domingo, 14 de maio de 2017

Meninos eu vi - Maria Candelaria, o filme que ganhou o Grand Prix no primeiro Festival de Cannes em 1946




por Roberto Muggiati

Quarta-feira, 17 de maio, começa a 70ª edição do Festival de Cinema de Cannes. É bom explicar de saída por que o primeiro da série famosa aconteceu em 1946, mas os 70 anos só acontecem agora, um ano depois do que deveriam.

A edição de 1968 foi cancelada – atingida em cheio pela rebelião estudantil de maio e pela invasão da Cinemateca de Paris por forças policiais.

Outra explicação: o evento de 1946 se chamava Festival du Film de Cannes e concedeu dadivosamente o prêmio máximo, o Grand Prix (a designação Palma de Ouro só surgiria a partir de 1955) a 11 dos 44 filmes inscritos.

Apesar da quantidade de agraciados, a competição foi disputadíssima. O filme mexicano Maria Candelaria ficou entre os eleitos, ao lado de outros dez, como Farrapo humano (Billy Wilder), Roma Cidade Aberta (Roberto Rosselini), Desencanto (David Lean) e Sinfonia pastoral (Jean Dellanoy).
Ficaram de fora, vejam só, diretores da estatura de Alfred Hitchcock (Notorious/Interlúdio), Jean Cocteau (A bela e a fera), Alberto Lattuada (O bandido) e René Clement (A batalha dos trilhos).
Maria Candelaria é um melodrama mexicano de altíssima qualidade. ~

Pedro Armendáriz e Dolores del Rio
Um resumo da ópera: em 1909, pouco antes da Revolução Mexicana, um casal de camponeses de Xochimilco, María Candelaria (Dolores del Río) e Lorenzo Rafael (Pedro Armendáriz) não consegue viver o seu amor em paz. María sofre preconceito por ser filha de uma prostituta e Lorenzo Rafael, um jovem indígena, é hostilizado por amá-la. Nada dá certo para eles. Don Damián, um comerciante ciumento que assedia María, faz tudo para impedir o casamento dela com Lorenzo. Quando María contrai malária, Don Damián se recusa a vender ao casal a quinina necessária para combater a doença. Lorenzo invade o armazém e rouba a quinina e leva também um vestido de noiva para María. É preso e María concorda em posar para um pintor a fim de levantar dinheiro para pagar a fiança do amado. Quando o artista pede a María que pose nua, ela se recusa. Ele termina o quadro usando outra modelo para o corpo nu, mas preservando o rosto de María.

O diretor Emílio Fernandez
Quando a turba odiosa de Xochimilco vê a pintura, acha que María posou nua e a mata a pedradas, numa cena de uma selvageria revoltante.  Vi esse filme na flor dos meus doze anos e fiquei chocado: nunca imaginara que o mundo podia ser tão cruel e injusto.
O filme é em preto-e-branco, com a fotografia magistral de Gabriel Figueroa, que trabalhou em 235 filmes ao longo de cinquenta anos, ao lado de cineastas como Luís Buñuel, John Ford, John Huston e Emilio Fernández, o diretor de María Candelária. No filme anterior que fez com Dolores del Río, Flor silvestre, Fernández a submeteu a uma série de grosserias e humilhações. Só seu alto senso de profissionalismo impediu Dolores de abandonar as filmagens. Secretamente apaixonado pela atriz, Emilio teve uma oportunidade de reconciliação, um almoço com ela na Sexta-feira Santa de 1943, dia do aniversário de Dolores. Enquanto a esperava no restaurante, nervoso, Fernández escreveu o roteiro de um filme em treze guardanapos. O escritor David Ramón conta, em sua biografia da atriz:

Gabriel Figueroa, diretor de fotografia.
“Na hora de dar o presente a Dolores, Emilio Fernández praticamente jogou um monte de guardanapos na mesa e disse: ‘É o seu presente de aniversário, o roteiro de um filme. Espero que goste, pois é o seu próximo filme, Xochimilco. É propriedade sua, se alguém quiser comprar, vai ter que comprar de você.’ Apesar da generosa oferenda, Dolores foi irônica: ‘Primeiro fiz o papel de uma camponesa. Agora, uma índia, quer que eu interprete uma índia... descalça?’”

Vi María Candelária nas condições mais exóticas, num cinema improvisado no balneário paranaense de Guaratuba. Naquela época o cinema não se restringia às salas urbanas, mas se espalhava pelos cafundós do Paraná, onipresente como o nome das Casas Pernambucanas pintado a cal nas pedras que margeavam as estradas mais remotas. Bastava ter um projetor, algumas latas com rolos de filmes e uma tela, ou um simples lençol branco, que estava criada uma sala de projeção. Meu tio e padrinho, José Muggiati Sobrinho, com esse equipamento básico, promovia sessões de cinema em Guaratuba no início dos anos 50. Ao fim da sessão, as cadeiras eram encostadas às paredes e o galpão se transformava em pista de forró para os pescadores locais. Acostumado com a produção banal de Hollywood, eu achava que o cinema era apenas diversão inocente. Ignorava que filmes como María Candelaria – e Ladrões de bicicletas, que vi pouco tempo depois – além do prazer estético que traziam, podiam também ser agentes de transformação da consciência social.

