terça-feira, 20 de novembro de 2018

Memória da redação: um dia como esse...

Em 1995, o 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, foi comemorado pela primeira vez. Era ainda um feriado municipal do Rio de Janeiro que, depois, se estendeu pelo país e passou a ser celebrado como o Dia da Consciência Negra.

Na velha Bloch aquele foi um dia marcante por um triste motivo. Era uma segunda-feira chuvosa como essa terça-feira de hoje. Adolpho Bloch tinha morrido na madrugada de domingo, 19, e era velado no saguão do primeiro prédio da Manchete, na Rua do Russell, 804, debaixo da escultura de Frans Krajcberg.

Fotomemória - Parte da redação da Manchete em 20 de novembro de 1995, no saguão do Russell,
onde era velado Adolpho Bloch. Vê-se João Silva, Regina Baroni, Orlandinho, Alberto, José Carlos,
Muggiati, Sério Ross, Ney Bianchi, Esmeraldo, Paulinho e Wilson Pastor. 
A redação se alternava entre as homenagens prestadas ao fundador da editora, no hall, e a preparação de uma edição especial, no oitavo andar.

Após o velório, formou-se uma caravana de vários carros e ônibus rumo ao cemitério judaico de Vila Rosali para a despedida de Adolpho. Alertada pela televisão e pelo rádio, uma multidão aguardava a comitiva. No local, a rua estreita, criou-se um tumulto. O povão se agitava com as presenças de figuras conhecidas, como Xuxa, Angélica e outras. Os famosos eram aplaudidos, mas havia um ensaio de vaias para alguns fotógrafos, repórteres e demais anônimos: era a multidão expressando irreverência e decepção quando via que não eram celebridades da TV.

Era difícil chegar ao portão do cemitério e, para os jornalistas,  mais complicados ainda a circulação e o trabalho lá dentro nos estreitos caminhos entre as sepulturas.

Alguns tiveram que subir em túmulos em busca de melhores ângulos. E aí deu-se um acidente. Um dos fotógrafos apoiou-se em uma lápide, que não aguentou o peso e desabou. Ao tentar se segurar  instintivamente no colega ao lado, a primeira vítima deu início a uma queda sucessiva de lápides como em um dominó enfileirado. As lápides de mármore eram pesadas, por sorte ninguém se feriu.

Não se sabe quem pagou o prejuízo, até porque os fotógrafos, assim como editores e repórteres da Manchete, tinham uma edição especial para fechar e voltaram rapidamente para a redação.

O primeiro Dia de Zumbi ninguém esquece.

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