sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Há 85 anos, a última cobertura de Gerda Taro: a primeira mulher fotojornalista de guerra

O sorriso de Gerda Taro cativava Paris em 1933. 


Taro e a Leica.  Foto Robert Capa

A notícia da morte da fotógrafa e...


...uma página dupla da matéria da Life em sua homenagem.


por José Esmeraldo Gonçalves 

Em 1937 os republicanos travavam uma dura batalha contra os nacionalistas fascistas liderados por Francisco Franco, com apoio de "consultores", tanques, fuzis e aviões alemães cedidos por Adolpho Hitler. 

Entre 6 e 25 de julho, os republicanos perderam 25 mil homens, muitos deles engajados nas brigadas internacionais. A Guerra Civil Espanhola se estendeu até 1939, mas a Batalha de Brunete, uma pequena cidade a 35km de Madrid, representou para os republicanos, além da perda de tantas vidas, a destruição de valioso equipamento militar. 

Combate em Brunete, na Espanha, a última cobertura. Foto de Gerda Taro

Brunete também entrou para a história como o ponto final da curta, mas essencial, trajetória da primeira mulher fotojornalista a cobrir uma guerra. No dia 26 de julho de 1937, há 85 anos, a fotógrafa Gerda Taro, já sem estoque de filmes, procurava uma carona para deixar a região em vias de ser totalmente ocupada pelas tropas fascistas. Gerda conseguiu um lugar em uma viatura que era usada para transportar feridos. Uma esquadrilha de Stukas, bombardeios de mergulho da Luftwaffe, castigava intensamente as forças republicanas e atingia um tanque que vinha imediatamente atrás do veículo que levava a fotógrafa. Fora de controle, o blindado esmagou a viatura. Gravemente ferida, a fotógrafa morreu no dia seguinte. Nascida em Stuttgart, filha de comerciantes judeus, foi vítima de um bomba nazista uma semana antes de fazer 27 anos. 


Com Robert Capa, em 1935, em Paris e...


...na linha de frente, em Córdoba, em 1936: Capa, que usa o único capacete disponível
na ocasião, coloca-se à frente de Gerda.Foto Roberto Capa


Quatro anos antes, após ser detida por distribuir panfletos e participar de protestos contra o nazismo, ela deixou a Alemanha e fixou-se em Paris. Foi onde Gerda, cujo nome verdadeiro era Gerda Pohorylle, conheceu o fotógrafo húngaro Endre Friedman, que lhe ofereceu um emprego de assistente. Entre câmeras, lentes, filmes, ela se iniciou na fotografia orientada por Friedman. O escurinho do laboratório tanto os aproximou que os dois se apaixonaram. Juntos, fizeram planos para vender fotos para outros centros europeus e, principalmente, para o ambicionado mercado norte-americano. Como meio de evitar o preconceito contra judeus disseminado na Europa, os dois criaram identidades, digamos, neutras. Endre tornou-se Robert Capa e Gerda adotou o sobrenome Taro. Dessa época, muitas fotos, de comum acordo, foram publicadas sob uma das marcas criadas: a de Robert Capa. Paralelamente, a outra marca, a de Gerda Tato, popularizava-se entre publicações antifascistas e comunistas na Europa. 

O arranjo funcionou bem até que eclodiu a Guerra Civil na Espanha, que mobilizou a intelectualidade antifascista que agitava Paris. Capa e Gerda intuiram que o foco dos acontecimentos se reajustava e viajaram imediatamente para Barcelona. Nas primeiras pautas na guerra, a fotógrafa usava uma Rolleiflex. Não demorou muito a adotar a Leica III, equipamento avançado para a época, usado por Capa e que dava muito mais mobilidade nas coberturas de ações militares. O filme 35mm oferecia 36 poses, enquanto as câmeras reflex, que usavam o filme 120, rendiam apenas 12 poses, o que fazia enorme diferença nos campos de batalha. 

Um trabalho que tornou Gerda famosa no mercado internacional foi a coberturas que fez, sozinha, do bombardeio de Valença por aviões nazistas a serviço de Franco. O material foi publicado por veículos das principais capitais europeias e nos Estados Unidos e definiu o seu campo de trabalho preferencial: a guerra. 

Capa e Gerda foram para a Espanha acompanhados do amigo e fotógrafo David "Chim" Seymour. Em poucos anos, os três se tornaram lendas da e referência da fotografia de guerra. O trio morreu em serviço, mas o tempo de Gerda, contudo, seria dramaticamente curto. Capa morreu na Guerra da Indochina, em 1954; "Chim" em 1956, na Guerra do Canal de Suez; e Gerda, na Espanha, como relatado acima, apenas um ano após começar a cobrir a Guerra Civil. Seu enterro no cemitério Père Lachaise, em Paris, exatamente no dia do seu aniversário, 1 de agosto, atraiu milhares de pessoas.  

Em 2007 foi encontrada na Cidade do México, a "Mala Mexicana", que continha milhares de negativos, até então desaaparecidos, de Taro, Capa e Seymour. O valioso achado - encontrado por herdeiros de um general -  teve consequências virtuosas: foram finalmente identificadas centenas de fotos feitas por Taro que eram atribuída a Capa; e foi possível conhecer a extensão da sua obra. Em 2016, um exposição em São Paulo (registrada neste blog em https://paniscumovum.blogspot.com/search?q=Gerda+Taro ) reuniu fotos encontradas na "Mala".

Em seu discurso fúnebre no Père Lachaise em homenagem a Gerda Taro, Pablo Neruda havia sentenciado: "Ce qui est pire que la mort c'est la disparition". Em tradução livre, "o desaparecimento é pior que a morte". Neruda se referia à ausência de Garda no seu círculo de amigos em Paris e ao vazio no coração do seu amado Capa. 

Para a fotografia, Garda não sumiu, eternizou-se. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Há 60 anos: Na minha primeira manhã em Londres, o mundo chorava MM • Por Roberto Muggiati

 “Uma garota esperta beija, mas não ama; ouve, mas não acredita; e se manda antes de ser abandonada.” 

