Foto: OCDE/Divulgação |
O Brasil continua querendo entrar para a OCDE
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico é uma espécie de Country Club fechado para pé de chinelo. Alguns economistas afirmam que o sonho do Brasil de se juntar à confraria dos países desenvolvidos é muito mais um lobby do mercado financeiro. O Bananão, como chamava Ivan Lessa, poderá atrair investimentos especulativos - principalmente o do "capital motel", aquele que passa uma noite vai embora e sequer telefona no dia seguinte - mas perderá vantagens comerciais concedidas aos países em desenvolvimento".
Vamos imaginar sem preconceito que um ambulante das areias de Ipanema atravesse a avenida e entre no Country Club. Será um acontecimento comparável à primeira reunião com a presença de Paulo Guedes no Château de la Muette, em Paris, sede da organização. O palácio foi construído por Henri James de Rothschild, nos anos 1920, no lugar onde havia um conjunto de luxuosas residências de Carlos IX. Fica perto do Bois de Boulogne. É possível visitar alguns ambientes e os jardins do castelo. Está aberto aos turistas, quero dizer. A República Federativa do Brasil ainda não podia entrar oficialmente.
Até que chega o dia em que o Brasil finalmente é aceito na OCDE. (Paulo Guedes acredita fervorosamente que até 2022 ou durante o seu segundo mandato à frente do Ministério da Economia adentra no recinto dos ricos). Como o nosso ambulante no clube de Ipanema, o representante brasileiro sofre preconceitos. É olhado de banda. É possível, que alguém lhe peça um cafezinho. O nosso representante se identifica e, constrangido, recebe um pedido de desculpas. Alguém lhe providencia uma cadeira na segunda fila do mesão. Passa a reunião calado, até tenta a palavra mas é atropelado pelo ministro austríaco. Na hora do coffee brake, meio deslocado, o brasileiro não consegue chegar à mesa dos petit fours tomada por Alemanha, Estados Unidos, França, Japão e Noruega. Tenta se aproximar e leva um discreto empurrão do ministro da Letónia. que também é pobre mas esnoba o Brasil porque já tem cadeira cativa no clube. Guedes se esforça para puxar conversa com o titular da Hungria, com que tem afinidades direitistas, mas o sujeito parece preferir não ser visto ao lado de necessitados, pode pegar mal no salão.
Finalmente, o ministro francês se aproxima, o brasileiro sorri, foi notado, pensa. Só que o francês quer saber se o governo continua botando fogo na Amazônia. Guedes balbucia uma resposta, algo como "Mourão tá resolvendo isso", mas o gaulês já está batendo papo com o secretário do Tesouro americano. Vem outro, olha o crachá do Guedes, vê que é brasileiro - a quem também reconhece pela máscara no queixo - e pergunta o que é "rachadinha". Guedes apenas finge que se engasgou com um croquete que sobrou do bufê. Quando volta para a segunda metade da reunião, anima-se, pelo menos dois ou três ministros já o conhecem.
De fato, o francês imediatamente pede a palavra para uma questão de ordem curta e grossa.
- Quem foi o fils de pute que deixou um brasileiro trazer a cepa de Manaus para a OCDE?
A reunião é encerrada. Os ministros saem correndo, embarcam nas limusines direto para o Hospital Pitié-Salpêtrière, que nunca viu tanto ministro na fila para fazer o teste RT-PCR.
Guedes é colocado em quarentena nas antigas cavalariças do château.
Um comentário:
tudo a ver, brasil é o país do vexame
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