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Reprodução Twitter |
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Nesta cena, na roda-gigante de Viena, Orson Welles falou a "frase do dia". |
Fala improvisada por Orson Welles no filme O terceiro homem (1949)
(Matéria publicada na Gazeta do Povo quando Casablanca comemorava os 70 anos da estréia)
Não é de hoje que Hollywood tenta repetir o que deu certo e nem sempre se dá bem. O romance O Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, publicado em 1925, já no ano seguinte ganhava uma versão no cinema ainda mudo. Refilmado em preto e branco em 1949 (com Alan Ladd), Gatsby conquistaria as plateias na versão com Robert Redford e Mia Farrow, uma visão anos 70 dos anos 20.
No drama marítimo O Grande Motim, a versão de 1935 (com Clark Gable e Charles Laughton) ganha de longe das de 1962 (Marlon Brando e Trevor Howard) e 1984 (Mel Gibson e Anthony Hopkins). Há remakes que jamais deveriam ter sido feitos: o de O Fio da Navalha (1946, com Tyrone Power), refilmado em 1984 com Bill Murray; e A Carga da Brigada Ligeira (1936, dirigido por Michael Curtiz, de Casablanca, com Errol Flynn), refeito em 1968 com David Hemmings. O personagem mais vezes levado à tela é Sherlock Holmes, interpretado por vários atores desde a primeira versão, em 1922, com John Barrymore. O detetive Charlie Chan, que também estreou no cinema mudo, aparece em dezenas de filmes. Ironicamente, seus maiores intérpretes foram falsos chineses: o sueco Warner Oland e o americano (de origem escocesa) Sidney Toler.
O exemplo mais bem-sucedido de sequels foi a saga O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola (1972, 74, 90).
O charme macabro de Norman Bates gerou as sequências Psicose II e Psicose III e a prequel Psicose IV O Início, todas estreladas por Anthony Perkins, que dirigiu Psicose III. Desperdício total foi Gus Van Sant copiar em cores, em 1998, quadro por quadro, o Psicose original de Hitchcock, de 1960. Mas aguardem: vem aí Alfred Hitchcock e a filmagem de Psicose, com Scarlett Johansson fazendo a bela do chuveiro e Anthony Hopkins (não Perkins!) como o Mestre do Suspense. Hopkins, a propósito, brilhou nas sequels de O Silêncio dos Inocentes, Hannibal e O Dragão Vermelho, mas não aparece na prequel, Hannibal A Origem do Mal.
Existe coisa pior no cinema do que remakes, sequels e prequels? Existe, sim. Já imaginaram um Casablanca The Musical? Vamos torcer para que a história de amor de Rick e Ilsa continue fechada eternamente entre as quatro paredes do encantado café marroquino.
Rick e Ilsa deixam o heroico Victor Laszlo a ver aviões e têm o seu happy end. Casam, têm filhos e se tornam mais uma família afluente numa cidade-satélite da Sociedade de Consumo. Ou então, numa virada de enredo digna do nosso tempo, Rick e o capitão Renault se aprofundam (literalmente) na sua "bela amizade" e saem pelo mundo em busca de destinos gay-friendly. Laszlo larga a política e se torna gerente de uma rede de hotéis, vivendo pra lá de Marrakesh num harém de dançarinas do ventre. Dooley Wilson, que canta "As Time Goes By" no filme, faz sucesso com um clube de jazz na rive gauche de Paris, o Sam's Café Américain.
A história de amor do século entre Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Berman) pode ser resumida num tweet: "Paris: invasão alemã separa amantes. Ela casa com herói da Resistência. Casablanca: mocinho faz amada fugir com marido por um mundo melhor."
O filme era para ser mais uma produção rotineira da Warner. Baseou-se numa peça de teatro não encenada, Everybody Meets at Rick's. O texto passou por muitas mãos e modificações. Casablanca foi rodado em apenas 71 dias, de 25 de maio a 3 de agosto de 1942. As filmagens começaram com apenas metade do roteiro pronta. Depois, as falas e marcações eram escritas na véspera por Howard Koch e pelos irmãos gêmeos Jules e Philip Epstein. Ingrid Bergman não sabia quem devia amar: Rick ou Laszlo? Há quem defenda que essa confusão toda foi uma das causas principais do sucesso de Casablanca.