AtualizaçãoAnônimo E como tudo no Brasil acaba em samba, o nome Maria Candelária entrou no nosso imaginário com a marchinha que foi sucesso no carnaval de 1952 na voz do General da Banda Blecaute.Os sucessos de Carnaval dos anos 50 eram Lava-jato pura, uma poderosa ferramenta de crítica e protesto social. Veja a letra da própria Candelária, de Armando Cavalcanti e Klecius Caldas, e ouça Blecaute. 

Maria Candelária / É alta funcionária
Saltou de páraquedas / Caiu na letra "O", oh, oh, oh, oh
Começa ao meio-dia / Coitada da Maria
Trabalha, trabalha, trabalha de fazer dó oh, oh, oh, oh
A uma vai ao dentista / As duas vai ao café / Às três vai à modista
Às quatro assina o ponto e dá no pé / Que grande vigarista que ela é.


Clique AQUI para ver e ouvir Blecaute cantando a marchinha de 1952

sábado, 13 de maio de 2017

Jornalão é condenado a pagar multa a jornalista autor de frase "Chupa Folha" escondida em obituário

(do site DCM, com informações do TRT/SP)

A empresa Folha da Manhã, autora de uma reclamação trabalhista, foi condenada pelos magistrados da 5ª Turma do TRT da 2ª Região a pagar uma multa ao reclamado, um ex-jornalista da reclamante, por protelar decisões.


Na reclamação inicial, a empresa requereu indenização por danos morais, retratação pública e pedido de desculpas. Em seu último texto publicado no jornal Folha de S. Paulo – que faz parte da Folha da Manhã – na seção de obituários, o réu fez com que a inicial de cada parágrafo formasse a frase “Chupa Folha”, composição denominada de acróstico. O obituário foi redigido no dia 8 de junho de 2015 e publicado em 13 de junho do mesmo ano, três dias depois de o jornalista pedir demissão do periódico. A Folha afirmou que a publicação foi feita normalmente, pois a disposição do texto não foi percebida a tempo.

De acordo com a sentença, não ficou comprovada a lesão à imagem, bom nome e boa fama da autora. “Até porque, diante da pequena repercussão, é provável que a grande maioria dos leitores do jornal sequer tenha tomado conhecimento do fato”. Sem a comprovação da lesão à honra, o pedido de indenização por danos morais foi julgado improcedente.

Inconformada com a decisão, a autora recorreu da decisão. Analisando o recurso, o relator do acórdão, desembargador José Ruffolo, resumiu o julgado como uma “tentativa do próprio veículo de comunicação de coarctá-la (restringi-la) quando a atitude em estudo o desagrada, não está conforme a sua parcial visão de liberdade”.

Os magistrados da 5ª Turma entenderam ainda que o fato não teve repercussão popular, “restringindo-se a veículos de pouca relevância e que normalmente servem mesmo para apoquentar (aborrecer) os grandes grupos de mídia”. No que diz respeito à retratação por escrito pretendida pela autora, declararam ser ineficaz. “Como poderia ele fazer isso? Escrevendo outro acróstico dizendo, por exemplo, ‘NÃO CHUPA FOLHA’?”

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO DCM, CLIQUE AQUI

Cyber arrastão: ataque hacker é o primeiro assalto globalizado da história

O aviso dos cyber assaltantes

A CNN dedicou horas ao tema, ontem. 


Nas redes sociais, Edward Snowden criticou a NSA por não alertar outros países ao saber
que sua ferramenta baseada na falha do Windows havia sido vazada. 

Ainda não foi o cyber apocalipse, mas os hackers mostraram armas capazes de deflagrar um ataque mundial.

Segundo a empresa russa Kaspersky, especializada em segurança cibernética, foram identificadas cerca de 50 mil ações criminosas em mais de 70 países ( a Avast, empresa de softs de segurança, estima em 99 o número de países atacados).

A motivação da atual ofensiva foi chantagem. Ao consumar o sequestro de arquivos, os hackers exigiam quantias em bitcoins (em valores entre 300 a 600 dólares) para permitir que os usuários infectados voltasse a acessar seus documentos ou bancos de dados. O ataque foi denominado de Wanna Decryptor ou WannaCrye explorou uma vulnerabilidade do Windows.

Cyber invasões criminosas em larga escala não são novidade. A poderosa NSA (National Security Agency) americana hackeou não faz muito computadores governamentais de dezenas de países, inclusive aliados com Alemanha, França, Brasil etc, para obter informações estratégicas governamentais e de empresas e pessoas. A ação ilegal, embora justificada como de combate ao terrorismo, recolheu importantes informações econômicas e diplomáticas de empresas privadas em vários países. Antes disso, a mesma agência havia invadido caixa de emails e rastreado redes sociais de milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a famosa revelação da organização Wikileaks.

O mega ataque de ransonware (é este o nome da ação dos hackers, ontem, um tipo de malware que impede o acesso ao sistema infectado e exige um valor de "resgate" para liberá-lo), segundo as primeiras informações, utilizou uma ferramenta hacking desenvolvida para explorar a falha do Windows e que teria sido roubada da NSA. A Rússia foi o país mais atacado O Brasil sofreu algumas investidas, sites de empresas e órgãos públicos saíram do ar em 14 estados.

