terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Notícias de Resende

Por ROBERTO MUGGIATI
Um documento raro: este é o famoso "olho" que carimbava as sugestões de matérias temporariamente arquivadas ou colocadas na "geladeira" após as reuniões de pauta da revista Manchete. Eram assuntos que ganhavam o rótulo "ficar de olho". O símbolo implacável foi  clonado de um "olho" do quadro Guernica, de Picasso. Foto: Acervo Muggiati.

Apesar do nome pomposo em latim, este Panis existe para compartilharmos o pão nosso de cada dia das boas memórias e das amizades que desfrutamos nos anos da Bloch, apesar de vivermos a maior parte do tempo naquilo que, num texto do século passado, batizei de “o inferno das redações”.
O Panis Cum Ovum se tornou também um farol na noite escura dos relacionamentos que se esfacelaram com o fim da Bloch. Outro dia, soubemos da morte de uma figura querida, o Gastão René Friedman, vulgo UFO. E, quem deu a triste notícia foi o João Resende, outra figura querida, alegrando-nos com a boa notícia de que está vivo e passa bem em Minas Gerais. Em suas próprias palavras:
“Me aposentei na Funarte (ex-Embrafilme, ex-Fundação do Cinema) há uns 15 anos, como redator da Assessoria de Imprensa. Agora coço o saco aqui em Juiz, com meus cachorros. Retornei à cidade meio que por inércia, Juiz de Fora é muuuito feia, embora ‘prática’ para se viver. O Rio ficou inviável...”
O João fala em cachorros, mas, se não me falha a memória, quando o conheci ele tinha um destes minipinchers ou chihuahuas que contrabandeava para dentro da redação numa bolsa de ginástica. Não era inglês, mas era excêntrico (o Resende, não o cachorro), talvez por conta da sua mineirice. Que ele volta e meia invocava. Certa vez, candidatou-se a um posto na Rádio Canadá, país onde morava sua irmã, quando o Jaquito resolveu promovê-lo da noite para o dia. A Manchete tinha perdido o titular de uma sucursal importante – não sei se Nova York ou Salvador da Bahia – e Jaquito adentrou a redação com a ordem:
– Resende, vai fazer as malas, amanhã você viaja para assumir a sucursal de X!...
– Uai, sô, Jaquito! Eu sou mineiro. Com mineiro a coisa não é assim, tão atropelada. . .
Talvez por isso ele tenha recebido outra ordem do Jaquito, tempos depois:
– Pode esvaziar as gavetas. . .
Em meados de 1975, quando Adolpho Bloch tirou o Justino Martins da direção da Manchete e me botou no lugar do “Índio”, que ele não conseguia engolir, assumi o cargo mais prestigioso e mais perigoso de toda a empresa. Para fazer uma boa revista que esgotasse nas bancas toda semana eu contava com a figura fundamental do chefe de reportagem, na época o João Luiz de Albuquerque. João Luiz formava com dois fieis escudeiros – João Resende e Suzana Tebet – a troika que se contrapunha ao trio Karamabloch: Adolpho, Oscar e Jaquito. (Para os não-iniciados, nascido em Kiev, Adolpho sempre foi ligado aos assuntos russos e era fascinado pela troika que comandava o Kremlin, na verdade um troika de araque, porque quem mandava mesmo era o Leonid Brejnev, assim como quem mandava na Bloch era só o Adolpho.)
De um diretor novo exigiam-se novas atitudes. Na verdade, todo mundo queria mandar na Manchete e plantar suas matérias na importante revista. Logo me impuseram uma reunião de pauta “monstro” – um pleno ampliado – em que editores de todas as revistas da Bloch davam palpite. O editor da Agricultura de Hoje sugeria uma reportagem sobre a febre aftosa; o da Tendência, outras sobre “insumos”; e por aí vai. Como diretor da Manchete, eu era obrigado a me pronunciar sobre cada sugestão de matéria. João Luiz, João Rezende e Suzana Tebet anotavam tudo. Às matérias brochantes – que não venderiam revista nemporumca (para adotar um palavrão cifrado do Ney Bianchi) – eu dizia, com a maior solenidade: “Interessante, vamos ficar de olho...” Acabava a reunião com 60 a 70% das sugestões destinadas ao insondável olho do Muggiati.
João Luiz, Resende e Suzana, mais do que as reportagens em si, adoravam o jogo que cercava todo o andamento da coisa, adoravam monitorar o follow-up, eram também fascinados por artigos de papelaria, compravam os últimos fichários de acrílico, pranchetas transparentes de cores ácidas (uma influência retardada da revolução psicodélica no universo burocrático) e inventaram então um carimbo para chancelar todas aquelas sugestões mandadas para “o olho”. João Luiz deu uma de gênio e arrancou o olho da Guernica do Picasso e o transformou em carimbo. Guardo até hoje a matriz em ferro pregada num pedaço de madeira e o próprio carimbo de borracha, dos tempos em que se usava aquela almofada de tinta. Há pouco, por motivos sentimentais, mandei fazer um destes carimbos modernos (o meu é Made in Taiwan) com o olho da Guernica, que transformei em meu ex-libris, principalmente porque o quadro de Picasso foi pintado no ano em que nasci, 1937, e porque é o primeiro quadro-reportagem da História, e casa com o título do meu livro de memórias (brevemente, nas melhores livrarias) A vida é uma reportagem.
João Resende é uma figura que daria um daqueles perfis da Seleções do Reader’s Digest intitulado “Meu tipo inesquecível”. Fazia uma dupla dinâmica com o Jorge Aquino Filho, do clã dos Aquino de São João da Barra, produtores do famoso Conhaque de Alcatrão. Não me contenho e transcrevo esta história do Patriarca:
“Tudo começou em 1908, quando Joaquim Thomaz de Aquino Filho iniciou a produção da bebida que, até então, se chamava Cognac de Alcatrão da Noruega. Rapidamente, o atual Conhaque de Alcatrão São João da Barra - feito de destilado de cana e extrato de alcatrão - ganhou popularidade, virando tradição nacional e adquirindo a fama de "Conhaque do Milagre". O criador do "santo remédio" foi pai de 23 filhos com a primeira mulher e ainda teve outros dois, no segundo casamento.”
Como o Patriarca, o Conhaque de Alcatrão também deu filhotes, entre eles a cachaça Praianinha e a vodca Kovak. Como um dos primeiros clientes de Gráficos Bloch, que imprimia seus rótulos, e depois anunciante forte da Manchete, colocou muitos herdeiros para trabalhar como jornalista na Bloch. Ruth de Aquino, por exemplo, que se tornaria a primeira mulher diretora de jornal no Brasil (O Dia, do Rio).
Assim, Jorge de Aquino Filho foi trabalhar como repórter na Manchete. Uma das crianças sobreviventes do terrível incêndio do Gran Circus Norte-Americano em Niterói, em 1961 (500 morreram), Aquino era gordo, por conta de sequelas das queimaduras que sofreu.Usava sempre calça jeans e um daqueles blusões claros com fechamento de zíper que chamavam de slacks.
João Resende era muito desligado, só sabia que precisava abastecer seu carro com álcool quando o carro parava, por absoluta falta de combustível. Providencialmente, o Aquino forrava sempre o porta-malas do carro do Resende com meia dúzia de vodcas Kovac. Era só abrir a tampa do tanque e desovar dois litros que a máquina pegava de pronto e levava até o posto mais próximo.
Resende martirizou-se a escrever durante um ano uma matéria genial que só ele desencavara, não sei de onde, talvez de suas aulas de planador em Juiz de Fora. Sim, planador, sabem o que é? Um avião sem motor. Só o João Resende, mesmo. . . A matéria tinha a ver com um plano secreto dos nazistas para invadir o Brasil com uma frota de zepelins, ou coisa parecida. Um belo dia, com toda a solenidade que o evento exigia (só faltou o champanhe), João Resende deitou sobre a mesa do editor a decantada matéria: “Evém zepelim,” começava, no melhor estilo mineiro à Guimarães Rosa. Sequer lembro também se a matéria chegou a ser publicada.
Ave, Resende, apareça por aqui, vamos rachar um panis. . . de queijo. . .