Frases
O filme é o campeão das frases de efeito, de humor cortante, um tipo de cinismo gerado pelo pathos da guerra.
Nas conversas entre o capitão Renault e Rick, por exemplo: "Que diabos o trouxeram a Casablanca?/ Minha saúde. Vim por causa das águas./ Águas, que águas? Estamos no deserto?/ Fui mal informado."
Uma mulher pergunta a Renault que tipo de homem é Rick: "Rick é o tipo de homem que... se eu fosse uma mulher, e eu não estivesse à mão, eu me apaixonaria por Rick."
E o fecho do filme, quando os dois, acumpliciados na vitória do Bem, se afastam em meio à neblina: "Isto poderia ser o início de uma bela amizade."
O choque de Rick ao reencontrar Ilsa no seu café: "De todos os botequins em todas as cidades do mundo, ela tem de entrar logo no meu!"
Evocando a invasão de Paris: "Lembro cada detalhe: os nazistas estavam de cinza, você de azul."
Convencendo-a do acerto do seu sacrifício: "Ilsa, não sou bom em matéria de nobreza, mas não é muito difícil perceber que os problemas de três pessoinhas não valem coisa alguma neste mundo maluco."
E quando Ilsa, perplexa, pergunta: "E nós?" Rick consola: "Sempre teremos Paris."
O complemento musical é perfeito: "As Time Goes By", composto em 1931 por Herman Hupfeld, pianista de uma taverna suburbana de New Jersey. A letra sublinha os sentimentos do filme: "É a mesma velha história/ A luta por amor e glória/ Um caso de vida e morte./ O mundo acolherá os amantes/ Enquanto o tempo passa..." "As Time..." sublinha o amor de Rick e Ilsa em Paris e o seu reencontro em Casablanca. O piano de Sam em Paris, que só aparece 70 segundos em cena, foi leiloado no dia 14 deste mês, por US$ 602 mil, pela Sotheby's NY.
Filmagens
O elenco era uma verdadeira "legião estrangeira": a sueca Bergman; os ingleses Claude Rains e Sidney Greenstreet; os austríacos Paul Henreid (nascido em Trieste) e Peter Lorre (celebrizou-se como O Vampiro de Düsseldorf); o alemão Conrad Veidt (atuou em O Gabinete do Dr. Caligari), fugiu dos nazistas, mas Hollywood o engessou em papéis de oficiais nazistas, como em Casablanca. E tem, é claro, o diretor Michael Curtiz, húngaro que se mudou para Hollywood ainda no cinema mudo. Durão, foi temido e odiado por todo o elenco, exceto por Ingrid, que Curtiz tratava como uma duquesa.
Bogart era cinco centímetros mais baixo do que Ingrid, o que o obrigou a pisar sobre blocos de madeira ou sentar em almofadas altas para compensar a diferença. O filme todo foi rodado num galpão da Warner em Burbank. A cena final usou um avião de compensado em miniatura, imitando um Loockheed Electra Junior, preparado para o voo por extras anões, para manter a proporção. A produção exagerou no nevoeiro, a fim de disfarçar a bizarra montagem. Havia finais alternativos A e B, até os atores principais só souberam qual deles seria usado dias antes da filmagem. Tentativas de corrigir as cenas finais se tornaram impossíveis depois que Ingrid Bergman cortou os cabelos bem curtos, para interpretar Maria em Por Quem os Sinos Dobram?. A filmagem de Casablanca foi uma comédia de erros em que tudo se encaixou à perfeição para criar uma obra-prima.
Culto
A première em Nova York em 26 de novembro de 1942 garantiu que o filme concorresse aos Oscars do ano. Com oito indicações, ganhou os prêmios de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro. Comunicólogos e semiólogos tentaram decifrar o "Efeito Casablanca" nas últimas décadas. Umberto Eco acha o filme medíocre, uma história em quadrinhos, uma colcha de retalhos, com baixa credibilidade psicológica e descontínuo em seus efeitos dramáticos." Mas Eco admite também que "Casablanca não é apenas um filme. É muitos filmes, uma antologia. Quando todos os arquétipos explodem desavergonhadamente, atingimos profundezas homéricas. Dois clichês nos fazem rir. Uma centena de clichês nos comove, pois sentimos que os clichês estão conversando entre si e celebrando uma reunião."
