sexta-feira, 31 de março de 2017

Livro revisita os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira

A mídia brasileira replica atualmente campanha dos jornais americanos e anuncia a montagem de núcleos editoriais para combater fake news, o que é louvável, mas comete três erros nos seus anunciados projetos de checagem de notícias. O primeiro, ao praticar fake news induz os leitores a considerar que as mentiras difundidas em mutas páginas de redes sociais e em "correntes" de emails são a mesma coisa que opiniões e matérias veiculadas em sites e blogs de jornalismo independente. O segundo, ao não incluir nas checagens as suas próprias fake news, omissões ou distorções motivadas por alinhamento político-partidário, ideologia, crenças ou "valores". O terceira, ao desvalorizar o meio digital independente, que, no Brasil, dá mostras de profissionalismo,produz importantes reportagens investigativas sobre temas que a imprensa conservadora evita e já tem o reconhecimento da audiência como uma alternativa saudável ao jogral dos grupos que dominam a mídia.


Nesse sentido, o lançamento de um livro-reportagem sobre o Caso Escola Base, que será será lançado dia 4 de abril, em São Paulo, é mais do que oportuno e é um dos exemplos históricos de antijornalismo. Um dos mais graves e cruéis erros da grande mídia, o Caso Escola Base nunca será suficientemente discutido. Capas de revistas, títulos em primeira páginas e cenas de telejornais da época deveriam estar permanentemente nos murais das redações como um exemplo do que não se deve fazer.
O livro regata a memória dos principais personagens do caso e conta o que aconteceu com eles depois do bombardeio midiático. Em 1994, os donos da Escola Infantil Base, em São Paulo, foram acusados de terem abusado sexualmente de alunos. A mídia explorou essa versão, sem sequer ouvir o outro lado, e provocou um clima de revolta na opinião pública. A escola foi depredada, os donos vítimas de torturas físicas e psicológicas, com rostos e perfis pessoais divulgados nacionalmente, antes de qualquer prova. Alguns meses depois, os acusados foram inocentados pela Justiça.
Para saber como viveram os personagens, se superaram ou não o trauma, o jornalista Emílio Coutinho dedicou meses de apuração e pesquisa.
O casal Shimada, vítima da crueldade, já faleceu. O livro conta como foram seus últimos dias. E não deixa de ouvir alguns dos seus algozes e contar como foram desmascarados.
O livro será lançado no dia 4, a partir das 18h30, na Livraria Martins Fontes, Av. Paulista, 509, próximo à Estação Brigadeiro do Metrô.
No dia seguinte, 5/4, haverá um debate no Auditório Nelson Carneiro, Avenida Liberdade, 899, das 18h às 19h15, com as presenças do autor do livro e do jornalista Florestan Fernandes Jr. que, na época,  desconfiou da versão oficial da grande imprensa, investigou o caso e mostrou que os proprietários da Escola Base estavam sendo injustamente acusados.
Houve ações reparatórias contra a Folha, TV Bandeirantes, jornal Estado de São Paulo e Editora Abril. Anos depois, o STJ condenou o governo paulista a pagar uma indenização ao casal. Até 2014, quando o caso completou 20 anos, tal indenização não havia sido paga.

4 comentários:

Rick disse...

Isso continua de certa forma acontecendo. O que são os programas policiais senão uma falta de respeito com inocentes e culpados, pra esses apresentadores o que vale é esculachar

J.A.Barros disse...

O casal de educadores destruidos moral e fisicamente e não pagaram ainda por cima a indenização devida a eles, sucumbiu depois de tanta difamação e destruição de suas vidas. Erro irreparável da imprensa, que deveria moralmente e justamente lhes pagar uma indenização – que também não pagaram – e tudo ficou por isso mesmo. Esse fato não é inédito no Brasil, que é o país da injustiça e da incompetência.

J.A.Barros disse...

Trabalhei por 50 anos de minha vida na Imprensa com jornalistas e fotógrafos da mais alta qualidade, integridade e honestidade profissional. Nenhum deles me decepcionou, todos dedicaram as suas vidas profissionais à integridade e honestidade das notícias. Trabalhei como "designer gráfico"na imprensa durante todos esses anos e sou testemunha do trabalho desses jornalistas, que sob qualquer condições saíam em campo para registrar as notícias e publica-las nos seus veículos de noticiais. Não duvidem desses profissionais de jornalismo porque eles são honestos e amam a profissão que exercem.

Rick disse...

E daí? Por isso podem fazer o que querem e cometer crime como o que o livro conta?