                                                                                                             MARILYN MONROE


• Marilyn evoluiu de comediante leviana para atriz dramática: em seu último filme, The Misfits/Os desajustados, de 1961...



                              ...com Montgomery Clift, outra figura do lado sombrio de Hollywood. 

                                                                      Foto Divulgação


No final da tarde de domingo, 5 de agosto de 1962, cheguei a Londres após um longo voo iniciado no dia anterior no aeroporto de Viracopos. Fui gentilmente recebido no terminal aéreo pelo chefe do Serviço Brasileiro, Alberto Palaus – um catalão naturalizado britânico – que me convidou para um drinque num pub antes de me levar a um pequeno hotel, não longe dos escritórios da BBC. (Eu iniciava um contrato de três anos como Programme Assistant nas transmissões em português para o Brasil.)



Na manhã seguinte, ao sair à rua, tive um choque. As calçadas semidesertas do feriado bancário estavam coalhadas de jornais e cartazes que anunciavam em letras garrafais: MM DEAD

Aproximando-me, pude ler o restante da manchete: ‘IT LOOKS LIKE SUICIDE’.

Em Los Angeles, na casa de Marilyn no bairro de Brentwood, a empregada viu luz por baixo da porta do quarto da atriz às três da manhã de domingo.. Bateu, mas Marylin não abriu a porta, que estava trancada. A empregada ligou para o psiquiatra Ralph Greenson, que avisou a polícia. O médico que acompanhava a patrulha confirmou a morte de MM por volta das 3h50. Exames posteriores indicaram que a morte ocorreu entre as 20h30 e 22h30 do sábado. Marilyn tinha completado 36 anos dois meses antes. Segundo a análise toxicológica, a causa da morte foi intoxicação por barbitúricos. A possibilidade de uma overdose acidental foi descartada: as dosagens em seu corpo eram várias vezes superiores ao limite letal.


• Com o primo Zeca e a irmã Beatriz, inspecionando em Viracopos o avião da BOAC que me levaria a Londres, “o meu avião”. Em 1962, os aeroportos não eram tão indevassáveis como hoje em dia.


Tempos depois, tentei recapitular onde eu estava nos últimos momentos de vida de Marilyn. Não foi difícil: no ar, a bordo do avião da BOAC que me levava a Londres. Guardo até hoje o menu do voo, que faz um contraponto sinistro com as horas derradeiras de MM. Enquanto ela se debatia com a ideia do suicídio, naquela tarde de sábado, as comissárias serviam o jantar aos passageiros, entre o Rio de Janeiro e Recife. Transcrevo do cardápio da BOAC – pretensioso no seu francês com tropeços de grafia e concordância, mas apetitoso quand même:

DINER

Consommé Double en Tasse

Fillet de Boeuf Poelée Bouquetière

Pommes Parisiènne

Salade Palmito

Mille Feuille Chantilly

ou Fromages Assorties

Os voos da época eram pródigos na oferta de bebidas, entre elas Whisky, Gin, Dry Martini, Sherry, vinhos da Borgonha e de Bordeaux, Cognac VSOP, Vinho do Porto e licores finos.

Marilyn tinha acabado de morrer quando era servido o café da manhã, entre Dacar e Lisboa.


PETIT DÉJEUNER

Céreales à la Crème

Gâteau à l’Anglaise

Thé – Café – Crème

Jus de Fruits


Dr. Noguchi: o legista das celebridades. Reprodução

Marilyn Monroe foi a primeira celebridade autopsiada pelo Dr. Thomas Noguchi, médico nascido e formado no Japão que havia emigrado para os Estados Unidos. Ao longo da década de 1960 ele supervisionaria a autópsia de personalidades e artistas como Robert Kennedy, Sharon Tate, Janis Joplin, Inger Stevens, Gia Scala, David Janssen, William Holden, Natalie Wood, e John Belushi, o que lhe valeria o título de “legista das estrelas”.

A autópsia de Robert Kennedy por Noguchi foi controvertida. Ele concluiu que o tiro fatal foi desferido na nuca de Kennedy, atrás da orelha direita, de cima para baixo e a uma distância de 15 e 75 milímetros. Essa interpretação induzia à suspeita de um complô, pois o acusado do assassinato, Sirhan Sirhan, segundo as testemunhas, nunca foi visto a menos de um metro de distância de Kennedy e em posição de dar aquele tipo de tiro. A discordância de Noguchi da “versão oficial” valeu a ele o afastamento do cargo.

Voltando a Marilyn Monroe, que foi sua “finest hour”, o polêmico Dr. Noguchi deveria estar retalhando com seu bisturi um dos corpos mais desejados do século, enquanto o Voo 644 da BOAC cumpria sua última etapa, Lisboa-Londres – com direito a almoço.

DÉJEUNER

Bisque d’Ecrevisses

Mixed Grill à l’Anglaise

Petit Pois au Beurre

Pommes Noisette

Gâteau Suchard

ou Fromages Assorties

Café

Várias teorias conspiratórias sobre a morte de Marilyn surgiriam com estardalhaço nas décadas seguintes, através de livros, filmes documentários ou ficcionalizados, especiais de TV, levantando hipóteses como overdose acidental, crime passional ou assassinato político. As especulações de homicídio levantadas em 1973 pelo livro de Norman Mailer Marilyn levaram até a justiça de Los Angeles a realizar uma "investigação liminar" em 1982, mas nenhum indício de crime foi encontrado.

Em 2014, o livro The Murder of Marilyn Monroe: Case Closed, do “marilynólogo” Jay Margolis e do autor best-seller Richard Buskin, aponta Robert F. Kennedy como o mandante da “queima de arquivo”, para evitar que Marilyn revelasse segredos de seu relacionamento com os irmãos Kennedy. A morte teria sido causada por uma injeção letal no coração, com a participação de seu psiquiatra e do então cunhado dos Kennedy, o ator Peter Lawford e a cumplicidade do legista, Thomas Noguchi. Em agosto de 2018, o governo dos Estados Unidos divulgou documentos oficiais mantidos em sigilo por mais de 50 anos, segundo os quais a atriz teria abortado um filho, fruto de seu relacionamento secreto com Robert F. Kennedy.