Intelectualismos à parte, Casablanca é um filme que fala basicamente à emoção. Cultuado por sucessivas gerações ao longo de 70 anos, deverá continuar, por muito tempo, contando "a mesma velha história da luta por amor e glória." Por tudo isso, depois de 70 anos, tornou-se também imune a remakes e continuações um milagre impossível de se repetir.
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Reprodução Twitter |
Eva Christian, o comediante Canarinho e Francisco di Franco na novela Jerônimo, Heroi do Sertão, na TV Tupi, nos anos 1970. Foto: Manchete/Reprodução |
O face Revista Antigas (link) publicou recentemente a foto acima (o colaborador do paniscumovum, Nilton Muniz, colega na extinta Bloch, nos enviou o post de Marco Antonio Amaral) e fez um referência merecida ao jornalista, escritor e quadrinista Moysés Weltman. Em 1957, há 65 anos, Weltman lançava a publicação em quadrinho Jerônimo, Herói do Sertão, que nos anos 1970 virou novela no TV Tupi e, no anos 1980 foi exibida no SBT. Originalmente, a novela fez enorme sucesso quando foi ao nos anos dourados da poderosa Rádio Nacional, o primeiro veículo a alcançar todo o Brasil.
Também na Bloch, Moyses Weltman teve longa trajetória. Dirigiu a revista Amiga nos anos 1970, e fez uma passagem como editor da Fatos & Fotos. Com grande vivência em televisão, Weltman foi um dos profissionais que trabalhou ao lado de Adolpho Bloch para lançar a Rede Manchete.
Justin Setterfield (Getty Images) fez a foto perfeita do voleio de Richalison. |
Justin Setterfield Reprodução |
O inglês Justin Setterfield fez a foto mais bonita da Copa do Mundo do Catar. A fabulosa imagem do atacante Richarlison no ar, em pleno voleio, a bola que parece pousada no pé direito no exato instante em que ele marca o segundo gol da seleção brasileira, ontem, contra a Sérvia. É uma obra de arte.
Se Richarlison ao acordar hoje puxasse o Google para ver todos os jornais, revistas, veículos digitais, sites, todas as redes sociais de quem ama o futebol, levaria anos para acessar todas as suas fotos e todos os vídeos que eternizam o instante globalizado. A maior parte, sem o devido crédito como quase sempre acontece nos virais da rede.
Pois Justin Setterfield também é um conhecido craque do esporte na modalidade "atrás da câmera". Justin estava no estádio Lusail, em Doha, a serviço da agência Getty Images, para a qual trabalha desde 2013. Em 2019 e 2020, ele ganhou o Sports Journalist Awards, uma espécie de "bola de ouro" para os fotógrafos especializados em esportes. Em 2016, venceu o Football Picture of the Year e o Getty Images European Photography Awards; em 2021 o Motor Sports category World Sports Photography Award
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"Matadinha" é moda. |
A posse de bola é tão glorificada que os locutores anunciam a todo momento as estatísticas do que chamam domínio de campo mesmo que não resulte em gols.
Os mais antigos devem lembrar dos passes de 40 metros de Gerson ou Didi. Esqueçam, no futebol moderno raramente algum jogador faz isso, talvez só o goleiro ao repor a bola com um chutão e nos recorrentes cruzamentos sobre a área
Em muitos momentos, a constante troca de passes curtos lembra o futsal e um dos fundamentos da modalidade: aquela "matadinha" com a sola do pé antes de rolar a bola para o companheiro mais próximo.
No futsal isso faz sentido: o espaço é restrito, a bola é pesada, a trave pequena e o time toca a bola até encontrar uma brecha para o chute a gol.
Estou falando mal do jogo atual? Não. O futebol também tem modas e fases.
Acima, falei de Gerson e Didi. O estilo de cada um seria útil atualmente? Pelé, por exemplo, se fosse treinado por um Guardiola teria que voltar para marcar e tentar retomar bola. Garrincha? Também teria de participar da "transição", voltar quando o time perdesse a posse de bola e trocar passes para abrir linhas de defesa de até cinco homens como é comum agora. Garrincha talvez até pudesse jogar aberto e driblar para vencer laterais e zagueiros, mas não o tempo todo porque o treinador à beira do campo passaria o jogo sinalizando para ele voltar.
