Zico e Bruno, 1978 - Foto de Guina Araújo Ramos |
E, da mesma sequência, a imagem que virou capa da Manchete Esportiva. Foto de Guina Araújo Ramos |
por Guina Araújo Ramos
A data real de fundação do Clube de Regatas do Flamengo é 17 de Novembro de 1895, mas seus fundadores, certamente influenciados pela ainda recente Proclamação da República, registraram como data oficial o 15 de Novembro, o que é, talvez, a primeira das muitas contradições deste clube de elite que se tornou o mais popular do Brasil, quiçá do mundo...
Além do esforço por sucesso na nobreza das regatas, os primeiros atletas flamenguistas logo se voltaram para o futebol, prática mal vista pela elite carioca. Por alguns anos o time apenas disputou amistosos, até a chegada de um time inteiro de futebol, dissidência de outro clube ainda mais esnobe, o Fluminense.
A mudança progressiva no perfil dos torcedores (não o da diretoria...) foi efeito não só das vitórias, a partir dos anos 1920, mas da expansão do rádio, com a formação de cadeias nacionais para a transmissão dos jogos, que tornaram conhecidos os times cariocas em todo o Brasil. Cresceram principalmente, com os bons resultados nas décadas de 1940 e 1950, as torcidas de Vasco e Flamengo, e esta, no Rio, também era estimulada pela Charanga, uma bandinha irritante na arquibancada...
A partir de meados dos anos 1970 e até início dos anos 1990, o Flamengo novamente recebe uma onda de torcedores: outra excelente fase de vitórias!... É então que brilha o maior de todos os jogadores lendários do Flamengo: Zico.
A partir da Era Zico, o Flamengo continua a sua epopeia, sempre na primeira divisão nacional, com seis títulos brasileiros (incluindo o nacional de 1986) e até ultrapassando o velho rival Fluminense em campeonatos cariocas, muitos já no século XXI, com destaque para o show do gringo Petkovic, em 2001, na final contra o Vasco.
A esta altura, Zico (Arthur Antunes Coimbra), maior artilheiro do Flamengo, que também jogara na Itália e Japão, tornara-se técnico de futebol, trabalhando nos mais inesperados países.
Com esta história, simplesmente o Flamengo acumulou a maior torcida no mundo, cerca de 40 milhões de torcedores... Inclusive eu, desde os cinco anos de idade, ao ver o Fla tricampeão (1953-54-55), e justo sobre o América, para o qual meu pai me catequizava (tema, emulando Guimarães Rosa, do premiado conto Grã Decisão: Viradas).
Meus primeiros contatos com Zico se deram nos tempos em que trabalhava na Bloch Editores, em matérias para a revista Manchete Esportiva, onde, em geral, cobria esportes amadores (a concorrência fotográfica era grande...). Desta vez, a tarefa era uma foto bem posada, típica das revistas da Bloch Editores, de Zico com o seu recém nascido filho Bruno, ambos com camisas do Flamengo, é lógico. Apesar da forte sombra do flash direto, de certo modo uma falha técnica (desculpável, talvez, pela minha pouca experiência ou pela emoção de torcedor), a foto foi capa da revista.
Outra passagem na Bloch que levo divertidamente na memória é a de um plantão de fim de ano (1978, 1979?), em que me colocaram de acompanhante do tão efusivo quanto sério do repórter Tarlis Batista, “o repórter das missões impossíveis”... Íamos cobrir um réveillon de luxo, se não o do Copacabana Palace, o de algum outro luxuoso salão do bairro. Só que ele sempre inventava algo mais... Veio logo avisando que iríamos registrar também a passagem do ano na casa do Zico, na Barra. Precisando estar tanto na Barra quanto em Copacabana no mesmo momento, à meia-noite, foi necessário que fizéssemos, na casa do jogador, uma simulação (e nisso ele era muito bom, tinha prática). Depois viemos da Barra em desabalada carreira, na medida em que o engarrafamento nos permitia, para cumprir a pauta da cobertura do réveillon, a contagem regressiva, o espocar de champanhe, em Copacabana. É claro que chegamos um pouco atrasados, mas nada que uma nova simulação não resolvesse...
Em Junho de 1980, me transferi para o Jornal do Brasil e passei a cobrir, com certa frequência, os treinos do Flamengo. Num deles, na saída dos jogadores, vendo o alvoroço em torno de Zico, me aconteceu de, pela primeira e única vez, pedir um autógrafo a um dos meus fotografados (aliás, a qualquer pessoa, exceto escritores), que de repente senti que era uma oportunidade única... Na época, até presidentes faziam questão de conhecer Zico, que o diga João Figueiredo, que o encontrou após o jogo Brasil 1 x 0 Alemanha, no Maracanã, em 1982.
Zico sob abraços. A foto da comemoração da vitória sobre o Cobreloa, no Maracanã, abriu o Caderno de Esportes do JB. Foto de Guina Araújo Ramos |
Outro momento de associação entre nós, eu e Zico, ainda que à distância, aconteceu no primeiro jogo da final da Taça Libertadores da América, em 1981, contra o Cobreloa do Chile, no Maracanã. Deixei de fazer a foto do gol Zico, em que driblou vários e entrou pela área para fazer o gol, simplesmente porque estava torcendo... Ainda bem que fiz uma bela foto da comemoração, todos em cima dele, abriu a página de Esportes. Conto a história no livro A Outra Face das Fotos, mas devo reconhecer que realmente a paixão pelo Flamengo me atrapalhava um pouco como fotojornalista...
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