PS – Alguns de vocês, ou muitos até, talvez estranhem a presença e o papel insólitos nesse relato de um mero suvenir de viagem, o menu de bordo da BOAC. Na verdade, ele representa para mim o troféu de uma travessia fantástica em que um jovem curitibano de classe média remediada veria e participaria de uma das maiores revoluções comportamentais e culturais de todos os tempos. Naquele agosto de 1962, aterrissei numa Londres ainda vitoriana. Três anos depois, eu deixava outra cidade, a fabulosa “Swinging London”. Enquanto Marilyn Monroe morria, eu renascia, coberto de glória, para um mundo renovado.

Frase do dia: desconcertante

 "Todos caminhamos para o anonimato, só que os medíocres chegam antes.”

JORGE LUÍS BORGES

 

Fato&Foto: o dia do desesperado

 

Brasileiro é resgatado em El Paso. Foto: Divulgação/CBP 


Desemprego, falta de perspectiva, desolação, percepção de futuro difícil para os filhos... 

São muitos os motivos que levam  brasileiros a preferir entregar a vida nas mãos de "coiotes" (mexicanos (criminosos que exploram o drama de quem se arrisca a entrar ilegalmente nos Estados Unidos) a permanecer no Brasil. Sofrem humilhações, racismo, deportação, 
morrem às vezes. 

No desgoverno Bolsonaro explodiu o número de brasileiros que os Estados Unidos apreendem e devolvem aos Brasil, algemados, em voos fretados. Só nesses meses de 2022, um aumento de 69%, em relação ao ano passado, segundo a Polícia Federal. 

É a ponte-aérea da vergonha. 

A dramática foto acima é uma espécie de símbolo desse triste momento. Em seu desespero, um brasileiro que se jogou em um fétido canal em Juarez, México, e recolhido em El Paso, Texas,  ao chegar ilegalmente 
aos Estados Unidos. 
Foi resgatado em meio a detritos e esgoto junto com a ilusão de uma vida melhor.

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Em 1969, eu irritei os chineses de Mao por causa de Taiwan • Por Roberto Muggiati



Lancei meu primeiro livro, Mao e a China, em São Paulo, na segunda-feira 9 de dezembro de 1968. Na sexta-feira 13 foi decretado o AI-5. Eu trabalhava na redação pioneira da Veja, a revista semanal de texto que acabara de ir às bancas em setembro de 1968 – um momento totalmente impróprio para fazer jornalismo político, num país que acabara de proibir toda e qualquer liberdade de expressão. Mas a Veja estava “brincando com fogo” – para usar um clichê resgatado agora pelos lábios de Xi Jinping ao condenar a visita oficial da Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan, república autônoma que os chineses consideram seu território.



Em 1969, a revista recebeu um convite para que um jornalista da sua equipe visitasse a República Popular de Mao Tsé-tung. O escolhido foi o redator José Maria Mayrink. Para ajudá-lo a fazer média com os anfitriões, municiei-o com meia dúzia de exemplares de Mao e a China. Só quando ele voltou fiquei sabendo do efeito adverso da cortesia. O editor do livro inseriu nele uma página dupla com um mapa da China. Mao e a China era uma declaração de amor ao comunismo chinês, mas os dirigentes maoístas, que não entendiam português, não sabiam disso. Ao folhearem suas páginas estacaram no mapa e reagiram com furor ao verem a Ilha de Formosa (como se chamava Taiwan no Brasil então), lépida e fagueira diante da costa da China.

O bom Mayrink foi alvo de uma rajada de vociferações (acompanhada por uma chuva de perdigotos) e deixou a sala vexado, com o rabo entre as pernas. Minha ingênua e desastrada homenagem não teve maiores consequências. Mas a provocação de Pelosi vem botar ainda mais lenha na fogueira do já superaquecido tabuleiro político internacional.


Eleições - Qual o rumo que o velho astrolábio conservador vai apontar para a grande mídia?


por José Esmeraldo Gonçalves

Em meados dos anos 2000 ganhou espaço crescente nos meios impressos, nos veículos jornalísticos da internet, nas redes sociais e nos canais por assinatura, um tipo de cronista ou comentarista bem caracterizado: branco, identificado com as pautas da direita, contra avanços sociais, visceralmente contrário a cotas universitárias, raciais e portador de preconceitos múltiplos. 

Em comum, tinham o estilo agressivo dos textos: eram uma espécie de "bope" da mídia. Havia de tudo nas colunas da época que podem ser acessadas facilmente em arquivos digitalizados. 

Uma espécie de "paipai" daquele segmento jornalístico era Olavo de Carvalho, o ideólogo do bolsonarismo. Olavo foi premiado com colunas nos principais jornais do país. Os vermes e as larvas que se reproduziriam em escala industrial no governo Bolsonaro estavam fecundados naqueles textos. Eram "bolsonaristas" antes do Bolsonaro, e isso não era demonstrado apenas nos escritos do falecido Olavo. Não viu quem não quis. O persigal ganhou empregos e se instalou na mídia. A formação profissional daquela força tarefa direitista era variada. Além de jornalistas profissionais, havia no grupo economistas, cientistas políticos, cineastas, compositores etc. 

Um fenômeno semelhante ocorreu durante a ditadura, quando cada grande veículo tinha seus jornalistas e articulistas de estimação dos militares. Quem viveu as redações da época vai lembrar disso. Havia até, em algumas equpes, repórteres cuja principal característica era ter "boas relações" com setores militares. Lembro que um deles, que passou por jornais e revistas cariocas, era valorizado porque tinha "fontes" nas Assessorias de Segurança e Informação (ASI) dos ministérios e"entrada" no Dops e no Doi-Codi. 

A partir do primeiro governo de Dilma Rouseff (quando até insinuações de cunho sexual e de gênero foram postadas), a reedição dessa facção editorial ganhou asas e intensidade. As colunas de opinião e os editoriais receberam o reforço das próprias pautas jornalísticas. Surgiu um simulacro de "jornalismo investigtivo", tão brasileiro quanto a jabuticaba, que, soube-se depois, não era jornalismo nem investigava coisa alguma. Os documentos e os casos que ocupavam primeiras páginas e tempo na TV eram uma "cortesia" recolhida graciosamente nos porões da Lava Jato, como foi comprovado no vazamento das mensagens sobre a tal "verschwörung" jurídica enfim desmoralizada. Algumas daquelas "apurações" renderam livros, filmes, documentários e série em streaming igualmente desacretidados depois, como seus patronos, e devidamente esculachados pela história. Uma conhecida editora carioca chegou a criar um catálogo de livros de autores da direita radical onde só faltou o Mein Kampf.

O segundo fenômeno interessante, que tem a ver com o primeiro, também pode ser constatado após os desmandos do atual governo. Alguns daqueles articulistas ainda atuantes, (outros faleceram ou perderam visibilidade) mas, talvez envergonhados em função da obra que ajudaram a construir, tornaram-se 'fofos". A maioria, entre os mais notáveis, passou a escrever sobre amenidades. Pelo menos dois deles se declararam recentemente "cansados" do cotidiano politico no qual foram tão influentes, deixaram os fatos de lados e passaram a eleborar teses, escrever sobre princípios, com um pouco de filosofia aqui, uma proposição ali, uma discreta assertiva acolá poupam Bolsonaro. No máximo, fazem uma defesa necessária da Cultura, sem nomear responsáveis pelo desprezo e perseguição com que o governo trata o setor. Quando criticam alguma coisa, sempre ressalvam que o problema vem desde o século 17, 18, sabe-se lá.  

O terceiro fenômeno é desdobrável como um folder, em várias vertentes. Com o aparecimento do bolsonarismo como ideologia e modo de vida para uma expressiva parcela do que há de píor na população (ultra conservadores, militantes religiosos que não respeita outras crenças, neofascistas e neonazistas, misóginos, racistas, falsos caçadores e colecionadores de armas, neoliberais, garimpeiros ilegais, mineradores ilegais, desmatadores, milicianos, assassinos de ambientalistas e de integrantes de movimentos sociais, radicais das forças de segurança, políticos beneficiados em operações de favorecimento e corrupção no atual governo etc), a coisa ganhou seus porta-vozes, especialmente em canais de notícias na TV, e conquistou força extrema no Congresso com o chamado Centrão e seus operadores de orçamentos secretos. 

Na atual campanha eleitoral, o clima na mídia volta a ficar tempestuoso. Radicaliza-se nos editoriais partidários, está de volta em colunas nos principais veículos. É fato que esse setor defende a política econômica de Bolsonaro-Paulo Guedes e ainda mantém uma esperança na complicada "terceira via", agora representada pela bolsonarista sabor original e ex-integrante da base governista Simone Tebet. A senadora já é brindada com paparicos e espaço generoso nas redes. 

Nos próximos dois meses o Brsil vai testar os nervos. Veremos qual o rumo que o velho astrolábio conservador da velha mídia apontará: se ficará com Bolsonaro, caso a última esperança da "terceira via" não decole e o atual presidente demonstre recuperação nas pesquisas (no caso, argumentarão que um Bolsonaro "gourmet" e civilizado merecerá o benefício da dúvida); ou se aceitarão Lula, mesmo que não o apoiem. 

A alternativa dramática que falta nesses cases é a virada de mesa. Como a mídia vai reagir se vier um golpe de Estado? Nos dois mais recentes da história do Brasil, as famílias controladoras dos meios de comunicação não hesitaram: entraram de cabeça nas conspirações que torpedearam a democracia. 

O eleitor democrata vai testar os nervos nos próximos 60 dias.   

          

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Fotomemória da redação - Champanhe para brindar pontapé em Collor de Mello. Foi há 30 anos...

 

Há quase 30 anos. Quando Adolpho Bloch convidou funcionários
para um brinde à queda de Fernado Collor. Reproduçãoa Facebook/Foto Manchete

José Carlos Jesus, que preside a Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores, envia ao blog o registro acima publicado no Facebook por Celso Arnaldo Araújo, que chefiou a redação da Manchete em São Paulo. 

O Congresso acabava de anunciar a conclusão do rumoroso processo em que Collor de Mello levou um pontapé institucional. Prevendo a cassação, o bruxo da Casa da Dinda se antecipou renunciou ao cargo de presidente. Manchete fechava, no Russell, uma reportagem sobre o caso e a posse do vice-presidente Itamar Franco quando Adolpho Bloch convidou a redação e alguns diretores para brindar o afastamento de Collor.

Ninguém imaginava, mas o Brasil viveria a partir dali um período virtuoso que levou ao Plano Real, FHC e aos governos ponto 1 e ponto 2 de Lula. 

Em tempo: na gestão do mineiro Itamar até as crises foram mais divertidas: remember Lilia Ramos e o maravilhoso panorama visto da pista do Sambódromo carioca.     

Frase do dia: boleiro

 “O que mais sei sobre a moral e as obrigações do homem eu devo ao futebol.”

ALBERT CAMUS

Quer viver bem mais alguns (muitos) anos? Não esquente a cabeça, ligue o f**a-se! • Por Roberto Muggiati

Foto Rawpixel/Free
De vez em quando (raramente, na verdade), as redes sociais nos brindam com algo construtivo e divertido. É com prazer que passo adiante, sem maiores comentários, esse post recente undisclosed recipients:


RECEITA DE SAÚDE

Pense nisso:


1. O inventor da esteira morreu aos 54 anos; 2. O inventor da ginástica morreu aos 57 anos; 3. O campeão mundial de fisiculturismo morreu aos 41 anos; 4. O inventor do jogging morreu do coração aos 52 anos. 5. Maradona, grande jogador de futebol, faleceu aos 60 anos;

5 . Mark Hughes, fundador da Herbalife, morreu aos 44 anos.