O ativista Eduardo Snowden criticou no twitter a NSA. Ele acha que ao descobrir há alguma semanas que a ferramenta maliciosa havia sido vazada poderia ter feito um comunicado privado às agências governamentais e evitado a ação dos hackers.

O invasão massificada entra para a história com o primeiro cyber arrastão da web globalizada.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

"Não me retoque": celebridades rejeitam aplicativos me-engana-que-eu-gosto

por Jean-Paul Lagarride

A recente aprovação da lei francesa que obriga a inclusão de alerta de imagens retocadas em  campanhas publicitárias está provocando polêmica.

A intenção da nova regra é evitar a divulgação de ideais de beleza que exponham adolescentes a prejudicar a saúde na tentativa de imitar falsas perfeições. Os mercados publicitários e editoriais estão criticando a medida, mas podem estar indo na contramão de uma tendência, se não entre modelos e estilistas, mas por parte de celebridades.

Já há alguns anos, ao posar para a revista W, o ator Brad Pitt exigiu que as rugas não fossem retocadas por aplicativos.

A atriz e cantora Zendaya Coleman reclama quando o photoshop lhe tira as curvas.

Ficou famoso também o piti da Lady Gaga ao ver sua foto retocada na capa da Glamour. Nicki Minaj, Jennifer Lawrence, Beyoncé e Alicia Keys também já engrossaram o coro das descontentes com os editores que as levam a uma espécie de spa digital antes de colocá-las nas capas.

Entre as brasileiras, destacou-se a cantora Manu Gavassi, que ironizou sua foto photoshopada na capa da Vip. Uma seguidora perguntou: "Menina, de onde nasceu essa coxa?". Manu mandou de volta: "Do Photoshop deslavado que é essa capa". Eu nem me reconheço direito", ela tuitou, na época.

Airbnb lança revista impressa de viagem

Quebrar a rotina é algo diretamente ligado ao prazer de viajar. Mesmo as pessoas mais logadas na internet diminuem o número de horas/smartphone/notebook quando estão fora das suas cidades em temporadas de lazer. Airbnb, o aplicativo que conecta turistas e donos de imóveis, viu nesse comportamento comum um nicho para uma revista impressa. A empresa acaba de fazer um parceria com uma das maiores editoras do mundo, a Hearst, para lançar a AirBnbMag, uma publicação de viagem e serviço. A primeira edição, com 350 mil exemplares, estará nas bancas no dia 23 de maio, nos Estados Unidos. A ideia é crescer rapidamente, já que parte da tiragem será destinada aos afiliados do Airbnb em todo o mundo, com informações úteis aos milhares de  hóspedes.

Brasil recebe centenas de recomendações para combater violações aos direitos humanos

Estados-membros das Nações Unidas fizeram nesta terça-feira (9) mais de 240 recomendações de direitos humanos ao Brasil, em meio à Revisão Periódica Universal (RPU). Grande parte das recomendações refere-se à segurança pública. Os países pediram uma reformulação do sistema penitenciário brasileiro e o combate à violência e ao abuso policial, especialmente contra a população negra e pobre.

Os países também pediram o combate à violência contra os povos indígenas, o impulso à demarcação de terras e a participação dessa população nas decisões. Leia aqui reportagem completa com todas as principais recomendações feitas ao Brasil por mais de cem países.

Fonte: ONU BR

Se você leu jornal, viu TV, ouviu rádio ou acessou a internet, é grande a chance de alguém ter lhe passado uma notícia falsa ou deliberadamente incompleta. Seja um checador. Curso de fact-checking (não exclusivo para jornalistas) ensina o cidadão a pegar na mentira instituições públicas, privadas, políticos, empresários, a mídia em geral e as redes sociais...


Com o apoio do Google, o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas promove o curso online gratuito "Fact-Checking: a ferramenta para combater notícias falsas", ministrado por Cristina Tardáguila, fundadora e diretora da Agência Lupa. O curso é totalmente online e dura quatro semanas, de 5 de junho a 2 de julho de 2017. Inscrições já abertas. No programa, as técnicas e metodologias por trás do fact-checking, os bastidores de alguns dos trabalhos de maior repercussão da agência Lupa e exercícios práticos.

O curso, que não é exclusivo para jornalistas, está aberto para qualquer cidadão que tenha interesse em checar a informação que consome nas várias plataformas, desde as mídias impressa e digital, ao Rádio, à TV e redes sociais. Um fast-checking abrangente e ampliado, que alcance todos os meios, é um instrumento que está ao lado da liberdade de expressão e da confiabilidade dos veículos corporativos e independentes..

Mais detalhes na página http://journalismcourses.org/FC0517.html


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Fotografia - Manchete 65 anos: A Exposição Impossível-5


Zagalo voltava a treinar em janeiro de 1958, após grave contusão.
Manchete Esportiva o fotografou no estádio do Botafogo na Rua General Severiano. Entrevistado, ele pediu que Feola
não o esquecesse ao convocar a seleção. Foi lembrado pelo treinador e voltou da  Suécia com a Jules Rimet.
Reprodução Manchete Esportiva.

