Bia no surfe. Foto Instagram |
E com Danilina, a parceira de duplas no grande slam de Melbourne. Foto Instagram. |
Jornalismo, mídia social, TV, atualidades, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVII. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
Bia no surfe. Foto Instagram |
E com Danilina, a parceira de duplas no grande slam de Melbourne. Foto Instagram. |
A jornalista turca Sedef Kabas foi presa por citar um provérbio que irritou o tirano Recep Erdogan . |
Pode ser a atmosfera saturada de dióxido de carbono, talvez seja um efeito perverso do aquecimento global que queima mufas ou a estupidez humana agora turbinada pelas redes sociais.
O fato é que vivemos uma era de prolifeação de tiranos assumidos ou autoriários boçais. Trump que ameaça voltar, Bolsonaro que tenta não sair, Putin que não sai, o fascista Viktor Orban, Ortega, Maduro, Bin Salman, o "príncipe" de araque da Arábia Saudita, um ditador assassino que faz picadsinho de opositores e Recep Erdogan. Este, o aloprado da Turquia que mandou prender milhares de opositores e aparelhou a Justiça, mandou encarcerar a jornalista Sedef Kabaş. Presa desde a semana passada, seu "crime foi citar um ditado e um provérbio em alusão à atual conjuntura turca. Não falou o nome do presidente, mas este se identificou com o que considerou uma "grave ofensa". Durante uma entrevista à Tele1TV, e, depois, em post na rede social, Kabas disse:
- “Há um famoso ditado, ‘uma cabeça coroada ficará mais sábia’. Mas vemos que essa não é a realidade. Há também um provérbio que é exatamente o oposto: 'Quando o boi chega ao palácio, ele não se torna rei. Mas o palácio se torna um estábulo'.
Erdogan é um notório perseguidor da imprensa. Sedef Kabas, que está na Prisão Feminina Bakırköy em Istambul, e mais uma jornalista, entre centenas que o atual governo mandou prender.
O jornalista Renato Sérgio fez a útima matéria com Elza Soares para a Manchete. Foi em 1994. A foto é de Armando Borges. |
Ronaldo Bôscoli assinou um perfil de Elza em 1960. Era a primeira matéria da cantora para a revista três anos após iniciar a carreira profissional. A foto é de Gil Pinheiro. |
Um ano depois, em 1961, Elza era convidada para almoço festivo na gráfica da Manchete em Parada de Lucas, No foto, com Ismael Correia, o cantor Carlos José e Oswaldo Sargentelli. Foto Manchete |
Elza Soares foi "cancelada" por parte da opinião pública impulsionada pela imprensaa. O motivo? O caso de amor com Garrincha, então casado, com vários filhos e mais um a caminho. Um mix de moralismo e racismo condenou o jogador e a cantora "destruidora de lares". Onde o casal vivia uma paixão, a sociedade inquisitorial via a desonra, a desgraça. Elza superou isso e todas as outtras armadilhas que a vida pôs no seu caminho antes de depois da fama.
Elza e Louis Armstrong em Montevidéu, 1962, após show juntos. |
Embora convidada para um show, Elza foi barrada na portaria do Flamengo. Ela denunciou que foi vítima de racismo. O então presidente do clube, Fadel Fadel, pediu desculpss. Manchete registrou. |
Elza ditou uma biografia, que chamou de "diário". Um juiz proibiu o livro. Alegou que era pornográfico. |
Garrincha e Elza: o começo da relação foi muito criticado pela imprensa. Momentos de paz, como esse, vieram depois. |
Paris, 1971 Reprodução Manchete |
Elza e Garrincha em 1963. Foto de Gil Pinheiro-Manchete |
Manchete também cobriu o folhetim da relação de Elza e Garrincha e não escapou, ao lado dos jornais, das rádios e TV de pontuar em algumas matérias o moralismo doentio que via em Elza a vilã de um romance. Ironias e insinuações, às vezes mal contidas, respingavem em textos sobre o assunto. Registre-se que o "caso" virou casamento e a revista foi mais isenta e respeitosa ao focalizar os dois em muitas reportagens posteriores à onda do cancelamento. E, diga-se também, que sempre valorizou nas suas páginas em entrevistas e incontáveis fotos a ascensão profissional da grande Elza Soares.
