quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Eleições - Qual o rumo que o velho astrolábio conservador vai apontar para a grande mídia?


por José Esmeraldo Gonçalves

Em meados dos anos 2000 ganhou espaço crescente nos meios impressos, nos veículos jornalísticos da internet, nas redes sociais e nos canais por assinatura, um tipo de cronista ou comentarista bem caracterizado: branco, identificado com as pautas da direita, contra avanços sociais, visceralmente contrário a cotas universitárias, raciais e portador de preconceitos múltiplos. 

Em comum, tinham o estilo agressivo dos textos: eram uma espécie de "bope" da mídia. Havia de tudo nas colunas da época que podem ser acessadas facilmente em arquivos digitalizados. 

Uma espécie de "paipai" daquele segmento jornalístico era Olavo de Carvalho, o ideólogo do bolsonarismo. Olavo foi premiado com colunas nos principais jornais do país. Os vermes e as larvas que se reproduziriam em escala industrial no governo Bolsonaro estavam fecundados naqueles textos. Eram "bolsonaristas" antes do Bolsonaro, e isso não era demonstrado apenas nos escritos do falecido Olavo. Não viu quem não quis. O persigal ganhou empregos e se instalou na mídia. A formação profissional daquela força tarefa direitista era variada. Além de jornalistas profissionais, havia no grupo economistas, cientistas políticos, cineastas, compositores etc. 

Um fenômeno semelhante ocorreu durante a ditadura, quando cada grande veículo tinha seus jornalistas e articulistas de estimação dos militares. Quem viveu as redações da época vai lembrar disso. Havia até, em algumas equpes, repórteres cuja principal característica era ter "boas relações" com setores militares. Lembro que um deles, que passou por jornais e revistas cariocas, era valorizado porque tinha "fontes" nas Assessorias de Segurança e Informação (ASI) dos ministérios e"entrada" no Dops e no Doi-Codi. 

A partir do primeiro governo de Dilma Rouseff (quando até insinuações de cunho sexual e de gênero foram postadas), a reedição dessa facção editorial ganhou asas e intensidade. As colunas de opinião e os editoriais receberam o reforço das próprias pautas jornalísticas. Surgiu um simulacro de "jornalismo investigtivo", tão brasileiro quanto a jabuticaba, que, soube-se depois, não era jornalismo nem investigava coisa alguma. Os documentos e os casos que ocupavam primeiras páginas e tempo na TV eram uma "cortesia" recolhida graciosamente nos porões da Lava Jato, como foi comprovado no vazamento das mensagens sobre a tal "verschwörung" jurídica enfim desmoralizada. Algumas daquelas "apurações" renderam livros, filmes, documentários e série em streaming igualmente desacretidados depois, como seus patronos, e devidamente esculachados pela história. Uma conhecida editora carioca chegou a criar um catálogo de livros de autores da direita radical onde só faltou o Mein Kampf.

O segundo fenômeno interessante, que tem a ver com o primeiro, também pode ser constatado após os desmandos do atual governo. Alguns daqueles articulistas ainda atuantes, (outros faleceram ou perderam visibilidade) mas, talvez envergonhados em função da obra que ajudaram a construir, tornaram-se 'fofos". A maioria, entre os mais notáveis, passou a escrever sobre amenidades. Pelo menos dois deles se declararam recentemente "cansados" do cotidiano politico no qual foram tão influentes, deixaram os fatos de lados e passaram a eleborar teses, escrever sobre princípios, com um pouco de filosofia aqui, uma proposição ali, uma discreta assertiva acolá poupam Bolsonaro. No máximo, fazem uma defesa necessária da Cultura, sem nomear responsáveis pelo desprezo e perseguição com que o governo trata o setor. Quando criticam alguma coisa, sempre ressalvam que o problema vem desde o século 17, 18, sabe-se lá.  

O terceiro fenômeno é desdobrável como um folder, em várias vertentes. Com o aparecimento do bolsonarismo como ideologia e modo de vida para uma expressiva parcela do que há de píor na população (ultra conservadores, militantes religiosos que não respeita outras crenças, neofascistas e neonazistas, misóginos, racistas, falsos caçadores e colecionadores de armas, neoliberais, garimpeiros ilegais, mineradores ilegais, desmatadores, milicianos, assassinos de ambientalistas e de integrantes de movimentos sociais, radicais das forças de segurança, políticos beneficiados em operações de favorecimento e corrupção no atual governo etc), a coisa ganhou seus porta-vozes, especialmente em canais de notícias na TV, e conquistou força extrema no Congresso com o chamado Centrão e seus operadores de orçamentos secretos. 

Na atual campanha eleitoral, o clima na mídia volta a ficar tempestuoso. Radicaliza-se nos editoriais partidários, está de volta em colunas nos principais veículos. É fato que esse setor defende a política econômica de Bolsonaro-Paulo Guedes e ainda mantém uma esperança na complicada "terceira via", agora representada pela bolsonarista sabor original e ex-integrante da base governista Simone Tebet. A senadora já é brindada com paparicos e espaço generoso nas redes. 

Nos próximos dois meses o Brsil vai testar os nervos. Veremos qual o rumo que o velho astrolábio conservador da velha mídia apontará: se ficará com Bolsonaro, caso a última esperança da "terceira via" não decole e o atual presidente demonstre recuperação nas pesquisas (no caso, argumentarão que um Bolsonaro "gourmet" e civilizado merecerá o benefício da dúvida); ou se aceitarão Lula, mesmo que não o apoiem. 

A alternativa dramática que falta nesses cases é a virada de mesa. Como a mídia vai reagir se vier um golpe de Estado? Nos dois mais recentes da história do Brasil, as famílias controladoras dos meios de comunicação não hesitaram: entraram de cabeça nas conspirações que torpedearam a democracia. 

O eleitor democrata vai testar os nervos nos próximos 60 dias.   

          

Um comentário:

Corrêa disse...

Fácil dizer o que a mídia vai fazer.no primeiro turno até disfarçam. No segundo ente Lula e Bolsonaro os safados vai ficar com Bolsonaro como na eleição de 2018.