JÁ:

6. O criador do frango frito KFC (lanche nada saudável) morreu aos 94 anos; 7. O criador da Nutella morreu aos 88; 8. Imagine, o dono dos cigarros Winston morreu aos 102 anos; 9. Aquele que se encarregou de industrializar o ópio? Morreu aos 116 anos em um terremoto; 10. O fundador dos conhaques Hennessy morreu aos 98 anos; 11. Antônio Delfim Neto, ex-ministro da Fazenda, que pesa 122 quilos e jamais fez qualquer exercício segundo ele mesmo conta, tem atualmente 93 anos e goza de excelente saúde.

Como os médicos concluíram que o exercício prolonga a vida?

O coelho está sempre pulando, mas vive apenas 2 anos e a tartaruga, que não faz nenhum exercício, vive 100 anos.

Então vá com calma, descanse um pouco, relaxe, mantenha a calma, ame muito, coma bem, tome seu vinho, sua cervejinha.

Beba um whisky ou uma caninha de vez em quando e aproveite a sua vida com prazer!!!

👍

PS.: Esqueceram do Hugh Hefner (criador da Playboy)? !! 

Morreu aos 91 rodeado de garotas 70 anos mais novas !!!

Mas não exagere!


*25 MANEIRAS PARA ENVELHECER BEM*


*01-* Não se meta na vida dos filhos.

*02-* Não interfira na educação dos netos.

*03-* Ame seu genro e Nora, foi seu filho(a) quem fez a escolha.

*04-* Nunca tome partido ou opine no casamento deles. 

*05-* Não fique um idoso reclamão.

*06-* Não seja um idoso com pena de si mesmo.

*07-* Não fique falando *NO MEU TEMPO*, ele já passou.

*08-* Tenha planos para o futuro.

*09-* Não fique falando de doenças. Tenha a certeza de que ninguém quer saber. 

*10-* Não importa quanto ganhe, poupe todo mês uma quantia.

*11-* Não faça prestação, idoso não deve pagar carnê.

*12-* Tenha um plano de saúde ou guarde dinheiro para despesas médicas.

*13-* Guarde dinheiro para o funeral ou tenha um plano.

*14-* Não deixe "problemas" para os filhos. 

*15-* Não fique ligado em noticiário ou política, afinal você não resolverá nada mesmo.

*16-* Só veja TV para se divertir, não para ficar nervoso.

*17-* Se gostar tenha um bichinho de estimação para te ocupar.

*18-* Ao se levantar, invente moda: caminhe, cozinhe, costure, faça horta, mas não fique parado esperando a morte.

*19-* Seja um idoso limpinho e cheiroso. Idoso sim, fedido jamais.

*20-* Tenha alegria por ter ficado idoso, muitos já ficaram pelo caminho.

*21-* Tenha uma casa e um modo de vida onde todos queiram ir e não evitar. Isso só depende de hoje você.

*22-* Use a idade como uma ponte para o futuro e, jamais, uma escada para o passado. 

Para a ponte do futuro sempre terá companhia.

*23-* Lembre-se: é melhor ir deixando saudades do que deixando alívio.

Finalmente,

*24-* Não deixe para amanhã "aquele bom vinho" (idosos não devem beber vinho ruim) e nem a cerveja, pode ser tarde!🍷🍻.

SEJA FELIZ!


Na Carta Capital: a resposta das mulheres


 

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!


A Faculdade de Direito da USP divulgou, no dia 26-7, a "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito". O documento já recebeu mais de 250 mil assinaturas de apoio entre ministros, juristas, membros do Judiciário, docentes, banqueiros, empresários, personalidades de várias áreas e nomes da sociedade civil, incluindo jornalistas. 

"Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.


A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.


Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.


Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.


A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.


Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.


Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.


Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.


Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.


Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.


Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.


Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.


Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.


No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.


Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:


Estado Democrático de Direito Sempre!!!!"



* O texto entre aspas, acima, foi reproduzido do site Migalhas.com apoiado por dezenas de escritórios e departamentos jurídicos.  


VOCE PODE APOIAR O MANIFESTO ACESSANDO O LINK ABAIXO

https://www.estadodedireitosempre.com/

Mídia: na capa da Vogue, o charme nada discreto da batalha da Ucrânia. Promovida a "correspondente de guerra", Annie Leibovitz fotografou a primeira dama na trincheira do glamour

Olena Zelenska na capa da Vogue. Reprodução Instagram/Foto de Annie Leibovirtz

 

Charme e glamour da primeira-dama da Ucrânia em meio a destroços de guerra.
Reprodução Instagram/Foto Annie Leibovitz


por Ed Sá 

É possível rir de uma guerra? O cinema já mostrou que sim. Basta citar apenas dois filmes, M.A.S.H e How I won the War (Oh, que delícia de guerra, no Brasil) que ironizaram dois conflitos militares: o do Vietnã e a Segunda Guerra Mundial. 

Quem agora prova, na vida real, que guerra também pode ser piada é a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, que posou para capa e reportagem da Vogue, deixando-se fotografar pela célebre Annie Leibovitz com destroços ao fundo, posando perto de soldados e de barricadas. 

A guerra na Ucrânia é uma tragédia em escala incompreensível que demonstra a falência moral dos líderes mundiais envolvidos. Glamurizá-la beira o absurdo. Desde que a edição norte-americana da Vogue divulgou a matéria das sua fotógrafa agora "correspondente de guerra", Olenna tem sido bombardeada nas redes sociais que classificam a sua atitude como um "desrespeito" às milhares de vítimas dos combates e dos mísseis.


Jovens de Kiev voltam à balada. Reprodução O Globo


Na mesma linha da "alegria", O Globo publica hoje matéria sobre a volta das baladas em Kiev. Os jovens caem na night movidos a Horilka, a popular vodca local. A foto também contrasta com a situação dramática vigente em várias regiões do país há 155 dias e sem conversações de paz à vista. 

Sally Kellerman, a "Hot Lips" do filme M.A.S.H.

