sábado, 3 de novembro de 2018

Febeapá do novo milênio

 por Ed Sá 

A primeira edição do "Festival de Besteiras que Assola o País - Febeapá - foi lançada em 1966. No mesmo ano, chegou à terceira edição. Essa que aí está.

O Brasil que resiste sentirá falta de Stanislaw Ponte Preta, o saudoso Sérgio Porto, nos próximos anos. "A 'redentora', entre outras coisas" - escreveu o sobrinho da Tia Zulmira - "incentivou a política do dedurismo (corruptela de dedo-durismo), isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo, enfim, como corrupto e subversivo (alguns apontavam dois dedos-duros, para ambas as coisas)".

Ponte Preta notou que o Febeapá entrara em cartaz ao ler que uma dondoca paulistana, ao saber que seu filho tirara zero em matemática, apontou o professor à autoridades como um perigoso agente comunista.

Ilustração de Jaguar para o livro
de Stanislaw Ponte Preta. 
Algo parecido já está acontecendo, agora com a ajuda da tecnologia: as novas milícias do pensamento gravam aulas em celulares buscando sinais de subversão. Outros fatos recolhidos pelo jornalista e escritor:  em Campos (RJ), a Associação Comercial da cidade organizou o júri simbólico de Adolf Hitler sob o patrocínio do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Ao final do julgamento, Hitler foi absolvido; a TV Globo apresentou um "Globo Espacial" que discutia religião. Entre os debatedores, havia um padre e o espírita. Acontece que o espírita era bom de argumento e ganhou a parada. No dia seguinte, a Globo recebeu um ofício do Contel (Conselho Nacional de Telecomunicações) proibindo o programa em todo o território nacional; o Dops deteve uma turista russa que desembarcou no Galeão. Os policiais alegaram que a mulher levava "algo esquisito", talvez um artefato explosivo, sob o vestido. O caso ameaçava desandar em crise internacional quando as autoridades verificaram que a russa "contrabandeava" apenas uma poderosa região glútea.

A conjuntura, palavra muito em voga nos anos 1960, já começa a produzir tópicos para o Febeapá do novo milênio. Anote aí:

* O governador eleito do Rio de Janeiro quer importar drones para atirar em bandidos. Drone são controlados por rádio, alguns usam antenas de celulares. Se cair o sinal, o Rio terá bala perdida em versão de alta tecnologia. Os Estados Unidos usam drones em ações anti-terrorismo e admitem "danos colaterais". Ou seja: a precisão não é absoluta e às vezes atingem inocentes.

* O governo federal estudar fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, que, dizem, será conhecido pela alcunha de Ministério Raposa & Galinheiro.

* Philippe de Orleans e Bragança, "príncipe" sem reinado", eleito deputado e cotado para um cargo no governo Bolsonaro, anunciou que pretende invadir a Venezuela. Mas não marcou ainda o Dia D.

* Silvio Santos planeja voltar com o programa Semana do Presidente que o SBT, então TVS, criou para puxar o saco do general João Figueiredo.

* "Moro visita Lula para agradecer ministério". Destaque do Sensacionalista.

* Não está confirmado que o futuro ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes, pretende mandar um brasileiro à Lua até 2022. Também não foi confirmado que ele gostaria que esse brasileiro fosse selecionado entre Lula, Boulos, Stédile ou Leonardo Boff.


* Os vencedores da eleição farão passeata e vigília cívica contra a "Lei Ruanlei", conforme o organizador diz no convite.


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