domingo, 8 de maio de 2016

Do site Nexo: Como Obama usou o mercado de entretenimento para construir sua imagem política

Participação em séries de TV, programas de auditório e humorísticos fizeram do presidente dos EUA o mais descolado do mundo



por Beatriz Montesanti (para o site Nexo)

Obama comemorou o 4 de maio, dia de Star Wars, ensaiando passinhos de dança ao lado de Michelle Obama, R2-D2 e Stormtroopers. Parece uma cena difícil de se imaginar com outros líderes mundiais, como Angela Merkel, David Cameron ou Dilma Rousseff - que, em uma de suas raras entrevistas para a mídia de entretenimento, deslocou o apresentador Jô Soares a Brasília. Mas para Obama, foi apenas mais uma aparição pitoresca entre as que ajudaram a moldar sua imagem de presidente descolado ao longo de oito anos na Casa Branca.

Desde a campanha de 2008, ele participa de programas de auditório como os de Oprah Winfrey e Ellen DeGeneres. O fato em si não é algo tão notório em um país em que jornalismo e entretenimento se misturam - o neologismo “infotainment” é usado para descrever atrações que aliam entretenimento e informação. Outros presidentes já fizeram o mesmo.

Mas Obama foi o primeiro a trazer a roupagem pop à Casa Branca, por meio da música, do esporte e da televisão, protagonizando cenas cômicas em programas de humor, webseries e talk shows.

A relação da política americana com o entretenimento#

O entretenimento nos EUA já influenciou os rumos da política nacional. Em 2008, a paródia protagonizada pela comediante Tina Fey da então candidata a vice-presidente republicana, Sarah Palin, pôs em xeque a campanha de John McCain. Não à toa, presidentes e políticos no geral participam de programas de televisão menos afeitos ao mundo político, algo pouco provável nas estratégias de mídia do Brasil, por exemplo.

John Kennedy foi o primeiro presidente a de fato usar a televisão para falar diretamente com o público americano. Até então, os pronunciamentos presidenciais eram todos gravados. As coletivas de imprensa transmitidas ao vivo foram apenas mais um dos aspectos que aproximaram Kennedy do público. Sua mulher, Jacqueline, também teve papel importante ao tornar-se ícone da moda.

A prática foi além: Gerald Ford participou de um quadro de “Saturday Night Life” durante sua gestão, Bill Clinton tocou Elvis Presley no saxofone em rede nacional, George W. Bush apareceu no game show  “Deal or No Deal”.

As estratégias de “soft media”

Nenhum desses presidentes, porém, ocupou o cargo na era dos virais da internet. “A abordagem viral de Obama na presidência é uma estratégia que mudará a forma como entendemos o cargo?”, questionou o “Huffington Post”.

Em 2012, a assessora de campanha de Obama, Stephanie Cutter, disse à CNN que as entrevistas feitas pelo presidente a revistas como “People Magazine” e a “Entertainment Tonight” eram tão importantes quanto as feitas pelo noticiário político.

Na ocasião, o presidente estava sendo criticado por sua estratégia de “soft media”. Ou seja, falar apenas com pequenos veículos ou veículos de variedade, como rádios e canais de esporte.

Após reeleito, a estratégia ganhou contornos ainda maiores, e o entretenimento tornou-se uma ferramenta importante para Obama atingir seus eleitores.

Como uma piada impulsionou o Obamacare

A mais notória das participações de Obama no entretenimento, em 2014, foi grande responsável pelo cadastro de pessoas no Obamacare - plano de saúde público americano. Após meses de batalha no Congresso para aprovar o projeto e problemas técnicos na plataforma de cadastro do plano, o governo estava tento dificuldade em convencer a população a aderir ao sistema, então desacreditado. Até sua entrevista com o comediante Zach Galifianakis viralizar na internet, em março de 2014.

O “Between Two Ferns” é um programa online de paródias de entrevistas, hospedado no site de humor Funny or Die. Nele, Galifianakis faz perguntas absurdas e constrangedoras a seu entrevistado, ambos sentados, literalmente, entre duas samambaias (nome em inglês do programa).

Os problemas técnicos do Obamacare foram motivos de piada na entrevista, o que serviu como gancho para o presidente incentivar a audiência jovem a se cadastrar no site, antes do término do prazo, dias depois. Missão cumprida. No Youtube, o vídeo tem mais de 14 milhões de visualizações.


Segundo disse o produtor executivo da atração, Mike Farah, à revista “Variety”, a tendência é que os sucessores de Obama sigam os passos do descolado presidente e se aproximem da cultura pop para atingir audiências que geralmente desligam o noticiário político.

VEJA NO SITE NEXO OS MELHORES MOMENTOS DE OBAMA NA INTERNET. CLIQUE AQUI

Um comentário:

Mateus disse...

Obama sai por cima inclusive nas pesquisas de aprovação. Difícil é saber de Hillary vai segurar essa onda. Me recuso a pensar na possibilidade de Trump chegar à Casa Branca. Vamos esperar bom senso do eleitor americano