Quando M.A.S.H estreou, em 1970, a guerra no Vietnã alcançava picos de brutalidade. Os mesmos meios de comunicação que anunciavam o lançamento do filme mostravam em fotos e vídeos a crueza das batalhas. No entanto, as plateias das salas de exibição riam com a trama em torno de uma unidade médica instalada em um acampamento e se esbaldavam até com cirurgias e amputações em série ou curtiam a nudez da gostosa enfermeira vivida por Sally Kellerman, no filme, por motivos óbvios, apelidada da "Hot Lips".


John Lennon no filme "Oh, que delícia de guerra".

Já o filme "Oh, que delícia de guerra", lançado em 1967, é uma paródia de humor negro sobre um grupo de soldados que recebe a missão de construir um campo de críquete em território inimigo, na Tunísia, durante a Segunda Guerra.. Sob a direção de Richard Lester, o elenco reúne nomes como Michael Crawford, Ronnie Kinnear e até John Lennon. Em combate, os soldados totalmente inaptos para a guerra, cometem uma sucessão de erros. Entende-se: no fim, o comandante da tropa é internado em uma manicômio. 

Por tudo isso, uma coisa é certa: as plateias das  redes sociais não veem humor na guerra.


Frase do dia: tempos de um estranho mentiroso

 “UM HOMEM NUNCA É MAIS VERDADEIRO QUANDO ADMITE SER UM MENTIROSO”

Mark Twain

terça-feira, 26 de julho de 2022

Nessa jogada nem o VAR acusa impedimento. Flamengo quer construir o Estádio Jair Messias Bolsonaro, o Bozolão

por Niko Bolontrin

Historicamente, clubes de futebol, entidades privadas, mamam no caixa público favorecidos pela demagogia política. 

O caso mais recente é o do Flamengo que tem se aproveitado de ligações com Bolsonaro para conseguir patrocínio de banco público e emplacar leis que o beneficiam. No passado, o Flamengo ganhou de Getúlio Vargas um grande imovel no Morro da Viúva, na Zona Sul do Rio. 

O clube da Gávea não está sozinho nesse tipo de armação. O Botafogo acaba de confirmar a longa concessão do Engenhão a preço módico. Lembrando que o clube agora é SAF e pertence a um americano. O mais grave é o proprietário do Botafogo exigir que a prefeitura do Rio autorize a destruição da pista de atletismo do estádio que sediou um Panamericano em 2007 e a Olimpíada 2016. O empresário acha que a pista de atletismo prejudica o torcedor por deixar muito longe o campo. O prefeito Eduardo Paes estaria propenso a se render à exigência do americano, esquecendo que o poder público gastou bilhões para construir o Engenhão e a pista de atletismo é essencial para o desenvolvimento do esporte olímpico no Brasil. A privatização do Maracanã, aliás, já acarretou a destruição de uma das melhores pistas de atletismo do Brasil. O estádio do Corinthians deixou dívida imensa com a Caixa com prazo para pagamento de quase 20 anos.

O Cruzeiro, agora propriedade de Ronaldo Fenômeno também está à caça de uma doação de terreno para construir seu estádio em Minhas Gerais. 

Também recentemente, o Vasco, em vias de ser vendido para uma empresa americana, ganhou um mimo do ex- prefeito Crivella: o terreno do seu CT na Zona Oeste do Rio. 

A jogada atual do Flamengo é ainda mais descarada. O clube mobiliza Bolsonaro e o próprio Eduardo Paes, certamente impulsionados por interesses eleitoreiros, para levar a Caixa Econômica a doar um valorizado terreno na região do Porto para o Flamengo construir seu estádio. Por enquanto, a Caixa resiste a presentear o clube da Gávea, mas as pressões são visíveis. Curiosamente, a mídia não crítica o possível Estádio Jair Messias Bolsonaro, o Bozolão, talvez porque apoie esse tipo de negociata quando envolve clubes de futebol. Aparentemente acha normal o poder público presentear cartolas e empresários, desde que seja em nome do futebol. Nesses casos, a bola é o álibi que nem o VAR da moralidade declara impedimento.

Mídia: quando a notícia vira confete

 


O Globo noticia que Bolsonaro foi ao Piraquê, na Lagoa, noRio, e foi "vaiado por uns e aplaudido por outros". O jornalão prefere poupar o Bozo e omite que ali é a sede esportiva do Clube Naval, o que dá outra e importante conotação à notícia. O Piraquê tem sócios civis "convidados", mas a maioria é de militares da Marinha. A nota foi publicada  na coluna Ancelmo Gois.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Antes de virar barata, Kafka foi foca • Por Roberto Muggiati

 

O jornal Bohemia com a matéria de Kafka no rodapé da primeira página.




O poeta d’Annunzio na “cabine” do aeroplano de Curtiss.

Um dos primeiros textos publicados por Franz Kafka foi uma reportagem sobre uma competição aeronáutica na Itália, em 1909, quando ele tinha 26 anos, Os aeroplanos de Brescia. Fiquei pasmo ao saber que, apenas três anos depois do primeiro voo do mais-pesado-que-o-ar (o 14 Bis de Santos Dumont, que se ferrem os Irmãos Wrong!), já se promoviam corridas de aviões de asas duplas ao longo de um espaço retangular delimitado por quatro postes cônicos (“pylons” em inglês), modalidade esportiva aérea resgatada com sucesso em 2003 pela bebida energética Red Bull.

De férias no norte da Itália com os irmãos Max e Otto Brod, Kafka compareceu a um show aéreo em Brescia e ficou impressionado com o efeito do espetáculo sobre uma massa de 50 mil espectadores. O texto de Kafka foi publicado em 29 de setembro de 1909 no jornal Bohemia (a propósito, o evento ocorreu no sábado 11 de setembro, algum presságio kafkiano da data sinistra das Torres Gêmeas?)

