sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Jornalismo e liberdade de expressão sob ataque e defesa





O Globo publicou ontem um artigo do escritor Luís Fernando Veríssimo sob o título "Os omissos". O autor levanta a questão no momento em que, no segundo turno da eleições, vários líderes políticos supostamente democráticos preferiram o conforto do topo do muro.

Em discurso transmitido em telão para a Avenida Paulista, Bolsonaro defendeu uma "faxina no país" e o banimento dos "marginais vermelhos". Veríssimo ironiza. Sugere que para selecionar o futuro bloco dos perseguidos e expatriados, provavelmente será necessário pregar no peito dos "marginais" uma estrela vermelha para distinguir os proscritos da esquerda dos seus carrascos da direita. E finaliza: "deu certo em outros países". A Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro interpretou a referência à estrela como uma ofensa às vítimas do "período mais vergonhoso e e violento da história da humanidade". Em resposta, o movimento Judeus Pela Democracia divulgou nota em que declara entender as críticas, mas reconhece o tom irônico da frase, não vê intenção antissemita na crônica e defende Veríssimo como um escritor que "sempre manifestou seu repúdio ao Holocausto e à história do nazismo na Alemanha, tendo mantido sempre laços muito fortes e fraternos com a Comunidade Judaica".

Uma leitura menos contaminada pela política e pelo adesismo indica que o "deu certo" é claramente dirigido aos métodos de opressão instalados pelos nazistas. Trágica e criminosamente, eles eliminaram em escala industrial judeus, comunistas, intelectuais, cientistas, ciganos, pessoas com deficiência, anarquistas e até opositores alemães de "raça pura". Pode-se dizer, igualmente, que os métodos aplicados no Brasil pelos governos militares "deram certo". Também trágica e criminosamente, a ditadura eliminou seus adversários, o objetivo daquela política de assassinatos e torturas.

Métodos, aliás, defendidos repetida e orgulhosamente pelo presidente recém-eleito.

É positivo que a Fierj e todas as representações da sociedade civil estejam sempre atentas aos verdadeiros e preocupantes sinais de preconceito.

Falta, por exemplo, uma resposta mais efetiva às ameaças que os seguidores de presidente eleito postam nas redes sociais, não raro ilustradas por suásticas, contra judeus, negros, nordestinos, homossexuais, índios etc.

Como diz a nota dos Judeus Pela Democracia, "Luís Fernando Veríssimo não foi o primeiro nem será o último intelectual a citar o nazi-fascismo e o Holocausto como ferramentas de comparação com o que Bolsonaro representa".

O "deu certo" é o alerta que pouco foi ouvido na Alemanha antes da tragédia.

Veríssimo é o alvo errado.

Um comentário:

J.A.Barros disse...

Sobre tortura policial ou militar eu me lembro, pequeno ainda na década de 40, muito se falava em prisões e tortura. Naquela época havia um artigo – se não me falha a memória – artigo 47 de uma lei do estado Novo, que sob denúncia qualquer um poderia ser denunciado como comunista e a Polícia sob a direção de um general prendia e baixava na porrada. Digo isso porque um tio meu foi preso por causa de uma denúncia, feita por telefone de que era comunista, foi enquadrado na lei preso sem culpa formada. Entrou no cacete. Um dia minha mãe e eu fomos visita–lo na cadeia, e realmente o encontramos com a cara vermelha e muito inxada. Mas, o tempo passa e meu tio depois de solto recorreu à Justiça, depois que Getúilo Vargas ter deixado poder. Ganhou na Justiça e como era funcionário público do Estado retomou o seu posto e como prêmio voltou como fiscal de renda, com os salários atrasados.