segunda-feira, 19 de abril de 2021
domingo, 18 de abril de 2021
Caso Henry: o Pequeno Polegar
| Reprodução |
O chamado caso Henry está documentado em fotos, mensagens e vídeos.
Talvez uma dos mais comoventes entre as peças reunidas pela polícia seja um pequeno filme de celular, feito pela babá, que mostra o menino caminhando no corredor do apartamento. O vídeo foi enviado para a mãe da pequena vítima e o objetivo era atestar que ele sofrera violência por parte do padrasto. Henry mancava, impressiona ver a fragilidade da criança.
Presos, os suspeitos - o casal Jairo de Souza Santos Júnior, vulgo Dr. Jairinho, e Monique Medeiros da Costa e Silva, a mãe de Henry - posaram para a foto oficial de acusados. Nos Estados Unidos, esse tipo de pose para os arquivos policiais chama-se mugshot. Aqui, é "boneco". A mídia divulgou as fotos de Jairo e Monique diante do tradicional painel métrico. A imagem revela um dado curioso. O vereador mede 1,90 e mãe de Henry 1,80. Segundo testemunhas, Henry era vítima constante de violências. Vivia assustado. Imagina-se o grau de intimidação que sofria. O menino tinha 1,15 de altura e pesava 25 kg.
Entende-se porque ele enviou tantos e repetidamente ignorados os pedidos de socorro.
Seu pesadelo era a "terra dos gigantes".
Quem não leu Charles Perrault e seu Le Petit Poucet? No conto, um menino chamado Pequeno Polegar luta para sobreviver a ogros terríveis.
A diferença é que Perrault deu ao seu conto o final feliz que Henry não teve.
Fotomemória da redação - Félix, o papel do goleiro do Fluminense
por Guina Araújo Ramos (do blog Bonecos da História)
Continuando a modesta série de jogadores que fotografei durante treinos de time de futebol – que não são muitos, não me preocupei em guardar este tipo de material, que o grau de informalidade era muito grande, sem uniformes oficiais etc –, trago um registro feito no estádio do Fluminense, no bairro das Laranjeiras.
Trata-se do goleiro Félix, apelidado de Papel (pela magreza), campeão mundial em 1970. Só que, à época, não mais atuando como goleiro profissional, mas na função de treinador de goleiros do Fluminense.
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| Félix no Fluminense - Rio, 1979. Foto Guina Araújo Ramos |
Após longa carreira na Portuguesa de Desportos, Félix foi contratado em 1968 pelo Fluminense, e daí convocado para a seleção que disputou (e ganhou) a Copa do Mundo de 1970. Apesar de muita vezes criticado, Félix viveu, no correr da década, a melhor fase da sua carreira, como participante da “Máquina Tricolor” que ganhou cinco campeonatos cariocas e o brasileiro de 1970.
Voltando para São Paulo, Félix continuou próximo ao futebol, dirigindo alguns times e coordenando escolinhas. Faleceu em agosto de 2012, em São Paulo.
A matéria é do meu tempo de colaborador eventual da Manchete Esportiva (que fotografar esporte não era o meu forte...), acredito que de 1979, só não tenho como pesquisar.
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| Félix no treino, Rio,. 1979. Foto de Guina Araújo Ramos |
Certamente era daquelas matérias que fazem um balanço da situação do jogador, agora uma pessoa “normal”. Mostrava que Félix se mantinha no futebol, agora deslocado para a função de treinar outros goleiros. Embora seja uma atividade que tinha tudo a ver com a sua experiência, não creio que a cumprisse com tanto prazer assim, e creio que é o que as fotos parecem demonstrar.
Importante mesmo é relembrar o goleiro Félix, grande profissional que, acima de tudo, e com fundamental atuação, fez parte da equipe mais admirada do futebol brasileiro, o do tricampeonato, na Copa de 1970, no México.