Confiram um trecho do texto de Kafka, a primeira descrição de aeroplanos na literatura germânica:

“A torre do semáforo indica prontamente que o vento se tornou mais favorável e que Curtiss voará para o grande prêmio de Brescia. Estará começando? Mal concordamos que sim e o motor de Curtiss já está roncando, quase não se pode vê-lo, e já voa ele para longe de nós, voa sobre a planície que aumenta à sua frente, em direção ao bosque à distância, que agora parece se erguer pela primeira vez. É longo o seu voo sobre o bosque, ele desaparece, e o que fitamos então é o bosque, e não ele. Por trás de algumas casas, sabe Deus aonde, lá vem ele na mesma altitude de antes, e corre em nossa direção: quando sobe, veem-se as superfícies inferiores do biplano inclinando-se na escuridão; quando mergulha, as superfícies superiores rebrilham ao sol. Ele vem para a torre do semáforo e faz a volta, indiferente ao alarido com que é saudado, e retorna diretamente para o lugar de onde veio, e logo se torna pequeno e solitário.”

Kafka e os irmãos Brod encontraram-se em Brescia com o piloto francês Louis Blériot, famoso pela travessia do Canal da Mancha. Outra celebridade presente foi o poeta italiano Gabrielle D’Annunzio, que se aventurou a dar uma voltinha na “máquina”  do piloto americano Glenn Hammond Curtiss.



A primeira corrida aérea, em 1910. Foto Smithsonian Museum

As corridas aéreas inspiraram também um romance menos conhecido de William Faulkner, Pylon (1935) – não encontrei registro de tradução no Brasil – que repercutiu ao ser transformado em filme por Douglas Sirk em 1957, The Tarnished Angels/Almas Maculadas(com Rock Hudson, Robert Stack e Dorothy Malone). Faulkner o considerava a melhor adaptação cinematográfica de uma obra sua.


Primeira rua exclusiva para pedestres faz meio século • Por Roberto Muggiati

 

1972:  a rua em obras. Foto Divulgação


No mesmo ano, Jaime Lerner, o idealizador
da primeira rua para pedestres. Foto Divulgação



A XV de Novembro adotada pelos curitibanos. Foto Facebook



Na sexta-feira, 19 de maio de 1972, começavam em Curitiba os trabalhos de construção da primeira via exclusiva para pedestres no Brasil, na artéria principal da cidade, a Rua XV de Novembro, na quadra entre as ruas Monsenhor Celso e Marechal Floriano. Foi uma verdadeira operação de guerrilha urbanística, chefiada pelo prefeito Jaime Lerner. Ele comentou na ocasião: “Na semana passada, quando perguntei ao diretor de Obras quanto tempo levaria, ele me falou em cinco meses. Eu pedi em 48 horas. Ele respondeu: ‘Você está louco!’ Após muita negociação, os engenheiros concordaram que tudo poderia ser feito em três dias.” Com seu dom de síntese, Lerner disse: “Neste caso, a pressa é a amiga da perfeição!”

No livro recém-lançado A Rua e a Bruma, a Régua e o Compasso, Dante Mendonça descreve o que aconteceu: “A primeira etapa da nova Rua das Flores foi feita em 72 horas no trecho entre as ruas Marechal Floriano e Monsenhor Celso. Como se fosse uma ocupação em tempo de guerra, aproveitando o recesso do fim de semana. Na madrugada que se seguiu, operários, máquinas, caminhões e toneladas de pedras ‘petit-pavé’ passaram a cobrir a rua de brita e areia e a pavimentar todo o espaço entre a Praça Osório e a Marechal Floriano Peixoto. Passada a surpresa, o revestimento de ‘petit pavé’ da Rua das Flores [seu nome original, dos tempos pré-automóvel] encantou a cidade. Pela manhã estava instalado o primeiro centro urbano do Brasil reservado exclusivamente ao pedestre e que veio a ser um modelo para as principais cidades do país.”

A ação rápida visava a evitar que os comerciantes da área, temerosos com a mudança, embargassem as obras mediante mandados de segurança. “A pressa é nossa e a praça também”, declarou Jaime Lerner, antevendo o pronto término das obras, com a rua de pedestres cobrindo sete quarteirões da Rua XV de Novembro, da Praça Osório até a Praça Santos Andrade. O prefeito foi estratégico também no timing da sua intervenção. Curitiba sediava, de 16 a 20 de maio, o encontro Lazer e Urbanismo, promovido pelo Grupo de Urbanismo da União Internacional de Arquitetos, preparatório ao 12º Congresso da UIA, que aconteceria em setembro em Varna, na Bulgária. Arquitetos de todo o Brasil, da França, Suíça, Bulgária, Romênia, Hungria, Turquia e Líbano assistiram maravilhados àquela transformação, que levou Jaime Lerner a afirmar que o evento provocou a aceitação do calçadão da Rua XV “de fora para dentro”.



Em seu livro, Dante Mendonça destaca também a rica figura humana que foi Jaime Lerner: “Num Brasil diferente, o Paraná é a banda polaca com um humor diferente: o humor polaco. Sem o sotaque carioca, paulista, baiano, gaúcho ou catarina, o humor da banda polaca tem acento próprio, um jeito singular de provocar o espírito e contar uma piada, sem nunca deixar de rir de si próprio. Jaime Lerner é a pista que nos leva a crer no parentesco do humor polaco com o imbatível humor judaico, como costuma acentuar na conversa com os amigos: ‘Para mim o senso de humor é fundamental. Você não pode se levar tão a sério. Você não é a pessoa mais importante do mundo.’”


sábado, 23 de julho de 2022

Escola em vez de milícia

 

Reprodução Twitter 

Na capa da Carta Capital: o cerco ao SUS

 


por José Esmeraldo Gonçalves

Enquanto o Brasil é obrigado a ouvir as imbecilidades de Bolsonaro e Paulo Guedes, o neoliberalismo selvagem destroi o sistema que salvou milhares de vidas durante a pandemia e é a única opção para a imensa maioria de milhões de brasileiros que não podem pagar planos de saúde. 

Nos últimos dias, o "vampiro" Michel Temer ressurgiu do pântano em que, como golpista, ajudou a mergulhar o Brasil. Dizem os "analistas" que ele está se oferecendo para ser candidato a presidente pelo MDB. Já teria o apoio das oligarquias da mídia que foram suas parceiras no golpe de 2016. Quando assumiu o poder Temer logo começou a pagar a fatura do golpe, principalmente a reforma trabalhista que precarizou empregos, a reforma da Previdência, que surrupiou direitos e foi concluída no desgoverno seguinte e o suspeito teto de gastos, uma reivindicação dos especuladores e do mercado que trafica dinheiro. 

Temer atendeu às pressões e criou um rigoroso teto de gastos. Suécia e Holanda já tiveram tetos de gastos menos radicais. São países com benefícios sociais e tinham gordura para queimar. O Japão instituiu teto de gastos e o abandonou em pouco tempo para enfrentar uma crise econômica e criar empregos.

Uma das grandes vítimas do teto de gastos é o SUS, como a Carta Capital demonstra na edição dessa semana.  E Temer, o traidor da Constituição que agora se insinua como "salvação", deve estar planejando concluir sua obra de desmonte social do país. O caos na educação, o desemprego e a destruição ambiental também são produtos da paralisia que o teto de gastos impõe.

A mídia  comprometida com o neoliberalismo ultrapassado está vibrando com a ressurreição de Temer. Ontem, o comentarista Gerson Camaroti, defendeu na GloboNews, com visível ardor, o teto de gastos como se estivesse no palanque de Temer e como se o Brasil fosse apenas um estúdio asséptico para viaipis endinheirados e lobistas. 

Como se sabe, não há teto de gastos para orçamentos secretos, para o viagra das gloriosas forças armadas, para as Codevasf da vida nem para a corrupção em geral nos ministérios da Saúde e Educação. Nesses casos, o teto tem pé-direito altíssimo. 


sexta-feira, 22 de julho de 2022

Fotografia - O inesgotável baú cultural da Manchete

 

por José Esmeraldo Gonçalves 
A intensa cobertura fotográfica política, ambiental e esportiva da Manchete era uma característica da revista ao longo de 48 anos de existência. Junto com Manchete, a Fatos&Fotos, Amiga, Geográfica, Desfile, entre outras, registraram a Bossa Nova, o Cinema Novo, Copas do Mundo, as revoltas estudantis, a MPB, a Moda, a Jovem Guarda, o Rock Brasil, as crises, para citar apenas alguns segmentos. 

O fabuloso acervo da Bloch Editores está, como se sabe, desaparecido desde que foi leiloado pela justiça. Felizmente, livros e documentários têm resgatado centenas de imagens importantes para a memória jornalística do país e a Biblioteca Nacional digitalizou a coleção das revista. Na prática, fez um backup necessário de textos e fotos.

Os pesquisadores ainda recorrem a buscas em sebos e coleções particulares, contatam fotógrafos que trabalharam na Manchete e mantêm seus próprios acervos ou recorrem aos herdeiros daqueles que já se foram. E também buscam o conteúdo de reportagens e crônicas. Há no mercado vários livros que compilaram textos de Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campo, Rubem Braga, entre outros, publicados originalmente em Manchete.



"O Canto Livre de Nara Leão", do diretor Renato Terra, é um desses projetos que, além de todos os méritos, recupera referências fotográficas. É impressionante, aliás, como a série documental levantou tão ampla iconografia sobre Nara e sua época. Não apenas da Manchete, claro. Estão lá imagens de O Cruzeiro, do Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, Última Hora, Correio da Manhã e de arquivos públicos e particulares de São Paulo e Rio de Janeiro, como se vê no recorte dos créditos, acima. 

Roberto Muggiati, ex-diretor da revista, costuma dizer que a Manchete deve ter seu DNA na Transilvânia: é uma revista que se recusa a morrer. Apesar de tudo, inclusive do sumiço do arquivo fotográfico, ainda não lhe cravaram uma estaca no coração. Virou fonte. E isso é bom. 

"O Canto Livre de Nara Leão" está disponível no canal de streaming GloboPlay.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Cozinha do Absurdo, com receita • Por Roberto Muggiati

Vittore Carpaccio: São Martinho,
exposição permanente
 Arte das Igrejas
 em Zadar, Croácia.
Para ficar em sintonia com este mundo, vasto mundo, resolvi criar a Cozinha do Absurdo. A receita de estreia é uma ideia com a qual venho trabalhando há alguns anos: carpaccio de abobrinha. Carpaccio, como todos não sabem, foi um genial pintor veneziano, Vittore Carpaccio (1465-1525), homenageado com o nome de um prato criado em 1950 no Harry’s Bar de Veneza. 

Segundo Arrigo Cipriani, atual dono do bar, o carpaccio  foi servido pela primeira vez à condessa Amalia Nani Mocenigo, quando informou ao dono do bar que seu médico lhe havia recomendado o consumo de carne crua, rica em ferro, pois ela estava com anemia. O carpaccio, então, consistia em finas fatias de carne crua, temperadas com molho de mostarda, molho inglês, suco de limão, leite, sal e pimenta-do-reino branca. O prato foi nomeado carpaccio por Giuseppe Cipriani, o fundador e dono do bar, em referência ao pintor italiano, pois a cor vermelha forte do prato o fazia lembrar das pinturas de Carpaccio, que estavam na época em exposição numa grande retrospectiva na cidade.

Apliquei o conceito de um produto cru finamente fatiado não a alguma carne (depois da bovina, o carpaccio de salmão é a favorita), mas a um legume, a abobrinha, na versão italiana, chamada zucchini.


Carpaccio de abobrinha aos sabores aleatórios



Vale o gosto pessoal e a imaginação do gourmet aprendiz. Nesta primeira edição, usei uma abobrinha de 15cm de comprimento com 4cm de diâmetro cortada em rodelas infinitesimalmente finas e as temperei com:

• Alcaparras

• Teriyaki

• Chutney de abacaxi

• Mostarda amarela

• Ketchup

• Wasabi

• Algumas gotas de limão siciliano

• Salpicar moderadamente sal rosa do Himalaia

Todo cuidado é pouco com o Wasabi, a raiz forte japonesa: qualquer exagero é literalmente tiro e queda...

 

segunda-feira, 18 de julho de 2022