Jornal Irish Examiner culpa a urucubaca da camisa do Flamengo pelas derrotas de José Aldo e Ronda Rousey. Os dois posaram com o "fatídico manto"

O Irish Examiner descobriu a causa das derrotas de José Aldo e de Ronda Rousey, ambas fragorosas. Os dois posaram com a camisa do Flamengo antes de protagonizarem vexames no octógono. O jornal sugere ao campeão irlandês Connor Mc Gregor, que acertou um soco demolidor no rosto do brasileiro, que fique longe da camisa rubro-negra; "Nada de bom vem daí", sentenciou. Leia no Irish Examiner, clique AQUI 

Serena Williams, a Esportista do Ano


Vencedora em três títulos de Grand Slam, apenas em 2015, a Serena Williams, já apontada como a maior tenista de todos os tempos - ganhou 21 torneios, em simples - , foi eleita Esportista do Ano pela revista Sports Illustrated.

James Dean e a maldição da Porsche

Por ROBERTO MUGGIATI

James Dean ao lado do Silver Porsche 550 Spyder, o "Bastardinho".. 

James Dean com o mecânico Rolf Wutherich, que sobreviveu ao acidente. 

O "Bastardinho" destruído, em 30 de setembro de 1955.

O Ford 1950, de Donald Turnupseed, que se chocou com o Porsche. 
Falei da Porsche de Janis, agora vou falar da Porsche de James Dean – o carro que ele batizou de “Little Bastard” (“Bastardinho”) e que o levou para a morte há 60 anos. A Porsche prateada Spyder era um modelo raro: só existiam 90 exemplares em 1955. Dean vinha se celebrizando como piloto de provas com carros-esporte e dirigia muito bem: não é verdade que viajava em velocidade excessiva quando sofreu o acidente fatal numa estrada da Califórnia. Foi o outro motorista, um caipira chamado Donald Turnupseed, quem atravessou  seu  Ford 1950 na frente do Spyder.
O Porsche de Dean não teve a mesma sorte do Porsche de Janis, arrematado por 1,7 milhões de dólares num leilão em Nova York na semana passada. Ele simplesmente sumiu do mapa. Antes, andou causando algumas confusões que lhe deram a fama de objeto maldito. Depois do desastre, George Barris – um mestre na customização de carros – comprou os destroços por 2.500 dólares. Quando a carcaça distorcida chegou à garagem de Barris, o Porsche deslizou e caiu sobre um dos mecânicos que o descarregavam, quebrando suas pernas.
Barris começou a desconfiar do carro, mas suas piores suspeitas foram confirmadas numa corrida no autódromo de Pomona em outubro de 1956 – um ano depois da morte de Dean. Dois médicos corriam em carros com partes do “Bastardinho”. Troy McHenry, que tivera o motor do Porsche transplantado em seu carro, morreu ao perder o controle da direção e bater numa árvore. William Eschrid capotou e sofreu ferimentos graves. Sobreviveu para contar que o carro travou subitamente quando ele fazia uma curva.
A influência maligna do carro continuou depois da corrida. Um garoto que tentava roubar o volante do Porsche escorregou e sofreu um corte profundo no braço. Com relutância, Barris vendeu dois pneus do carro a outro jovem. Uma semana depois, o homem quase morreu num acidente quando os dois pneus estouraram ao mesmo tempo.
Está parecendo aquele carro do filme baseado no livro de Stephen King, Christine, o carro assassino, não acham? Pois a novela continua. Barris tentou regenerar o Porsche azarado e dar-lhe um destino mais nobre. Alugou o veículo destroçado para uma turnê patrocinada pela Patrulha Rodoviária da Califórnia, a fim de alertar para a segurança nas estradas. Em poucos dias, a garagem que abrigava o Spyder foi totalmente destruída num incêndio: de todos os carros lá guardados, sobrou apenas o “Bastardinho”. Calma, minha gente, tem mais: quando foi exibido em Sacramento, o carro caiu da sua vitrina e quebrou os quadris de um adolescente; George Barkuis, motorista que dirigia um caminhão-reboque levando o Porsche, morreu num acidente de estrada, esmagado pelo “Bastardinho”.
Ferdinand Porsche no seu Lohner Porsche

O atentado ao Arquiduque Franz Ferdinand, assassinado a bordo
de uma...


... limusine Graf Stift, que teria fornecido peças para os primeiros Porsches

As desgraças provocadas pelo Porsche só acabaram em 1960. Depois de se exibir numa mostra em Miami, Flórida, os destroços do Spyder seguiram de caminhão para Los Angeles e sumiram numa curva do tempo até hoje não encontrada. Nunca mais se soube nada do “Bastardinho”.
Especialistas em fantasmagoria automotiva elaboraram uma curiosa tese para explicar a malignidade do Porsche. Os primeiros modelos da marca Porsche, fabricados em 1939, teriam usado partes do ferro velho do carro em que o Arquiduque Franz Ferdinand foi assassinado com a mulher em Sarajevo em 1914, episódio que deu origem à Primeira Guerra Mundial. O próprio Ferdinand Porsche – designer do Volkswagen e do Porsche – quando prestou serviço militar, em 1902, foi motorista do Arquiduque do Império Austro-Húngaro. Porsche, Franz Ferdinand (hoje é nome de banda de rock escocesa), James Dean – afinidades eletivas, ligações perigosas que levam muita a gente a acreditar que as máquinas tenham alma, e às vezes possam ser mortalmente malignas.
Sources:
AMC's Hollywood Ghost Stories television special


domingo, 13 de dezembro de 2015

Janis in Rio, 1970

Janis Joplin na Praia da Macumba. Foto antológica de Ricky Ferreira. 
Janis Joplin na Avenida, Rio, Carnaval de 1970. Foto Manchete

Janis Joplin durante coletiva de imprensa no Copacabana Palace, matéria publicada na Manchete. Ricky está logo atrás de JJ. Foto de Nilton Ricardo
Topless na Praia da Macumba, o barato do Fogo Paulista e a Mercedes-Benz que Deus negou: aí Pearl comprou um Porsche


