Joel Barcelos (1936-2018) |
Escrevo uma mera nota de pé de página à biografia do ator e militante Joel Barcelos, morto no sábado, 10 de novembro, em Rio das Ostras, RJ, aos 81 anos.
Em julho de 1962, eu estava em Curitiba, de volta de dois anos em Paris, mas já com um pé em Londres, com contrato assinado para trabalhar no Serviço Brasileiro da BBC. Rolava em Curitiba um megaevento cultural e político que aqueceu de uma maneira insana o inverno da cidade. Para lembrar os que já esqueceram e informar aos que nem eram nascidos: Jango Goulart, o vice que, depois do tresloucado gesto de Jânio da Silva Quadros, assumiu a Presidência da República, sob resistência das alas reacionárias, tentava conviver com um regime parlamentarista canhestro, o Brasil nunca tivera familiaridade com estas políticas civilizadas. Agitação nas ligas rurais, nos sindicatos, nos transportes e nos portos, nas famílias católicas e, principalmente, entre os estudantes.
Foi nesse quadro que surgiram os Centros Populares de Cultura, os CPCs, organizadíssimos e associados à União Nacional dos Estudantes (UNE). Sua atuação básica consistia em criar e divulgar uma "arte popular revolucionária” e exigir do artista que ele fosse “engajado”.
O evento de Curitiba centrava-se em teatro e artes cênicas. Joel Barcelos era um dos manda-chuvas dos CPCs. Alguém soprou para ele que eu tinha diploma de inglês de Cambridge (o Proficiency da Cultura Inglesa), então ele me chamou às armas. Recebeu-me numa sala de escritório (provavelmente cedida por um daqueles “bons burgueses” da época). Foi direto: intimou-me a dar uma palestra provando que Shakespeare e o seu teatro eram comunistas. Topei – por que não? – ele estava coberto de razão...
Ileana Kwasinski |
Quanto ao Joel Barcelos, nunca mais o vi, a não ser valente sempre nas telas do cinema novo e ainda na TV.
O epílogo daquela temporada dos CPCs em Curitiba foi que eu e um amigo pegamos uma carona no majestoso Bentley de Gianni Ratto para o Rio de Janeiro. Depois de dois dias de viagem – alegando que morava em Santa Teresa e não podia nos levar até Ipanema, nosso destino final – o britânico italiano nos desovou na porta do Hotel Novo Mundo, no Flamengo. Tremenda coincidência. Mal imaginava eu que, três anos depois, iria trabalhar na Manchete e, nos longos anos do Russell (1969-2000), encontraria no bar do Novo Mundo um porto seguro para todas as nossas tormentas no tumultuado mar dos Bloch...
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