A cantora morreu ontem, em casa, serena, em paz, aos 91 anos. Dizem que presentiu a morte e avisou a quem estava em volta do seu leito. Estava indo. Assim, sem medo, com foi sua vida de guerreira. Aquele cancelamento? Ficou no passado, passou. É grande a repercussão e a admiração que a mídiaem geral registra hoje sobre a vida, a luta e o talento de Elza.
![]() |
Reprodução Twitter |
Poeta, romancista e antropólogo, Antonio Risério errou a rima ao escrever na Folha de São Paulo um artigo sobre a tese supremacista do "racismo reverso". Racismo é crime, não pode ser abrigado sobre a liberdade de expressão. O artigo é ruim, mal escrito, um retalho de citações que abusa de fontes que os supremacistas norte-americanos adotam em argumentação semelhante. O racismo reverso by Folha repercutiu nas redes sociais e provocou protestos. Um deles, muito expressivo, foi dos próprios jornalistas da Folha. Leia a seguir:
19 de janeiro de 2022
Carta aberta de jornalistas da Folha à direção do jornal
Caros membros da Secretaria de Redação e do Conselho Editorial da Folha,
Nós, jornalistas da Folha aqui subscritos, vimos por meio desta carta expressar nossa
preocupação com a publicação recorrente de conteúdos racistas nas páginas do jornal.
Sabemos ser incomum que jornalistas se manifestem sobre decisões editoriais da
chefia, mas, se o fazemos neste momento, é por entender que o tema tenha
repercussões importantes para funcionários e leitores do jornal e no intuito de contribuir
para uma Folha mais plural.
O episódio a motivar esta carta foi a publicação de artigo de opinião intitulado “Racismo
de negros contra brancos ganha força com identitarismo” (Ilustrada Ilustríssima, 16/1),
em que Antonio Risério identifica supostos excessos das lutas identitárias, que
estariam levando a racismo reverso.
Para além de reafirmarmos a obviedade de que racismo reverso não existe, não
pretendemos aqui rebater o que afirma o autor —pessoas mais qualificadas do que nós
no tema já o fizeram, dentro e fora do jornal.
No entanto, manifestamos nosso descontentamento com o padrão que vem se
repetindo nos últimos meses.
Em mais de uma ocasião recente, a Folha publicou artigos de opinião ou colunas que,
amparados em falácias e distorções, negam ou relativizam o caráter estrutural do
racismo na sociedade brasileira. Esses textos incendeiam de imediato as redes sociais,
entrando para a lista de mais lidos no site. A seguir, réplicas e tréplicas surgem,
multiplicando a audiência. A controvérsia então se estanca e morre, até que um novo
episódio semelhante surja.
Antes do artigo em questão, colunas de Leandro Narloch e Demétrio Magnoli
cumpriram esse papel.
Acreditamos que esse padrão seja nocivo. O racismo é um fato concreto da realidade
brasileira, e a Folha contribui para a sua manutenção ao dar espaço e credibilidade a
discursos que minimizam sua importância. Dessa forma, vai na contramão de esforços
importantes para enfrentar o racismo institucional dentro do próprio jornal, como o
programa de treinamento exclusivo para negros.
Reconhecemos o pluralismo que está na base dos princípios editoriais da Folha e a
defesa que nela se faz da liberdade de expressão.
No entanto estes não se dissociam de outros valores que o jornalismo deve defender,
como a verdade e o respeito à dignidade humana. A Folha não costuma publicar
conteúdos que relativizam o Holocausto, nem dá voz a apologistas da ditadura,
terraplanistas e representantes do movimento antivacina.
Por que, então, a prática seria outra quando o tema é o racismo no Brasil?
Se textos como o de Antonio Risério atraem audiência no curto prazo, sua
consequência seguinte é minar a credibilidade, que é, e deve ser, o pilar máximo de um
jornal como a Folha.