Por ROBERTO MUGGIATI

Meados de janeiro de 1971, uma experiência transcendental: Janis Joplin canta a cappella Mercedes-Benz: “Oh, Lord, won’t you buy me a Mercedes Benz?/My friends all drive Porsches, I must make amends./Worked hard all my lifetime/no help from my friends/So oh Lord, won’t buy me a Mercedes-Benz?”
É uma noite abafada e estou num apartamento de frente para o bloco de pedra do Cantagalo. Nosso anfitrião recebeu, dias depois do lançamento, em 11 de janeiro, o último LP (póstumo) de Janis Joplin, Pearl. Na verdade, Mercedes-Benz foi a última faixa que ela gravou, três dias antes de morrer de uma overdose de heroína num motel de Los Angeles, em 4 de outubro de 1970.
Janis viveu seus dois últimos verões nesse ano: primeiro no Brasil, depois nos Estados Unidos. Ela saltou de paraquedas no Rio em pleno Carnaval, foi ver as escolas de samba na Avenida (então Presidente Vargas), hospedou-se no Copacabana Palace (logo a expulsaram por nadar nua na piscina), conheceu o Rio roqueiro de Serguei e do Big Boy e fez topless na Praia da Macumba, onde foi flagrada por seu cicerone carioca, o fotógrafo Ricky Ferreira. 
Quando Janis morreu, a Manchete publicou com exclusividade aquelas fotos da roqueira descontraída, na praia, entornando uma garrafa inteira de Fogo Paulista, um goró suicida: licor de ervas aromáticas com ingredientes naturais de plantas selecionadas e mel de abelhas. Graduação alcoólica de 36%vol, conteúdo 960ml. Nosso chefe de reportagem João Luís Albuquerque correu atrás do Ricky e garantiu a exclusividade das fotos para a revista carro-chefe da Bloch.
Tive acesso à audição privilegiada de Pearl através do Ricky Ferreira, justamente, que se tornou meu amigo depois da publicação de suas fotos em Manchete. O detentor do cobiçado LP era um amigo do Ricky, o Mauro, um hare krishna muito doido e muito rico, de bata, cabeça raspada, mantras e tudo mais.
A essa altura o rock começou a mexer com minha vida. Em 1968, publiquei meu primeiro livro, Mao e a China, uma declaração de amor ao comunismo chinês e à revolução cultural. Uma semana depois, o AI-5 desabou sobre nossas cabeças e não se podia mais escrever sobre política. Foi então que me voltei para a contracultura, uma nova arma para combater o Sistema. O rock era a voz principal da contracultura. Deixei de lado o jazz e voltei-me para o som e a fúria de Rolling Stones, Beatles, Dylan e The Who. 
Quando Jimi Hendrix morreu, duas semanas antes de Janis Joplin, escrevi a matéria principal da Manchete. Começava assim: 
“WHAAAAMMMMMM –BOOOMMM –SSSHHHH-BLAMMMM-RAT-AT-TAT-RAT-AT-AT-WHIIIIZZZZZ-BOOOMMMMMM – São bombas explodindo, granadas e napalm, rajadas de metralhadoras, em meio ao silvo dos jatos e ao ronco dos helicópteros. O ano é 1969, mas o Vietnã está a milhares de quilômetros de distância. Aqui, nas suaves colinas de Woodstock, trinta mil jovens entorpecidos pelo sono e cansaço acordam em sobressalto, num barulheira demencial, sem saber o que está acontecendo. É Jimi Hendrix interpretando o hino americano, Star-Spangled Banner – o ato final daqueles ‘três dias de paz e amor’ que marcaram toda uma geração.”

Carlos Heitor Cony me conhecia pouco, gostou do texto e me convidou para chefe de redação do Ele&Ela, que ele dirigia. Eu tinha passado um ano da direção da Fatos&Fotos, a Gata Borralheira das revistas da Bloch, e estava meio no limbo das redações. A ida para o Ele&Ela foi providencial. Uma revista masculina que, graças à ditadura, não podia publicar nus – só mulheres bonitas em biquinões – então o texto inteligente e sofisticado era a saída. Lá estavam o crítico de arte Flávio de Aquino, o crítico de cinema Paulo Perdigão, o crítico literário Mário Pontes. E, é claro, melhores do que as mulheres estampadas em nossas páginas, a dupla de secretárias do Cony, eficientíssimas: a longilínea loura escandinava Mia e a dengosa Lúcia, de cabelos morenos. Para quem tinha o pique de fechar jornais, ou revistas semanais (eu vinha da Manchete, da Veja e da Fatos&Fotos), uma revista mensal era uma moleza. Sobrava tempo para escrever outras coisas. Foi ali que Cony escreveu o que ele considera sua obra maior, o transgressor Pilatos. Foi ali que, a partir de um artigo sobre a relação do rock com as drogas, a perigosa viagem do som, eu escrevi Rock: o grito e o mito/A música pop como forma de comunicação e contracultura. Mário Pontes, na mesa ao lado, que com Rosemary Muraro era editor da Vozes, comprou imediatamente a ideia. Rock: o grito e o mito saiu em 1973, teve quatro edições, as duas últimas atualizadas em 1981, foi publicado em 1975 em espanhol pela Siglo Veintiuno (Madri, Mexico, Buenos Aires, a editora de Borges e Cortazar), fez a cabeça dos jornalistas de música brasileiros e foi adotado por muitos cursos de comunicação pelo país afora.
O Porsche da Janis Joplim. Reprodução
Ah, sim, não deixemos a memória afogar o gancho jornalístico. Janis pediu a Deus um Mercedes-Benz, mas acabou comprando um Porsche usado por 3.500 dólares, que mandou pintar em cores psicodélicas. Agora, levado a leilão em Nova York, o Porsche de Janis foi arrematado por 1,7 milhão de dólares. Logo uma canção para denunciar o consumismo. . . . Mas o pathos de Janis suplicando volta à nossa lembrança, com o detalhe brutal de que foi sua última gravação, sozinha com sua voz, e com a passagem irônica em que conclama “Everybody” para fazer parte do coro – e esse “todo mundo” não se manifesta, está ausente, e ela prossegue, cantando sozinha até morrer.

ONU conta com sociedade civil para exigir que governos cumpram acordos climáticos

Movimentos civis fiscalizarão cumprimento de acordos climáticos. Foto IISD
“Vocês forneceram exemplos de novas formas de trabalho e soluções inovadoras que estão criando um mundo mais verde e sustentável”, disse chefe da ONU para organizações da sociedade civil.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou nesta quinta-feira (10) que conta com as organizações da sociedade civil para manter os governos comprometidos com os pontos que serão estabelecidos na Conferência do Clima (COP21) em Paris, França. Líderes mundiais devem adotar o compromisso para limitar o aquecimento global a 2ºC nesta sexta-feira (11).
“Uma das lições valiosas que eu aprendi como secretário-geral durante os últimos nove anos é que nenhum governo, nenhuma organização internacional, consegue fazer seu trabalho de forma adequada sem o compromisso ativo e o apoio da sociedade civil”, afirmou Ban.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e presidente do Climate Reality Project, Al-Gore, apresentou uma petição assinada por 6,2 milhões de pessoas e uma declaração conjunta representando todos os grupos da sociedade civil na COP21. O documento afirmava que essas pessoas estão “exigindo um acordo forte que leve o mundo para longe da poluição do carbono e rapidamente em direção às soluções climáticas”.
A diretora assistente do Avaaz, um site global de incentivo a adesão de campanhas mundiais, Emma Ruby-Sachs, afirmou estar na Conferência representando mais de 3 milhões de pessoas que pedem por 100% de energia limpa até 2050. “Isso (a COP21) é mais do que o clima. Isso se trata de como resolvemos problemas globais”, afirmou.
Ban Ki-moon enfatizou o papel decisivo da sociedade civil para gerar ações relacionadas ao clima. “Vocês forneceram exemplos de novas formas de trabalho e soluções inovadoras que estão criando um mundo mais verde e sustentável. Eu convido vocês a continuarem a demandar mais de todos os governos”, declarou o chefe da ONU.
Fonte: ONU Brasil

No dia em que o AI-5 completa 47 anos, manifestantes pedem a volta da ditadura e o fechamento do Congresso


Em Brasília, hoje, faixa pede que Dilma "passe" a presidência para o Exército e que este feche o Congresso. Foto Lula Marques/Agência PT
Capa do Última Hora noticia o AI-5, editado em 13 de dezembro de 1968, que fechou o Congresso, como os manifestantes pedem, hoje, em um mesmo dia 13 de dezembro. Reprodução
por Flávio Sépia
No dia 13 de dezembro de 1968, a ditadura civil-militar instalada em 1964 apertava as algemas políticas do país. Os militares decretaram o  AI-5, fecharam o Congresso e soltaram agentes nas ruas para prender milhares de pessoas em todo o país. Entre os manifestantes que saíram às ruas, hoje, havia tanto quem defendesse Cunha, Temer, e quem pedisse a volta da ditadura. A data escolhida para o protesto marca apropriadamente os 47 anos do AI-5. Os atos deste domingo, segundo a própria mídia, tiveram adesão menor. O que significa que fazer passeata levantando a bandeira de Cunha não é fácil.

Deu no Daily Beast; já foi eleita "A Pior Pessoa de 2015". E sem direito a impeachment...

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Kayapós garantem: "Os governantes do Brasil estão doentes. Precisam fazer tratamento com pajelança"

A exibição do filme Para onde foram as andorinhas nesta sexta-feira, na Zona de Ação pelo Clima, no Centro 104, em Paris, contou com a participação de mais de 60 pessoas que ao final fizeram muitas perguntas aos indígenas do Xingu. O cacique kayapó Raoni Metuktire chegou de surpresa para prestigiar o evento
Na tarde desta sexta-feira (11), aconteceu o último evento organizado pelo ISA em Paris durante as negociações para um novo acordo climático global. Com mais de 60 pessoas para a projeção do filme Para onde foram as andorinhas?, feito em parceria com o Instituto Catitu, o evento foi na Zona de Ação para o Clima (ZAC), espaço da Coalizão Climática 21, da sociedade civil.
Tukupe Waura, que, junto com seu tio Yapatsiama, falou pela segunda vez ao público do ZAC sobre os impactos das mudanças climáticas no Parque Indígena do Xingu (MT), fez um alerta: “Nesse momento, os governantes do Brasil estão doentes. Precisam fazer tratamento com pajelança”.
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Deu no G1: redução de emissões propostas pelo Brasil entrou no texto final do acordo

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Pelo acordo, o Brasil tem que reduzir 37% das emissões de gases até 2025

A mesa da Conferência, em Le Bourget, Paris. Foto ONU

A brasileira Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente é chefe da delegação brasileira,...

...negociou pontos importantes do acordo. Fotos Paulo Araújo/MMA
por: Lucas Tolentino (enviado especial a Paris) 
O Brasil entrou para a ‘coalizão de alta ambição’, que busca compromissos mais ousados para conter o aumento da temperatura do planeta. Ao lado de potências como os Estados Unidos e a União Europeia, o País aderiu ao grupo que tenta aumentar a firmeza do acordo em pauta na 21ª Conferência das Partes (COP 21). A Cúpula ocorre até este fim de semana, em Paris, e tem o objetivo de selar um pacto capaz de frear o aquecimento global.
A adesão do Brasil ao grupo representa novo suspiro para o Acordo de Paris. Conhecido mundialmente pela eficiência na resolução de embates diplomáticos, o País foi aplaudido na COP 21 quando os integrantes da coalizão fizeram o anúncio. “Esse é um grupo político que tem o papel de diálogo entre aqueles que buscam a ambição”, explicou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, chefe da delegação brasileira. “Acreditamos em transparência.”
CIÊNCIA
A decisão foi alinhavada em reunião de Izabella Teixeira com o ministro de Relações Exteriores das Ilhas Marshall, Tony de Brum. Na questão climática, o País se junta a outras nações insulares como Tuvalu, ambas preocupadas com um possível desaparecimento caso o nível dos oceanos aumente em função do aquecimento global. Também fazem parte da coalizão de alta ambição latinoamericanos em desenvolvimento como México e Colômbia.
 O grupo defende, entre outros temas, a relevância de dados técnicos para embasar medidas governamentais relacionadas às mudanças do clima. Para Tony de Brum, a ciência tem de estar traduzida no pacto que 195 países tentam firmar na COP 21. “Não estamos nesta Conferência para chegar a um acordo mínimo”, afirmou o chanceler das Ilhas Marshall. “O texto tem de promover a descarbonização das economias.”
CONSENSO
Signatários da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), os 195 países estão reunidos em Paris com o intuito de encontrar um consenso sobre o que podem fazer para evitar o aquecimento global. Às vésperas do fim das negociações, previstas para terminarem neste fim de semana, as nações fazem análises do texto atual do acordo, que congrega metas de corte de emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo.
A previsão é que o Acordo de Paris comece a valer em 2020. A partir daí, os países que assinarem o protocolo terão de colocar em práticas as ações prometidas para cortar emissões. A meta apresentada pelo Brasil é reduzir 37% das emissões até 2025 e 43%, até 2030 – ambas em comparação aos níveis de 2005. Para isso, o País fará, entre outras coisas, o reflorestamento de 12 milhões de hectares e investirá nas fontes renováveis de energia.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA) 

Obama, que preside o país campeão mundial de emissão de gases de efeito estufa, fala sobre o acordo ambiental

Após a assinatura do acordo sobre a redução da emissão de gases do efeito estufa, ontem, em Paris, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o compromisso firmado pelos países representa uma “virada” na luta para minimizar os efeitos das mudanças climáticas no planeta.
“O problema não está resolvido por causa do Acordo de Paris, mas agora foi definido um quadro objetivo sobre o que o mundo precisa fazer para resolver a crise climática”, disse Obama em pronunciamento na Casa Branca. Segundo ele, o acordo define o mecanismo e a “arquitetura” para que os países possam lidar com o problema de forma mais eficaz.
O presidente norte-americano definiu o acordo como “ambicioso e imperfeito”, mas disse que a assinatura mostrou que há esperança quando o mundo se une. O acordo vinculativo foi assinado por 195 países. “Hoje podemos estar mais seguros de que o planeta vai estar em melhor forma para a nova geração”, destacou.
Nos meses que antecederam a assinatura do acordo, Obama anunciou várias medidas internas, como a meta de redução em 32% da emissão de gases das usinas termoelétricas dos Estados Unidos até 2030. O tema encontra resistência nos setores empresarial e agrícola, além da oposição da bancada republicana, que hoje compõe a maioria do Congresso norte-americano.
Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar no mundo na emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
Fonte: Agência Brasil