Deste grande feito fui mero telespectador... Passo então a bola ao coleguinha José Esmeraldo Gonçalves, que resumiu muito bem a trajetória de Félix em texto no “Blog que virou Manchete”, ilustrado pela “Edição Histórica da Manchete - Copa 70 - A Glória do Tri”, com fotos de Jáder Neves e Orlando Abrunhosa, e texto de Ney Bianchi.
Visite o blog Bonecos da História, clique AQUI
Na capa da Time:
Na quarta-feira, 21 e quinta, 22, líderes mundiais se reunirão virtualmente para discutir o futuro do planeta. É a Cúpula do Clima. O Brasil vai participar. Espera-se mais um vexame. O governo Bolsonaro levará para a conferência sua política ambiental declaradamente ditadas por madeireiros, garimpeiros, latifúndios, pecuaristas e ocupantes ilegais de terras públicas e reservas. E, como último fato, o afastamento do delegado da PF que emitiu notícia-crime conta o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
A Time levanta um debate mundial, que vai além do desvario brasileiro. Os governos estão longe de cumprir as metas de controle das emissões de carbono e do aquecimento global. A revista defende que a pandemia deve ter como consequência mudanças de paradigmas rumo a um mundo menos hostil à natureza e mais amigável com a única "casa" que a humanidade possui: o planeta.
sábado, 17 de abril de 2021
sexta-feira, 16 de abril de 2021
Quando as linhas do tempo se cruzam • Por Roberto Muggiati
World Press Photo 2021 - Deu Brasil na cabeça - O país das tragédias inspira os fotojornalistas vencedores
| Um voluntário procura focos sob uma ponte. Foto de Lalo de Almeida/Folha de São Paulo/ Panos Pictures |
| A dramática luta contra o fogo. Foto de Lalo de Almeida/Folha de São Paulo/Panos Pictures |
O fotojornalista brasileiro Lalo de Almeida ganhou o primeiro lugar na categoria Série Meio Ambiente do World Press Photo 2021. Ele fotografou para a Folha de São Paulo e Panos Pictures a devastação no Pantanal. Queimadas fora de controle, o clima de impunidade estimulado pela política antiambientalista do governo Jair Bolsonaro e o período de estiagem local foram o combustível para a destruição. O quadro final: milhares de animas mortos, um dos mais importante biomas do planeta em cinzas e cerca de 160 mil quilômetros consumidos pelo fogo, um terço do Pantanal. A série de Lalo de Almeida denuncia mais essa tragédia brasileira. Com o mundo ainda chocado pelo desmatamento da Amazônia, o Brasil ofereceu ao planeta esse novo trauma. Segundo investigações da Polícia Federal, os incêndios foram provocados por empresários do agronegócio até agora impunes
| O abraço resgatado ganhou prêmio principal do WPP 2021. Foto de Mads Niessen/Politiken |
Outra tragédia, essa global, foi o campo de inspiração para o vencedor do prêmio principal do World Press Photo 2021, o fotojornalista Mads Niessen. Mas o Brasil, mais uma vez, é protagonista. E, de novo, em uma calamidade que, pelas proporções dramáticas que alcançou aqui, tem as digitais criminosas de Jair Bolsonaro. Niessen fotografou a cena comovente para o jornal Politiken. Na imagem, Rosa Lunardi, 85 anos, é abraçada pela enfermeiro Adriana Souza, no lar Viva Bem, em São Paulo. Empatia, solidariedade, compreensão e compaixão. Tudo aí. O abraço, o primeiro em cinco meses que a idosa recebeu, foi possível graças a cuidados especiais. Ela envolve a enfermeira que, além da máscara, veste uma proteção de plástico que casualmente ganha forma de de asas de anjo.
Ambos os fotojornalistas cumpriram a função diante dos fatos. Levá-los além da notícia, traduzir dramas em imagens e, ao mesmo tempo, lançar uma mensagem ao mundo.
O Brasil é que não se sai bem nas fotos. Assim como a destruição programada do meio ambiente, a Covid 19 é potencializada aqui pelo negacionismo do sociopata que governa o país.
