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quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Jornalistas protestam contra tese supremacista do "racismo reverso" na Folha de São Paulo

Poeta, romancista e antropólogo, Antonio Risério errou a rima ao escrever na Folha de São Paulo um artigo sobre a tese supremacista do "racismo reverso".  Racismo é crime, não pode ser abrigado sobre a liberdade de expressão. O artigo é ruim, mal escrito, um retalho de citações que abusa de fontes que os supremacistas norte-americanos adotam em argumentação semelhante. O racismo reverso by Folha repercutiu nas redes sociais e provocou protestos. Um deles, muito expressivo, foi dos próprios jornalistas da Folha. Leia a seguir: 

19 de janeiro de 2022

Carta aberta de jornalistas da Folha à direção do jornal

Caros membros da Secretaria de Redação e do Conselho Editorial da Folha,

Nós, jornalistas da Folha aqui subscritos, vimos por meio desta carta expressar nossa

preocupação com a publicação recorrente de conteúdos racistas nas páginas do jornal.

Sabemos ser incomum que jornalistas se manifestem sobre decisões editoriais da

chefia, mas, se o fazemos neste momento, é por entender que o tema tenha

repercussões importantes para funcionários e leitores do jornal e no intuito de contribuir

para uma Folha mais plural.

O episódio a motivar esta carta foi a publicação de artigo de opinião intitulado “Racismo

de negros contra brancos ganha força com identitarismo” (Ilustrada Ilustríssima, 16/1),

em que Antonio Risério identifica supostos excessos das lutas identitárias, que

estariam levando a racismo reverso.

Para além de reafirmarmos a obviedade de que racismo reverso não existe, não

pretendemos aqui rebater o que afirma o autor —pessoas mais qualificadas do que nós

no tema já o fizeram, dentro e fora do jornal.

No entanto, manifestamos nosso descontentamento com o padrão que vem se

repetindo nos últimos meses.

Em mais de uma ocasião recente, a Folha publicou artigos de opinião ou colunas que,

amparados em falácias e distorções, negam ou relativizam o caráter estrutural do

racismo na sociedade brasileira. Esses textos incendeiam de imediato as redes sociais,

entrando para a lista de mais lidos no site. A seguir, réplicas e tréplicas surgem,

multiplicando a audiência. A controvérsia então se estanca e morre, até que um novo

episódio semelhante surja.

Antes do artigo em questão, colunas de Leandro Narloch e Demétrio Magnoli

cumpriram esse papel.

Acreditamos que esse padrão seja nocivo. O racismo é um fato concreto da realidade

brasileira, e a Folha contribui para a sua manutenção ao dar espaço e credibilidade a

discursos que minimizam sua importância. Dessa forma, vai na contramão de esforços

importantes para enfrentar o racismo institucional dentro do próprio jornal, como o

programa de treinamento exclusivo para negros.

Reconhecemos o pluralismo que está na base dos princípios editoriais da Folha e a

defesa que nela se faz da liberdade de expressão.

No entanto estes não se dissociam de outros valores que o jornalismo deve defender,

como a verdade e o respeito à dignidade humana. A Folha não costuma publicar

conteúdos que relativizam o Holocausto, nem dá voz a apologistas da ditadura,

terraplanistas e representantes do movimento antivacina.

Por que, então, a prática seria outra quando o tema é o racismo no Brasil?

Se textos como o de Antonio Risério atraem audiência no curto prazo, sua

consequência seguinte é minar a credibilidade, que é, e deve ser, o pilar máximo de um

jornal como a Folha.

Por esses motivos, convidamos a uma reflexão e uma reavaliação sobre a forma como

o racismo tem sido abordado na Folha. Acreditamos que buscar audiência às expensas

da população negra seja incompatível com estar a serviço da democracia.

