quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Memórias da redação: o time de futebol que fez história no Torneio Manchete


O time - Técnico: França, da Expedição. Em pé: Goleiro: Nilton, da Arte Final, 7º andar; Renato, do Dep. de Fotonovelas; Bahia, da redação da Manchete; Fernando Nentes, da Expedição; Augusto, programador da Rádio Manchete FM; Robertinho, da Revista Geográfica. Agachados: Carlinhos, Expedição; Luis, do Mário Baldo, 9º andar; Nilton Muniz, da sala do Zevi, no 11º; e Lilica, da redação da Fatos&Fotos. Foto: Arquivo Pessoal Nilton Muniz


Ao revirar o baú, achei também essa carteirinha
da Suderj, que nos proporcionou assistir "a serviço"
muitos clássicos no Maracanã. O detalhe é a função
de "teletipista", que nem existe mais.
por Nilton Muniz 
Dia desses dando uma viajada no blog Panis, através  da leitura de algumas boas memórias - põe boa nisso! - da redação, me deparei com um texto sobre o prof. Arnaldo Niskier e suas façanhas enquanto jogador de futebol ("Deu no Globo; Arnaldo Niskier e o time de peladeiros da Manchete", datada de 05 /07/2011)). Naquela ocasião, falava-se de alguns "escretes" que foram formados na redação, inclusive o time da revista Manchete, do qual Ney Bianchi fez parte. Tudo muito bom. Aí, visitando o meu baú - sim, não só Gonça, Sr. Olho e Arnaldo têm - achei esta preciosidade: um time, em sua essência de contínuos - que publico aqui e tenho certeza de que muitos desconhecem a existência -, e que deu muitas alegrias (sem nenhuma modéstia) a quem acompanhou seus jogos. Foram dezenas.
Nesta oportunidade, cabe fazer essa reparação histórica, pois o time existiu, foi batizado de "Os Meninos da Expedição" e jogava por música. A formação surgiu assim: o Soares, chefe dos Transportes, sempre que tomava umas e outras  -  e isso era constante - dizia para quem quisesse ouvir que o time do Transporte não tinha adversário na empresa e que já estava cansado de assistir seus motoristas golearem o pessoal  da Arte Final, da Frei Caneca (encabeçado pelo Nilton Rechtman, da Assinatura, e até um combinado da gráfica de Parada de Lucas com Água Grande, do time do Arquivo Fotográfico e da Pesquisa, além de uns adversários meio mequetrefes ali mesmo do Aterro.  E, não sei foi coincidência ou não, no mesmo momento de um desses desabafos, foi divulgado no prédio que seria realizado uma competição que se chamaria Torneio Manchete. Isto foi em 80, portanto, o primeiro torneio. Como o França e o Horácio, da Expedição, já estavam de saco cheio da ladainha do Soares, resolveram montar um time de contínuos, os populares "siris". Foi reunido o pessoal  lá no subsolo, mas nem todos os contínuos quiseram participar. Aí nós convidamos o Renato (Fotonovela), o Nilton (goleiro) que tinha sido contínuo do Mário Baldo e estava na Arte Final, no 7º andar, e o Augusto, da Rádio Manchete FM. Os demais trabalhavam pagando contas e levando e trazendo correspondências.
A formação foi feita a toque de caixa, em menos de uma semana. Para se ter uma ideia, esse uniforme da foto (a camisa era verde) conseguimos emprestado em cima da hora. Ninguém se conhecia de ter jogado antes. Pois bem, nos inscrevemos. Junto com o time do dep. de Assinaturas, Nilton - Frei Caneca; Transportes Russell e da Arte Final (jogou, inclusive, o glorioso Charuto, lembram), da revista Desfile. Tudo aconteceu em um sábado escaldante. Fizeram o sorteio e nós pegamos o pessoal da Arte logo no jogo de abertura. Até então éramos considerados "pangarés". Um jogo meio truncado e cheio de firulas, cera, bicos na bola em direção as pistas do Aterro (principalmente quando perdíamos por 1 a 0 no primeiro tempo e não tinha bola substituta), queda em campo, amarração prolongada de cadarços e o escambau, tudo isso por conta do nosso adversário. Mesmo assim vencemos de 3x1, e fomos para a final com o "temido" time dos Transportes. Resumo da ópera:  3 x 0 para os contínuos.
Por muito tempo, o troféu ficou exposto na Expedição, sobre a mesa do França, e a zoação comeu solta no ouvido do "timaço" do Transporte.
Depois disso, ficamos invictos por quase seis meses ali mesmo no Aterro, e participamos de um torneio que a gravadora do cantor Bebeto realizou lá no Lespam, na Penha, junto com outros veículos de comunicação: O Dia, Rádio Globo e Jornal do Brasil.  Fomos sorteados para enfrentar o time do Bebeto, que trouxe todo o time profissional do Mesquita. Perdemos de 1 x 0.
O time era tão afinado que o saudoso Severino Dias resolveu apadrinhar e bancar cerveja e salgadinhos vindos da cozinha da Bloch a cada vitória. Até o Marechal aparecia vez ou outra para dar um incentivo. Bebemos muito na conta do "maitre" oficial. Na euforia, Severino às vezes emprestava a chave da 'suíte' que tinha reservada no Hotel Presidente, que ficava na mesma rua do Praia Bar,  caso precisássemos desovar alguém ali pelas imediações. Só recomendava não esvaziar o frigobar. Afinal, tínhamos vinte anos e nenhum dinheiro no bolso.
Depois, o time foi se dispersando. Alguns contínuos sairam da empresa e outros foram trabalhar em outras funções e os que chegaram não possibilitaram dar sequência. Mas foi um período mágico. Espero que exista ainda alguém que possa dar seu testemunho sobre a existência deste time. Quem sabe o Vicentinho?  Ou o Macarrão, também contínuo da redação e fiel escudeiro do Cony,  que depois foi para o JB e muito tempo atrás o encontrei no Jornal O Dia e que nos acompanhava em todo jogo. Tempo bom!

9 comentários:

Esmeraldo disse...

Boa história, Nilton. Que me lembra um jogo de um time fraquinho da Manchete contra a EleEla. Havia mais latinha de cerveja na beira do campo do que torcida. A preleção do treinador e volante Alberto Carvalho foi no bar do Novo mundo. Os "craques" da Manchete, já bem mais veteranos do que o adversário, providenciaram um reforço de uns três contínuos. Houve protestos, mas os infiltrados que corriamm o campo todo acabaram garantindo a vitória. Foi no Aterro, por volta de 85, 86. Houve uma revanche no Tijuca Tênis Clube, aí já não tenho absoluta certeza do resultado, mas acho que os "siris" de novo garantiram o placar. Quem deve lembrar isso é o Ney Reis, bom jogador, não gostava de perder, e foi um dos que protestou contra o reforço de contínuos. O argumentos dos peladeiros da Manchete foi que eles levavam correspondência para a redação e daí estavam perfeitamente legalizados no time. Coisas de "cartolas".
grande abraço

Nilton Munioz disse...

O protesto do Ney tinha procedência, pois contínuo era "antes de tudo um forte": andava pra cacete, ganhava mal, tudo que acontecia de errado era atribuído a ele. Aí, meu irmão, quando partia para pelada, a mais banal, ia como quem vai em um prato de comida. E se isso não bastasse, ainda tinha o Alberto e suas preleções do nada para ninguém acrescido de muita cerva. Nitroglicerina pura. Aliás, hoje pela manhã, lembrei do Alberto protagonista de uma história que o Zevi adorava contar: no dia do velório do Juscelino e do motorista, lá no saguão do Russell, o Tarlis se aproximou de um dos caixões o qual supunha ser o do ex presidente e começou a chorar. Estava por ali já um tempo quando eis que surge o Alberto e diz para ele que o caixão do motorista era o outro. Houve isso mesmo Esmeraldo? Te pergunto pois os preparativos para o velório e posterior caminhada até o aeroporto, devido as circunstâncias políticas da época, narrada brilhantemente por vc, fizeram tudo ser tão urgente, que, creio, não ter havido tempo para um velório no melhor sentido do termo. Mas mesmo não sendo verdadeira não deixa de ser engraçada a história que combina com o lado picaresco do saudoso Alberto. Abração.

Frederico Mendes disse...

Belo texto, Nilton! Texto digno dos antigos bons tempos das melhores revistas da Bloch.

Nilton Muniz disse...

Obrigado, Frederico! Sou admirador do seu trabalho. Acho que quando escrevemos o que vivenciamos tudo flui e as imagens ficam mais vívidas e emocionais. Grande abraço.

Esmeraldo disse...