Vavá no Atlético de Madri. Reprodução Manchete Esportiva

Coronel, lateral esquerdo do Vasco. Era um caçador "casca grossa', dizem que
na sua faixa de campo nem a grama nascia. Foi um dos mais duros
marcadores de Garrincha. Nessa foto, Dida é a caça Reprodução Manchete Esportiva

Dida, o lendário craque do Flamengo para nas mãos de Castilho, do Flu. Reprodução Manchete Esportiva

Pelé vence o goleiro do Peru. Copa de 1970. Foto de Orlando Abrunhosa. Reprodução Fatos & Fotos. 

Pelé, no Santos, Campeonato Paulista. Reprodução Manchete Esportiva.

Uma imagem rara de um gol famoso. Depois de percorrer todo o campo,
Nilton Santos desloca o goleiro da Áustria. Copa de 1958.
Foto de Jáder Neves. Reprodução Manchete Esportiva 

Pelé na Suécia. Foto de Jáder Neves. Reprodução Manchete Esportiva

O atleta Adhemar Ferreira da Silva.  Reprodução Manchete Esportiva

A nadadora Maria Lenk posa com os filhos para matéria da Manchete Esportiva

Em 1959, o duro embate entre Carlson Gracie e Valdemar.
Décadas antes do UFC, o vale-tudo atraia multidões ao Maracanãzinho

Uma lenda do jiu-jitsu,
Hélio Gracie, tio de Carlson, na plateia...

... observa a luta que ele definiu como "de gigantes".  Deu empate e Nicolau Drei fotografou
para a Manchete Esportiva. 


Manchete sempre teve no Esporte um editoria essencial. Com menos de três meses de existência, ainda com foco indefinido, a revista publicou com destaque a participação brasileira na Olimpíada de Helsinque, na Finlândia, em julho de 1952.  Dos anos 1960 até a década de 1980, outra semanal, a Fatos & Fotos também acompanhou  regularmente  Copas, Olimpíadas, campeonatos regionais e nacionais.
Junho de 1956: Leônidas,
o "tanque" do América,
na capa.

Mas foi na década de 1950 que a Bloch lançou a Manchete Esportiva, publicação semanal que testemunhou - e registrou fotograficamente - a ascensão irresistível da geração que conquistou a Copa de 1958. A revista gravou em imagens a vida e a bola de craques da seleção como Didi, Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Zagalo, Zito, Gilmar, entre tantos outros que brilhavam em clubes.

Mas não apenas o futebol ocupava as páginas de Manchete Esportiva. Natação, atletismo, vale-tudo, basquete, automobilismo e outras modalidades tinham suas seções.

Neste capítulo de A Exposição Impossível, que reproduz imagens de um acervo perdido, fica o registro de uma mínima linha do tempo - extraída de apenas quatro edições entre cerca de 250 publicadas de 1955 a 1959  - de uma era brilhante do futebol brasileiro (em 1977, a Manchete Esportiva voltou às bancas (até 1979), a tempo de cobrir a trajetória de outros craques, como Zico, Roberto Dinamite, Leão, Reinaldo, Nelinho, Toninho Cerezzo, Edinho e Dirceu).

Cine PE vira à direita e alguns cineastas preferem não participar de festival

O cinema como meio de propaganda da direita provoca uma crise no Cine PE, o Festival do Audiovisual 2017, que será realizado em Recife, no período de 23 a 29 de maio.

Como se sabe, após o golpe que destituiu uma presidente eleita, instaurou-se o movimento cinematográfico Neocoxismo Brasileiro, como é chamado, em alusão com sinais trocados e competências idem ao Neorrealismo Italiano. Equipes estão em campo para produzir épicos da cinematografia conservadora. Ontem, em Curitiba, como exemplo, oito câmeras filmavam uma das produções da nova tendência, que mostrará os bastidores da operação Lava Jato.

Há várias outros longas em andamento, de documentários e peças de ficção que replicam nas telas o Brasil visto através de uma lupa equivalente à do "pensamento único" da velha mídia.

No ano passado, dois episódios já denunciavam esse movimento que surfa na onda do novo poder: o protesto, em Cannes, do elenco e equipe técnica do premiado "Aquarius"  e a polêmica em torno da indicação do filme "Pequeno Segredo" como representante do Brasil ao Oscar, por parte de representante do governo, o que levou outros cineastas a retirarem seus filmes da seleção.

Com a divulgação da programação do Cine PE, que contempla alguns desses filmes, vários cineastas retiraram suas obras da mostra como um protesto ao avanço da direita radical também no cinema. O documentário "O Jardim das Aflições", de Josias Teófilo, sobre o notório extremista Olavo de Carvalho, uma espécie de guru do atraso, é uma das obras selecionadas. O documentário teria sido financiado em sistema de crowdfunding, com a suposta participação de uma editora que prepara a biografia de Jair Bolsonaro. Um livro, aliás, que já nasce cotado para ser lançado em ano eleitoral e virar filme candidato a blockbuster do Neocoxismo. O festival também programou a exibição fora da competição de “Real – O Plano por Trás da História”, de Rodrigo Bittencourt, que exalta a criação da moeda pelos tucanos durante o governo de Itamar Franco, em 1993.

Os cineastas Ana Paula Mendes (A Menina Só), Cíntia Domit Bittar (A Menina Só), Sávio Leite (Venus: Filó a Fadinha Lésbica), Eva Randolph (Não me Prometa Nada), Arthur Leite (Abissal)
Gabi Saegesser (Iluminadas), Petrônio Lorena (O Silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas amarguras), Leo Tabosa (Baunilha), retiraram seus filmes do Cine PE.

Eles admitem que o Cine PE fez uma escolha democrática - "embora equivocada" - mas não se sentem confortáveis ao lado desses destaques da programação e apenas não querem participar de um evento que aposta em um discurso que dissemina ódio e ataca grupos vulneráveis.

"Carta Aberta de Repúdio à Programação do Cine PE 2017".

"Nós, representantes dos filmes abaixo listados, decidimos tornar pública a decisão, conjunta, de retirar nossas obras da seleção do XXI Cine PE Festival Audiovisual, a ser realizado entre os dia 23 e 29 de maio de 2017, na cidade do Recife.

Apenas no dia 08 de maio, através de veículos de imprensa, tomamos conhecimento da grade completa dos filmes que foram selecionados para o festival. Constatamos que a escolha de alguns filmes para esta edição favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016, o que evidencia uma tendência partidária dos produtores do evento visando beneficiar o seu grupo político. É lamentável verificar que a presente edição do Cine PE não soube ser sensível aos frágeis tempos políticos em que vivemos, apresentando, de forma destacada em sua programação, filmes que dialogam com um discurso do qual não nos identificamos absolutamente, o que nos deixa em completo desconforto e desacordo.

O Brasil vive um dos momentos políticos mais delicados da nossa História recente. Vivemos um processo de ruptura democrática, de cerceamento dos direitos adquiridos, de crescimento de discursos de extremo conservadorismo disseminando o ódio e atacando os grupos mais vulneráveis. Reformas arbitrárias, que desdenham da Constituição brasileira, colocam em xeque políticas públicas sociais, culturais e econômicas, carregando forçosamente o Brasil para um retrocesso sem precedentes. A grande mídia, de forma inconsequente e criminosa, associada a políticos e empresários corruptos, manipulam a população.

O ato de inscrever nossos filmes no CINE PE foi completamente consciente. Mas faltou o bom senso por parte da Curadoria / Direção desse festival em selecionar um filme sobre um dos gurus da extrema direita brasileira - classe esta responsável pela consolidação do Golpe de Estado que derrubou uma Presidenta democraticamente eleita, Olavo de Carvalho é um radical extremista em sua "filosofia" e em seu modo de vida e comportamento. Nossa postura é bastante dura e clara em relação a seleção do filme "O Jardim das Aflições". De maneira alguma querermos fazer parte de um evento que, de forma democrática - mesmo que equivocada, selecionou esse filme.

Os realizadores que foram selecionados para o CINE PE não utilizam suas obras para fins institucionais de nenhum partido político e não podem aparecer em um evento, que deseja agregar suas imagens e a dos seus filmes a interesses conservadores e reacionários da política brasileira atual.

Por fim, reconhecemos a importância do Cine PE Festival Audiovisual e muitos de nós já tivemos a oportunidade de orgulhosamente participar de outras edições do mesmo. Entretanto, pelas razões apontadas acima, nos sentimos impossibilitados de participar desta vigésima primeira edição. Esperamos poder participar de edições futuras e mais conscientes do Cine PE, condizentes com sua grandeza histórica e relevância para a formação de público do cinema brasileiro.

Florianópolis / Fortaleza / Rio de Janeiro / Recife, 10 de Maio de 2017."


ATUALIZAÇÃO EM 12/5/2017 - A organização do Cine PE divulgou nota em que informa que adiou o festival para convidar novos filmes em substituição às obras retiradas.
Ao mesmo tempo, os diretores que participam do protesto ressaltam que não estão querendo apontar o que o Cine PE deve selecionar ou não. Apenas não querem participar de um evento cultural com o risco de serem confundidos com posições políticas que rejeitam.
E argumentam que, assim o como o festival se posiciona ao fazer sua seleção, os cineastas têm o direito de firmar seu posicionamento e expressá-lo.
Outra informação: o criador do Cine PE,  Alfredo Bertini, assumiu a Secretaria do Audiovisual em maio do ano passado, logo após o golpe. Deixou o cargo no fim do ano passado, depois de participar do grupo que escolheu o filme que representou o Brasil no Oscar ("Pequeno Segredo"), quando havia a expectativa de que fosse escolhido o longa "Aquarius", premiado em vários festivais internacionais e que se destacou em Cannes. Como se sabe, o elenco do filme fez na ocasião - logo após a conspiração que derrubou Dilma Rousseff -  um protesto contra o golpe, com grande repercussão internacional, o que incomodou profundamente o governo ilegítimo que dias antes havia sequestrado o sequestrado o poder.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Unesco critica concentração da propriedade da mídia e a avalia como fator que limita a liberdade de imprensa


O Portal Imprensa repercute matéria do Centro Knight de Jornalismo sobre documento da Unesco  - "Concentração da Propriedade de Mídia e Liberdade de Expressão: Padrões Globais e Implicações para as Américas"  - em defesa da comunicação independente e contra a concentração de mídia.