Por esses motivos, convidamos a uma reflexão e uma reavaliação sobre a forma como
o racismo tem sido abordado na Folha. Acreditamos que buscar audiência às expensas
da população negra seja incompatível com estar a serviço da democracia.
Assinam esta carta:, Adriana Mattos, Adriano Vizoni, Alfredo Henrique, Aline Mazzo, Amanda Lemos, Amon Borges, Ana Bottallo, Ana Luiza Albuquerque, Andre Marcondes, Andressa Motter, Anelise Gonçalves, Angela Boldrini, Angela Pinho, Anna Virginia Balloussier, Artur Rodrigues, Bárbara Blum, Beatriz Izumino, Bianka Vieira, Bruna Borges, Bruno B. Soraggi, Bruno Benevides, Bruno Molinero, Bruno Rodrigues, Camila Gambirasio, Carolina Daffara, Carolina Linhares, Carolina Moraes, Catarina Ferreira, Catarina Pignato, Clauber Larre, Clayton Castelani, Cristiane Gercina, Cristiano Martins, Cristina Camargo, Cristina Sano, Dani Avelar, Dani Braga, Daniel E. de Castro, Daniel Mariani, Daniel Mobilia, Daniela Arcanjo, Danielle Brant, Danilo Verpa, David Lucena, Débora Melo, Diana Yukari, Eduardo Marini, Eduardo Moura, Emannuel Gonçalves Gomes, Fábio Pupo, Fernanda Brigatti, Fernanda Giulietti, Fernanda Mena, Fernanda Perrin, Flávia Faria, Flávia Mantovani, Gabriel Cabral, Gabriela Bonin, Géssica Brandino, Giovanna Stael, Giuliana de Toledo, Giuliana Miranda, Guilherme Botacini, Guilherme Garcia,Guilherme Seto, Gustavo Fioratti, Gustavo Queirolo, Havolene Valinhos, Heloísa Lisboa, Henrique Santana, Irapuan Campos, Isabela Palhares, Isabella Menon, Jairo Malta, Jéssica Maes, João Gabriel, João Gabriel Telles, João Pedro Pitombo, João Perassolo, José Marques, Julia Chaib, Karime Xavier, Karina Matias, Kleber Bonjoan, Laíssa Barros, Laura Lewer, Leonardo Diegues, Leonardo Sanchez, Lucas Alonso, Lucas Brêda, Luís Curro, Luiz Antonio Del Tedesco, Maicon Silva, Manoella Smith, Marcelo Azevedo, Marcelo Rocha, Marciana de Barros, Maria Ap. Alves da Silva, Mariana Agunzi, Mariana Arrudas, Mariana Goulart, Mariana Zylberkan, Marília Miragaia, Marina Consiglio. Marina Lourenço, Marlene Bergamo, Mateus Bandeira Vargas, Matheus Moreira, Matheus Rocha, Matheus Teixeira, Mathilde Missioneiro, Maurício Meireles, Mayara Paixão, Melina Cardoso, Mônica Bento, Naná DeLuca, Natália Cancian, Natália Silva, Nathalia Durval, Nicollas Witzel, Otavio Valle, Paola Ferreira Rosa, Patricia Pamplona, Paula Soprana, Paulo Batistella, Paulo Saldaña, Pedro Ladeira, Pedro Lovisi, Phillippe Watanabe, Priscila Camazano, Ranier Bragon, Raphael Hernandes, Raquel Lopes, Rebeca Oliveira, Regiane Soares, Renan Marra, Renata Galf, Renato Machado, Ricardo Balthazar, Rivaldo Gomes, Rodrigo Sartori, Ronny Santos, Rubens Alencar, Salvador Nogueira, Samuel Fernandes, Sílvia Haidar, Silvia Rodrigues, Tatiana Harada, Tayguara Ribeiro, Thea Severino, Thiago Amâncio, Thiago Bethônico, Tiago Ribas, Victor Lacombe, Victoria Azevedo, Victoria Damasceno, Vitor Moreno, Vitória Macedo, Walter Porto, Washington Luiz, Wesley Faraó Klimpel, William Barros, William Cardoso, Zanone Fraissat E outros 22 jornalistas da Folha. Total de adesões: 186
Você pode ler o artigo de Antonio Risério em dobradinha racista com a Folha de São Paulo AQUI (mas não vomite na tela do celular ou no teclado do computador.