COP21 incorpora propostas do Brasil

A presidente Dilma Rousseff disse ontem que o Acordo de Paris, aprovado na 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), define uma nova fase da luta contra a mudança do clima. “O acordo é justo e ambicioso, fortalecendo o regime multilateral e atendendo aos legítimos anseios da comunidade internacional”, afirmou, em nota divulgada pelo Palácio do Planalto. Para Dilma, o documento é o resultado de uma mobilização inédita dos governos, com o engajamento ativo da sociedade em todos os países. “Duradouro e juridicamente vinculante, o acordo também é ambicioso por procurar caminhos que limitem o aumento de temperatura neste século em até 2 graus Celsius, buscando atingir 1,5 grau Celsius”, comentou.
Dilma também destacou que os países desenvolvidos deverão financiar as ações de combate às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento. O texto prevê a criação de um fundo anual de US$ 100 bilhões, financiado pelos países ricos, a partir de 2020: “O Acordo de Paris fomenta, também, a possibilidade de apoio voluntário entre países em desenvolvimento, o que permitirá que o Brasil continue a promover a cooperação Sul-Sul”.
O documento incorporou a proposta conjunta do Brasil e da União Europeia de mecanismo que promove investimentos privados em projetos de redução de emissões (MDL+). No conjunto das suas decisões, também incorporou o mecanismo de REDD+, que permite o reconhecimento e o pagamento por resultados das ações de combate ao desmatamento e degradação florestal, sendo fundamental portanto para a implementação das metas brasileiras de combate à mudança do clima, anunciadas em setembro de 2015”, completou.
Fonte Agência Brasil

sábado, 12 de dezembro de 2015

Da revista Brasileiros: "Manual do perfeito mideota" - Nas entrelinhas da imprensa

por Luciano Martins Costa (*)
O mundo de repente se tornou muito complexo? Não se preocupe: a maneira menos dolorosa de lidar com a complexidade da existência e com aquela angústia que ela provoca é assumir a condição de midiota. Portanto, é preciso verificar se você se classifica no rol dessas pessoas afortunadas para as quais o mundo é branco ou preto.
Seria maldade perguntar se você leu o livro originalmente intitulado “Being There”, publicado em 1970 pelo escritor Jerzy Kosinski. No ano seguinte, saiu uma edição brasileira que recebeu como título “O Videota”, o que facilita as coisas. Mas, para evitar o sacrifício de ter que ler um livro inteiro, informo que a versão cinematográfica pode ser baixada ou assistida online (dublada, para facilitar), no youtube ou vimeo.com. Busque pelo título: “Muito além do jardim”.
Em resumo, trata da história de um indivíduo maduro, órfão desde o nascimento, que passou a vida cuidando do jardim do homem que o acolheu. Nunca foi à escola, não aprendeu a ler ou escrever. Tudo que sabia era o que havia visto na televisão do seu quarto.
Um dia, o dono da casa morre e ele tem que sair para o mundo. O que se segue chama-se ironia: numa sociedade muito mais complexa do que o jardim que era seu universo, as opiniões simples e reducionistas que ele havia formado ao longo dessa existência alienada soam como explosões de sabedoria. Assim, ele vai subindo na escala social à base de metáforas absolutamente primárias sobre jardinagem e programas televisivos.
Alguma relação com as opiniões que você colhe na imprensa sobre política brasileira, economia e, principalmente, sobre corrupção?
Se a resposta for positiva, você tem grande chance de se identificar como um midiota. Aliás, no romance de Kosinski e no filme, o “videota” chama-se Chance, nome que em inglês, francês ou português pode ser traduzido como “oportunidade”.
Aqui está, portanto, sua chance de reduzir a angústia de viver numa sociedade onde a ascensão social de milhões de pessoas que viviam na pobreza produziu um alto grau de complexidade. Vamos combinar: a vida era muito mais simples quando a empregada usava o elevador de serviço, andava de ônibus, não precisava de férias e conhecia o seu lugar. E a gente nem precisava registrar o emprego dela. Quebrava um vaso, podia trocar o vaso e a empregada, sem maiores danos.
Também sabemos, você e eu, que esse negócio de preto, mulato, aquele povo do norte, fazendo compra no mesmo supermercado, comprando a mesma coisa que a gente, causa um certo desconforto. Esse mal-estar aumenta muito quando os encontramos na fila do aeroporto, ou a bordo daquele navio de cruzeiro, certo?
Tudo isso é causa de angústia e isso é compreensível: você não teve a chance de se preparar para essa mistura, porque passou a vida entre a mídia conservadora e o jardim do lar burguês.
A boa notícia é que você pode reduzir esse sofrimento simplesmente assumindo sua condição de midiota.
O diagnóstico é simples e pode ser feito por você mesmo. Por exemplo, você leu nos jornais que o desemprego de março superou o de fevereiro, e saiu por aí dizendo que o Brasil está à beira do abismo. Nem se pergunta quantos dias úteis tem fevereiro, se esse é um mês em que as pessoas esperam arrumar emprego etc.
Se você assumiu que o Brasil foi para a cucuia, parabéns: você é um midiota quase perfeito.
Mas se você tem um resquício de senso crítico e questiona se esse tipo de indicador é duvidoso, ainda pode comparar o desemprego do primeiro semestre deste ano com o do ano anterior. Pode chegar à mesma conclusão, ou seja, de que o Brasil foi pelo ralo.
No entanto, se passar pela sua cabeça que 2014 foi ano de Copa do Mundo e, portanto, muitos indicadores econômicos ficaram fora da curva, sinto muito: você está deixando o confortável mundo dos midiotas.
Veja bem: não se trata de ler ou não os jornais e as revistas semanais de informação que dominam o mercado, ou de assistir os telejornais todas as noites. Ser um midiota é uma questão de postura – você precisa receber esse noticiário pelo preço de face, ou seja, tem que absorver a mensagem sem aplicar sobre ela qualquer questionamento.
Não pode considerar, por exemplo, que um ano inteiro de noticiário negativo, apocalítico, acaba produzindo o que anuncia, porque afeta o ânimo de investidores, de empresários e dos trabalhadores.
Outra chance de fazer o diagnóstico: você vibrou com a manobra do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para levar a votação a proposta do impeachment da presidente da República? Não se importou com a hipótese de que o solerte parlamentar pudesse estar desviando sua atenção das acusações que pesam sobre ele?
Depois disso, você passou a achar que o vice-presidente Michel Temer é um homem de muitas luzes, porque quase oficializou o rompimento do PMDB com a aliança governista, testando a perspectiva do impeachment?
Se a resposta for positiva em ambos os casos, você está no caminho da libertação: mais um pouco e será dispensado de emitir opiniões inteligentes sobre qualquer coisa.
Mas, se passar pela sua cabeça que até o advogado que assina o pedido de impeachment sabe que dificilmente o Supremo Tribunal Federal iria concordar com a quebra da ordem constitucional se não houve – como não há – denúncia de crime administrativo contra a presidente da República, sinto muito: ainda falta um bocado para você se considerar um perfeito midiota.
Como se vê, o Brasil se tornou muito complexo.
Mas não perca a esperança: continue lendo diariamente os principais jornais do País, não se esqueça de olhar as manchetes nas bancas, e não deixe de assistir aos telejornais e aqueles comentaristas cheio de sabedoria sobre tudo.
Um dia você acorda transformado num enorme inseto, e não vai ter que se preocupar com mais nada.

*Jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade. Autor dos livros “O Mal-Estar na Globalização”,”Satie”, “As Razões do Lobo”, “Escrever com Criatividade”, “O Diabo na Mídia” e “Histórias sem Salvaguardas


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Esquire mostra como ficarão algumas cidades quando, ou se, a temperatura média do planeta subir entre 2 a 4 graus Celsius

Como ficará a Candelária, no Rio, quando a temperatura média do planeta subir 2 graus Celsius em relação ao que é hoje. Imagem: Climate Central Org

Londres, quando o planeta ficar 2 graus Celsius mais quente. Imagem: Climate Central Org
O relatório da COP-21, que será votado daqui a pouco, em Paris, poderá, provavelmente, limitar o aumento da temperatura média do planeta em até 2 graus Celsius até o fim do século. Mas nem isso está garantido. Para a maioria das corporações - e estas controlam a maioria dos governos -, o lucro imediato é mais importante do que o meio ambiente de amanhã. O caso Mariana é exemplar e não é uma exceção. O debate ecológico é suplantado pelas bancadas que representam empresas e a legislação protecionista não avança e em muitos pontos, como o do Código Florestal brasileiro, recua e abre espaço à exploração predatória. Falta de visão, preconceitos e, principalmente, corrupção, muita corrupção, aqui e lá fora, dificultam a luta pela preservação da natureza (vejam o caso da falsificação de equipamento de controle de emissão de poluentes em automóveis) movem tais interesses.
Há até falsos estudos científicos "encomendados" que tentam "provar" que o aquecimento global é ficção, apesar dos números e das pesquisas comparativas realizadas por instituições respeitáveis e não ligadas as corporações em dezenas de países.
No site da Esquire, pode-se acessar uma matéria que ilustra que aconteceria em algumas grandes cidades se, ou quando, o aumento da temperatura média ambiente alcançar de 2 a 4 graus Celsius em relação a hoje. Há cidades em regiões baixas - a Holanda é uma dessas - e ilhas que sofrerão os efeitos com apenas mais 1 grau Celsius de aquecimento. Só isso mostra que o tempo para o mundo frear o desastre está acabando. E não significa apenas inundação em certas regiões: nesse nível de aquecimento o homem perderá inteiramente o controle sobre o meio ambiente. Desde o  século 19, a temperatura média subiu mais de 1 grau Celsius no planeta. Os cientistas alertam que a progressão é, agora, mais acelerada. O mundo, hoje, registra uma média de 14 graus Celsius. A Esquire demostra o que acontecerá quando a média alcançar entre 16 e 18 graus Celsius.
Veja outras fotos, clique AQUI

ATUALIZAÇÃO - O rascunho do texto final para o acordo climático global chegou há poucos minutos ao delegados de 196 países. O documento, que será votado em poucas horas, confirma a proposta de limitar em até 2 graus Celsius o aumento da temperatura média do planeta. O documento fixa esse teto mas "aspira" que o aquecimento global não avance mais do que 1,5 grau Celsius até 2.099.

Memórias da redação: Em 1953, o cronista Henrique Pongetti descreveu na Manchete o Brasil de hoje. É só trocar os nomes ao gosto do leitor... Tem até síndrome de submissão ao tarado da política...

por Henrique Pongetti (crônica publicada na Manchete N° 50, em 28 de março de 1953)

O TARADO MUNICIPAL

Os políticos ainda não se refizeram do susto. Uns estão mantendo o coração com coramina, outros freiam os nervos com belergal. Todos porém ainda acordam de madrugada gritando: "lá vem o Jânio!" E não dormem mais com medo de sonhar outra vez com o tarado de São Paulo.
Jânio é o tarado político de São Paulo. Roubou o eleitorado de sete partidos e deixou os respectivos chefes porejando importância na sede do PTB, do PSD ou da UDN sem ter um frouxo de riso. Pastores sem rebanho, condutores de almas do outro mundo, malucos com mania de grandeza. O meu barbeiro falou-me nêles às gargalhadas e me fez sangrar o pescoço quando caçava um pêlo, escanhoando. Pensei que fôsse o começo de um Termidor, mas a presteza com que a pedra hume chegou ao poro restitui-me a confiança. Não tive outro remédio senão aderir às gargalhadas pró-Jânio como se adere a uma velha anedota servida de escabeche por um superior hierárquico.
"Lá vem o Jânio"! Eu ligo o fenômeno Jânio ao linchamento de Teófilo Otoni. O povo está começando a se dirigir, cansado de enfiar-se na mão de dirigentes para ser extraviado. Eu aposto que se nas próximas eleições se apresentar um "chauffeur" ou um ciclista de reputação ilibada e de boa "papa" - o povo lhe entregará o volante ou o guidão do Brasil.
Qualquer um serve, menos os que estão. Jânio encarna êsse "slogan" amargo e revelador.
Mais cômica que a descoberta dos chefões nus no capinzal deserto foi a dramaticidade com que êles reapareceram, vestidos, na sede dos seus ex-feudos monogramados... Pareciam querer convocar o povo todo de S. Paulo para obrigá-lo a dar satisfações. Disse-me um repórter dos mais lúcidos: "Conversei com quase todos e fiquei de coração apertado. Os homens riem amarelo como reis depostos sem derramamento de sangue nem "back-ground" histórico - com um simples pontapé na parte mais familiar ao trono. Alguns quiserem demonstrar "fair-play", passada a irritação, e derem recibo da derrota. Mas tudo saiu com um ar suspeito de adesão, de submissão ao tarado municipal. Sobretudo um me comoveu. O inconformável passeava de um lado para o outro na sala cheia de fotografias ampliadas de antigos e gloriosos comícios, gemendo como um marido abandonado: "Como é que êles foram me fazer isso! Oh, meu Deus, como foi?..." E de vez em quando entreabia a janela com cautela e espiava amedrontado o povo na  praça como se esperasse receber um tiro, um tomate ou uma cusparada".
- "Lá vem o Jânio!"
Que será de Jânio? No Brasil, o melhor modo de acabar com um ídolo do povo e colocá-lo no govêrno. Se o santo não se corrompe com a safadeza ambiente, mesológica, deixa a auréola nos espinhos do caminho e a articulação das pernas nas cascas de banana. Antes, os morcegos puxam-lhe o sangue, depois as piranhas o devoram.
É só questão de tempo, de pouco tempo, o tempo que João Ninguém espera para ver o feijão descer de preço e a alfândega dos Rio Grande do Sul não receber mais os automóveis que a do Rio de Janeiro deixou de receber por um capricho folclórico do Cexim mais de rancheira do que de samba.
- "Lá vem o Jânio!"
Depois, o Jânio pirará e cairá no esquecimento.
De Jânio em Jânio os povos alcançam sua madureza e seu lugar ao sol.
De Jânio em Jânio, as galinhas enchem o papo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Pamela Anderson: a última estrela da Playboy americana



por Clara S. Britto
Chegou às bancas, nos Estados Unidos, a última edição da Playboy com nudez. Na capa, a atriz Pamela Anderson. Com isso, fecha-se um ciclo que começou em 1953, com Marilyn Monroe na capa. Em mais de seis décadas, a revista focalizou estrelas de Hollywood como Ursula Andress, Raquel Welch, Denise Richards, Jayne Mansfield, Bo Derek, Kim Basinger, Daryl Hannah, Farrah Fawcett, Sharon Stone e Charlize Theron.

