Na velha Bloch aquele foi um dia marcante por um triste motivo. Era uma segunda-feira chuvosa como essa terça-feira de hoje. Adolpho Bloch tinha morrido na madrugada de domingo, 19, e era velado no saguão do primeiro prédio da Manchete, na Rua do Russell, 804, debaixo da escultura de Frans Krajcberg.
Após o velório, formou-se uma caravana de vários carros e ônibus rumo ao cemitério judaico de Vila Rosali para a despedida de Adolpho. Alertada pela televisão e pelo rádio, uma multidão aguardava a comitiva. No local, a rua estreita, criou-se um tumulto. O povão se agitava com as presenças de figuras conhecidas, como Xuxa, Angélica e outras. Os famosos eram aplaudidos, mas havia um ensaio de vaias para alguns fotógrafos, repórteres e demais anônimos: era a multidão expressando irreverência e decepção quando via que não eram celebridades da TV.
Era difícil chegar ao portão do cemitério e, para os jornalistas, mais complicados ainda a circulação e o trabalho lá dentro nos estreitos caminhos entre as sepulturas.
Alguns tiveram que subir em túmulos em busca de melhores ângulos. E aí deu-se um acidente. Um dos fotógrafos apoiou-se em uma lápide, que não aguentou o peso e desabou. Ao tentar se segurar instintivamente no colega ao lado, a primeira vítima deu início a uma queda sucessiva de lápides como em um dominó enfileirado. As lápides de mármore eram pesadas, por sorte ninguém se feriu.
Não se sabe quem pagou o prejuízo, até porque os fotógrafos, assim como editores e repórteres da Manchete, tinham uma edição especial para fechar e voltaram rapidamente para a redação.
O primeiro Dia de Zumbi ninguém esquece.
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