O advogado e colunista da Folha, Thiago Amparo, também reagiu no twitter:
Ninguém aguentava mais.
Naquele dia, há 40 anos, o pais lamentava mais uma ausência: morria Elis Regina.
Sua voz tornou-se eterna, seu talento inesquecível.
Em outubro de 1980, um ano e três meses antes do fim, Elis cantou em um show da TV Globo a música 'Querelas do Brasil", de Aldir Blanc e Maurício Tapajós. A canção registtrava o "Brazil matando o Brasil".
A geração que vivia aquele momento e que ainda resiste por aí não imaginava que quatro décadas o escuro pudesse voltar, com a democracia sob ameaça, o obscurantismo em vigor, a intolerância como regime, a morte como política de Estado.
O apelo principal da letra de "Querelas" é justamente um grito de socorro à vida que se esvai. Aldir e Tapajós eram mestres em captar sentimentos, A poesia da dupla ecoa no Brasil atual que trata como inimigos as florestas, os rios e o ar que respiramos, as pessoas.
O projeto é de desrruição e a vida é o adversário a abater. Ouça os saudosos Elis, Aldir Blanc e Maurício Tapajos. Depende de nós atender ao S.O.S que eles lançaram e que volta ser atual.
"Querelas do Brasil"
Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Tapir, jabuti
Liana, alamanda, ali, alaúde
Piau, ururau, aki, ataúde
Piá carioca, porecramecrã
Jobim akarore, jobim açu
Uô, uô, uô
Pereê, camará, tororó, olerê
Piriri, ratatá, karatê, olará
Pereê camará tororó olerê
Piriri ratatá karatê olará
O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil
Jereba, saci, caandrades, cunhãs, ariranha, aranha
Sertões, guimarães, bachianas, águas
Imarionaíma, ariraribóia
Na aura das mãos de jobim-açu
Uô, uô, uô
Jerê, sarará, cururu, olerê
Blá-blá-blá, bafafá, sururu, olará
Jerê, sarará, cururu, olerê
Blá-blá-blá, bafafá, sururu, olará
Do Brasil, s.o.s ao Brasil
Do Brasil, s.o.s ao Brasil
Do Brasil, s.o.s ao Brasil
Tinhorão, urutu, sucuri
Ujobim, sabiá, bem-te-vi
Cabuçu, cordovil, cachambi
Madureira, Olaria e Bangu
Cascadura, água santa acari, olerê
Ipanema e Nova Iguaçu, olará
Do Brasil, s.o.s ao Brasil
Do Brasil, s.o.s ao Brasil
Anúncio publicado na revista Manchete em 1952: compra-se fotos feitas pelos leitores . |
Matéria do Globo, hoje, confirma que prioridade de donos de times é vender jogador, não necessariamente ganhar títulos. Leia acima. |
Já corriam rumores nas redes sociais: mercado da bola é o objetivo principal. Reprodução Twitter |
Há alguns dias o Viramanchete, extensão deste blog no Twitter, recebeu uma informação sobre o interesse do mercado em fazer das SAF (Sociedade Anônima do Futebol) um lucrativo balcão de compra e venda de jogadores. Empresários de jogadores já mostram interesse em se aproximar dos novos donos dos times, tanto desses que já fecharam negócios quanto de outros que se preparam para passar o ponto, como o Vasco.
O Globo de hoje publica uma matéria sobre o assunto. E claramente coloca o balcão de compra e venda como um objetivos das SAF, muito mais do que buscar títulos.
A se confirmar, os torcedores vão ter que passar a vibrar com negociações milionárias. Já ouço o papo no boteco.
