terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Feminismo 2020: do discurso aos tiros, facadas e tesouradas • Por Roberto Muggiati

“O problema é que eu odiava a ideia de ter de servir aos homens.”

SYLVIA PLATH


A francesa Pauline Harmange lança o livro "Eu odeio os homens", que reúne histórias de mulheres que retaliaram fisicamente os machões.

A nova palavra da moda é “misandria” (ódio ou aversão aos homens), o oposto da nossa popular – e milenar – misoginia. A misandria acaba de ser posta em circulação pelas neofeministas francesas no rastro do livro-manifesto Moi les Hommes, Je les Déteste/Eu odeio os homens, que sai no Brasil pela Record e promete ser um dos lançamentos mais polêmicos de 2021. A autora, a francesa Pauline Harmange, 25 anos, tem toda a razão do mundo para odiar os homens. Trabalhou muito tempo numa organização que cuida de vítimas de estupro e assistiu de perto à violência e à impunidade. Pauline extravasa sua raiva e sensação de impotência diante da brutalidade masculina no plano do discurso teórico, valendo-se das palavras. Eu queria lembrar aqui casos célebres de mulheres que decidiram partir para uma retaliação física contra os machões. 

I Shot the Sheriff


Feminista radical - com razão, pois sofreu muito nas mãos de homens - Valerie Solanas é uma das mártires feministas do século passado. 

• Uma destas mais notáveis heroínas foi Valerie Solanas, autora do SCUM Manifesto, lançado em 1968 pela Olympia Press, editora parisiense que publicava em inglês livros proibidos nos Estados Unidos, como Lolita, de Vladimir Nabokov, e Almoço Nu, de William Burroughs. SCUM era a sigla de Society for Cutting Up Men/Sociedade para Esquartejar os Homens, a palavra “scum” (escória) representava para Solanas como as mulheres eram tratadas pelos homens. Na infância sofreu na pele abusos sexuais do pai; aos onze anos, a mãe a mandou morar com o avô, um alcoólatra que a surrava constantemente e depois a botou na rua. Sua experiência como mendiga e prostituta foi relatada na peça teatral Up Your Ass.  Valerie entregou o manuscrito para a apreciação do artista pop Andy Warhol, que o acabou perdendo e se recusou a compensá-la pelo prejuízo. No dia 3 de junho de 1968, Valerie foi ao ateliê de Warhol em Nova York e deu três tiros no artista. Só acertou um, mas o suficiente para que Warhol sofresse sequelas menores para o resto vida. Solanas foi condenada a passar três anos num hospital psiquiátrico, O médico que a avaliou disse que exibia uma “reação esquizofrênica, do tipo paranoide com marcas de depressão e potencial suficiente para agir". Warhol se recusou a testemunhar contra ela. A ousadia de suas ideias e o atentado a Warhol causaram um impacto profundo no movimento feminista. Vários grupos radicais surgiram, como a Frente de Libertação Feminina; filmes foram rodados, como Scum Manifesto (1976), em que a atriz de O ano passado em Marienbad, Delphine Seyrig, lê o texto histórico de Valerie. Morta em 1988, aos 52 anos, de enfisema e pneumonia, Solanas entrou para a galeria das mártires feministas do século 20.

Por um punhado de propinas

E a dama que esfaqueou o guru  da economia na ditadura

• Marisa Tupinambá ganhou celebridade instantânea em 1981 quando desferiu uma quantidade liberal de facadas no tórax e no abdome do amante Roberto Campos – o guru econômico da ditadura militar, apelidado de Bob Fields e execrado pela esquerda. Marisa quem? Funcionária da embaixada do Brasil em Paris na gestão Delfim Netto, em 1974, ela atuava como uma espécie de promoter, organizando eventos que atraíssem parceiros comerciais para o Brasil. A envolvente brasileira teve romances com o filho do rei Faiçal, com o joalheiro Alain Boucheron e com o conde Jean-Jacques de la Rochette, antes de se tornar amante de Campos, que a lotou na embaixada de Paris. Demitida um ano depois, Marisa mudou-se para Londres, onde recebia uma mesada da Odebrecht – o propinoduto já funcionava fullgás na época, segundo artigo do jornalista Elio Gaspari. Símbolo da respeitabilidade do regime autoritário, casado, pai de três filhos, embaixador do Brasil em Londres, Campos perdeu totalmente a cabeça ao conhecer a falsa loura. E acabou se dando mal. Marisa submeteu Campos a um constrangimento terrível quando o agrediu a bolsadas numa noite de gala no Royal Festival Hall na presença da Rainha Elizabeth II. O motivo da agressão? Campos a teria deixado fora das comissões em negociatas que ela intermediava com empreiteiras nacionais e poderosas multinacionais. Numa entrevista ao Pasquim em 1983, Marisa disse: “Roberto não deixava as pessoas me pagarem. Acho que tinha raiva, aquela história de amor e ódio. Para mim, dizia que os negócios não tinham sido fechados.” A relação acabou culminando em ódio escancarado na noite de 28 de abril de 1981, num apart-hotel de São Paulo, quando Campos, 63 anos, comunicou a Marisa, 35, que seu caso tinha chegado ao fim. Marisa reagiu a golpes de faca, que perfuraram os intestinos, o peito e a clavícula de Campos. Ao tentar se defender com as mãos, ele quase teve o polegar decepado. Amigos do embaixador tentaram abafar a história dizendo que Campos havia sido vítima de latrocínio no centro de São Paulo, mas a verdade não tardou a aparecer. Marisa não sofreu nenhuma ação legal e continuou sua vida numa boa. Com a fama de aguerrida e insubmissa, como a tribo que lhe deu o sobrenome.

Penis et circenses

Lorena Bobbit era estuprada e espancada pelo marido John Bobbit. Levada ao limite, uma noite ela decepou parte do pênis do agressor. 


O pênis fatiado de Bobbit foi reimplantado e ele teve alguns momentos de fama como ator pornô. 

• Na noite da véspera de São João de 1993, um episódio sangrento na Guerra dos Sexos abalou a América e repercutiu no mundo inteiro. O ex-marine John Wayne Bobbitt, 26 anos, chegou em casa bêbado e surrou e estuprou a mulher. O que não era novidade para Lorena Bobbitt, equatoriana, manicure, 22 anos. Em quatro anos e quatro dias de casamento, fora submetida a todo tipo de agressões físicas a abusos sexuais, incluindo estupro e sodomização forçada. Enquanto o marido dormia, Lorena foi à cozinha tomar uma água. Viu sobre a pia uma faca de trinchar perus de 20 centímetros e teve uma ideia. Ergue os lençóis que cobriam o corpo nu de John Wayne e cortou a parte superior do pênis do marido. Em seguida, saiu de carro e jogou o pedaço do membro decepado num descampado nos arredores da pequena cidade onde moravam, Manassas, Virginia, que até então só guardava a fama de ter sido o local da primeira batalha na Guerra da Secessão (1861-65). Milagrosamente, depois de horas de busca, a polícia encontrou o pedaço do pênis, ainda em condições de reimplante, o que aconteceu com sucesso após dez horas de cirurgia.

A imprensa não poupou superlativos em suas manchetes. A CASTRAÇÃO MAIS MIDIÁTICA DA HISTÓRIA. UMA TRAGÉDIA GREGA, UM THRILLER DE TERROR, UMA COMÉDIA DE HUMOR NEGRO. Pela primeira vez em seus 172 anos de vida, o New York Times publicou a palavra “pênis” em sua primeira página (usava o eufemismo “órgão sexual masculino”.)  O julgamento duplo também foi uma festa para a mídia. John foi inocentado pela acusação de abusos corporais e estupro, Lorena, pela acusação de castração sem chance de defesa. Bobbitt, cujo nome homenageava o ator John Wayne, símbolo dos valores da direita e do machismo, foi crucificado por uma nova onda de protestos feministas. Ele investiu na sua celebridade estrelando um filme pornô, John Wayne Bobbitt Uncut (jogando com o duplo sentido de “sem cortes/sem censura”), seguido de uma banda de rock (The Severed Parts, “as partes seccionadas”) e uma sequência pornô em 1996, Frankenpenis, que não tiveram o mesmo sucesso, mas Uncut se tornou um dos pornôs mais vendidos da história.

Depois do seu êxito fugaz, John Bobbit trabalhou como garçom, motorista de limusine, entregador de pizza, lutador de luta livre, recepcionista de boate e operador de guindaste. Em 1994, foi preso por bater numa stripper em Las Vegas durante sua turnê Love Hurts. Casou-se de novo e adotou o sobrenome da esposa, Joana Ferrell, mas o casal se divorciou em 2004 depois que a mulher o denunciou por maus-tratos.

Lorena, por sua vez, recuperou a identidade com seu sobrenome de solteira (Gallo), fundou a Lorena’s Red Wagon, uma organização de ajuda a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. John, que diz ter ido para cama com mais de 70 mulheres desde a operação, acabou ficando sem lugar na vida de Lorena. Ela é casada há 15 anos e tem uma filha de catorze. Seu marido, segundo ela conta, dorme todas as noites ao seu lado, de barriga para cima e muito tranquilo.

O alcance do episódio na cultura popular é imenso. As expressões “Bobbittized punishment” (castigo bobbittizado) e “Bobbitt procedeure” (procedimento Bobbitt) ganharam reconhecimento social. Nos anos 1920, Babbitt (título do romance de Sinclair Lewis), simbolizava o cidadão conformista da época. Bobbitt poderia muito bem definir o cidadão dilacerado do final do século 20.

Tiros e tesouradas no Russell

• E o nosso cotidiano na Manchete, o maior império de comunicação do Brasil? É hora de desfazer uma mentira hedionda. Aquele companheirismo nostálgico tão decantado só é compartilhado pelos homens. A mulher na Bloch sofria os maiores abusos e humilhações – e ai daquela que ousasse reclamar ao patrão ou apontar seus molestadores, seria sumariamente demitida por justa causa. Havia homens decentes nas redações, mas grassava também na Bloch uma legião de bolinadores compulsivos, beliscadores de peitinhos, apalpadores de nádegas e o que mais se pudesse imaginar. Os sátiros de plantão do palácio de cristal do Russell agiam amparados por sua total garantia de impunidade. Se pudesse voltar àqueles tempos, eu espalharia placas por todos os andares: PROIBIDO APALPAR AS COLEGUINHAS. Vou lembrar aqui alguns casos mais notórios da Guerra dos Sexos na Bloch. 

Em 1969, contratado em Paris por Justino Martins, chega ao Rio de Janeiro o chefe de arte Serge Elmalan, com sua mulher e o nobre mastim do casal. Responsável pela diagramação da recém-criada revista feminina Desfile, Serge logo se envolve com a produtora de moda Regina Guerra – o nome não podia ser mais sugestivo, e agourento. Já no início da relação, num surto de ciúme, a belicosa rainha desfere três ou quatro tiros no Beau Serge. Uma bala se aloja numa área melindrosa da clavícula. Adolpho Bloch despacha Elmalan de ambulância, helicóptero e jato executivo para o maior cirurgião cardiovascular do mundo, o Dr. Michael DeBakey, de Houston, Texas. O grande especialista sentencia: “É melhor não mexer nisso...” E o canhoto Serge teve de seguir diagramando com a asa quebrada pela vida afora. Mas a história não acaba aí. Ao voltar recuperado ao trabalho, Serge ainda sofria a ameaça da amante injuriada. Toda tarde, no fim do expediente, o Marechal – chefe de segurança informal do Adolpho – se esgueirava por entre as árvores da Praça do Russell à procura da pistoleira. E Serge saía sempre escondido no assoalho do carro de um colega.de redação.

Alguns contínuos se destacaram nessa área. Um deles, recém-casado, recusou-se a fazer sexo com a Censora do governo militar, que o recebeu em sua casa de peignoir entreaberto para examinar a arte final de um número do EleEla. Outro contínuo topava qualquer parada, como ir para a cama com Marisa Raja Gabaglia quando coletava sua crônica da semana; e com Jean Genet, hospedado no Hotel Glória, quando entregava ao escritor famoso revistas e jornais que chegavam pelo malote de Paris. Marisa se celebrizaria depois por seu Amor bandido com o cirurgião plástico que aderiu ao mundo do crime, Hosmany Ramos.

Entre os episódios marcantes, tem o de um fotógrafo, apelidado por motivos óbvios de Tripé, encarregado de fazer um retrato do Ziembinski. O teatrólogo o recebeu de baby doll no alto de uma escada que corria sobre rodinhas ao longo de sua imensa biblioteca. “Meu filho, quando não consigo achar um livro, sinto uma vontade louca de dar a bunda...” O Tripé deu no pé. Apelidei a irritação particular causada pelo sumiço do livro de Síndrome de Ziembinski.

Um dos principais diretores da empresa passava o dia sofrendo um bullying cruel do Adolpho. Ao voltar para casa, sofria toda a pressão da mulher para que reagisse até que uma noite, aos gritos de “Covarde!” ela quase o matou com um golpe de cinzeiro de cristal na testa.

Nelson Rodrigues dizia que sem dentadas não há amor possível. Dois redatores da Bloch sofreram mais do que mordidas. Um deles costumava trazer para o trabalho, visíveis no rosto, marcas de rotineiras batalhas conjugais. Imaginação não lhe faltava para criar as mais diversas explicações para as escoriações. Se o corte fosse no supercílio, a culpa era da freada busca que o lançou contra o espelho retrovisor; no queixo, o vilão era a lâmina do barbeador; a mordida no braço era atribuída ao cão feroz que perambulava no bairro. O outro, casado, foi seduzido pela beleza rústica de uma repórter. A moça era forte. Pernas de quem foi criada em fazenda, curtida pelo sol do centro-oeste, com mais músculos em um braço do que o jornalista tinha em todo o seu corpo de boêmio. Durante um embate, ele ao volante, o redator perdeu a paciência com os argumentos da mulher-maravilha em torno de uma discussão banal e jogou o carro sobre a calçada. Mandou que a moça desembarcasse. Ela o fez, mas antes arrastou o indigitado pelo colarinho e deu-lhe uns tapas e um soco que tirou sangue. Sem poder entrar em casa com a roupa tingida de vermelho, o nosso personagem voltou para a Bloch, pegou emprestada a camisa de um segurança e recolheu-se à segurança do lar.     

Um incidente também insólito coroou o declínio e a queda do Império da Bloch, na segunda metade dos anos 1990, Adolpho já morto. Um dos mandarins da corte, que era amigo do Rei, teve seus privilégios mantidos pelo delfim. Entre eles o de ocupar um escritório num dos andares superiores do prédio do Russell, onde passava horas trancado com a secretária. Um dia, o mandarim desce esbaforido ao oitavo andar: “Jaquito! Ela está querendo me matar com tesouradas! Me arranje um segurança, por favor! Agora!”

A cena alimentou de fofocas por algum tempo aquela comunidade ameaçada pelo fantasma da falência e do desemprego. E então a tesoura foi recolhida e meses depois o casal beligerante se remendava os trapos em meio a braçadas de rosas. Como existe o amor bandido, existe também o amor sem vergonha e os dois seguiram juntos até que a morte do mandarim os separou.

Este foi um ano definitivo, 2020. A morte pegou pesado, Principalmente pela Covid-19 e pelo feminicídio, alimentado pela coabitação forçada da pandemia (só até junho tinham aumentado em 22,2% os casos de feminicidio, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.)  Muitas mulheres estão clamando por vingança (não esqueçam as Femen, que têm peito aberto para isso, mas podem de repente se munir de revólveres, facas e tesouras.)  E, falando de palavras novas,  qual seria o antônimo de feminícídio? Homicídio já existe como genérico para a raça humana – o homem sempre mandou em tudo, principalmente na linguagem. Sugiro hominicídio, tem ainda a vantagem de lembrar o hominídio, que é o estágio mental destes assassinos de mulheres. 

Do ponto de vista psicológico, a essa altura do campeonato, posso imaginar o pânico-paranoia que assola estes machões com culpa no cartório, fazendo-os reviver o pesadelo da vagina dentata,  assumindo inconscientemente a postura defensiva dos jogadores de futebol que cobrem a genitália com as mãos na hora da cobrança da falta. Meu amigo, lembre o trinchante da Lorena, tem de ficar acordado 24 horas. E, do jeito que a coisa anda, duas mãos só não vão ser suficientes...

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Brasil rejeita 5G chinesa e vai adotar a versão paraguaia. Nem tudo está perdido. Conheça o Superprojetor que transforma sua TV em cinema...

 

Reprodução Manchete/1982

por O.V.Pochê

A geringonça acima era anunciada na Manchete nos meses anteriores à Copa de 1982, na Espanha. Os aparelhos de TV eram ainda analógicos, telas minimalistas. Um "professor Pardal" não identificado inventou o "Superprojetor da TV Gigante. Prometia a visão dos jogos - e também de filmes e novelas - como se fossem um cinema em casa. A coisa garantia projetar na parede da sala do freguês uma imagem de 4m x 3m. 

O treco tinha que ser acoplado ao televisor, vinha com lentes, adaptadores e cintas que amarravam o estranho equipamento ao televisor. Infelizmente, temos apenas a reprodução do anúncio. Não há registro da experiência dos consumidores. Se o seu pai ou avô tiver adquirido o Superprojetor pergunte pra ele se a invenção funcionava. 

Pode ser útil a informação. Vem aí a Copa de 2022, no Catar. A maioria dos países verá os jogos em 5G. O Brasil ainda não sabe se terá o sistema.  Bolsonaro não quer a tecnologia chinesas porque é comunista. A alternativa poderia ser a Suécia, mas pode haver represália dos vikings à destruição da Amazônia, cidadãos suecos poderão fazer passeatas indignadas pedindo boicote ao Bananão (como Ivan Lessa apelidava o Brasil) e negando 5G. Os Estados Unidos terão interesse em vender sua tecnologia, mas será que Joe Biden vai topar? Afinal o novo presidente americano até agora não foi reconhecido pelo tosco presidenciano brasileiro . A alternativa é invadir os Estados Unidos com as nossas tropas e pegar a 5G na marra. Se não rolar essa "Operação Tempestade em Washington", restará a Bolsonaro comprar a 5G paraguaia, Aquela do "la garantía soy yo". Mas em último caso, se a confusão tecnológica impedir a transmissão da Copa para o Bananão, dê uma busca nos antiquários. Vai ver você encontrará um Superprojetor ainda em forma. 

Sem qualquer componente chinês. .

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Maradona se vai, mas deixa a lenda inesquecível

 

19881: FOTO DE GIL PINHEIRO/ REPRODUÇÃO MANCHETE

A frase que o Olé estampa na primeira página, hoje, foi dita há 15 dias. Maradona sabia 
que seu tempo chegava ao fim,

por José Esmeraldo Gonçalves

Gil Pinheiro, da Manchete, fez essa foto de Maradona e Zico, em 1981. A presença do argentino, no Brasil, provocou matérias que comparavam os dois. Talvez, não garanto, tenha sido depois de um amistoso entre Flamengo x Boca Juniors. Maradona x Zico: quem era melhor? 

Tempos depois, Maradona escalou o futebol mundial, foi campeão do mundo em 1986, e a pergunta passou a ser: Maradona x Pelé: quem foi melhor? 

Nos últimos anos, nova pergunta: Maradona ou Messi? Difícil comparar épocas, no caso dos tempos de Pelé e de Maradona, dez anos mais novo, gerações diferentes. Arrisco dizer que estão empatados como craques, mas Pelé fez mais, ganhou mais títulos, fez mais gols, tinha mais recursos técnicos, mais fundamentos, como falam os treinadores. Maradona, mais arte. Como Messi, aliás. 

O que ninguém duvida é que Maradona está entre os maiores. 

Se o futebol reeditasse um filme dos anos 1990, onde um fazendeiro do Iowa interpretado por Kevin Kostner constrói um campo de basebol na esperança de atrair um ídolo morto havia décadas e vê-lo jogar,  Maradona teria vaga garantida e entraria naquele "Campo dos Sonhos" ao lado de Di Stéfano, Cruyff, Puskás, Garrincha, Yashin, Bobby Charlton, Eusébio, George Best, Didi, Just Fontaine, Nilton Santos...  

Por falar em Garrincha. Essa comparação faria mais sentido. Maradona e Garrincha, dois poetas do futebol. Iguais na bola, semelhantes no drama.

Reveja um gol histórico de Maradona contra a Inglaterra  AQUI



Livro sobre a Vaza Jato expõe as tripas da grande mídia...

por José Esmeraldo Gonçalves
O livro "Vaza Jato - Os Bastidores das Reportagens que Abalaram o Brasil", de Letícia Duarte (Mórula Editorial), revisita irregularidades da operação Lava Jato, de resto confirmadas em espantoso fluxo de mensagens, traz capítulos inéditos e revelações que atingem alguns jornalistas e veículos. 

Na verdade, ficam expostos, como em uma fétida mesa de autópsia, as tripas de uns e outros e os desvios éticos que cometeram.  

A jornalista Letícia Duarte entrevistou a equipe do Intercept Brasil, responsável pela série de reportagens sobre os delírios de poder da força-tarefa dos rapazes curitibanos, além de ouvir outras fontes. 

São, contudo, duas reportagem inéditas que atingem do ponto de vista jornalístico algumas figuras da Rede Globo e revelam mensagens trocadas com os procuradores ou as conversas destes dando conta de aproximações, encontros, "consultorias" com os jornalistas. São citados João Roberto Marinho, um dos donos do grupo, Merval Pereira, colunista do Globo e comentarista da Rede Globo e Globo News e Wladimir Neto, este filho de Miriam Leitão, também funcionária dos Marinho. Cabia a Neto, segundo as mensagens, dar "orientações" ao procurador Deltan Dalagnol. Prestaria uma espécie de "consultoria" graciosa a uma suposta estratégia política e de mídia da força-tarefa paranaense. No mínimo, a coisa toda se configura como um caso de relações perigosas de jornalistas com as suas fontes. 
O livro já está à venda no site da Mórula Editorial  AQUI

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O Vilarino fechou. E dai? Sempre teremos a Spaghettilândia! • Por Roberto Muggiati



Mais um templo da boemia carioca cerrou suas portas por causa da pandemia e outras mazelas nossas: o Vilarino, o sacrossanto local do encontro de Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes. Mas nem tudo está perdido: a Spaghettilândia segue aberta. O leitor poderá interpelar: e que diferença faz,? Qual a contribuição da Spaghettilândia (!) para o patrimônio sociocultural brasileiro? Enorme, imensa, digo eu – e tomo a liberdade de transcrever uma crônica do confrade-in-Panis Ruy Castro endossando minha opinião:





 

 

São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2011

 

 