É isso que temos. Se não gostar reclame do Rinus Mitchel que, em 74, mandava o craque Cruyff voltar para recuperar a bola no esquema do fabuloso carrossel holandês. Ou mande uma mensagem para Pepe Guardiola, Klopp, Tuchel, Ancelotti...
Comentario de J.A.Barros
Se o futebol evoluiu, não posso afirmar com certeza.
Sou dos tempos em que via Zizinho pegar a bola no meio de campo e ir driblando o " inimigo" até ao gol.
Sou do tempo em que via Pelé, em lances espetaculares, dar um chapéu no seu primeiro marcador, na entrada da área, dar outro chapéu no segundo marcador, dentro da área, e por mim, em frente ao goleiro, dar um terceiro chapéu nele e sozinho em frente ao gol vazio, cumprimentar com a cabeceada, o estádio e fazer o gol que marcou a sua rica e memorável historia no futebol,brasileiro.
Sou dos tempos em que via no sagrado templo do futebol carioca, o Maracanã, Zico, na corrida, matar a bola com o lado do pé direito, continuar na corrida com a bola dominada e com o chute indefensável marcar mais um gol na sua fantástica carreira de jogador de futebol.
No futebol de hoje, antes do jogador chegar em frente ao gol, a bola precisa correr, a começar pelo goleiro, de pé em pé, por todos os jogadores, para tentar finalizar as jogadas em frente ao gol do "inimigo ".
Se tá certo ou não, o que vou dizer?:
- Ah, é o futebol moderno, e o jogo fica mais corrido e é aquela corrida dos jogadores querendo bater o record dos 100 mentros rasos.
O futebol fica mais corrido, mais bonito?.
Francamente, não sei
O cartaz da Copa de 1950 |
A "zebra" que virou filme |
Em 1954, a Copa aconteceu na Suíça. O Brasil estreou um novo uniforme, com a camisa amarela e os calções azuis – depois da derrota no Maracanã em 50 a camisa branca e o calção azul usados desde 1919 eram considerados azarados. A seleção foi eliminada nas quartas pela Hungria, que perderia a final para a Alemanha. Esta foi a primeira Copa que acompanhei já de dentro de uma redação, desde março eu trabalhava como redator na Gazeta do Povo de Curitiba.
Em 1958, uma nova geração entrava em campo na Suécia.
Guardo muito viva a lembrança de Pelé salvando a pátria contra o País de Gales com
o único gol da partida, o seu primeiro numa Copa, depois de um belo “chapéu” no
defensor (passa a toda hora na TV). A memória foi marcante porque eu acompanhava
a partida pelo rádio numa caminhonete da reportagem a caminho do local nos
arredores de São José dos Pinhais onde havia caído o Convair da Cruzeiro do
Sul, causando a morte do senador Nereu Ramos, do governador de Santa Catarina
Jorge Lacerda e do deputado Leoberto Leal.
Em 1961, estudando jornalismo em Paris, tive o privilégio de ver Pelé jogar pelo Santos (5x4 contra o Racing) num torneio internacional no Parc des Princes.
Em
1962, de volta de Paris e a caminho de três anos na BBC de Londres – numa fase
muito louca da minha vida que batizei de “Seis meses num DKW” – lembro do
domingo da final da Copa do Chile, Brasil 3x1 Checoslováquia, eu rodando de
carro com uma namorada, a certa altura subimos a serra até Vila Velha, no segundo
planalto. Quando voltamos ao centro de Curitiba, bem na Cinelândia, o Brasil
fazia o terceiro gol, o DKW quase levantou voo com as bombas cabeça-de-negro
que estouravam debaixo da sua carroceria.
Em
1966 o país inventor do soccer foi brindado como sede da Copa. Repórter
especial da Manchete em Frei Caneca,
sem participar diretamente da cobertura, lembro que meu colega Muniz Sodré, que
falava russo, entrevistou o goleiro soviético Lev Yashin, de passagem pelo Rio.