- Viu, irmão, o Bota vendeu um moleque da base por 100 milhões de euro! Caraca! Que jogada! Não ganhamu a Liberta mas tâmu com grana.
por Niko Bolontrin
Em coletivas após os jogos ou para anunciar convocações de jogadores para a seleção, o treinador Tite costuma falar como um palestrante de auto ajuda ou um coach. Jogador que avança pela ponta e cria situações de gol e o "externo desequilibrante"; se um craque precisa mostrar mais, Tite alerta que deve "performar" melhor; se o convocado prova capacidade de evoluir com os treinos é porque tem "treinabilidade", com isso pode alcançar "amplitude".
O futebol brasileiro já foi teorizado por técnicos que antecederam Tite na seleção. Cláudio Coutinho abusava dos conceitos em inglês. Para ele o overlaping era a solução para quase tudo em campo. Infelizmente não funcionou na Copa de 1978. Sebastião Lazaroni orientava seus jogadores a "galgar posições" em campo, o que não aconteceu na Copa de 90.
Ontem, na coletiva, Tite usou por várias vezes o seu termo preferido: "alto nível". "Philippe Coutinho está voltando ao "alto nível", assim ele defendeu a convocação de um jogador em má fase. "Atletas de "alto nível"; "idade não é pré-requisito para alto nível"...
"Titês" à parte, faltam 10 meses para a Copa do Catar. É o tempo que o coach tem para fazer a seleção performar em alto nível. A maior amplitude que o torcedor exige é ganhar o caneco da FIFA. Se o Hexa não vier agora a seleção vai igualar um recorde histórico (*) e chegará à Copa de 2026, sediada nos Estados Unidos, México e Canadá, apagando 24 velinhas sem o título mundial.
* O Brasil ganhou sua primeira Copa em 1958, 28 anos após a FIFA organizar o primeiro Mundial, em 1930. Mas a Segunda Guerra cancelou as Copas de 1942 e 1946. Do Bi de 1962 ao Tri de 1970, foram oito anos de jejum. Depois daquela conquista, a seleção esperou 24 anos para botar de novo a mão na taça: o Tetra foi em 1994, nos Estados Unidos. O Penta chegou oito anos depois, em 2002, no Japão.
![]() |
No alto, artigo de Gaspari no Globo de 12-1-2022: o sonho do Bolsonaro "gente boa". Menos de 24 horas depois, na edição de 13-1-2022, o sociopata desmente a "moratória" e frustra o jornalista. |
A revista Domingo Ilustrado - publicação em formato jornal criada por Samuel Wainer para a Bloch, em 1971 - teve trajetória meteórica. É também uma espécie de "unicórnio". Poucos a viram e é quase impossível exumar seus fósseis na internet.
Em janeiro de 2021 publiquei aqui um post sobre a DI. Garimpei apenas algumas poucas reproduções em repetidas buscas no Google.
Há poucos dias, um leitor que assinou como "unknow", nos enviou em comentário mais imagens da revista. Reproduzo algumas e repasso o link do blog Antiguinho que tem mais informações. Incluo também um link da matéria que fiz para o Panis.
Agredeço ao "unknow". Aos poucos o unicórnio jornalístico lançado por uma dupla improvável e que se detestava - Samuel Wainer e Adolpho Bloch - mostra sua cara.
http://antiguinho.blogspot.com/2021/07/vi-festival-internacional-da-cancao-1971.html?m=1
https://paniscumovum.blogspot.com/search?q=Domingo+Ilustrado
Minha recente incursão no mundo das mulheres de cabelos curtos levou-me a lembrar duas curiosas notas de pé-de-página históricas, referentes às duas Grandes Guerras. Na primeira, que foi uma guerra de trincheiras, os homens – sem capacidade ou sem necessidade de se barbear – deixaram simplesmente crescer barbas, bigodes, cabelos e tudo mais. Os soldados franceses foram batizados de “poilus” – peludos – um apelido amigável. Outro termo que nasceu nas trincheiras, o equivalente ao nosso “estar na fossa”, ou ao termo mais recente “deprê”. A palavra era cafard – no sentido literal barata – porque as trincheiras, com todo lixo e lama acumulados, estavam cheias destes animais nojentos e rastejantes. O sentimento do cafard é precursor da náusea sartreana.