RUY CASTRO

O mistério da Spaghettilândia

RIO DE JANEIRO - Dois grandes poetas, Augusto de Campos e Ferreira Gullar, estão brigando pela Folha a respeito de Oswald de Andrade. Começou quando Gullar, na Ilustrada, mencionou um almoço com Augusto na Spaghettilândia, no Rio, em 1955, em que, segundo Gullar, Augusto teria se referido a Oswald como "irresponsável", alguém a não se levar muito a sério numa possível revolução da poesia brasileira.
Em réplica, Augusto negou que tivesse havido tal encontro na Spaghettilândia. Na tréplica, Gullar confirmou o almoço e deu a localização do restaurante. Disse que era perto do jornal onde trabalhava. Ora, como os jornais do Rio ficavam no centro, só pode ser a Spaghettilândia da rua Álvaro Alvim, na Cinelândia - não a de Copacabana ou a do Largo do Machado, que eram suas filiais. Talvez isto jogue alguma luz na refrega.
Gullar reforçaria seu argumento se dissesse o que comeram -se é que comeram -, mas ainda não fez isto. Como ex-cliente da Spaghettilândia, posso arriscar alguns palpites. O forte do cardápio, vide o nome, era o espaguete, ao sugo ou à bolonhesa, sempre cozido demais, ou uma lasanha cujas lâminas de massa, presunto e mozarela também não eram de deixar saudade.
Augusto, como bom paulistano e desconfiado das massas cariocas, não se passaria por essas sugestões, donde esnobaria o nhoque e a goela de pato da Spaghettilândia. Se o almoço de fato aconteceu, é mais provável que ele tenha optado pelo frango a passarinho ou por um infalível strogonoff, com pudim de Leite Moça na sobremesa. E, como nenhum dos dois era de beber, devem ter regado tudo com Caxambu.
Acho comovente que a humilde Spaghettilândia, de pé até hoje e no mesmo lugar, fosse cenário de um almoço tão importante para os destinos da poesia nacional. Almoço esse de repente sub judice, com o garfo a meio caminho.

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PS (RM)Para encerrar: jornalista curitibano, na minha primeira incursão ao Rio de Janeiro, em março de 1955, hospedado no apartamento de uma tia, eu costumava comer na Spaghettilândia de Copacabana. Como o Ruy descreve, a comida da Spaghettilândia não era de deixar saudade – mas seus preços eram imbatíveis e a ambiência da Capital Federal persiste em minha memória até hoje. Copacabana era um bairro elegante, suas ruas e calçadas impecavelmente limpas, as pessoas bem vestidas. Sua Spaghettilândia, a maior de todas, vivia cheia de gente que ainda sabia o que era ter um emprego: lojistas, balconistas, bancários, jornalistas, estudantes e professores, funcionários públicos (os chamados “barnabés”).

Tive uma ideia: já que a pandemia impede o presencial, acho que vou providenciar uma delivery de sabor proustiano da Spaghettilândia para o Ruy Castro no seu apê do Leblon. O que vai ser, Ruy? Spaghetti ou lasanha? Será que ainda servem a famosa goela de pato?

Recortes do Vilarino na Manchete (1952, 1953 e 1975










domingo, 22 de novembro de 2020

Dá--lhe Crivella ! Prefeito garante Covid para todos no Réveillon carioca

 Crivella está de saída da prefeitura do Rio mas não deixa de impor à cidade medidas irresponsáveis e eleitoreiras. Agora, o desprefeito vai permitir que os quiosques da orla façam aglomeração no Révellon, com direito a cercadinhos para convidados e shows. É fácil saber o que vai acontecer. Se cercadinhos privados são permitidos, porque o povão não pode levar para areia a cervejinha, o frango e a farofa? A Covid vai entrar em 2021 cheia de gás.

A essa altura o G-20 virtual está torcendo para a conexão da internet cair e Bolsonaro sair do grupo

Depois de pária vem o que? Nada. Na Índia, origem da palavra, pária é a casta mais baixa. Ontem , o anormal que preside o Brasil fez o pais descer mais alguns degraus rumo à exclusão do convívio internacional, à desclassificação global. Em um grotesco pronunciamento, negou o racismo, negou o meio ambiente, negou o enfrentamento científico da pandemia, negou, enfim, a sua suposta saúde mental. Os demais líderes do G-20 só faltaram entoar o coro "pede pra sair". Hoje, em novo pronunciamento diante dos chefes de Estado, tentou consertar as idiotices de ontem. Em vão. Na sequência, a conferência virtual abordou outros assuntos talvez torcendo para cair a internet e elemento não mais voltar à live.

No Estadão: o governo federal que nega a pandemia dá a descarga em milhões de reais

 


A Folha foi o único dos três grandes jornais da estampar Carrefour na capa. Globo e Estadão se esforçaram ontem para não botar o nome do supermercado no título principal

 


Jânio de Freitas enquadra o vice bobão

 


Na capa da Istoé: a quadrilha poderosa que não dança na Justiça

 


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Lobby ataca Mata Atlântica no Rio de Janeiro: diga não ao autódromo que destrói floresta


Quando política e interesse poderosos se juntam, a cidade perde. Como um rolo compressor, um projeto absurdo avança: a construção de um execrável autódromo na Floresta do Camboatá a custa do último reduto da Mata Atlântica em área plana da cidade. 

Os lobistas e os políticos recrutados já tentaram envolver a FIA (Federação Internacional do Automobilismo) e os promotores da Fórmula 1. Aparentemente, sem sucesso. Jornais europeus e até o piloto Lewis Hamilton criticam o que pode se configurar um crime. 

Ontem, a Comissão  Estadual de Controle Ambiental rejeitou o pedido de licença ambiental, mas um grupo de conselheiros ligados ao governo estadual sensível ao lobby exigiu um "novo estudo". Isso significa que a pressão para a destruição de Camboatá avança, apesar do órgão de controle ambiental apontar vários locais alternativos para a construção de um autódromo sem que haja agressão à natureza. Fique atento. Você pode ajudar a evitar um delito ambiental em andamento. AQUI

Para jornalistas e não jornalistas - "No Rastro Digital do Dinheiro Público": um curso para pegar corrupto...

(Do Knight Center/LatAm Journalism Review)

Já está disponível a versão autodirigida do curso “No Rastro Digital do Dinheiro Público: Como fiscalizar gastos da União, estados e municípios". Isso significa que todos os conteúdos, como videoaulas, leituras, testes e outros materiais, estão abertos na plataforma de aprendizagem online do Knight Center, JournalismCourses.org.