Algumas peculiaridades: em meados de abril, a revista Time publicou uma reportagem de capa sobre London: The Swinging City,
no que pareceu a muitos uma sutil matéria paga encomendada para encher a bola
da Inglaterra. Houve também o episódio da taça Jules Rimet, roubada por alguns
dias e encontrada por um cachorro em seu pacato passeio com o dono. Tempos
depois escrevi um texto sobre a Copa da Inglaterra intitulado “O ano da Taça
Roubada”, o duplo sentido aludindo à bola que bateu no travessão superior sem
cair dentro da risca, mas foi marcada como gol para a Inglaterra, na final com
a Alemanha.
Uma
referência ao salto tecnológico nas comunicações: em 1966 só víamos os jogos no
dia seguinte, quando o videoteipe chegava por malote; já em 1970, assistíamos
às partidas do México ao vivo por satélite, mas em preto e branco; e na Copa da
Alemanha, em 1974, vimos os jogos ao vivo e em cores.
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México, Copa de 1970- A histórica foto de Orlando Abrunhosa na capa da Fatos & Fotos |
Em
1974, os sonhos do tetra foram atropelados por um futebol novo e sensacional, o
Carrossell Holandês, também chamado de Laranja Mecânica (pela cor das camisas e
por associação com o filme irreverente de Stanley Kubrick, A Clockwork Orange.) A
Holanda nos despachou e perdemos ainda o 3º lugar para a Polônia. A Alemanha
venceu a final e a Laranja Mecânica tentaria de novo sua sorte na final
seguinte, contra a Argentina, na Copa de 1978. Na derrota de 74 Justino Martins
tirou da gaveta uma capa bizarra copiando uma ideia da revista alemã Stern: uma foto de Zagallo com a
cabeça inchada em forma de bola de futebol.
Copa esquisitíssima a de 1978! A Argentina
começou perdendo para a Itália. Correu o risco de ser eliminada pelo Brasil num
empate sem gols numa nervosa noite de domingo em Rosário. Para ir à final, precisava
vencer o Peru por quatro gols ou mais,. E não é que, num jogo duvidoso, goleou o time de Chumpitaz, Cubillas e Manzo
por 6x0?. Na final, ganhou sua primeira
Copa derrotando a Holanda. O Brasil ficou em 3º, vencendo a Itália. Não perdeu
um único jogo nessa Copa, sagrando-se o “campeão moral”. Na época eu tinha
trocado de mulher, trocado de apartamento e traduzia o best seller Holocausto, uma série de repercussão
mundial que passaria na TV Globo.
Em
1986, a Colômbia, endividada, desistiu de sediar a Copa, que acabou voltando
para o México. O Brasil foi eliminado pela França nas quartas de final na
decisão por pênaltis. Foi a Copa de Diego Maradona, coroada por aquele gol
contra a Inglaterra feito pela “mano de
Diós”... A Argentina venceu a Alemanha na final por 3x2.
Meio
século depois, a Copa voltou à Itália, em 1990. O Brasil do técnico Sebastião Lazzaroni
foi eliminado pela Argentina ainda nas oitavas por 1x0, gol de Caniggia. O
estilo da seleção foi batizado pela imprensa de Era Dunga, pela ênfase
defensiva e pelo temperamento taciturno do volante, que chegaria a capitão do
time do Tetra e a chefiar o escrete na Copa de 2010.
Um
lance bizarro na Copa da Itália foi a tentativa frustrada do goleiro colombiano
Higuita, metido a líbero, de driblar o atacante de Camarões Millá, causando a
derrota da Colômbia por 2x1. A nota triste foi a morte de João Saldanha, quando
fazia a cobertura da Copa para a TV Manchete – Saldanha que renunciou ao cargo
de técnico da seleção em 1970 alegando interferência do ditador Emílio
Garrastazu Médici na escalação do time. E um episódio doméstico muito estranho
me aconteceu logo após a eliminação do Brasil pelo gol de Caniggia. Naquela
tarde de domingo, não sei por que – talvez para descarregar a tensão – decidi
ir ao banheiro fazer a barba. De repente, o pesado armário espelhado de metal
embutido despencou sobre mim. Felizmente, esquivei-me a tempo. Foi então que
fiquei sabendo da existência de cupins terríveis que corroem o concreto, eu
achava que eles só comiam madeira e papelão...
Em
1994, veio o tão sonhado tetra, no embalo de Romário, Bebeto & Cia, uma
conquista dedicada a Ayrton Senna, morto no circuito de Imola em 1º de maio. Manchete publicou uma edição especial,
sem a repercussão esperada. Talvez ganhar uma Copa na disputa de pênaltis tenha
gerado uma atmosfera anticlimática – seja como for, salve Roberto Baggio, com
aquele chute estratosférico, lembrando os petardos do futebol americano sobre
aquelas traves elevadas...
Em 1998, na França, foi aquela história que todos sabemos. Cony –
especialista em informações de cocheira tipo “O-Tancredo-não-vai-tomar-posse” –
telefonou de Paris na madrugada da final anunciando: “O Ronaldo não vai jogar!”
Não jogou. E Zinedine Zidane fez a festa, no primeiro título dos franceses. Foi
nossa última Copa na redação. No final de setembro, pela primeira vez em meus 33
anos de Bloch Editores, a folha de pagamento não deu o ar de sua graça.
Passamos a receber “vales” aleatórios muito abaixo do nosso salário. Até o dia
1º de agosto de 2000, quando a empresa decretou falência e as portas do
majestoso conjunto de prédios da Rua do Russell desenhado por Oscar Niemeyer
foram lacradas para sempre.
Ronaldo Fenômeno se redimiu em 2002 na Copa do Japão e da Coreia, ao lado
de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Cafu e outras feras. Aquele gol de falta do
Ronaldinho encobrindo o goleiro inglês! E o gol de bico do Fenômeno contra a
Turquia! Sem falar no magistral 2x0 contra a Alemanha na final. A seleção
comandada por Felipão era a primeira a chegar ao penta – e continua no topo.
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Imagens reproduzidas de vídeo CBF/Divulgação |
Tite adota o estilo "autoajuda" nas preleções aos jogadores e durante as entrevistas. Às vezes fala difícil, como se fosse um tecnocrata do futebol. Pois os vestiários do estádio doo Al Arabi Sports Club onde a seleção brasileira faz seus treinamentos no Catar, reproduzem nas paredes as bordões. São palavras-chave de incentivo e motivação: "Coragem", "Trabalho", "Mentalmente forte", "Determinação", "Se preparar bem para merecer vencer", "Equilíbrio" , "Força "...
Como Neném Prancha diria se vivo fosse, autoajuda não ganha jogo.
Fico pensando no genial Pelé, em 1958, e se, antes de dar um chapéu no zagueiro na pequena área, ele dizia para si mesmo: "estou cheio de determinação", "tenho coragem".
E Garrincha? Quando entortava adversários em 1962, a Copa em que ditou o ritmo e a magia da seleção, ele usava mantras do tipo "iniciativa", " mentalização", "acreditar"? E Ronaldinho, Ronaldo, Carlos Alberto Torres, Nilton Santos, Romário, Didi, Tostão, Rivelino, Gerson, Rivaldo e tantos outros? O que pensava Ronaldinho quando fez aquele golaço contra a Alemanha em 2002? "Tenho confiança", "trabalhei e mereço vencer"? Romário quando dava um drible curtinho, medido em milímetros, antes de furar as redes vibrava com um "caraio, tô mentalizado".
Sei não, Neymar está tão confiante que já anda com a sexta estrela do Hexa no logo da CBF, mas o Brasil vai precisar muito mais de autoajuda e do já ganhou" para não voltar cedo pra casa.
A grande dúvida do Brasil - e que vai deixar os torcedores tensos - é como o time vai se comportar diante de uma seleção competitiva européia. O time de Tite não sabe o que é isso desde que perdeu para a Bélgica em 2018. Foi pro Catar no escuro. A caixa preta só começará a ser aberta nos jogos contra Sérvia, Suíça e Camarões. Vamos encarar?
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Charge de Jaguar, junho de 1963. Reprodução Acervo Última Hora |
Com a Copa do Catar, a FIFA pensou muito mais nos dólares dos sheiks do que no futebol e criou o desastre perfeito.