A história faz justiça...

por Clara S. Britto
Ontem, Dia Internacional dos Direitos Humanos, a UFRJ revogou o título de Doutor Honoris Causa concedido ao ditador Garrastazu Médici em 1972, quando era reitor uma figura chamada Jair Menezes. A cassação foi aprovada pelo Conselho Universitário da entidade e resultou de uma promessa feita pelo atual reitor, Roberto Leher, logo ao assumir o cargo. Para marcar a anulação da homenagem ao ditador, estudantes pintaram rostos de vermelho e preto para lembrar os assassinatos e desaparecimentos de pessoas ligadas à universidade. Entre eles, estão os estudantes Mário Prata, da faculdade de Engenharia; Stuart Angel, da faculdade de Economia; e o professor Lincoln Bicalho Roque, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Segundo a relatora da Comissão de Memória e Verdade na UFRJ, a professora Lilia Pougy, pelo menos 26 alunos ou professores morreram ou desapareceram somente sob a gestão de Médici.
Em todo o Brasil, já ocorreram atos semelhantes por iniciativa de estudantes, como mudança de nomes de colégios que homenageavam ditadores. O objetivo não é apagar seus nomes da história, até porque os crimes não devem ser esquecidos, mas cancelar as homenagens em nome e honra das vítimas. Falta muito ainda:os nomes do tais elementos figuram e pontes, ruas, viadutos e até cidades.

Polícia começa a caçar grupos racistas. Alguns já amarelaram e abriram o bico sobre as quadrilhas que atuam na internet.

A simpatia de Maju. Foto TV Globo/Divulgação
O charme de Taís Araújo. Foto; Reprodução
O sorriso de Sheron Menezzes. Foto TV Globo/Divulgação
por Flávio Sépia
O Ministério Público de São Paulo deflagrou operação para recolher computadores, celulares e outras e provas de crimes de racismo contra a jornalista Maria Julia Coutinho, a Maju, do Jornal Nacional.
Em outros estados ocorrem diligências semelhantes. Finalmente, as autoridades acordam e efetivamente partem para engaiolar os racistas. Racismo é crime mas até aqui os racistas levavam boa vida já que, para muitos, os casos de intolerância resultavam apenas em "medidas educativas', que equivalem a impunidade, e, às vezes, nem isso. Alguns suspeitos já levaram um gancho e foram conduzidos para abrir o bico. Após a conclusão dos inquéritos, espera-se que a Justiça leve a sério o crime desses anormais. Durante os depoimentos, alguns desses criminosos, que parecem destemidos no Facebook, amarelaram e, suspeita-se, segundo testemunhas do odor, sujaram as calças. Cachorro latindo, criança chorando, vagabundo vazando, como dizem os homens de preto. Alguns racistas apagaram seus perfis, inclusive as contas falsas que criaram. Além de racistas, são ignorantes: apagar perfil não impede a exata localização do autor. O MP também avalia que há formação de quadrilha entre os racistas já que foram detectados grupos e gangues do gênero. Os últimos e mais notórios casos tiveram como vítimas Maju, Taís Araújo e Sheron Menezzes. Todas as vítimas merecem igual tratamento ao encaminhar suas denúncias. Mas que bom que a fama das três amplia o alcance dessas denúncias. Quando aos criminosos, ponto 1: fica óbvio que os racistas são agressivos, intolerantes e podem ser capazes de atos mais graves para externar o ódio aos negros. Ponto 2: e, é claro, não gostam de mulheres bonitas. Eu, hein?

Formou! A República está virando novela mexicana... Depois da carta de Temer, Kátia Abreu ganha medalha por lançamento de vinho a curta distância


Memes do conflito bombaram nas redes sociais como se vê nas reproduções acima. Kátia Abreu ganhou elogios das mulheres e agora está cotada para participar da Rio 2016 na modalidade lançamento de peso. 
por Omelete
Primeiro, o vice escreve uma carta de desamor e vai discutir a relação com a presidente. Poderiam aproveitar, dar uma passadinha no Mc Donalds, ver um show da Anitta, descer a rampa de skate, mandar uma carinhas alegres no whatsapp como galera jovem e desamadurecida que são. Em seguida, o país mal tinha se recuperado desse capitulo escrito por Glória Magadan e surge a informação de altíssimo nível de que Zé Serra havia vacilado diante de Kátia Abreu, a ministra da Agricultura, e levado uma invertida espetacular na forma de alvo de lançamento de vinho a curta distância. Se Temer se desmanchou em lamúrias por não ter sido convidado para ver Joe Biden de perto e ficou magoado por Dilma ter tirado o salário do chapa Moreira Franco, Serra pagou um mico monumental ao se aproximar da ministra  - durante um jantar de confraternização na casa do senador Eunício Oliveira (PMDB) em torno do escrevinhador de cartas Michel Temer - e abrir o momento de beija-mão com uma frase-desastre:
- "O que tenho ouvido falar é que você tem fama de ser muito namoradeira" - mandou o tucano.
Coube ao presidente do Senado, Renan Calheiros, pronunciar uma questão de ordem:
- "Senador, a ministra Kátia casou-se há pouco tempo..."
Não rolou a paz, apesar do esforço de Renan. Kátia subiu nas tamancas ministeriais e fez um aparte não-autorizado:
- "Me respeite que sou uma mulher casada e, mesmo quando solteira, ao contrário de você, nunca traí".
Ato contínuo, como delegados costumam inserir em relatórios sobre cenas de crime, Kátia Abreu jogou vinho nas asas do tucano. Um dia depois da mancada serrista, a ministra ainda estava inconformada e comentava nas redes sociais que as mulheres sabem muito bem o significado da expressão "namoradeira".
Quanto a Serra, o Globo publica hoje fotos de uma reunião de pauta do golpe promovida pelo PSDB e, na imagem, o Zé parece de pilha fraca, com uma expressão de ausência que lembra Mr. Magoo (veja no detalhe reproduzido ao lado). Sei não, o episódio deixou sequelas no tucano. Tanto que ele dá a impressão de que nem mesmo o assunto mais empolgante da reunião, uma espécie de chá-de-panela da derrubada de Dilma, o motiva após a ressaca moral pós-Kátia Abreu. E olha que, aparentemente, não foi servido vinho durante o convescote golpista dos tucanos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Memórias da redação: um UFO pousou na redação da Manchete...