É uma oportunidade a mais para jornalistas e não-jornalistas aprenderem sobre como o orçamento público funciona e como identificar potenciais casos de uso indevido do dinheiro do contribuinte.

“Capacitar e fomentar o acesso à informação em relação à fiscalização das contas públicas, amplia o controle social e contribui para o aprimoramento da qualidade e da legalidade do gasto'', disse o instrutor Gil Castello Branco, que tem uma larga experiência ensinando jornalistas a como acompanhar os gastos do governo.

A partir de exercícios práticos em bancos de dados disponíveis, o curso torna os participantes aptos a investigar a qualidade e legalidade das contas públicas e a apontar suspeitas de mau uso do dinheiro público nos diferentes níveis de governo.

“Eu gostei muito do Siga Brasil. É um banco de dados complexo, mas completo. É uma grande fonte de dados. Porém, é preciso aprender um pouco de AFO - Administração Financeira Orçamentária. O site Compara Brasil também é excelente, sendo uma importante fonte secundária” disse o jornalista e aluno do curso Carlos Eduardo Matos, baseado em Brasília.

Para o jornalista Germano Martins, as orientações sobre como navegar nos portais do governo federal e do Senado foram as mais úteis. "Eu pretendo colocar em prática apresentando pautas no meu ambiente de trabalho. O curso vai ajudar a elaborar essas pautas," disse.

Em sua versão original, o curso foi ministrado de 7 de setembro a 4 de outubro de 2020 e contou com 2.276 alunos registrados. A maior parte deles do Brasil, mas também de Angola, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, mas também de países como Argentina, Colômbia e México.

Este curso é uma parceria do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas com a Associação Contas Abertas, com apoio do Google News Initiative. Para saber mais sobre o curso e acessar seus materiais, visite a página dos cursos autodirigidos do Centro Knight.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA AQUI

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Panis EXCLUSIVO - O 5000º mergulho de um aventureiro em Manchete. Por Roberto Muggiati

 



O cartaz comemorativo do mergulho nas Maldivas

E a homenagem das camareiras do hotel 

Ao longo dos meus vinte e tantos anos como editor de Manchete, tive a primazia de registrar em primeira mão as façanhas de incontáveis aventureiros que saíram pelo mundo enfrentando os maiores desafios dos esportes radicais. Assim foi com o Príncipe D. João de Orleans e Bragança em seus primeiros ensaios surfísticos; com os irmãos Metsavah em suas incursões de snowboard nos Andes (Oskar se tornaria depois o criador da Osklen); com Pepê na asa delta; Rico e Ricardo Bocão brilhando nas pranchas; e com o saudoso alpinista Mozart Catão, que, depois de conquistar o Kilimanjaro e o Everest (lembro as pontas dos dedos da mão que perdeu, congeladas ao tirar a luva para fotografar o feito), morreu no Aconcágua soterrado por uma avalanche em 1998, aos 35 anos, como seu homônimo Wolfgang Amadeus.

Neste 2020 fatídico, desafiando também a pandemia, um de nossos mais ativos aventureiros, Carlos Eduardo Carvalho Lima (completa 80 anos em abril) acaba de atingir uma marca notável no ranking internacional. Fez, nas ilhas Maldivas, Oceano Índico, o mergulho número 5000 em seus mais de 40 anos de fotografia submarina, amplamente documentados pelas revistas Manchete e Geográfica

Carlos Eduardo relatou o feito com exclusividade para o Panis Cum Ovum:

“Os moradores de Veligandu ficaram orgulhosos por eu ter escolhido o atol para o mergulho histórico. Mergulhei com a dive master, ela preparou um cartaz comemorativo e filmou a aventura. À noite, me convidou para participar de uma cerimônia com os mergulhadores presentes exibiu partes do vídeo e me ofereceu um diploma celebrando a marca. Foi uma cerimônia que me deixou emocionado! 

Mais comovente foi a paisagem submarinha que os arrumadores do meu bangalô fizeram com folhas com peixes-palhaço, arraias, tartarugas, um barquinho a vela e gaivotas. Um trabalho artístico! 

Doeu o coração ter de desmanchar o arranjo sobre a cama para podermos dormir.”

 

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Na capa da IstoÉ: Brasil é a casa do palhaço tragico

Na capa da Vogue: Ingrid faz história

A bailarina carioca Ingrid Silva, do Dance Theatre Company, do Dance Theatre Harlem, Débora Colker, Grupo Corpo, já trabalhou com os maiores coreógrafos do mundo. É capa da Vogue. No Brasil racista não é pouca coisa. Essa capa é histórica.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Bruno Barbey (1941-2020): "Foi no Brasil que descobri a cor". O fotógrafo da Magnum, que trabalhou para a Manchete nos anos 1970, morreu na última segunda-feira em Vincennes , onde morava, perto de Paris.


Reprodução de matéria de Bruno Barbey para a Manchete.

O rosto e as esperanças dos brasileiros que foram atraídos para a exploração da Amazônia. Sonhos desfeitos anos depois. Reprodução de foto de Bruno Barbey publicada em Manchete. 

Bruno Barbey captou para a Manchete as máquinas que chegavam na Amazônia como parte da ocupação promovida pela ditadura. Ali começava, na verdade, o processo de destruição da floresta, 
hoje brutalmente acelerado. 

O texto de apresentação da reportagem de Bruno Barbey e...


...a chamada de capa d matéria. 


Bruno Barbey em foto de 1967,  da Magnum, publicada hoje no site da agência.


Para quem cobria guerras e revoluções, o Carnaval carioca e a Amazônia devem ter sido uma explosão de cores para as lentes de Bruno Barbey. Fotógrafo da Magnum desde 1964, ele percorreu campos de batalha em Suez, no Vietnã, Bangladesh, Camboja, Nigéria, Irlanda do Norte, Kuwait e Iraque. Registrou como poucos as manifestações de Maio de 68, em Paris. No começo dos anos 1970, Barbey fez uma série de reportagens para a Manchete. Foi integrado à equipe que cobriu os desfiles das escolas de samba, em 1973. No mesmo ano, percorreu a Amazônia com o repórter Joel Silveira. foi à Bahia e fez Iemanjá em Copacabana. A parceria com a revista se repetiu nos anos seguintes. "Foi no Brasil que descobri a cor", é a frase que O Globo reproduz hoje. Bruno Barbey sofreu um enfarte ao 79 anos. Deixa inconclusos um livro e uma exposição sobre o Brasil.

domingo, 8 de novembro de 2020

Memórias da Manchete: O dia em que quase entrei na Geórgia por engano • Por Roberto Muggiati

 



O destaque da Geórgia na reta final das eleições presidenciais americanas me fez lembrar um episódio ocorrido por conta da
Manchete em julho de 1984, durante a cobertura da turnê “Victory” dos Jacksons, capitaneada por Michael, então no auge do sucesso em sua fase pós-Thriller. Eu acabava de ser reconduzido à direção da revista e, como um presente de grego, Jaquito passara para mim um convite da gravadora Sony – feito na verdade à Rádio Manchete – para cobrir uma das primeiras apresentações da turnê, em Jacksonville, Flórida.  Tudo bem, interessava – e muito – à revista, mas era o tipo de viagem que, com sua verve costumeira, Justino Martins batizara de “viagem-piscina”: “Tu salta, nada rápido, bate na outra borda e volta, tchê...

Saímos do Rio sexta-feira à noite, chegamos a Miami na manhã de sábado. Até Jacksonville, no extremo norte do estado, era uma hora e meia de voo num aparelho convencional. Estávamos na época dos furacões e vivemos momentos de incerteza até ter nosso voo liberado. Fomos instalados num motel 30 quilômetros ao norte do que seria o “centro”. Jacksonville era uma cidade estranha, construída às margens do rio St. Johns, com 15% de sua área ocupada pela água.

Aproveitando as mordomias da Sony, um radialista gaúcho pediu um carro para circular pela região, que a gravadora providenciou na hora. Gentilmente, o radialista concordou em me levar até uma loja de música que eu havia contatado por telefone, a fim de comprar um saxofone alto – o tenor eu já tinha. Ficava a uns 20 quilômetros de distância e tivemos de atravessar umas dez “toll bridges” – pontes de pedágio – até chegar lá. Valeu a viagem: a loja tinha um sax alto Conn praticamente novo a preço de segunda mão, 450 dólares. Um garoto de doze anos ganhara o instrumento, tomara duas aulas, enjoara da coisa e desistira do saxofone. Na volta para o hotel procuramos um local para almoçar. Meu amigo gaúcho não era muito familiarizado com o carro hidramático, nem eu. Além do mais, erramos o caminho e de repente vimos na autoestrada uma placa anunciando Georgia 5 miles. Felizmente, achamos um último retorno salvador e um grande restaurante de beira de estrada com cara de churrascaria. Lá encontramos quase toda a turma convidada para a viagem, inclusive os jovens executivos da Sony. À saída fizemos uma foto de grupo com o saxofone em primeiro plano. Exigiram que eu “desse uma palinha”, achei que ia dar um vexame monumental. Ainda mais com um sax alto que nunca tinha soprado. Liguei o automático e peguei uma Wave – não tem um dedilhado dos mais fáceis – mas não é que surfei numa boa a onda do velho Jobim? Tocar saxofone é como andar de bicicleta, depois que você aprende não esquece mais. Tocar bem já é outra história...

Antes do espetáculo saí fotografando os fãs de Michael Jackson devidamente paramentados a caminho do estádio, cheguei atrasado ao coquetel para a imprensa –  caviar, champanha e cocaína já tinham acabado...

O show foi o que já se previa: Michael Jackson dando uma tremenda colher de chá para os irmãos, que andavam mal de carreira e dinheiro e deixando de ser aquele Michael solista genial do Thriller. As três apresentações de Jacksonville, no Gator Bowl Stadium – receberiam um público de 135 mil pessoas. A queima de fogos ao final agradou mais do que o show e foi mais longa e feérica do que a do Réveillon de Copacabana.


PS • Ray Charles deve estar vibrando... Por falar em música, vale assinalar que voltou a soar nos céus da América uma das mais belas canções de Hoagy Carmichael, Georgia on My Mind, gravada em 1930 pelo autor com a banda que incluía o genial cornetista Bix Beiderbecke. Mas foi a versão gravada em 1960 por Ray Charles, nascido na Geórgia, que chegou ao número um na parada de sucessos da Billboard e seria adotada como o hino oficial do estado da Geórgia. OUÇA AQUI

https://www.youtube.com/watch?v=QL3EZwSJAh0

 

Memes e frases sobre a derrota de Trump

 



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* Loser (perdedor) foi a palavra mais associada a Trump, ontem, na rede mundial. 
* Trump só sai da Casa Branca por condução coercitiva. 
* Com Trump desempregado, a "rachadinha" familiar deixa a Casa Branca: perdem os empregos oficiais Ivanka Trump e  marido, Jared Kushner. Já Melania Trump perde o status e as mordomias, mas sai ganhando: não precisa mais fingir em público que está casada com o magnata.
* Trump volta aos negócios. E, provavelmente, a mais uma falência. Na sua carreiras de negociante e especulador imobiliário, ele conta quatro falências. Piada que corre atesta que perdeu a eleição porque os credores não votaram nele. 
* De um observador: "• Trump é igual ao Mike Tyson, sempre apronta alguma".
* Família Bolsonaro está leiloando bonés Trump 2020. Tratar com Queiroz.

sábado, 7 de novembro de 2020

Biden presidente. Trump se recusa a deixar a Casa Branca e parte para o golpe jurídico

 

                                                                  Foto Democratic. org

Joe Biden e Kamala Harris eleitos!.  Os Estados Unidos dão um basta na chamada era Trump. 

