sábado, 8 de janeiro de 2022

Tribos capilares das Guerras • Por Roberto Muggiati

Minha recente incursão no mundo das mulheres de cabelos curtos levou-me a lembrar duas curiosas notas de pé-de-página históricas, referentes às duas Grandes Guerras. Na primeira, que foi uma guerra de trincheiras, os homens – sem capacidade ou sem necessidade de se barbear – deixaram simplesmente crescer barbas, bigodes, cabelos e tudo mais. Os soldados franceses foram batizados de “poilus” – peludos – um apelido amigável. Outro termo que nasceu nas trincheiras, o equivalente ao nosso “estar na fossa”, ou ao termo mais recente “deprê”. A palavra era cafard – no sentido literal barata – porque as trincheiras, com todo lixo e lama acumulados, estavam cheias destes animais nojentos e rastejantes. O sentimento do cafard é precursor da náusea sartreana.

Já a Segunda Guerra notabilizou o oposto: a ausência total de cabelos nas mulheres, as francesas que fizeram sexo com soldados alemães, tiveram os cabelos raspados como punição. Foram as “tondues”, publicamente humilhadas por terem mais do que colaborado com o inimigo e invasor.



Na sequência acima: Timothy Carey; Emmanuelle Riva; e Marlon Brando.

"Poilus" e "tondues" deixaram sua marca no cinema: Timothy Carey, fuzilado no filme de Stanley Kubrick
Paths of Glory/Glória feita de sangue; e Emannuelle Riva em Hiroxima meu amor, castigada na cidade de Nevers por se ter apaixonado por um alemão na 2ª Guerra.

Um salto para frente, até a Guerra do Vietnã. No clássico Apocalypse Now de Coppola, Marlon Brando faz uma ponta genial na última meia hora do filme como o coronel Kurtz, um assassino impiedoso, que aparece – numa forma simbólica de automutilação – com o crânio raspado. 

A propósito: em 1965, candidato ao vestibular da carreira diplomática no Itamaraty, tive de me submeter – como parte dos exames físicos – a um eletroencefalograma, agendado numa dependência da Aeronáutica nas imediações do aeroporto Santos Dumont. A pretexto de facilitar a colocação dos eletrodos em nosso crânio, os milicos rasparam rudemente nossa cabeça com a máquina zero. Ora, e as meninas? Vinte por cento das candidatas. Tiveram suas belas melenas preservadas, nem um fio foi tocado. Aí já é outra história – como escapei da diplomacia e caí nos braços do jornalismo. Depois eu conto...


Um comentário:

Jonas disse...

Moro no ABC, infelismente para nós negros, os carecas aqui são gangues de nazis que ameacam pessoas. Eu mudo de calçada quando vejo eles