Trata-se de um relatório sobre a concentração histórica da propriedade de meios de comunicação na América Latina, monopólio e o fator de propriedade da mídia como limitação da liberdade de imprensa.

Uma das recomendações, segundo o Portal Imprensa, é "a criação de órgãos independentes que garantam equilíbrio, transparência e adotem regras para limitar a concentração indevida dos meios".

São especialmente citados monopólios de países como Brasil, Argentina e México.

No Brasil, as corporações tornaram "ideológica" a reivindicação sobre a regulação empresarial e comercial como uma forma carimbar o assunto como político-partidário para manter intocado o domínio da informação.

O relatório pode ser lido, na íntegra, AQUI

Contra anorexia e bulimia - Campanhas publicitárias que usam photoshop para mostrar "corpos perfeitos" passam a vir com o aviso obrigatório de "Fotos Retocadas". E modelos com índice de gordura corporal muito abaixo dos padrões de saúde não poderão desfilar. Na França...




por Clara S. Britto

O Ministério da Saúde francês entrou na passarela da moda.
Comunicado oficial que está repercutindo agora na imprensa internacional determina que a partir de 1° de outubro de 2017 será obrigatória em imagens comerciais a menção "Fotografia Retocada" sempre que a foto for manipulada por softwares para indicar corpos fora da realidade ou silhuetas artificialmente distorcidas em campanhas publicitárias como indução a ideais de beleza inatingíveis para a maioria das pessoas.
Em outra medida, submete a profissão de modelo a alguns controles, incluindo a verificação do Índice de Massa Corporal de acordo com as medidas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde.
As mesmas regras valerão para a União Europeia. Modelos receberão um certificado de saúde atribuído pelo governo francês, que responde a numerosas reclamações da população contra a onipresença da magreza e seu impacto em um país que registra 600 mil jovens com distúrbios alimentares e cerca de 40 mil vítimas de anorexia.

O Brasil não tem qualquer controle sobre os efeitos na formação dos jovens do bombardeio dos padrões de beleza impostos pela indústria da moda em campanhas publicitárias, sejam os estéticos ou os raciais.

Demolição do Palácio Monroe: a crônica da ignorância

O ataque ao Palácio Monroe. Foto de Paulo Scheuenstuhl/Reprodução Manchete

O prédio vítima da arbitrariedade cultural. Reprodução

O metrô, que foi equivocadamente apresentado
como o vilão da demolição, fez uma curva na linha férrea
em direção à Glória exatamente para preservá-lo. Reprodução 


Está em exibição no Rio o documentário "Crônica da Demolição", de Eduardo Ades. O longa-metragem investiga os bastidores de um acontecimento que, na década de 1970, abalou historiadores e cariocas. Em 1976, a ditadura militar então sob a guarda do general Ernesto Geisel demoliu o prédio que foi sede da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado Federal.

Paulo Scheuenstull, fotógrafo da Manchete, registou a cena.

O Palácio Monroe havia sido construído em estrutura desmontável para sediar o Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de 1904, em Saint Louis, nos Estados Unidos. Ao fim da mostra, onde o projeto recebeu o Grande Prêmio Mundial de Arquitetura, o prédio foi trazido para o Brasil e remontado no Rio de Janeiro.

Coube a Geisel bater o martelo, ou a picareta, mas o ditador não o único vilão da trama política que transformou o Monroe em entulho. Arquitetos modernistas, à frente Lúcio Costa, o Instituto dos Arquitetos do Brasil e o Clube de Engenharia pressionaram as autoridades pela demolição não apenas do Monroe mas de todos os prédios de estilo neo-clássico que restavam na Avenida Rio Branco, aí incluídos a Biblioteca Nacional, o Theatro Municipal, o Clube Naval etc.

Digamos que essa "força-tarefa" atuava como hoje fazem os talibãs e Estado Islâmico ao implodir autoritariamente qualquer arquitetura que represente tudo o que eles não são. Um parecer radical de Lúcio Costa defendendo a "terra arrasada" no Centro do Rio foi uma espécie de atestado de óbito lido no Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico. Felizmente, essas últimas edificações sobreviveram à ignorância cultural.

Os defensores da demolição do Monroe se aproveitaram, na verdade, do regime militar e pegaram oportuna carona nos coturnos dos generais. Muitas vozes se levantaram contra o ataque ao prédio histórico, mas quem ouvia vozes naqueles tempos de fuzis? Uma ação popular tentou impedir a demolição, mas quem cederia à "Justiça" naqueles dias? O Jornal do Brasil se posicionou contra o "crime" cultural, mas, entre os militares, quem lia tanta notícia? O CREA, o Serviço Nacional do Teatro, a Fundação Estadual dos Museus, a Secretaria Estadual de Educação e várias outras entidades, além dos muitos cariocas, também lutaram contra a boçalidade dos poderosos. Inútil.

O Globo, em uma série de editoriais, fez intensa campanha para ver o prédio virar poeira, bradava que era um "monstrengo" que atrapalhava o trânsito etc. O Globo chegou a comemorar em editorial quando a última pedra do Palácio foi triturada.

Dizia-se que o Monroe impedia a passagem do metrô, mas a construção do sistema havia feito uma curva na linha ao lado, antes que fosse decidida a demolição, exatamente para preservá-lo, e ainda reforçou a estrutura sobre a base do Palácio. Restaram outras "teorias" que afirmavam que Geisel achava que o Palácio interferia na visão do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial. Entre os defensores da demolição havia quem reivindicasse a construção de um edifício-garagem no local. Vai ver que o Rio livrou-se dessa segunda estupidez graças à suposta opinião do Geisel, a de que a visão do Monumento seria prejudicada.

E foi tamanho o ódio talibã ao Monroe, por parte da congregação de demolidores, que não houve nem a preocupação de preservar objetos históricos do Senado. Alguns móveis foram levados para Brasília, mas esculturas de bronze, os leões de mármore, lustres, adornos, móveis de jacarandá, a balaustrada e peças avulsas foram vendidas pela empresa que demoliu o Palácio.

Entre tantos motivos, a história registrou o fato: a demolição do Monroe foi produto de uma cumplicidade entre brutamontes e aloprados.


terça-feira, 9 de maio de 2017

OIT lança campanha para Brasil assinar tratado internacional de combate ao trabalho forçado

Nesta terça-feira, 9 de maio, trabalhador resgatado da escravidão pedirá a ratificação do Protocolo da OIT sobre trabalho forçado no Senado para marcar o lançamento da campanha 50 For Freedom no Brasil.

(do site ONU BR) 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançará a campanha 50 For Freedom para pedir que o Brasil ratifique o Protocolo sobre trabalho forçado de 2014. O lançamento será realizado a partir das 16h numa audiência pública da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, aberta para membros da imprensa.

Estarão presentes o diretor da OIT no Brasil, Peter Poschen; o especialista técnico sobre Trabalho Forçado da OIT, Houtan Homayounpour; o ministro do Tribunal Superior do Trabalho e membro do Comitê de Peritos da OIT, Lélio Bentes; o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury; e o conselheiro de curadores do Fundo das Nações Unidas sobre Formas Contemporâneas de Escravidão, Leonardo Sakamoto; entre outras autoridades.

O Protocolo da OIT sobre Trabalho Forçado de 2014, já ratificado por 13 países, complementa a histórica Convenção 29 da OIT, de 1930, para reforçar o combate às novas formas de escravidão moderna, mais complexas e difíceis de erradicar. Atualmente, 21 milhões de pessoas ainda são vítimas do trabalho forçado em todo o mundo.

Durante o lançamento da campanha, haverá um momento dedicado a dar voz a quem normalmente não é ouvido, com a exibição de um vídeo com depoimentos de trabalhadores vulneráveis e resgatados da escravidão moderna ao Embaixador da Boa Vontade da OIT, Wagner Moura. Além disso, um trabalhador resgatado de condições análogas à escravidão participará do evento para entregar à Casa Civil uma carta pedindo que o Brasil ratifique o Protocolo.

Um painel digital também será instalado no Senado, para exibir em tempo real as postagens publicadas pelos brasileiros nas redes sociais com as hashtags da campanha 50 For Freedom em apoio à ratificação (#50FF, #50ForFreedom e #AssinaBrasil).

Segundo o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, a adoção do Protocolo é “o fruto da nossa determinação coletiva de pôr fim a uma abominação que ainda aflige o nosso mundo do trabalho e de libertar as suas 21 milhões de vítimas”.

Considerado uma referência internacional no combate ao trabalho forçado, o Brasil foi um dos países selecionados para protagonizar a campanha 50 For Freedom. O nome da campanha se refere à convocação da OIT e de seus parceiros – a Confederação Sindical Internacional e a Organização Internacional dos Empregadores – para que 50 países ratifiquem o Protocolo até 2018.

O Protocolo atua em três níveis: prevenção, proteção e reabilitação das vítimas. Os países que o ratificam devem garantir que todos os trabalhadores de todos os setores sejam protegidos pela legislação.

Eles deverão reforçar a fiscalização do trabalho e de outros serviços que protejam os trabalhadores da exploração. Eles deverão também adotar medidas complementares para educar e informar a população e as comunidades sobre crimes como o tráfico de seres humanos. Além disso, o Protocolo garante às vítimas o acesso à ações jurídicas e à indenização – mesmo que elas não residam legalmente no país onde trabalham.

Fonte: ONU BR

Hombre Mucielago e El Payaso denunciam: revista Veja faz blow job


por O.V.Pochê 

Uma dessas fontes paranormais não identificadas que o "jornalismo investigativo" costuma localizar - a vizinha de um desentupidor de privada de uma pessoa ligada ao sobrinho do Hombre Mucielago e ex-colega de colégio do El Payaso  -, revelou que a equipe da Veja teve que sair mais cedo rumo a Curitiba e não deu tempo criar uma capa original.

Sem problemas.

Por sorte, um estagiário que é fã da lucha libre mexicana, aquele telecatch remasterizado, coleciona cartazes de grandes embates, inclusive esse de La Pelea Eterna.

Resolvido.

Foi só pegar o poster do El Payaso e Hombre Mucielargo e chupar.

E todo mundo ficou liberado para a peregrinação da firma até Curitiba.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

E a interminável conta do golpe não para de chegar... Vá colecionando





Aterro do Flamengo: um eterno objeto de desejo e o que o "fato alternativo" tem a ver com isso...

Nos anos 1950, lobistas queriam construir prédios na faixa aterrada. A iniciativa, felizmente, não prosperou.
Foto Pedro Kirilos

A Marina da Glória, hoje privatizada, quer erguer um Centro de Convenções no local que já é um dos mais descaracterizados em relação ao projeto original do Aterro. Foto Alexandre Macieira

A mídia em geral, no mundo e no Brasil, investe em checagem de notícias com o objetivo de conter a onda de pós-verdades e de "fatos alternativos" - mentiras, na expressão correta -, que assolam as redes sociais, mas não apenas as redes sociais.

O jornalismo impresso não está, obviamente, livre do fenômeno. Omitir, falsear, deturpar o fato em nome de interesses corporativos, políticos, morais, religiosos etc, ou simplesmente errar, também gera pós-verdades e "fatos alternativos".  Ao não checar informações sob os vários ângulos, o jornalismo, impresso ou digital não só corre o risco de passar a informação errada como o de ser usado por interesses escusos. A pressa, a não localização imediata de uma fonte confiável, a pressão para fechar a página ou atualizar o site, tudo isso pode, às vezes involuntariamente, comprometer a correta apuração, mas ao ceder o jornalista assume o risco. Para o profissional, há ainda um obstáculo comum: muitas e empresas costumam mentir, diretamente ou através de assessorias, para proteger os seus interesses.

A nota original e...


...desmentido.

O Globo publicou as notas acima sobre a construção de um Centro de Convenções no Aterro do Flamengo, um parque tombado, na qual os empreendedores asseguravam ao jornal que não teriam problemas quanto à aprovação do prédio porque a paisagem não sofreria alteração.

Para a primeira nota, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional não foi ouvido.

O IPHAN tomou a iniativa de procurar o Globo, que hoje publica uma segunda nota sobre o assunto dizendo que não é bem assim e que o projeto ainda será analisado. No caso, a construção foi anunciada pela Riotur e Rio Convention Bureau. As duas instituições aparentemente entrararam na história como "bois de piranha", já que a concessão da Marina, que já foi questionada na Justiça, pertenceu a Eike Batista, hoje enrolado na Lava Jato, é atualmente da BRMarinas e, como a nota assegura, o empreendimento é "100% privado".

Há mais um risco para os jornalistas que queiram evitar os "fatos alternativos". É comum fontes não exatamente confiáveis usarem a imprensa para os chamados "balões de ensaio". Isso acontece quando interessados em ações de qualquer tipo, geralmente não plenamente legalizadas ou que podem gerar contestação, usam jornais para lançar um "teaser" como meio para saber até onde seu projeto ou iniciativa provocará reação, de onde virão as reações mais fortes, e o que precisará fazer para vencê-las. Essa é uma tática manjada, o que não impede que seja até frequente.

Voltando ao Aterro, uma das mais belas paisagens do Rio, o triste é que é preciso uma vigilância permanente. Já ameaçaram construir no local restaurantes, com o argumento de que seriam projetados pelo escritório de Niemeyer, a Comlurb chegou a instalar containers no local como um "posto avançado",  uma roda-gigante revindicou uma área para seu mafuá, já tentaram privatizar os campos de pelada, a mesma Marina da Glória já descaracterizou o Aterro com ampliações de interesse comercial, a frequente autorização para grandes shows danifica o Aterro e, apesar disso, continuam permitidos.

Esse mesmo tipo de edificação - como um prédio, como é a proposta para um Centro Convenções - foi evitado pelos arquitetos que projetaram a Marina: eles "enterraram" a construção para minimizar o impacto visual.

Talvez nenhuma outra área da cidade seja tão cobiçada por empresários sem noção.

Se o IPHAN cochilar a Rio pode acordar com espigões nos jardins de Burle Marx.

Aliás, nos anos 1950, houve pressões para que o então Distrito Federal permitisse a construção de condomínios de luxo nos terrenos aterrados. O Rio escapou por pouco de mais uma "selva de pedra".

Lota Macedo Soares, um das idealizadoras do Aterro, botou a boca no mundo e evitou o golpe que faria alguns milionários entre ilustres famílias e espertos políticos que defendiam um "projeto habitacional" chique para o Aterro.

Lota não está mais aqui, mas as ameaças, sim.

domingo, 7 de maio de 2017

Temer não gosta da foto oficial: "Parece que já morri"

Divulgação
A coluna Radar on Line revela que a foto oficial de Michel Temer, feita pelo fotógrafo Orlando Brito, anda ausente das salas da República.

A nota diz que Temer afirma não gostar de culto à personalidade.

Mas na intimidade ele explica a verdadeira razão: “De fato, me dá uma sensação estranha. Parece que já morri”.

Quando foi divulgada, a foto provocou polêmica e piadas na web. Agora, as redes sociais dizem que o "já morri" é uma especie de sincera autocrítica.