por José Esmeraldo Gonçalves 
A mensagem acima foi enviada hoje ao endereço do blog, mas remete a um outro tempo, rua e número  (Anos 70, Rua do Russell 804). No email, João Resende, jornalista que trabalhou na Manchete, avisa da morte de Gastão René Friedman, tradutor de alemão (na época, a Manchete tinha os direitos da semanal Der Spiegel), que viveu os dias ora leves, ora tumultuados, sempre imprevisíveis, na redação da revista carro-chefe da Bloch. A Der Spiegel publicava verdadeiros calhamaços, os textos de capa às vezes chegavam a 50 laudas. Para editar as matérias, os redatores precisavam contar com a colaboração de tradutores de alemão. Cesarion Praxedes, então repórter, indicou um tradutor para trabalhar, fixo, na redação e assim resolver de vez o problema. Só que o novo funcionário chegou, sentou-se à mesa que lhe apontaram, em um discreto canto da sala, sem que o Cesarion lembrasse de apresentá-lo à equipe. O misterioso-suposto-novo-funcionário foi lá ficando, não era de falar muito, lia jornais, revistas, às vezes um livro, meio absorto, não chamava atenção. Até porque a redação não tinha a menor ideia do que ele fazia ali. Talvez o pessoal achasse que era alguém convocado por Adolpho Bloch. Passaram-se algumas semanas e ele lá, firme. Até que um dia, Flavio Costa, chefe de reportagem, não aguentou mais a curiosidade e indagou:
- "O que é que esse UFO está fazendo aqui"?
UFO, em foto dos anos 70, em frente
ao antigo prédio da Manchete.
Assim, Gastão René Friedman ganhou um apelido e deixou a "clandestinidade". O diretor da revista logo lhe passou textos para traduzir e até o DP o procurou para finalmente deslanchar a burocracia da contratação. Alberto Carvalho, secretário de redação, se encarregou de apresentá-lo aos colegas:
- "Este é o UFO, nosso tradutor de alemão", dizia, já incorporando o apelido.
UFO respondia:
- "Prazer, Gastão Friedman", em vão, o pessoal já havia gravado e sacramentado o UFO.
Aquele Friedman passou anos na Bloch e talvez a maioria dos colegas jamais tenha desconfiado de que se chamava, na verdade, Gastão, René e, ainda mais, Friedman. UFO tornou-se o nome dele. Quando Cesarion Praxedes foi convidado para trabalhar na assessoria de imprensa da Nuclebrás não demorou a levar o UFO. O Brasil havia assinado o acordo nuclear com a Alemanha para a construção de Angra 1 e o tradutor da Der Spiegel passou a fazer a dublagem para português da papelada alemã. Dizem - pode ser lenda - que UFO traduziu os manuais da usina. O pessoal da Manchete, ao saber disso - ou criar a versão, sempre melhor do que o fato - brincava: - "Vai dar merda". UFO, que de desligado só tinha o jeitão, era atento e organizadíssimo, como lembra João Resende, se divertia com a história e dizia para a turma não se preocupar porque as máquinas não estavam funcionando... - "Ainda", completava e, como bom UFO, deixava um mistério quanto ao futuro da usina segundo suas traduzidas instruções..
Bom, Angra 1 está aí até hoje, vai que o manual do UFO, o único apelido que deve ser escrito obrigatoriamente em maiúsculas, estava certo. Que ele tenha decolado em paz.  

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Deu no Daily News: universitários posam para calendário em benefício de agricultores e animais atingidos pela seca


por Omelete
Já é uma tradição. Alunos do curso de veterinária da universidade de Camden, em Sidney, na Austrália, posam para um calendário beneficente. Nicola Bodle, artista responsável pelo ensaio, disfarça a nudez dos estudantes usando estetoscópios, bolas de tênis e até um cachorro estrategicamente colocado. A renda obtida com a venda do calendário irá para uma ONG que apoia agricultores e animais atingidos por uma devastadora seca que afeta o país.


Jornalismo em crise, em vias de se tornar "decorativo", não manda carta para os leitores que o abandonam mas ganha um livro em que profissionais discutem a crise dos veículos impressos

por Clara S. Britto
Se o jornalismo fosse Michel Temer, já estaria escrevendo uma carta chorosa para os seus leitores e anunciantes. "Por que vocês não me convidam mais para suas casas?" "Por que não anunciam mais nas minhas páginas?" Isso, claro, porque a crise está braba. Com essa ideia na cabeça e o drama nas redações, um grupo de jornalistas de Florianópolis liderados pelo professor Rogério Christofoletti lança pela Editor Insular o livro “Questões para um jornalismo em crise”. São 13 artigos escritos por mestrandos e doutorandos em Pós-Graduação em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina abordando temas como convergência dos meios, redes sociais, novas audiências etc.
O livro é bem-vindo em meio à grande discussão sobre o novo modelo de jornalismo e o fim de veículos impresso. Discussão, aliás, que acontece no mundo inteiro.
No Brasil, o jornalismo está, na verdade, vivendo três crises simultâneas que vão muito além de elaboradas questões sobre a forma: o avanço dos meios digitais frente aos meios impressos; o momento econômico: e, principalmente, uma crise de conteúdo provocada pela politização partidária que compromete ainda mais o já frágil grau de isenção praticado pela mídia comercial brasileira. Como mostram as pesquisas, cerca metade dos leitores dos desconfia do que lê. Tudo indica que a análise de questões como queda nas tiragens dos meios impressos, redução das verbas publicitárias, demissões e fechamento de jornais e revistas deve ser aprofundada. É preciso aferir porque o leitor demonstra um claro alheamento diante do que a grande mídia vem lhe oferecendo. Será o discurso monocórdico, o pensamento único como resultado da concentração empresarial dos meios? Diz-se que o país está dividido, rachado, como mostrou a última eleição presidencial e que a grande mídia estaria "falando" apenas para metade do universo de leitores. Pode ser. Mas o fato é que, mais do que a forma, jornalismo é conteúdo. E conteúdo relevante para quem o consome. Não será esse o elemento em falta?

Temer: a carta que entrou para a história... da piada. O vice-presidente que denunciou que sofreu bullying de Dilma agora agora é 'zuado' nas redes sociais.






Boneco decorativo para o hall do Alvorada


por Omelete
O vice-presidente Michel Temer escreveu a carta mais piegas da história. Parece desabafo de adolescente que não descolou um par para a festa de formatura ou o funcionário que não foi convidado para o Natal da firma. As redes sociais não perdoaram. Não fica claro porque ele, tão maltratado, não largou o barco antes. Nem perderia o emprego, era só ficar quieto no banco dos reservas. Talvez não tenha chutado o balde porque o PMDB, desde os primórdios, é um partido que não fica em cima do muro: ele bota um pé de um lado e deixa o outro pé do outro. Assim, na hora certa, muda para o lado vencedor. Mas só na hora certa. Entregar os cargos, nem pensar. Desde que Sarney herdou a presidência de Tancredo, o-que-foi-sem-nunca-ter-sido depois de "eleito" pelo colégio eleitoral da ditadura, o PMDB não saiu mais do "puder" embora o povo, no voto, jamais tenha colocado um político do partido no Palácio do Planalto. Mas os seus caciques sabem jogar o jogo. Se Dilma cair, parte do PMDB está apoiando o impeachment; se Dilma não cair, parte do PMDB está apoiando a presidente. Após o desfecho, todos voltam a se juntar no lado certo, com os cargos certos. Simples. Temer deve ter pensado que estava escrevendo uma dramática e histórica carta. Estava. Uma carta para a história do humor. Daí, ele está sofrendo bullying nas redes sociais. Uns acham apenas engraçada a missiva, outros uma trairagem na hora em que a canoa está furando. Temer esqueceu que a galera não perdoa.
A favor dele: se Getúlio Vargas escrevesse hoje a carta-testamento também seria 'zuado' on line em tempo real. Talvez  até desistisse de se suicidar e mandasse uns twitters e uns comentários no face antes de dormir mandando Lacerda pra pqp.
E carta? Quem ainda escreve carta? Temer poderia ter mandado apenas um whatsapp: "Dilma, cansei, tô fora". Ou, melhor ainda, apenas bloqueava a presidente no Facebook e deixava de segui-la no Twitter e no Instagram.