NO SITE DO WORLD PRESS PHOTO, FOTOS DOD VENCEDORES EM TODAS AS CATEGORIAS AQUI
quinta-feira, 15 de abril de 2021
quarta-feira, 14 de abril de 2021
Fotografia - Como uma onda
| Foto de Affonso Dalle/Divulgação |
por Niko Bolontrin
A dica é de um leitor. Veja essa foto da famosa (para os surfistas) "laje de Ipanema". É do fotógrafo especialista Affonso Dalle, capturada hoje. O surfista na "remada" é o Tiaguinho Arraes. No Instagram está postada uma sequência da série. E o site do Globo publica outras. AQUI
Já viu e ouviu a última do Lennon? Tem clipe novo na área...
por Ed Sá
Nunca antes visto. A mídia digital não fala em outra coisa hoje. Em 1969, JohnLennon e Yoko Ono ensaiam “Give Peace a Chance”, antes do lançamento oficial. O vídeo acaba de vir a público. Foi gravado pelo cinegrafista Nic Knowland e pelo técnico de som Mike Lax e mostra Lennon e Ono executando uma versão demo improvisada da música em seu quarto no Sheraton Oceanus Hotel nas Bahamas. O vídeo é a primeira gravação até agora conhecida da melodia de "Give Peace a Chance". É também uma bed in do casal no sofá. Eles estavam nas Bahamas por causa da condenação de Lennon em um processo por porte de cannabis nos EUA. É simplesmente a primeira apresentação da icônica canção. São quase três minutos de imagens, som e irreverências. Tem uns toques caseiros, Lennon improvisa. Yoko ri. Estavam casados apenas há dois meses e tudo isso aconteceu depois do famoso bed in do Hilton em Amsterdam. A gravação oficial de "Give Peace a Chance" aconteceu em Montreal, depois desse ensaio informal das Bahamas. Recém-descoberto, a demo foi restaurada em 5K
Em 2018, um engenheiro de som encontrou em uma caixa com rótulo errado outra gravação inédita da mesma música, mas apenas áudio.
Essa versão "tosca" e histórica revelada agora, supervisionada por Yoko Ono, faz parte da comemoração dos 50 anos do álbum John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que será lançado no dia 23 de abril.
VEJA O VÍDEO INÉDITO DE "GIVE PEACE A CHANCE" AQUI
Fotografia - Deu match! O beijo antes da cúpula
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| A bitoca política de Leonid Brejnev e Erich Honeker em Berlim, 1979. Foto de Régis Bossu/Leicastore/Frankfurt |
por José Esmeraldo Gonçalves
Ontem O Globo fez um seleção de fotos célebres de beijos. Não foi um desafio às normas anti-Covid, mas a comemoração do Dia do Beijo (13/4). A edição estava impecável. Faltou apenas uma bitoca histórica (bitoca que, na verdade, aparenta ser um tremendo chupão).
Em 30 de outubro de 1979, o fotógrafo francês Régis Bossu cobria a comemoração dos 30 anos da DDR (República Democrática Alemã). Em meio a festividades e desfiles, ele foi escalado para o encontro formal de cúpula entre Leonid Brejnev, da União Soviética, e Erich Honecker, da então Alemanha Oriental.
Bossu era freelancer da Sygma, agência francesa de fotografia que foi parceira da Manchete durante vinte anos. Ele usou uma Leica. A imagem original está hoje na galeria da fabricante de câmeras, em Frankfurt.
Naquele dia, após os discursos, o líder soviético deu um ligeiro puxão no colega alemão. O que inicialmente parecia um convite para uma conversa ao pé do ouvido virou uma beijoca de cinco segundos. Havia um batalhão de fotógrafos na sala, mas o melhor ângulo e a imagem precisa que se espalhou pelo mundo - viralizou, como se diz hoje - foram do francês. Muitos jornais e revistas reproduziram a foto cortando-a para um close do beijo, afinal era a razão da repercussão global da cena.