Já a Segunda Guerra notabilizou o oposto: a ausência total de cabelos nas mulheres, as francesas que fizeram sexo com soldados alemães, tiveram os cabelos raspados como punição. Foram as “tondues”, publicamente humilhadas por terem mais do que colaborado com o inimigo e invasor.“
Na sequência acima: Timothy Carey; Emmanuelle Riva; e Marlon Brando. |
Um salto para frente, até a Guerra do Vietnã. No clássico Apocalypse Now de Coppola, Marlon Brando faz uma ponta genial na última meia hora do filme como o coronel Kurtz, um assassino impiedoso, que aparece – numa forma simbólica de automutilação – com o crânio raspado.
A propósito: em 1965, candidato ao vestibular da carreira diplomática no Itamaraty, tive de me submeter – como parte dos exames físicos – a um eletroencefalograma, agendado numa dependência da Aeronáutica nas imediações do aeroporto Santos Dumont. A pretexto de facilitar a colocação dos eletrodos em nosso crânio, os milicos rasparam rudemente nossa cabeça com a máquina zero. Ora, e as meninas? Vinte por cento das candidatas. Tiveram suas belas melenas preservadas, nem um fio foi tocado. Aí já é outra história – como escapei da diplomacia e caí nos braços do jornalismo. Depois eu conto...
Só outro dia me dei conta da importância das cidades e dos rios na vida de um homem. Nasci em Curitiba entre os riachos Ivo e Belém, bisonha mesopotâmia provinciana que virou mitologia nas páginas de Dalton Trevisan.
Pont Neuf, na Île de la Cité, seguindo para a rive gauche de Paris. |
Hoje moro na Rua das Laranjeiras, onde passa, subterraneamente, o Rio Carioca, que deu nome ao habitante da cidade. Ele desce do alto da Floresta da Tijuca, aflora em alguns trechos do Cosme Velho e no alto da Rua das Laranjeiras, e vai desaguar na praia do Flamengo. Passa pelo local onde ficava a casa de Machado de Assis, antes de passar, 500 metros depois, por meu apartamento, no Baixo-Glicério.
O Tietê na região urbana de São Paulo. |
“Sob o arco admirável/Da Ponte das Bandeiras,/ morta, dissoluta, fraca,/ Uma lágrima apenas, uma lágrima,/Eu sigo alga escusa nas águas do meu Tietê.”
União da Vitória (PR) e Porto União (SC): as “Gêmeas do Iguaçu”. |
Tive uma relação corporal conturbada com o Iguaçu. Quando prestava o serviço militar no CPOR, durante as manobras de verão nas cidades-gêmeas de União da Vitória (PR) e Porto União (SC), a arma de engenharia acampou às margens do rio, que ali já ostentava a largura respeitável de duzentos metros. Às três da madrugada acordei boiando em meu saco de dormir, com nossa barraca sendo levada pela forte correnteza. Na época eu sofria de uma amidalite crônica que se agravou com o banho forçado. De volta a Curitiba, fui levado diretamente a uma sala de cirurgia para extrair as amídalas.
Lembro ainda de um rio que ocupou parte da minha vida (quase vinte anos) nos fins de semana em Itaipava, o Piabanha. Por sua beleza natural, inspirou até uma escola de pintura paisagística serrana, mas podia ser temível em seus momentos de fúria: nos temporais de verão costumava arrastar e engolir vários carros.
Não vejo mais novos rios em meu horizonte imediato, acho que estou mais por conta do Estige ou do Aqueronte. Mas tenho a impressão de que o barqueiro Caronte anda ocupado demais para se lembrar de mim. Ainda bem...
(*) Para ler o poema completo, A Meditação sobre o Tietê, de Mário de Andrade,
clique em http://www.jornaldepoesia.jor.br/and08.html