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Museu Manchete; arte moderna brasileira. |
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Capa do livro "Museu Manchete" editado em 1982. |
Em 1982, como parte das comemorações dos seus 30 anos, a Manchete
lançou uma edição especial e um livro. A revista reunia os fatos e as fotos
marcantes daquelas três décadas. O livro percorria a galeria de arte que exibia
um dos maiores acervos de artistas plásticos brasileiros. No prefácio do livro
“Museu Manchete” (*), Adolpho Bloch escreveu o texto aqui reproduzido.
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Texto escrito por Adolpho Bloch/Reprodução do livro "Museu Manchete". |
Ele conta que já em 1952, ano em que a revista Manchete
foi lançada, começou a divulgar os principais pintores do Brasil. A revista
dava os passos iniciais e, no mapa do caminho, plantava as sementes da futura
coleção.
Nos anos seguintes, os primeiros quadros, entre aqueles
que formariam a “Coleção Manchete de Arte Moderna Brasileira”, eram vistos em
salas da então sede da Bloch Editores, na Rua Frei Caneca. Com a inauguração do
prédio da Rua do Russel, no fim da década de 1960, a galeria ganhou seu espaço
nobre no amplo foyer do Teatro Adolpho Bloch. Tornou-se o Museu Manchete que,
na verdade, ultrapassava os limites do foyer. Havia esculturas, tapeçarias e
quadros em todos os andares.
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Na parede do hall do prédio que sediou a Manchete, a obra de Franz Krajberg. "Relevo em Branco, de 1968. |
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"Composição", de Volpi, sem data/Reprodução do livro "Museu Manchete |
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"Abstração", Mabe, 1979 |
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"Barco em Itapuã", Pancetti, 1956 |
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Dois quadros de Bandeira; "Floresta", 1958, e "Outono em Paris", do mesmo ano. Reproduções do livro "Museu Manchete" |
No hall destacava-se “Relevo em Branco”, de Franz
Krajberg, instalação monumental que impressionava os frequentadores do prédio
assinado por Oscar Niemeyer. Esculturas de Bruno Giorgi e Agostinelli e telas
de Bianco, Portinari, Di Cavalcanti, Djanira, Bandeira, Pancetti, Mabe,
Guignard, Volpi, Scliar, Cícero Dias, Iberê Camargo, entre outros, eram
virtuais vizinhos das redações das revistas.
Com a falência da Bloch, no dia 1° de agosto de 2000, a coleção tornou-se objeto de
disputa judicial. Parte do acervo teria sido entregue a um banco em transação
financeira pouco anterior à falência. A Justiça, que já havia concedido à viúva de
Adolpho Bloch a propriedade de alguns quadros, deu aos herdeiros de Adolpho
Bloch a prerrogativa de escolher metade das obras restantes.
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Parte do laudo de avaliação, que tem 36 páginas. |
Talvez supondo -
com razão e como efetivamente aconteceu -, que o espólio selecionaria naturalmente
as obras mais valiosas, a Justiça determinou que, confrontadas as avaliações
dos quadros mais caros concedidos aos ex-controladores da Bloch com os valores
das obras que destinadas à Massa Falida, esta recebesse um saldo, em espécie, a
seu favor. A Massa Falida contestou a fórmula de partilha por entender que o
acervo pertencia integralmente à empresa e, portanto, deveria ir a leilão,
completo, para quitar dívidas trabalhistas em parte até hoje pendentes. Mas os
credores trabalhistas, entre os quais os milhares de ex-funcionários e suas famílias,
acabaram perdendo essa batalha. E, infelizmente, estão em vias de perder outra:
a 3ª Câmara Civil havia determinado que o espólio de Adolpho Bloch pagasse à
Massa Falida metade do valor gasto com a guarda e conservação das obras do
Museu Manchete. O espólio recorreu, perdeu em duas tentativas, mas obteve uma decisão favorável em embargo de declaração, o que poderá representar
mais um abalo na soma de recursos reservados para a quitação integral das
dívidas trabalhistas.
Juridiquês à parte, resta um comentário: a Manchete não
deu muita sorte com o destino dos seus acervos. Desde 2000, ano em que foi
decretada a falência da Bloch Editores, as obras de arte permanecem longe dos
olhos do público. Provavelmente, não mais serão vistas como uma coleção,
de fato. As obras pertencentes à Massa Falida irão a leilão, quadro a quadro. E
caberá ao espólio de Adolpho Bloch decidir o que fará com a outra metade do
Museu Manchete.
Desfaz-se o que Adolpho Bloch denominou, com justificado
orgulho, de “Coleção Manchete de Arte Moderna Brasileira”. E sobre o qual
escreveu, em 1982: “Hoje, a Coleção
Manchete é frequentada por todos, constituindo-se uma das salas de visitas da
arte brasileira. Sinto-me feliz em poder prestar esse serviço à minha cidade e
aos artistas de todo o Brasil”. Outro acervo, o fotográfico, de
características e importância peculiares mas igualmente valioso, também tomou
um rumo desconhecido. Foi leiloado, adquirido por uma pessoa física e sumiu.
Nos dois casos – das obras do Museu Manchete e das milhões de fotos que
pertenciam aos arquivos das revistas da Bloch – o público e a memória - ou a cidade, como escreveu Adolpho Bloch -
saíram perdendo. Teria sido melhor, pela importância cultural e histórica de
ambas as coleções, que uma instituição houvesse se apresentado para adquiri-las
e as mantivesse íntegras e ao alcance do público.
Não aconteceu, nem virou
manchete.
(*) O livro "Museu Manchete" lançado por Edições Bloch, em 1982, foi editado por Carlos Heitor Cony, com textos de Flávio de Aquino, diagramação de Áureo Abílio e Luís Roberto de Oliveira, produção gráfica de Carlos Affonso de Lima, fotos de Gervásio Baptista, Antonio Rudge e Nilton Ricardo. O design da capa foi de Licínio de Mello.
2 comentários:
Coleções como essa deveriam ser preservadas. Como pretendeu como tema a arte moderna brasileira, ela é didática enquanto coleção. Provavelmente vai se dispersar e não não ser que algum museu adquira alguns quadro irão para salas particulares e deixam de ser vista pelo público. É lamentável.
Tem razão. O ideal era que um MAM que perdeu tantas obras em um incêndio há alguns anos adquirisse a coleção completa
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