O Catar é um Estado fundamentalista e autoritário. Uma ditadura que desrespeita direitos humanos e oprime muitos dos seus habitantes, principalmente as mulheres. Cada estádio construído para a Copa, assim como cada um dos suntuosos edifícios de Doha e de outras localidades têm as marcas do sangue derramado por imigrantes que os construíram em condições de trabalho escravo. O país já foi denunciado por isso em instâncias internacionais inúmeras vezes. Calcula-se que centenas desses morreram nos últimos anos. O clima festivo em torno da Copa ficará restrito praticamente aos torcedores estrangeiros e, mesmo assim, contidos pelas rigorosas leis islâmicas. Fora das quatro linhas, tudo parece falso nessa Copa feita como se fosse um reality show a ser visto pela TV e gerado em um estúdio.
Claro que, no gramado, quando a bola rolar, o fascínio do futebol vai prevalecer. Brasil, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Inglaterra e outras potências do futebol vão garantir o espetáculo. A Copa terá uma identidade triste apesar da alegria que os craques vão proporcionar. A FIFA merece cartão vermelho e nem precisa chamar o VAR. (José Esmeraldo Gonçalves).
A matéria é da BBC Brasil. Folha, Globo e Estadão evitam fazer essa conta. Os jornalistas de mercado (a mídia brasileira não tem mais jornalistas de economia) não fazem essa soma. Bolsonaro e Paulo Guedes estupraram o teto de gasto, a divindade desses jornais e jornalistas, mas o mercado só sente a dor da gonorréia financeira quando Lula propõe um gasto planejado para atender ao drama e à fome de milhões de brasileiros. O nome disso é canalhice.
Ontem, 15 de novembro de 2022, a Terra atingiu a cota populacional de 8 bilhões de habitantes. Em 14 de julho passado, escrevi aqui algumas considerações a respeito do que batizei de “poluição demográfica”.
As discussões da COP27 no Egito só confirmam que as nações do mundo não estão conseguindo reverter o cenário de catástrofe gerados pelo aquecimento global. Seremos cada vez mais longevos até o belo dia em que pudermos afirmar: “Somos todos dinossauros...” – ou, corrigindo o tempo verbal: “Fomos todos dinossauros...”
LAMENTO NO TWITTER
Reprodução Twitter |
"PERDEU, MANÉ, NÃO AMOLA"
(Ministro Luis Roberto Barroso, do STF, em resposta a um bolsofascista fanático que enchia o seu saco em Nova York, ontem)
Imagem ilustrativa |
Em junho de 1985 Carlos Heitor Cony, então diretor da revista Fatos, me pediu para fazer um box para uma matéria do repórter Luiz Carlos Sarmento sobre o rumoroso Caso Baumgarten. Cony recebera informações sobre uma operação do SNI destinada a apagar determinados arquivos e registros nos órgãos de segurança. A tarefa era gigantesca. Havia anotações que a ditadura considerava "comprometedoras" não apenas no SNI, mas nas Assessorias de Segurança e Informação dos ministérios, nos Dops estaduais e nos terríveis "centros de segurança" das Forças Armadas. Através de um contato que o próprio Cony me passou, além de um nome indicado por Sarmento, obtive a confirmação de que a limpeza dos porões estava em curso desde que a Nova República se anunciara.
Em 2012, Cony me lembrou em telefonema que um livro recém-lançado, "Memórias de um Guerra Suja", do ex-delegado do DOPS Claudio Guerra, confirmava a reportagem de Sarmento, 25 anos depois. Fiz então um registro no blog. (https://paniscumovum.blogspot.com/search?q=Claudio+Guerra)
Nos últimos dias, lembrei-me dessa operação de queima de arquivos ao ler no Metrópoles, em matéria do jornalista Rodrigo Rangel, que o Palácio do Planalto havia formatado todos os seus computadores. "Formatar", no caso, igual a apagar inteiramente os conteúdos das máquinas. O processo exclui o sistema operacional dos computadores, o que significa que deverá ser reinstalado do "zero". Não restando nem backup. O Planalto, cuja credibilidade também é zero, afirmou que um "vírus" havia atacado a rede de dados da Presidência.
Em 1985, um militar definiu a operação 'abafa' dos remanescentes da ditadura, em 1985, como "frenética".