Pois é. Nilton, passando de futebol a história, a propósito do velório de JK e do motorista Geraldo no hall da Manchete, todas as versões são melhores do que os supostos fatos.
Como o Cony já contou, foi tumultuado (na logística e politicamente) o resgate dos caixões no IML, assim como a caravana que os levou (liderada pelo Tarlis) ao Russell. Cony fala até de um rabecão que levou um terceiro caixão ao Russell e deu meia volta ao perceber que Geraldo e JK já estavam lá. Era o apenas um defunto anônimo, com endereço e ordem se serviço errados.
Os caixões de JK e Geraldo eram absolutamente iguais até nos arranjos de flores, como se vê nas edições de Manchete e Fatos & Fotos da época. Testemunhas afirmam que a titularidade, rs, dos caixões foi apenas convencionada. "Aquele é o JK, o outro é o Geraldo". Nem o Tarlis, que escoltou a comitiva desde o IML, tinha certeza de quem era quem. Daí esse episódio em que ele derramou algumas lágrimas para o motorista pensando que fosse o ex-presidente. Dizem ainda que ao ser alertado para o equívoco, o grande Tarlis não se abalou: "Tudo bem, Geraldo era gente boa também". E levou sua tristeza para o caixão ao lado. Ficou o mistério. Estará Geraldo no Memorial JK e JK enterrado em Minas? Se for isso, o destino fez justiça: JK repousa na sua terra e não em Brasília de onde a ditadura o baniu. Não tenho dúvidas de que essa é a melhor versão...

Luiz Paulo Silva disse...

Luiz Paulo Silva:

Incrível! Pelo que o Milton relatou, o time dos contínuos da Bloch teve uma grande evolução. No início de 1977, eu era contínuo, e participei de um jogo contra o time dos Transportes num dos campos do Aterro do Flamengo. Levamos de 14 a 1. Eu lembro que no nosso time tinha o Charuto, o Black, o Amauri, e os técnicos eram o França e o Horácio, os chefes da Expedição, que no dia do jogo levaram umas garrafas de “limão”, caprichadas, que a gente bebia para ver se melhorava o desempenho. Não deu certo. Só seu que quando chegou a 10 a 0, eu, que jogava de beque central, comecei a distribuir bordoadas, safanões, empurrões, “dava do joelho pra cima”, para ver se parava a humilhação. Os motoristas, bem mais fortes, até levavam na esportiva, já que o juiz apontava falta toda hora. Lembro bem do motorista Fernando Cussate, que depois se tornou fotógrafo da Bloch. Até que eu fiz uma falta no Soares, que não gostou e partiu para cima. Eu dei uma carreira tremenda, atravessei uns dois campos e ele atrás. Até que a ‘turma do deixa disso’ acalmou os ânimos. Não sei se foi por causa disso, mas dias depois o França me transferiu da Expedição para a Xerox, no quinto andar (só existia o prédio 804), junto à sala do Setor de Comunicação, que na época era dirigido pelo Moisés Fuks e pelo Luiz Santos (depois veio a Iná Bloch). Por muitos anos esse fato foi sempre lembrado pelo Soares, pelo França e pelo Horácio. A nota triste daquela partida foi que o contínuo Édson, meu amigo de infância e que me levou para a Manchete, levou uma bolada no ‘saco’, que inchou na hora. Ele ficou de molho quase um mês, e quando voltou ao trabalho, foi demitido.

Luiz Paulo Silva

Nilton Muniz disse...

Então, amigo Luiz Paulo, como podes ver acima, já cheguei nos tempos áureos das peladas e ajudei modestamente a colocar o nome dos contínuos na parte mais alta do pódium. E também se explica porque o Soares arrotava vitória e colocava o transporte como time imbatível. Antes era o caos, a violência e, literalmente, o chamado jogo sujo nos lugares baixos. Abração.

Nilton Muniz disse...

As versões extras oficiais são infinitamente mais interessantes. Adorei esta história do terceiro caixão, bem ao estilo Cony. E o que percebo também, Esmeraldo, é que as histórias, através dos comentários, dão um colorido todo especial, além de acrescentar fatos. A versão acima recontada pelo Luiz Paulo dá bem a ideia que o chamado futebol bretão não passava de um confronto de vida e morte como nos tempos da Roma Antiga.. Abrs

Administrador disse...

José Carlos Jesus, presidente da Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores, envia ao blog mensagem recebida de Murilo Mello Filho:

"Rio, 26 de fevereiro de 2016.
Estimado José Carlos:
Admirei bastante os excelentes craques que você acolheu e me apresentou. Não sei onde anda o técnico do nosso futebol e dos nossos clubes que já deveria estar relacionando para reunir em suas seleções. Abrações vascaínos e rubro-negros, MURILO"