Acima, está a foto completa com os papagaios de pirata divididos entre indiferentes e voyeurs.
A tradição explica a iniciativa de Brejnev: para os russos o beijo na boca é símbolo de camaradagem e tem origem no "ósculo santo" da Igreja Ortodoxa representando a irmandade entre os religiosos. No mesmo ano, Jimmy Carter escapou de beijão de Brejnev oferecendo a outra face, como o New York Times registrou. Nascido na pequena Plains, na Geórgia, filho de fazendeiros batistas, Carter não conseguiria explicar um beijo daqueles no culto dominical; Preferiu declinar.
terça-feira, 13 de abril de 2021
O uso de drones em manifestações artísticas. É a era da tecnoperformance
por Ed Sá
O cinema costuma mostrar os drones como arma infalível para explodir terroristas. Um dos mais conhecidos é Good Kill (Morte Limpa), sobre um piloto que entra em surto ao lutar um tipo de guerra diferente. Ele trabalha na base aérea em Nevada abatendo alvos a 11 mil quilômetros de distância e, ao fim do expediente, volta para a esposa e filhos como se fosse um burocrata comum.
À medida em que a tecnologia se aperfeiçoa surgem as muitas possibilidades de uso dos drones, muito além de entregar pizza, fazer fotografias aéreas e espionar a vizinha ou combater inimigos. E está marcado para amanhã o primeiro voo do drone Ingenuity em Marte. O veículo foi levado pela sonda Perseverance e fará voos exploratórios a baixa altitude sobre a superfície do planeta.
Mas o que os drones estão popularizando são as tecnoperformances, geralmente exibições coreografadas feitas por centenas ou milhares de aparelhos.
Na Itália, em Torino, grafiteiros usaram drones para pintar paredes no alto de prédios. Talvez uma das mais marcantes exibições tenha sido uma tecnoperfomances realizada em Tianjin, na China, há algumas semanas. Durante cerca de 30 minutos 600 drones homenagearam Vincent van Gogh. Entre outras obras do pintor, as luzes dos drones desenharam “A Noite Estrelada”. “Campo de trigo com ciprestes”, "A amoreira no outono", “Autorretrato com Chapéu de Palha” e a série "Girassóis”.
VEJA AQUI
Abril é o mais cruel dos meses • Por Roberto Muggiati
Poesia numa hora destas? Sim, justo agora, o tempo dos assassinos (já proclamava Rimbaud em 1873 no poema Matinée d’Ivresse), o tempo dos genocidas, o tempo dos torturadores de criancinhas, o tempo dos queimadores de livros, o tempo dos toscos que odeiam a cultura e a beleza porque elas expõem a nu toda a sua barbárie e esterilidade.
Esterilidade é o tema do grande poema de T.S. Eliot The Waste Land/A Terra Desolada, publicado há cem anos em outubro de 1922. A genial sentença de abertura, April is the cruellest month, reflete admiravelmente o abril que estamos vivendo hoje. Abaixo, os versos iniciais do poema de Thomas Stearns Eliot (1888-1965) e sua tradução pelo poeta brasileiro Ivan Junqueira (1934-2014).
THE WASTE LAND
1. The Burial of the Dead
April is the cruellest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.
Winter kept us warm, covering
Earth in forgetful snow, feeding
A little life with dried tubers.
A TERRA DESOLADA
1922 (tradução: Ivan Junqueira)
1. O ENTERRO DOS MORTOS
Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
PS • Alguns trechos de Matinée d’Ivresse/Manhã de embriaguez, de Arthur Rimbaud (1854-1891):
“Cela commença sous les rires des enfants, cela finira par eux. (...) Começou pelos risos das crianças, terminará por eles.(...)
Nous savons donner notre vie tout entière tous les jours.
Voici le temps des Assassins.(...)
Sabemos dar nossa vida inteira todos os dias.
Eis o tempo dos Assassinos.
PS –Em 1946, Henry Miller publicou The Time of the Assassins: A Study of Rimbaud. Acabo de ver na Estante Virtual uma tradução portuguesa, O tempo dos assassinos, por R$ 559,89.
segunda-feira, 12 de abril de 2021
De cabeça para baixo: governo do Estado do Rio de Janeiro vira piada
Se até para fazer um cartaz o governo do Estado do Rio de Janeiro mostra incompetência, imaginem como administra o combate à Covid-19. Uma campanha para conscientizar a população sobre a vacinação mostra um "médico" usando uma máscara de maneira errada, com o clipe nasal no queixo quando deveria estar, obviamente, no nariz. A campanha teria custado ao contribuinte 13 milhões de reais. O governo do bolsonarista Cláudio Castro pediu desculpas. Não informou se vai cobrar da agência a devolução da verba. A agência Propeg, por sua vez, divulga que o sujeito que aparece na foto é um médico. Ou seja: quer culpar o "modelo"? Virou piada até no exterior. Mas pode ser uma piada sem qualquer graça. No seu blog, o jornalista Ruben Berta revela que a campanha "Rio abraça a vacina" custou R$ 13 milhões e foi contratada na correria. O governo estadual deu um prazo de dois dias úteis para que empresas interessadas apresentassem suas propostas. A Propeg foi a única agência que concordou topou trabalhar em velocidade The Flash. em realizar o serviço. Leia Ruben Berta AQUI
domingo, 11 de abril de 2021
Os piromaníacos
No ano passado, bolsonaristas promoveram uma queima de livros de Paulo Coelho. Não estavam dando descontos, era fogo mesmo. Talvez por inibição, Bolsonaro e Paulo Guedes evitam a piromania mas atacam igualmente os livros.
Sob o argumento de que quem compra livro são os ricos, a dupla insidiosa ameaça acabar com a isenção de impostos sobre livros. Isso enquanto trabalham para eliminar todas as taxas sobre a venda de armas e perdoam as dívidas da indústria religiosa fundamentalista.
O governo que classifica a Cultura de supérflua pretende impor uma alíquota de 12% sobre as obras. Na prática é como incendiar o setor editorial.
Ao longo da história, os livros e a Cultura em geral são alvos dos regimes autoritários.
"Quando ouço falar em cultura puxo meu revólver". A famosa frase foi atribuída e Goebbels e Goering. Pode ser de qualquer um dos dois. Foi registrada, de fato, pela peça "Schlageter", sobre um sabotador alemão executado na França, escrita pelo nazista Hans Johst.
Tudo a ver.
Exclusivo: Saturday Night Live entrevista o Iceberg que afundou o Titanic
| Entrevistado no programa Saturday Night Live, o Iceberg dá sua versão do naufrágio do Titanic. |
por O.V. Pochê
O Titanic colidiu com um iceberg na noite de 14 de abril de 1912 e afundou na madrugada do dia seguinte. O navio saiu do estaleiro em maio de 1911, há 110 anos. Nos meses seguintes teve seu interior de palácio montado e decorado com as mais ricas peças da época.
Quase tudo já foi contado e filmado sobre o Titanic. Menos o que o Saturday Night Live fez nessa semana comemorativa. O programa entrevistou o único personagem que restava: o Iceberg em pessoa. O indigitado foi recebido, bem a propósito, pelos âncoras Colin Jost e Michael Che. Coube ao ator Bowen Yang interpretar o responsável pela tragédia. "Essa é sempre uma época do ano muito estranha para mim", disse o Iceberg logo após ser apresentado para a plateia. "Você sabe, isso foi há muito tempo atrás, eu tenho refletido muito para tentar superar", completou.
Preocupado com sua imagem, o Iceberg parecia instruído por um marqueteiro. Ele reclamou quando o âncora fez uma pergunta mais comprometedora. Reagiu como uma celebridade incomodada.
- O que você tem a dizer às famílias de todas as pessoas que perderam suas vidas na tragédia? - indagou o apresentador.
- “Ok, não. Essas não são as questões que discutimos ", rebate o Iceberg, dizendo-se disposto a falar sobre qualquer coisa que não fosse o "escândalo" de 1912. "Acho que minha assessoria foi muito clara, não estou aqui para falar sobre o naufrágio. Estou aqui para falar sobre o álbum que estou lançando", diz.
No fim, acaba concordando em falar do naufrágio sob a sua perspectiva.
- Em primeiro lugar, o Titanic foi quem veio onde eu moro e me bateu. Era meia-noite. De repente, metade do meu rabo sumiu. Fui ferido e tudo o que as pessoas falam é que tipo 40 ou 50 pessoas morreram ou algo assim. ”
- “Eram 1.500 pessoas”, ressalta o âncora.
O Iceberg aponta que não foi responsável pela morte de ninguém.
- “Todo mundo está falando sobre mim, ninguém está falando sobre a água. O que disse a autópsia? Eles congelaram? Não, eles se afogaram, porra. Não fui eu, foi a água. Ninguém está cancelando o oceano. Ei, White Star Line, você construiu um barco ruim. Não deu certo. Isso é por sua conta, querida.
Em tempo de pandemia, com assuntos rareando e a mídia falando apenas em Covid e política, pode ser uma boa saída para pauteiros da TV. Em setembro próximo, por exemplo, a queda das Torres Gêmeas completará 20 anos. O ground zero pode ser o entrevistado ou, melhor ainda, os fragmentos dos aviões ou as colunas de aço retorcidas que estão no memorial construído no local.
No Brasil há temas fascinantes a escolher. Entrevistar a barragem de Brumadinho, por exemplo. Ou o viaduto da Av. Paulo de Frontin, no Rio, que desabou em 1971. Ou entrevistar o Bateau Mouche. O barco foi resgatado do fundo do mar, será preciso localizar. Diz-se que está em um cemitério de navios do outro lado da baia da Guanabara. Entrevistar os contêineres do Ninho do Urubu, do Flamengo. Ou, ainda, ouvir Bolsonaro, o responsável pela maior tragédia da história do Brasil.
Caso Henry: e a ajuda não veio
Clara S. Britto
Os educadores mostram como é importante para a criança um contato externo. Alguém a quem ela possa recorrer, buscar conforto e até pedir socorro se for o caso. As estatísticas mostram que os casos de violência e pedofilia têm como agentes, na maioria, parentes da criança, às vezes os próprios pais ou pessoas com acesso à casa, supostamente "de confiança".
O terrível caso do menino Henry, que domina o noticiário, é um exemplo dramático. Ele sinalizou o que estava sofrendo e buscou apoio em uma pessoa próxima em quem confiou: a babá.
Não foi ouvido. A ajuda não chegou a tempo para o menino Henry.
Fica o exemplo no momento em que facções conservadoras e religiosas se unem para impor o homeschooling, o conceito que prega a educação doméstica ou no lar. Há um projeto no Congresso impulsionado principalmente pela bancada fundamentalista. Se aprovado e implantado vai dar aos pais o controvertido direito de retirar as crianças de ambientes coletivos, a escola, especificamente, zerando a socialização dos futuros cidadãos. O sistema vai limitar o convívio. Criar "laboratórios" para gestação de seres individualistas, pouco abertos à diversidade e, em casos específicos, pequenos doutrinados ou pequenas vítimas. Muitos casos de pedofilia, por exemplo, são percebidos por professores que notam mudanças de comportamento nas pequenas vítimas e alertam os pais e até as autoridades, se preciso for. Afastar as crianças da sociedade vai deixá-las mais expostas e vai calar ainda mais seus eventuais pedidos de socorro. Mesmo que os maus pais sejam a exceção, vale a pena protegê-las do risco.



















