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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

James Dean e a maldição da Porsche

Por ROBERTO MUGGIATI

James Dean ao lado do Silver Porsche 550 Spyder, o "Bastardinho".. 

James Dean com o mecânico Rolf Wutherich, que sobreviveu ao acidente. 

O "Bastardinho" destruído, em 30 de setembro de 1955.

O Ford 1950, de Donald Turnupseed, que se chocou com o Porsche. 
Falei da Porsche de Janis, agora vou falar da Porsche de James Dean – o carro que ele batizou de “Little Bastard” (“Bastardinho”) e que o levou para a morte há 60 anos. A Porsche prateada Spyder era um modelo raro: só existiam 90 exemplares em 1955. Dean vinha se celebrizando como piloto de provas com carros-esporte e dirigia muito bem: não é verdade que viajava em velocidade excessiva quando sofreu o acidente fatal numa estrada da Califórnia. Foi o outro motorista, um caipira chamado Donald Turnupseed, quem atravessou  seu  Ford 1950 na frente do Spyder.
O Porsche de Dean não teve a mesma sorte do Porsche de Janis, arrematado por 1,7 milhões de dólares num leilão em Nova York na semana passada. Ele simplesmente sumiu do mapa. Antes, andou causando algumas confusões que lhe deram a fama de objeto maldito. Depois do desastre, George Barris – um mestre na customização de carros – comprou os destroços por 2.500 dólares. Quando a carcaça distorcida chegou à garagem de Barris, o Porsche deslizou e caiu sobre um dos mecânicos que o descarregavam, quebrando suas pernas.
Barris começou a desconfiar do carro, mas suas piores suspeitas foram confirmadas numa corrida no autódromo de Pomona em outubro de 1956 – um ano depois da morte de Dean. Dois médicos corriam em carros com partes do “Bastardinho”. Troy McHenry, que tivera o motor do Porsche transplantado em seu carro, morreu ao perder o controle da direção e bater numa árvore. William Eschrid capotou e sofreu ferimentos graves. Sobreviveu para contar que o carro travou subitamente quando ele fazia uma curva.
A influência maligna do carro continuou depois da corrida. Um garoto que tentava roubar o volante do Porsche escorregou e sofreu um corte profundo no braço. Com relutância, Barris vendeu dois pneus do carro a outro jovem. Uma semana depois, o homem quase morreu num acidente quando os dois pneus estouraram ao mesmo tempo.
Está parecendo aquele carro do filme baseado no livro de Stephen King, Christine, o carro assassino, não acham? Pois a novela continua. Barris tentou regenerar o Porsche azarado e dar-lhe um destino mais nobre. Alugou o veículo destroçado para uma turnê patrocinada pela Patrulha Rodoviária da Califórnia, a fim de alertar para a segurança nas estradas. Em poucos dias, a garagem que abrigava o Spyder foi totalmente destruída num incêndio: de todos os carros lá guardados, sobrou apenas o “Bastardinho”. Calma, minha gente, tem mais: quando foi exibido em Sacramento, o carro caiu da sua vitrina e quebrou os quadris de um adolescente; George Barkuis, motorista que dirigia um caminhão-reboque levando o Porsche, morreu num acidente de estrada, esmagado pelo “Bastardinho”.
Ferdinand Porsche no seu Lohner Porsche

O atentado ao Arquiduque Franz Ferdinand, assassinado a bordo
de uma...


... limusine Graf Stift, que teria fornecido peças para os primeiros Porsches

As desgraças provocadas pelo Porsche só acabaram em 1960. Depois de se exibir numa mostra em Miami, Flórida, os destroços do Spyder seguiram de caminhão para Los Angeles e sumiram numa curva do tempo até hoje não encontrada. Nunca mais se soube nada do “Bastardinho”.
Especialistas em fantasmagoria automotiva elaboraram uma curiosa tese para explicar a malignidade do Porsche. Os primeiros modelos da marca Porsche, fabricados em 1939, teriam usado partes do ferro velho do carro em que o Arquiduque Franz Ferdinand foi assassinado com a mulher em Sarajevo em 1914, episódio que deu origem à Primeira Guerra Mundial. O próprio Ferdinand Porsche – designer do Volkswagen e do Porsche – quando prestou serviço militar, em 1902, foi motorista do Arquiduque do Império Austro-Húngaro. Porsche, Franz Ferdinand (hoje é nome de banda de rock escocesa), James Dean – afinidades eletivas, ligações perigosas que levam muita a gente a acreditar que as máquinas tenham alma, e às vezes possam ser mortalmente malignas.
Sources:
AMC's Hollywood Ghost Stories television special