O magnata tresloucado não aceita a derrota, atitude já esperada, e anuncia a tentativa de golpe jurídico para permanecer na Casa Branca. 

O país viverá dias tensos. 

O desespero e o discurso de Trump alegando fraude se espalham entre seus apoiadores, muitos deles ostensivamente armados com fuzis. 

Nos próximos dias, a democracia vai ser testada, como jamais aconteceu na história dos Estados Unidos.  

NBC, ABC, e MNSBC cortam discurso mentiroso de Donald Trump. É a mídia defendendo a democracia. Atitude válida para todo mundo.

O jornalismo profissional criou defesas contra o fenômeno neofascista das fake news. É a checagem de cada mentira que circula nas redes sociais. Políticos como Trump e Bolsonaro dão seguidas mostras de que isso não basta. Na cara de pau, ambos usam a mídia profissional para espalhar notícias falsas. Na última quinta-feira, Donald Trump fez o mais vergonhoso discurso já pronunciado por um candidato. Sem apresentar qualquer prova, afirmou que venceria facilmente se fossem contabilizados apenas os" votos legais" e que, se fossem incluídos os "votos ilegais", os democratas "roubariam a eleição". Diante da acusação infundada, as redes  NBC, MSNBC e ABC imediatamente interromperam a transmissão  do discurso, na verdade uma peça de fake news, por considerarem que o conteúdo favorecia a desinformação. O fato provoca debates entre jornalistas. Há quem apoie a decisão das redes e defenda que se torne norma ética, há quem critique e, uma terceira opinião advoga que as emissoras devem permitir que o indivíduo minta e, em seguida, devem desmascarar a mentira para os telespectadores. Assim como Goebbels usava o rádio para difundir as mentiras nazistas, a ultradireita também não tem qualquer pudor em  distorcer os fatos nas redes sociais, em nome da ideologia. Do neofascismo, na prática. O problema é quando fazem isso em meios de comunicação legítimos. Devem os veículos servirem de plataforma para a ascensão no neofascismo? Quando toma posição, a grande mídia norte-americana (e aí se destacam os jornais Washington Post e New York Times, especialmente) está alguns degraus acima do seu equivalente no Brasil. Aqui, aplica-se o dogma nem sempre oportuno de "ouvir os dois lados", seja lá o que for. Também não se contesta a mentira no ato. Bolsonaro, por exemplo, diz o que quer e qualquer fake news que ele espalhe é respeitada como a "opinião" do presidente. Diante do uso massivo das redes sociais como instrumento de pregação antidemocrática, torna-se válido que a mídia profissional não dê espaço para o neofascismo. NBC, ABC e MSNBC deram uma lição ao mundo.    

O tour mais ridículo da semana: a viagem da delegação da OEA que foi "observar" as eleições americanas...

 A OEA (Organização dos Estados Americanos) foi criada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, depois da Segunda Guerra. O objetivo era implantar um muro continental ideológico contra o "esquerdismo". No cenário internacional, a geringonça tem mais irrelevância do que consequência. Mais de 70 anos depois de fundada continua como uma franchise de Washington. Por isso, ao viajar para "observar" as eleições norte-americanas, a OEA fez apenas o papel que lhe cabe: o do ridículo. Em pouco mais de 24 horas, os "observadores" conseguiram "observar'" que estava tudo bem. Não saiu uma linha sequer nos jornais americanos sobre as "observações' da delegação. Se tivessem optado por dar uma passada na Disney e posar com o Pateta poderiam auferir pelo menos uma notinha em um tabloide cucaracha de Orlando. 

A OEA não entende de eleições, é mais ativa em referendar golpes, como os que assolam as Américas do Sul e Central. 

A piada: ao se apresentar em uma seção eleitoral, a delegação devidamente engravatada e de cabelo gomalinado informou aos mesários que estava ali para "observar" se a coisa ia bem. "OEA, what?", espantou-se o voluntário enquanto folheava um maço de cédulas eleitorais.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Fotojornalista André Dusek lança livro que desvenda a "glória" e a decadência de Serra Pelada, a mina de ouro da ditadura...




        Serra Pelada: ponte-aérea entre a miséria e a riqueza. Foto André Dusek/Divulgação

O fotojornalista André Dusek, que nos anos 1970 foi fotógrafo da Manchete e Fatos & Fotos, lança  o livro "Ouro Bruto - Serra Pelada em três tempos". Suas primeiras investidas no garimpo foram ainda no tempo da ditadura. Dusek também trabalhou no Correio Braziliense no começo dos anos 1980.  Posteriormente, voltou ao local em 1996 e em 2019, o que lhe garantiu um panorama completo de Serra Pelada. O garimpo produziu imagens antológicas. Tão intensas que, para muitos editores, remetiam a uma saga de escravos enlameados que pareciam escalar pirâmides egípcias. Dusek registou o auge e a decadência. Aquele sítio miserável, apesar (e por causa) do ouro que enchia o bolso de poucos, foi incentivado pelos militares e fez milionários ligados à ditadura. As imagens dramáticas de milhares de homens, qual "formigas", escapando da cava com sacos às costas e em precárias "escadas" de madeira, percorreram - e impressionaram - o mundo.     

domingo, 1 de novembro de 2020

Capa da Time:chegou a hora de dar um reset no mundo

 

Uma capa que provoca reflexão. A ascensão da direita neonazista e a Covid-19 levam o mundo a dar um freio de arrumação: o capitalismo tem que ser reinventado. Não dá para ignorar mais temas como a desigualdade, o racismo, o meio ambiente, a fome, a redistribuição de renda, resgatar a dignidade do emprego... É isso ou a barbárie no poder em poucas décadas.

E a Veja? Pelo jeito privilegia na capa sua preferência... Vai ter que inverter a carta na semana que vem?...


 Chamada de capa em inglês: Veja quer falar com quem? Avenida Paulista, Miami, Jurerê, Barra da Tijuca...