terça-feira, 13 de novembro de 2018

Memória da propaganda: "não saia sem guarda-chuva"...



Em novembro de 1968, o Banco Nacional lançava nas revistas uma campanha que prometia "lucro certo" para investidores. Um guarda-chuva dominava a cena.

O guarda-chuva, aliás, tornou-se na década seguinte uma espécie de símbolo do banco mineiro, que dava de brinde aos clientes o utensílio com o logotipo da instituição.

A campanha ainda estava na mídia quando a ditadura lançou o AI-5, em 13 de dezembro de 1968. A partir do ato institucional que suspendeu garantias constitucionais, inclusive o habeas corpus, e abriu caminho para a institucionalização da tortura e dos assassinatos políticos, a barra pesou. Houve uma onda de prisões de jornalistas, escritores, artistas, funcionários públicos, estudantes, sindicalistas e políticos.

No Rio de Janeiro, entre militantes, foi adotada uma senha de alerta. Quando se sabia que determinada pessoa havia sido presa, significava que vários dos seus amigos ou contatos entravam em alto risco de sequestro por parte da frota de Veraneio, o sinistro utilitário usado pela repressão. A senha para tomar cuidado ou mudar de endereço era passada por telefone ou bilhetes - "Não saia sem guarda-chuva". Pelo menos um recorte da campanha acima foi colado em um corredor da Escola de Comunicação da UFRJ, na Praça da República.

O Banco Nacional, a propósito, pertencia a Magalhães Pinto, chamado de "líder civil" da ditadura e um dos signatários do AI-5.


Reprodução Jornal do Brasil

A relação entre alertas políticos e a meteorologia não era exclusividade dos militantes ou dos alvos em potencial da repressão. O Jornal do Brasil do dia 14 de dezembro de 1968, um sábado, noticiou a edição do Ato Institucional e, no alto da página, à esquerda e à direita, incluiu duas mensagens: a previsão anunciando dias sufocantes e a informação de que 13 de dezembro era o Dia dos Cegos. Foi a forma que Alberto Dines, então editor do JB, encontrou, há 50 anos, para denunciar a censura imposta à redação pelo AI-5.

Não custa deixar seu guarda-chuva por perto.

Um comentário:

Hoffmann disse...

me lembro que o Pasquim, que teve a redação presa, chegou a publicar esse aviso ou parecido, "não saia sem guarda-chuva"