quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Em 1969, eu irritei os chineses de Mao por causa de Taiwan • Por Roberto Muggiati



Lancei meu primeiro livro, Mao e a China, em São Paulo, na segunda-feira 9 de dezembro de 1968. Na sexta-feira 13 foi decretado o AI-5. Eu trabalhava na redação pioneira da Veja, a revista semanal de texto que acabara de ir às bancas em setembro de 1968 – um momento totalmente impróprio para fazer jornalismo político, num país que acabara de proibir toda e qualquer liberdade de expressão. Mas a Veja estava “brincando com fogo” – para usar um clichê resgatado agora pelos lábios de Xi Jinping ao condenar a visita oficial da Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan, república autônoma que os chineses consideram seu território.



Em 1969, a revista recebeu um convite para que um jornalista da sua equipe visitasse a República Popular de Mao Tsé-tung. O escolhido foi o redator José Maria Mayrink. Para ajudá-lo a fazer média com os anfitriões, municiei-o com meia dúzia de exemplares de Mao e a China. Só quando ele voltou fiquei sabendo do efeito adverso da cortesia. O editor do livro inseriu nele uma página dupla com um mapa da China. Mao e a China era uma declaração de amor ao comunismo chinês, mas os dirigentes maoístas, que não entendiam português, não sabiam disso. Ao folhearem suas páginas estacaram no mapa e reagiram com furor ao verem a Ilha de Formosa (como se chamava Taiwan no Brasil então), lépida e fagueira diante da costa da China.

O bom Mayrink foi alvo de uma rajada de vociferações (acompanhada por uma chuva de perdigotos) e deixou a sala vexado, com o rabo entre as pernas. Minha ingênua e desastrada homenagem não teve maiores consequências. Mas a provocação de Pelosi vem botar ainda mais lenha na fogueira do já superaquecido tabuleiro político internacional.


Nenhum comentário: