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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Sônia Braga: cinema de resistência e opiniões idem...

(por Vasco Câmara, para o Público)
Há quem tenha vindo por causa da memória dela em Dona Flor e seus dois Maridos (Bruno Barreto, 1976). Mas para ela, evocar uma era do passado não é apenas um trabalho de pura nostalgia, o tempo de um set e o que eles juntos faziam lá  - com Jorge Amado e com Zélia Gattai, com José Wilker… - é  pura alegria. “Não é nostalgia, é  uma coisa feliz. Um filme transmite felicidade a muitas pessoas e é isso que queremos, dar-lhes uma consciência, mas principalmente diverti-las”. Eis Sônia Braga, 66 anos, a intérprete de uma esplendorosa personagem, Clara, de um esplêndido filme, Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, durante a conferência de imprensa em Cannes. “Filme foda!”, gritou um jornalista brasileiro.

Sônia vive entre Niterói e Nova Iorque. Há muito que não faz telenovelas, mas sublinha imediatamente: “A televisão é muito importante no Brasil. As pessoas não têm tempo nem dinheiro para ir ao cinema e ao teatro.” Logo a seguir a filha de uma costureira que criou sete filhos, a rapariga que deixou a escola aos 13 anos e que se tornou nos anos 70 e 80 num ícone do cinema e da televisão brasileiros, faz uma declaração essencial: isso não pode servir para menosprezar a “inteligência e a sofisticação dos pobres” no Brasil.

“O problema é com os ricos. Querem tirar a todos tudo o que eles têm e querem fazer as cidades feias”. Sônia, cuja linha de pensamento seria continuada por um colega actor, Humberto Carrão (ao falar na “falta de educação dos ricos”), referia-se ao contexto da personagem no filme, uma sexagenária, a única habitante de um edifício do Recife dos anos 40, que, não querendo abandonar as suas memórias, torna-se um foco de resistência para os projectos de uma imobiliária e da sua ferocidade.

“Viemos todos de sítios diferentes, mas estamos aqui. Temos de estar juntos, não importando de onde viemos, para fazermos todos juntos a democracia”. Sônia está então a falar de várias coisas que esta ficção absorveu, e que é o tempo que o Brasil vive hoje. Na terça-feira, ao subirem à red carpet para a gala de Aquarius, Sônia e a equipa, Kleber e os restantes actores, viraram-se para as câmaras e empunharam cartazes a denunciar o “golpe” - o processo de destituição da Presidente brasileira Dilma Rousseff - que entendem estar a ocorrer no Brasil. “Ocorreu um golpe de Estado no Brasil”, lia-se num dos cartazes. Outro: “O mundo não pode aceitar este Governo ilegítimo”. “Chauvinistas, racistas e golpistas como ministros”. “54.501.118 votos incinerados”.
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