. Daí em diante foi fácil. Rodolfo pegou a Sacadura Cabral e, em seguida, a Rua do Livramento. Em poucos minutos, a seleção entrava no saguão de O Cruzeiro. Em principio,a comitiva não entendeu muito o que estava acontecendo, mas resolveu relaxar e aproveitar o momento.
Nós, do Departamento de Arte, que estávamos trabalhando, corremos para o salão, conhecemos alguns jogadores e nos detivemos em um garoto que, um pouco tímido, passou a conversar com a gente. Pelé nos disse seria o melhor jogador de futebol do Brasil. Claro, não acreditamos muito. A seguir, a seleção retomou seu roteiro, afinal, um Presidente da República do Brasil estava aguardando os campeões do mundo havia algumas horas.
O "sequestro" não resultou apenas em comemorações: repórteres e fotógrafos da revista fizeram matérias exclusivas com os herois do primeiro título mndial da seleção brasileira. Além disso, fomos os primeiros a ver de perto a Taça Jules Rimet. Em certo momento, o goleiro Gilmar foi para a rua e posou beijando a taça com a sede de o Creuzeiro ao fundo.
Minha filha costuma dizer que Deus gostava muito de futebol, mas não sabia jogar, então deu a Pelé toda a inteligência e toda a arte de jogar bola.
Pelé, na minha opinião, é o eterno milagre da vida
![]() |
A Fatos&Fotos foi a primeira revista a publicar a história foto de Orlando Abrunhosa |
![]() |
Em seguida, a mesma imagem do fotógrafo brasileiro foi colorizada para a capa da Paris Match |
Um gol de gênio
Foi pelo rádio de um carro de reportagem nos arredores de São José dos Pinhais – a caminho do local do desastre de avião que matou Nereu Ramos em 1958 – que ouvi o primeiro gol de Pelé numa Copa do Mundo. O gol que deu a vitória ao Brasil contra o País de Gales nas quartas de final. Um gol antológico que é repetido a toda hora na TV.
O primeiro gol de Pelé em Copas do mundo - 1958 - YouTube CLIQUE AQUI
Le Roi Pelé
Em Paris, 1961, estudando no Centre de Formation des Journalistes, certas noites, voltando para a Cité Universitaire, eu comia algo leve no bistrô La Petite Source, no Carrefour de l’Odéon, muitas vezes na companhia do colega Abdou Cissé, do Senegal, que me assediava sedento de notícias do Brasil. Quando nos conhecemos olhou para mim como se eu fosse um ser extraterreno e me perguntou, solene:
– Monsieur Muggiatí, est-ce que tu connais vraiment le Roi Pelé?
Na sua visão, Sua Majestade Edson Arantes do Nascimento reinava soberano sobre um vasto império tropical cheio de súditos felizes. Curiosamente, eu acabara de assistir em 13 de junho, no Parc des Princes, à fabulosa vitória do Santos de Pelé sobre o Racing por 5x4 no Torneio de Paris, diante de um público de 40 mil pessoas.
O gol 1000
Como editor da revista semanal Fatos&Fotos, que fechava às quartas-feiras para ir às bancas na sexta, coube a mim botar na capa da revista o milésimo gol de Pelé, no Maracanã, de pênalti, contra o goleiro do Vasco Andrada, na noite de 19 de novembro de 1969, na vitória do Santos por 2x1.
A foto imortal
Não há cargo mais arriscado do que editor de revista ilustrada. Em meados de 1970 eu ainda dirigia a Fatos&Fotos, notória pela alta rotatividade de seus editores. O Brasil estreava na Copa do México desacreditado e com um susto, em Jalisco: já aos 11 minutos, tomava um gol da Checoslováquia, mas acabava virando o jogo e ganhando de 4x1. O jogo foi numa quarta-feira. O entusiasmo pela seleção nos fez adiar o fechamento para quinta-feira. O fuso do México nos ajudava, recebemos as fotos pelo malote que chegou ao Rio na quinta, eram rolos e rolos de filme a ser revelados, demos preferência ao preto e branco pela urgência do fechamento. O laboratório revelava, depois copiava as tiras das fotos em 35mm nas “folhas de contato”, a partir das quais o editor escolhia as melhores imagens com a ajuda de uma lupa. Reparem, cada fotinho daquelas ocupava um pequeno retângulo de 35mm, ou seja, 3,5 centímetros de comprimento. Agradeço ao meu pai por encher nossa casa de livros com as obras-primas dos grandes pintores e as melhores revistas de fotografia. Aquilo contribuiu muito para minha educação visual, característica vital para um editor de revista ilustrada. Imaginem o vexame de deixar escapar uma imagem premiada...
Quando os “contatos” pousaram na mesa de edição, foi como um golpe de mágica, meu olho logo caiu sobre a foto de Orlando Abrunhosa que mostra Pelé socando o ar no vértice de um triângulo formado por ele, Tostão e Jairzinho. Um detalhe importante: era uma foto horizontal, mas privilegiamos o corte vertical para maior efeito estético. Publiquei na capa, num preto-e-branco azulado com as chamadas e o logotipo em cor. Na manhã do sábado a revista esgotava em poucas horas nas bancas do Rio e de São Paulo. Na semana seguinte, Paris-Match publicou a foto na capa, numa versão colorizada. A foto – que nós apelidamos “os três mosqueteiros” – ganhou o mundo nas décadas seguintes, foi até um selo comemorativo dos correios brasileiros. É uma das fotos que, em meus 28 anos de editor de revista ilustrada – mais me orgulho de ter publicado. Fazendo tabelinha com o inesquecível Rei Pelé...
PS • As imagens que revimos à exaustão na TV do futebol do Pelé são um hino à ousadia ofensiva, as investidas na diagonal e na vertical rumo ao gol. Os dribles, as fintas, um verdadeiro balé, calcado na pureza do futebol de várzea. O oposto do futebol de resultados mesquinho e chato de um Messi, futebol de salão maculando a grama sagrada¸ jogo de xadrez apostando no erro do adversário; e da monotonia da posse de bola dos espanhóis, com nojo da penetração. Em Pelé tivemos a velocidade física e do pensamento, a improvisação, a criação de jogadas nunca tentadas antes no futebol. A força comandada pela inteligência.