(por Vasco Câmara, para o Público)
Há quem tenha vindo por causa da memória dela em Dona Flor e seus dois Maridos (Bruno Barreto, 1976). Mas para ela, evocar uma era do passado não é apenas um trabalho de pura nostalgia, o tempo de um set e o que eles juntos faziam lá - com Jorge Amado e com Zélia Gattai, com José Wilker… - é pura alegria. “Não é nostalgia, é uma coisa feliz. Um filme transmite felicidade a muitas pessoas e é isso que queremos, dar-lhes uma consciência, mas principalmente diverti-las”. Eis Sônia Braga, 66 anos, a intérprete de uma esplendorosa personagem, Clara, de um esplêndido filme, Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, durante a conferência de imprensa em Cannes. “Filme foda!”, gritou um jornalista brasileiro.
Sônia vive entre Niterói e Nova Iorque. Há muito que não faz telenovelas, mas sublinha imediatamente: “A televisão é muito importante no Brasil. As pessoas não têm tempo nem dinheiro para ir ao cinema e ao teatro.” Logo a seguir a filha de uma costureira que criou sete filhos, a rapariga que deixou a escola aos 13 anos e que se tornou nos anos 70 e 80 num ícone do cinema e da televisão brasileiros, faz uma declaração essencial: isso não pode servir para menosprezar a “inteligência e a sofisticação dos pobres” no Brasil.
“O problema é com os ricos. Querem tirar a todos tudo o que eles têm e querem fazer as cidades feias”. Sônia, cuja linha de pensamento seria continuada por um colega actor, Humberto Carrão (ao falar na “falta de educação dos ricos”), referia-se ao contexto da personagem no filme, uma sexagenária, a única habitante de um edifício do Recife dos anos 40, que, não querendo abandonar as suas memórias, torna-se um foco de resistência para os projectos de uma imobiliária e da sua ferocidade.
“Viemos todos de sítios diferentes, mas estamos aqui. Temos de estar juntos, não importando de onde viemos, para fazermos todos juntos a democracia”. Sônia está então a falar de várias coisas que esta ficção absorveu, e que é o tempo que o Brasil vive hoje. Na terça-feira, ao subirem à red carpet para a gala de Aquarius, Sônia e a equipa, Kleber e os restantes actores, viraram-se para as câmaras e empunharam cartazes a denunciar o “golpe” - o processo de destituição da Presidente brasileira Dilma Rousseff - que entendem estar a ocorrer no Brasil. “Ocorreu um golpe de Estado no Brasil”, lia-se num dos cartazes. Outro: “O mundo não pode aceitar este Governo ilegítimo”. “Chauvinistas, racistas e golpistas como ministros”. “54.501.118 votos incinerados”.
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Entendi agora porque esse filme não foi divulgado ela mídia. Achei estranho um filme brasileiro de repente estar concorrendo a Palma de Ouro e nenhum crítico ou colunista destacou esse filme ou pelo menos contou que estava sendo feito. Sonia Braga é uma eterna rebelde que não se rendeu ao sistema, não puxa saco de critico nem se alia as grandes redes. Daí, o silencio. O filme Aquarius, de um diretor também lucido e independente, está dando uma lição ao conservadorismo para não dizer fascismo brasileiro.
ResponderExcluirO governo do golpe tah mais sujo lá fora do que tampax de mulher de politico
ResponderExcluirGrande Sônia Braga, sempre lutadora e mostrando personalidade e cinsciencia
ResponderExcluirVendo a honestidade política de Sonia Braga imagino quao envergonhados devem estar certos intelectuais que apoiaram o golpe e em consequencia um governo com influencias religiosas, corruptas, empresarias, financeira, preconceituosas, fundamentalistas e antidemocráticas e até com acusados de assassinato em cargos importantes. Eles, os golpistas, votaram essa gente no poder e muitos até estão elogiando a "equipe" montada. Quem apoia e ajuda fascistas fascista é.
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