Imagino como deve estar vertiginosa nas sombras do Planalto a "higienização" do governo Bolsonaro, uma espécie de "solução final" para mensagens, vídeos, documentos, recadinhos, gravações, anotações de conversa de fim de tarde, boletos, memórias de celulares, sites pesquisados, históricos, Google Maps, agendas e registros não republicanos acumulados nos últimos quatro anos. Por enquanto, não há informação se, como o seu mentor Donald Trump, Bolsonaro levará pilhas de documentos secretos para o seu condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
A Alegoria da República segundo o brasileiro Manoel Lopes Rodrigues. A representação é tão caricata e feia quanto a representada. |
A Efígie da República do Brasil: um toque romano na terra do pau-brasil |
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O pintor Roque Carneiro retrtatou a República portuguesa de topless. Belos seios, pelo menos. Não por acaso, reúne uma multidão de admiradores. |
A "mãe guerreira" Marianne representa a República Francesa na visão de Delacroix na tela "A Liberdade guiando o Povo". |
Tivemos então 31 anos de altos e baixos, marcados pelo impeachment (mais que justificado) de Collor e pelo impeachment (injustificado) de Dilma, na verdade o mal dissimulado Golpe de 2016.
A partir de 2018, o sofrido povo brasileiro foi brindado com quatro anos de negacionismo e neonazismo.
Um novo período começa em 1º de janeiro de 2023 e está a pedir uma nova denominação. O blog Panis Cum Ovum – que já se aproxima do seu Ano XV – pede a seus leitores que contribuam com sugestões. Um veterano jornalista da revista Manchete já arriscou o seu palpite: Terceira República, inspirado pelo fato de que Luiz Inácio Lula da Silva é o único Presidente da história eleito para um terceiro mandato.
Por enquanto, si non è vero è ben trovato...
Janja no palanque. Foto de Ricardo Stuckert |
por José Esmeraldo Gonçalves
Ontem a Rede Globo exibiu no Fantástico uma entrevista com Rosângela da Silva, a Janja, casada com o presidente Lula e com participação destacada na campanha presidencial.
Provavelmente, a entrevista foi gravada antes dos comentários machistas e preconceituosos que Eliane Cantanhêde lançou contra a socióloga. O protagonismo de Janja incomoda a jornalista. Autêntica, simples, sem a afetação que, aliás, a Cantanhêde transmite nas suas intervenções na TV, a entrevista de Janja foi uma resposta elegante ao ataque em estilo Século 19 que recebeu na Globo News.
No fim quem restou exposta e obsoleta - e tem recebido milhares de críticas nas redes sociais - foi a jornalista.
Afinal, o que a Cantanhêde quer para as mulheres brasileiras? Que vivam em "prisão domiciliar" enquanto os maridos não chegam do trabalho? Que usem uma tornozeleira afetiva?
O humorista Chico Anysio interpretava um personagem, o Nazareno, casado com a coitada da Sofia. Cada vez que ela interferia em uma conversa, o marido disparava o bordão "caaaaalada!".
"Ela não é presidente do PT, não é líder política”, disse a Cantanhêde. Para a jornalista, a socióloga "ocupa excesso de espaço". No mesmo comentário, ela definiu os únicos metros cúbicos nos quais Janja pode se manifestar: o quarto do casal.
A Cantanhêde imita a famosa frase que Ciro Gomes disse sobre a função de Patricia Pilar, com quem estava casado: dormir com ele.
Ciro se deculpou. A Cantanhede ainda não.
Durante a campanha Janja recebeu muitas ofensas e foi vítima de fake news nas redes sociais. Ela verá, ao longo do mandato de Lula, que será um alvo de parte da mídia. Não falha. Dilma foi capa de revista por ser "nervosa", foi criticada até pelo "jeito de andar". A jovem Tereza Goulart, que fugia ao figurino conservador de "primeira-dama" (título deplorável, a propósito) era caluniada pelas "senhoras de Santana".
Já Iolanda Costa e Silva, Scyla Médici, Lucy Geisel e Dulce Figueiredo só recebiam elogios.
Em todo caso, democracia é melhor. Na sala, no quarto, no trabalho, nas ruas, na estrada, no morro, no asfalto...
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