Assinam esta carta:, Adriana Mattos, Adriano Vizoni, Alfredo Henrique, Aline Mazzo, Amanda Lemos, Amon Borges, Ana Bottallo, Ana Luiza Albuquerque, Andre Marcondes, Andressa Motter, Anelise Gonçalves, Angela Boldrini, Angela Pinho, Anna Virginia Balloussier, Artur Rodrigues, Bárbara Blum, Beatriz Izumino, Bianka Vieira, Bruna Borges, Bruno B. Soraggi, Bruno Benevides, Bruno Molinero, Bruno Rodrigues, Camila Gambirasio, Carolina Daffara, Carolina Linhares, Carolina Moraes, Catarina Ferreira, Catarina Pignato, Clauber Larre, Clayton Castelani, Cristiane Gercina, Cristiano Martins, Cristina Camargo, Cristina Sano, Dani Avelar, Dani Braga, Daniel E. de Castro, Daniel Mariani, Daniel Mobilia, Daniela Arcanjo, Danielle Brant, Danilo Verpa, David Lucena, Débora Melo, Diana Yukari, Eduardo Marini, Eduardo Moura, Emannuel Gonçalves Gomes, Fábio Pupo, Fernanda Brigatti, Fernanda Giulietti, Fernanda Mena, Fernanda Perrin, Flávia Faria, Flávia Mantovani, Gabriel Cabral, Gabriela Bonin, Géssica Brandino, Giovanna Stael, Giuliana de Toledo, Giuliana Miranda, Guilherme Botacini, Guilherme Garcia,Guilherme Seto, Gustavo Fioratti, Gustavo Queirolo, Havolene Valinhos, Heloísa Lisboa, Henrique Santana, Irapuan Campos, Isabela Palhares, Isabella Menon, Jairo Malta, Jéssica Maes, João Gabriel, João Gabriel Telles, João Pedro Pitombo, João Perassolo, José Marques, Julia Chaib, Karime Xavier, Karina Matias, Kleber Bonjoan, Laíssa Barros, Laura Lewer, Leonardo Diegues, Leonardo Sanchez, Lucas Alonso, Lucas Brêda, Luís Curro, Luiz Antonio Del Tedesco, Maicon Silva, Manoella Smith, Marcelo Azevedo, Marcelo Rocha, Marciana de Barros, Maria Ap. Alves da Silva, Mariana Agunzi, Mariana Arrudas, Mariana Goulart, Mariana Zylberkan, Marília Miragaia, Marina Consiglio. Marina Lourenço, Marlene Bergamo, Mateus Bandeira Vargas, Matheus Moreira, Matheus Rocha, Matheus Teixeira, Mathilde Missioneiro, Maurício Meireles, Mayara Paixão, Melina Cardoso, Mônica Bento, Naná DeLuca, Natália Cancian, Natália Silva, Nathalia Durval, Nicollas Witzel, Otavio Valle, Paola Ferreira Rosa, Patricia Pamplona, Paula Soprana, Paulo Batistella, Paulo Saldaña, Pedro Ladeira, Pedro Lovisi, Phillippe Watanabe, Priscila Camazano, Ranier Bragon, Raphael Hernandes, Raquel Lopes, Rebeca Oliveira, Regiane Soares, Renan Marra, Renata Galf, Renato Machado, Ricardo Balthazar, Rivaldo Gomes, Rodrigo Sartori, Ronny Santos, Rubens Alencar, Salvador Nogueira, Samuel Fernandes, Sílvia Haidar, Silvia Rodrigues, Tatiana Harada, Tayguara Ribeiro, Thea Severino, Thiago Amâncio, Thiago Bethônico, Tiago Ribas, Victor Lacombe, Victoria Azevedo, Victoria Damasceno, Vitor Moreno, Vitória Macedo, Walter Porto, Washington Luiz, Wesley Faraó Klimpel, William Barros, William Cardoso, Zanone Fraissat E outros 22 jornalistas da Folha. Total de adesões: 186

Você pode ler o artigo de Antonio Risério em dobradinha racista com a Folha de São Paulo AQUI (mas não vomite na tela do celular ou no teclado do computador.


O advogado e colunista da Folha, Thiago Amparo, também reagiu no twitter: